“Não existe evidência científica possível para sustentar que um zigoto, ou um óvulo recém-fecundado, não tenha direitos”

Eu não achei que fosse viver para ler isto na Folha de São Paulo: «Rodrigo Guerra, diretor do Cisav (Centro de Pesquisa Social Avançada do México), concordou que não existe evidência científica possível para sustentar que um zigoto, ou um óvulo recém-fecundado, não tenha direitos». E ainda: «o embrião tem capacidades humanas, embora limitadas, e portanto toda a normalidade existente internacionalmente para proteger seres humanos com capacidades diferentes deve se aplicar nestes casos».

Na mídia nacional! Na Folha de São Paulo! É nestes momentos que a evidência é tão evidente que se impõe por si mesma: «Sabemos por experiência empírica contundente que as estruturas precursoras do sistema nervoso central existem desde o momento da fecundação. Desde aí o genoma humano é completo e funcional, e seu metabolismo é autônomo, ou seja, processa energia por si mesmo, embora continue sendo dependente nutricionalmente da mãe».

Respeito à vida humana desde a concepção até a morte natural: exatamente o que pede a Igreja. É praticamente a mesma conclusão a que chegaram os cientistas liderados por John Haas. E o mais importante é que tal assunto é tratado com a inegociabilidade que merece: o grupo de cientistas «rejeitou a abertura de um debate sobre o tema». Bravo! Certas coisas não se discutem. A certas posições irracionais não é lícito conceder a gentileza de um debate, como se ela fosse algo a priori aceitável.

Enquanto isso, os comentários dos bárbaros inimigos da civilização destilam o mesmo irracionalismo raivoso de sempre. Por exemplo, houve quem dissesse que «John Haas é presidente de um grupo católico anti-aborto (National Catholic Bioethics Center)! Ele está falando como religioso e não como cientista». E (como comentou um amigo) o Dawkins et caterva, militantes anti-religiosos raivosos, porventura falam como cientistas? Honestidade intelectual passa longe dessa gente…

Padre Gregor Mendel, pai da Genética

Hoje celebra-se o 189º aniversário do padre Gregor Mendel, pai da genética. Segundo Terra, o “monge agostiniano, botânico e meteorologista […] é o grande responsável pelo que hoje chamamos de Leis de Mendel, leis da hereditariedade, isto é, que regem a transmissão dos caracteres hereditários”.

Todos nós aprendemos genética no segundo grau, e todos nós ouvimos falar em Mendel. O que nós geralmente não ouvimos é o seu “nome completo”: padre Gregor Mendel. E não o ouvimos porque interessa manter incólume a lenda negra segundo a qual a Igreja é “inimiga da ciência” – coisa que fica difícil de sustentar quando verificamos que grandes nomes da história do conhecimento humano (como o próprio pe. Mendel, ou o monge Copérnico, ou o pe. Lemâitre…) não apenas foram católicos como também pertenceram à hierarquia católica.

O Google celebrou o natalício do pe. Mendel. Também nós nos unimos à celebração deste ilustre filho da Igreja. A despeito do que queiram os anti-clericais, hoje nós celebramos a memória de um homem – um fato – que faz calar a lenda negra. Sim, o pai da Genética era um padre. Durma-se com um barulho desses.

Máquinas e mentes

Interessante posição de famoso neurocientista: “máquina não simulará mente”. A afirmação é do Miguel Nicolelis.

Ele se arrisca a prever que nenhum avanço teórico ou tecnológico vai mudar isso. “É quase como a velocidade da luz na física”, compara: um limite que, por definição, não pode ser ultrapassado.

Tenho a impressão de já ter comentado aqui sobre as cadeiras de Inteligência Artificial que eu paguei na faculdade. Lembro-me de que todas elas tinham por objetivo reproduzir comportamentos inteligentes, e não criar inteligência propriamente. Das redes neurais aos modelos de regressão, das árvores de decisão aos motores de inferência, todas as técnicas – por úteis que sejam – não ultrapassam os limites de uma função matemática do tipo “de -> para”: i.e., trata-se de definir (explícita ou implicitamente) uma função para mapear um determinado tipo de entrada em outro determinado tipo de saída. E a inteligência humana é coisa muito diversa.

O próprio Nicolelis diz isso quase nos mesmos termos: “[o] cérebro humano não é computável, não dá para simulá-lo com um algoritmo”. Isto não é meramente uma contingência técnica, é uma limitação de paradigma; por mais que avancemos, continuamos presos no quarto chinês. E, para Miguel Nicolelis, é simplesmente impossível sairmos dele.

Sobre cientistas e provas de que Deus existe

Agradeço ao Alien por ter me mostrado esta matéria [p.s.: como foi apontado, a matéria é provavelmente HOAX; no entanto, os comentários gerais sobre o assunto permanecem válidos]. Segundo ela, o “físico teórico Michio Kaku [segundo a reportagem, o “cientista mais conceituado da atualidade”] diz ter criado uma teoria que pode apontar a existência de Deus”. São palavras do Dr. Kaku:

“Cheguei à conclusão que estamos em um mundo feito por regras criadas por uma inteligência, não muito diferente do seu jogo preferido de computador, claro, impensavelmente mais complexa. Analisando o comportamento da matéria em escala subatômica, a parte afetada pelo semi-raio primitivo de táquions, um minúsculo ponto do espaço, pela primeira vez na história, totalmente livre de qualquer influência do universo, matéria, força ou lei, percebi de maneira inédita o caos absoluto. Acredite, tudo que nós chamávamos de casualidade até hoje, não fará mais sentido. Para mim está claro que estamos em um plano regido por regras criadas, e não moldadas pelo acaso universal”, comentou o cientista.

Alguns comentários sobre o assunto que podem ser feitos:

1. embora eu tenha lido e relido, não consegui entender o que o cara quis dizer com “percebi de maneira inédita o caos absoluto”, e nem com “tudo o que chamávamos de casualidade até hoje não fará mais sentido”, e nem tampouco como é possível que destas duas sentenças decorra “que estamos em um plano regido por regras criadas”; procurei a referência original na Scientific American Magazine, mas não a encontrei, de modo que é provável que eu não esteja analisando a descoberta do Dr. Kaku em toda a sua abrangência e profundidade;

2. independente disto, por definição não existe “prova científica” da existência de Deus, uma vez que a ciência trabalha com o que é empírico e passível de experimentação e Deus, distinto do mundo criado, não pode jamais ser objeto de medição experimental;

3. não obstante, é em princípio perfeitamente possível que uma teoria cosmológica aponte para a necessidade de uma entidade axiomática para dar sustentação aos modelos teóricos utilizados na explicação do Universo, e é também possível que esta entidade possa se identificar com o Deus dos Filósofos – e, assim sendo, é possível que seja sobre isto que a matéria está falando;

4. a prova da existência de Deus porque “estamos em um mundo feito por regras criadas por uma inteligência” não é propriamente uma prova científica, e sim filosófica – é, na verdade, a 5ª via de Santo Tomás de Aquino.

Lembro-me de que, há alguns anos, um sujeito numa comunidade de Orkut da qual eu participava (se a memória não me trai, era uma comunidade de ateus chamada “Onde está Deus?”, e o nome do sujeito era Aldo) provocou um certo rebuliço tentando provar a existência de Deus por meio da evolução: a idéia do sujeito era que, postulando um tempo infinito (ou uma seqüência infinita de big-bangs – big-crunches, dava no mesmo), a evolução das formas mais simples para as mais complexas iria necessariamente chegar em um Ser superior complexo o bastante para poder ser chamado de “Deus”. Esta prova pode até pretender-se “científica”, mas certamente não é uma prova da existência de Deus, uma vez que um Deus que tenha sido criado, por definição, não é o Deus do Qual nós religiosos falamos. Este deus do Aldo, criado a posteriori pela evolução do mundo, certamente não poderia ter sido ele próprio o Criador do mundo – e, portanto, permaneceria sem resposta a pergunta sobre Quem é, afinal de contas, o Responsável pela existência do mundo cuja evolução culminou neste deus aí.

Não me recordo de quem é a frase segundo a qual a pouca ciência afasta de Deus enquanto a muita ciência d’Ele aproxima. Sei, no entanto, que o significado dela está profundamente relacionado com a Quinta Via Tomista, bem como com aquela frase das Escrituras Sagradas: “desde a Criação do mundo, as perfeições invisíveis de Deus, o seu sempiterno poder e divindade, se tornam visíveis à inteligência, por suas obras”. Isto não tem (e, aliás, nem pode ter) nada a ver com telescópios vislumbrando o Deus Altíssimo no Seu trono nos Céus ou com sensores capazes de captar a Graça Santificante no interior dos seres humanos. A ciência não é absoluta, e é tanto mais fiel a ela quem melhor reconhece as suas limitações. Não é nas lacunas do saber científico que Deus Se encontra, senão para além dos seus limites intrínsecos: como uma obra pede o seu autor. Certamente o Dr. Kaku não encontrou Deus nos seus semi-raios primitivos de táquions, seja lá o que isso for; no entanto, como tantos e tantos outros antes dele, o que é possível é que ele, contemplando a Criação, tenha vislumbrado a existência do Criador.

“Resposta cristã ao cientificismo ateu” – Raniero Cantalamessa

[Publico trecho da primeira pregação de advento do pe. Raniero Cantalamessa, pregador da Casa Pontifícia. O texto na íntegra foi publicado em Zenit; os negritos são meus. O Tubo de Ensaio também republicou.]

Na semana em que a mídia espalhou a declaração (…) de que a ciência tornou desnecessária a hipótese de um criador, eu me vi na necessidade, na  homilia de domingo, de explicar a cristãos muito simples de uma cidade de Reatino onde estava o erro fundamental de cientistas e ateus e  porque não deveriam ficar impressionados com a sensação despertada por essa declaração. Fiz isso com um exemplo que pode ser útil repetir aqui em um contexto tão diferente.

“Existem aves noturnas, como a coruja, cujos olhos são feitos para ver no escuro da noite, não de dia. A luz do sol cega. Estes pássaros sabem tudo e se movem com agilidade no mundo noturno, mas não são ninguém no mundo diurno. Vamos adotar, por um momento, o tipo de fábulas nas quais os animais falam uns com os outros. Suponha que uma águia faça amizade com uma família de corujas e converse com elas sobre o sol: como ele ilumina tudo, como, sem ele, tudo iria mergulhar no escuro e no frio, como seu próprio mundo noturno não existiria sem o sol. O que diria a coruja? “Você mente! Nunca vi o seu sol. Nos movemos muito bem e conseguimos alimento sem ele. Seu sol é uma hipótese inútil, não existe”.

É exatamente isso que faz o cientista ateu quando diz: “Deus não existe”. Julga um mundo que não conhece, aplica suas leis a um objeto que está fora do seu alcance. Para ver Deus é necessário olhar com uma perspectiva diferente, aventurar-se fora da noite. Neste sentido, ainda é válida a antiga afirmação do salmista: “Diz o insensato: Deus não existe”.

[…]

Dizia antes como a marginalização do homem traz consigo automaticamente a marginalização de Cristo do universo e da história. Ainda sobre este ponto de vista o Natal é a antítese mais radical da visão cientificista. Sobre isso, escutaremos proclamar solenemente: “Tudo foi feito por meio dele, e sem ele nada foi feito de tudo o que existe” (Jo. 1,3); “pois é nele que foram criadas todas as coisas, tudo foi criado através dele e para ele” (Col 1,16). A Igreja assumiu essa revelação e nos faz repetir no Credo: “Per quem omnia facta sunt”: Por meio dele tudo foi criado.

Ouvindo estas palavras – enquanto todos à nossa volta que não fazem mais que repetir “O mundo se explica sozinho, sem necessidade da hipótese de um criador”, ou “somos frutos do acaso e da necessidade” – se dá, sem dúvida, um choque, mas é mais fácil que se produza um conversão e floresça a fé depois de um choque como esse que com uma longa argumentação apologética. A questão crucial é: seremos capazes, nós que aspiramos reevangelizar o mundo, de expandir nossa fé a essa dimensão? Nós realmente acreditamos, de todo o coração, que “todas as coisas foram feitas por meio de Cristo e em vista de Cristo”?

Em seu livro Introdução ao Cristianismo, há muitos anos, Santo Padre, escreveu:

“A segunda parte principal do Credo coloca-nos propriamente diante do elemento cristão fundamental: a crença de que o homem Jesus, um indivíduo executado na Palestina pelo ano 30, é o ‘Cristo’ (ungido, escolhido) de Deus, e mais: é o próprio Filho de Deus, centro e opção de toda a história humana… Contudo, o primeiro impacto desta realidade causa escândalo ao pensamento humano: Não nos tornamos com isto vítimas de um tremendo positivismo? Será razoável agarrar-nos à palhinha de um único acontecimento histórico? Poderemos ousar fundamentar a nossa existência inteira, e até a história toda, sobre o que não passa de pobre palha de um acontecimento qualquer a boiar no grande oceano da história?”.

Para estas questões, Santo Padre, nós vamos responder sem hesitar, como faz o senhor nesse livro e como não se cansa de repetir hoje, na sua qualidade de Sumo Pontífice: Sim, é possível, é libertador e alegre. Não por nossas forças, mas pelo dom inestimável da fé recebemos e pela qual damos graças infinitas a Deus.

Dois curtas

De assuntos distintos, mas têm em comum o fato de serem ambos muito bons.

1. Entrevista de D. Luiz Bergonzini à VEJA. “O papel do bispo é orientar os seus fiéis sobre a verdade, sobre a justiça e sobre a moral. Ele deve apresentar a verdade e denunciar o erro. Foi o que fiz. Tenho todo o direito – e o dever – de agir do modo que agi. Não me arrependo de ter falado o que falei. Faria tudo de novo! Se surgir um candidato que seja contra os princípios morais, contra a dignidade humana e contra a liberdade de expressão, irei me levantar de novo”.

2. Lendas negras da Igreja. “A quem lhe ocorre perguntar-se, por exemplo, qual foi, na época do caso Galileu, a posição das universidades e outros organismos de relevância social em relação à hipótese copernicana? Quem lhe pede contas a atual magistratura pelas idéias e as condutas comuns dos juizes do século XVII? Ou, para ser ainda mais paradoxal, a quem lhe ocorre reprovar às autoridades políticas milanesas (prefeito, presidente da região) os delitos cometidos pelos Visconti e os Sforza?”

Tubo de Ensaio no TOPBLOG 2010

Não existe nenhuma incompatibilidade entre Ciência e Religião. Como um exemplo perene da verdadeira posição católica diante de uma aparente contradição entre um dado da Fé e um dado científico, permanece sempre atual a afirmação de São Roberto Belarmino no auge do caso Galileo (apud Quadrante):

“Quando fosse verdadeiramente demonstrado que o Sol está no centro do mundo e a Terra no terceiro céu, e que o Sol não circunda a Terra, mas sim a Terra circunda o Sol, então seria necessário com muitas considerações explicar as Escrituras, e antes de afirmar ser falso o que dizem, admitir, pelo contrário, que são coisas que não podemos entender. Por mim, não acreditarei que seja possível tal demonstração, até que me seja apresentada” [o grifo é da Quadrante].

Um dos maiores espantalhos encontrados nos nossos dias consiste na apresentação da Igreja Católica como se Ela fosse inimiga da ciência, ou como se o avanço desta fosse uma ameaça Àquela. Nada mais falso. Afinal de contas, tanto a Fé como a razão provêm do Deus que é a Verdade e, portanto, não se podem contradizer. Esta posição não é nova; o cardeal Belarmino (como vimos) já a defendia no século XVII e, antes dele, Santo Tomás de Aquino dizia a mesma coisa (apud João Paulo II na Veritatis Splendor (n.43)):

A luz da razão e a luz da fé provêm ambas de Deus (…); por isso, não se podem contradizer entre si.

Nunca, portanto, a Igreja disse algo diferente disso. O resto é lenga-lenga dos inimigos da Igreja que, na ânsia de denegri-La, desprezam a realidade dos fatos e não se importam se o espantalho por eles combatido pouca ou nenhuma semelhança guarda com a indefectível Igreja de Nosso Senhor.

Por conta disso, prestam um inestimável serviço à Igreja os apostolados que têm por função precípua dissipar esta cortina de fumaça lançada pelos anti-clericais e defender o correto e sadio relacionamento entre a Fé e a razão. Neste quesito, destaca-se no cenário brasileiro o – já conhecido dos meus leitores – Tubo de Ensaio, do Marcio Antonio Campos, o qual está concorrendo ao TopBlog 2010. Nas palavras do autor do blog:

O Tubo de Ensaio se inscreveu tardiamente no prêmio TopBlog 2010. Como não havia categoria de ciência, estou concorrendo na categoria Blogs profissionais/Religião. Para votar, é só clicar no selo ao lado, mas é preciso se cadastrar, etc. etc. (suspeito que seja para evitar aquelas coisas de sujeito passar a noite votando do mesmo computador, com o mesmo IP, e por aí vai).

O “selo ao lado” está lá no Tubo; para votarem a partir daqui, usem este link. Não é preciso propriamente “se cadastrar”, basta informar um email válido – porque será enviado um email de confirmação, com um link no qual se deve clicar para validar o voto. Votem e divulguem, porque o trabalho merece.

A criação da vida artificial

Não tenho muito tempo agora, mas é só para comentar en passant um assunto ao qual eu provavelmente terei que voltar depois: Vida sintética criada pela 1a vez. Pelo que entendi, um cientista projetou um genoma em computador, sintetizou, colocou em uma “carcaça” de bactéria (i.e., retirou o DNA “original” dela) e o bicho “funcionou” – a bactéria começou a se comportar de acordo com o DNA novo.

Bom, antes de mais nada, remeto ao lúcido texto da Lenise Garcia sobre o assunto, publicado na Gazeta do Povo. “Venter está ‘brincando de Deus’? Nem tanto. Afinal, o homem gera novas espécies de plantas e vegetais há muito tempo, fazendo cruzamentos”. As exaltações são até justificáveis, uma vez que o avanço científico é sem dúvidas notável; mas não há motivos para se colocar os carros na frente dos bois, ou – pior ainda – enxergar nos experimentos de Venter coisas que não estão lá.

Quais as grandes novidades do resultado? Ao que me conste, já se sabia o que era um genoma. Já se tinha noção de como ele funcionava. Já se sabia que o DNA, grosso modo, é um polímero bem grande, e já se sabia que polímeros podem ser sintetizados. A novidade, portanto, ao que parece, é que isso pela primeira vez foi feito.

Não acompanhei a pesquisa e não sei exatamente quais eram as dúvidas que os cientistas tinham, nem quais as linhas de pesquisa que se abrem agora, as próximas barreiras a serem ultrapassadas, os objetivos visados, ou nada disso. Quais as implicações teológicas desta descoberta, é o assunto que nos toca mais proximamente. Sobre estas, volto a escrever em breve.

Quem são os fanáticos?

Amigo 1: A Inquisição matou milhares de cientistas durante a Idade Média, época que ficou conhecida justamente como “Idade das Trevas” devido à perseguição que a Igreja fez à Ciência.

Eu: Tu podes me dizer o nome de um cientista que foi queimado pela Inquisição?

Amigo 1: Tem… tem… tem… qual o nome dele? Poxa… tu sabes, Jorge. Aquele que disse que a terra era redonda.

Amigo 2: Copérnico.

Amigo 1: Isso. Copérnico.

Eu: Copérnico era monge católico e morreu de velho. Próximo. [Eu poderia ter dito, mas não disse para não desviar (ainda) mais o foco da discussão, que Copérnico não disse que a terra era redonda, e sim que ela girava em torno do sol]

Amigo 2: Ele foi queimado sim.

Eu: Foi não.

Amigo 1: Foi sim, Jorge.

Eu: Não foi.

Amigo 1: Aqui tem dois contra um. Foi queimado sim.

O diálogo acima ocorreu exatamente deste jeito, se não com essas exatas palavras, com esta seqüência e este encadeamento de argumentos. E, por maioria simples de votantes (dois contra um) em uma mesa de shopping tomando chopp, Copérnico foi queimado pela Inquisição – e ai de quem ousasse dizer o contrário. Acho até que eu próprio escapei, por pouco, de ser queimado – afinal, estava chovendo.

Óbvio que protestei contra esta loucura metodológica e este ultraje histórico. E o Google depois os convenceu de que Copérnico não fora queimado pelo Santo Ofício (espero que por relevância das referências, e não por um democrático número de resultados). Mas o que me incomodava então não era isso – afinal de contas, uma bobagem pontual é relativamente simples de ser refutada. O que me incomodava e me incomoda são os pressupostos tácitos e universalmente aceitos, o “contexto histórico” genérico e difuso – mas que marca terreno no imaginário popular com a força de um dogma inexpugnável.

Pergunte-se a uma pessoa qualquer no meio da rua, católica ou não, se é verdadeira ou falsa a afirmação “a Inquisição perseguiu e matou milhares de cientistas durante a Idade Média”. Nove entre dez pessoas, no mínimo – que digo eu? Noventa e nove entre cem, provavelmente -, vão responder que é verdadeira. Depois, pergunte-se o nome de alguns desses cientistas que a Inquisição matou. Não vai sair absolutamente nada (e, caso saia, vai ser, na ordem, Galileu, Copérnico e Giordano Bruno – diga-se de passagem, dos três, só este último foi queimado).

Copérnico era monge, Galileu era amigo do Papa, e ambos morreram de velhice. Mas, vá lá, aceitem-se para fins de argumentação estes que são os únicos oferecidos pelos anti-clericais. A pergunta que se impera é: cadê os milhares? Ou as centenas? As dezenas? Se, perscrutando mil anos de alegada perseguição científica, os inimigos da Igreja só são capazes de puxar da manga três exemplos (e três exemplos bem questionáveis, é bom não esquecer) de cientistas perseguidos pela Inquisição, não seria algo perfeitamente sensato e razoável questionar a verossimilhança dos pressupostos adotados?

Se a Igreja perseguiu e matou milhares de cientistas na Idade Média, como é possível que ninguém possa nos dar exemplos de alguns destes mártires da Razão contra o obscurantismo religioso? É óbvio que, se houve uma “perseguição” com as proporções que a mentalidade média acredita ter havido, deve haver algum registro disso. A resposta-padrão a este questionamento é: “mas a História é escrita pelos vencedores”. Extremamente cômodo, e extremamente nonsense. Eis a “lógica”: se não há registros dos cientistas que arderam nas fogueiras da Inquisição, é precisamente pelo fato de que eles foram queimados e a Igreja malvada encobriu tudo: ou seja, prova-se que a Igreja perseguiu uma multidão de cientistas do fato mesmo de ninguém saber absolutamente nada sobre esta multidão de cientistas perseguidos! E ninguém parece ver nada de errado com isso – é impressionante. A força do absurdo que é inculcado pacientemente ao longo dos anos, desde a infância, acaba com todo o senso crítico. As pessoas apenas repetem bovinamente: “mas a Igreja perseguiu e matou milhares de cientistas durante a Idade Média”.

Os que se preocupam com as regras básicas para debater já concluíram que ausência de evidência não é evidência de ausência. Não perceberam ainda eles, no entanto, esta metamorfose argumentativa que faz com que, para atacar a Igreja Católica, a ausência de evidência degenere na prova cabal e demonstração incontestável da existência. “É lógico que não se conhecem os cientistas, exatamente porque eles foram perseguidos e mortos!”. E não adianta redargüir “tá, mas como é que se sabe, então, que eles foram perseguidos e mortos?”, porque a resposta é invariavelmente a mesma: “todo mundo sabe disso”. E depois somos nós os dogmáticos e os fanáticos? Por que ninguém se preocupa com esta calúnia institucionalizada que é a atribuição virtualmente onipresente de um rótulo odioso à Igreja Católica? Por que a afirmação “a Igreja perseguiu cientistas” deve ser aceita como um dogma incontestável?

Tubo de Ensaio na TV Canção Nova

Divulgando com muita alegria: o Tubo de Ensaio estará no programa do professor Felipe Aquino, Escola da Fé, abrindo a “temporada 2010” do programa.

Conforme as informações do próprio blog:

Tema: ciência e religião e a cobertura religiosa feita pela imprensa.

Data: 4 de fevereiro, às 20h30, na TV Canção Nova.