“Quanto mal fazem à Igreja os padres untuosos!” – sobre o pe. Fábio de Melo e suas más colocações

O revmo. Pe. Fábio de Melo voltou a aprontar das suas. Em entrevista que ainda não foi ao ar (mas da qual alguns trechos já foram amplamente divulgados pelos órgãos de mídia), o padre soltou a seguinte estarrecedora frase:

Jesus não queria a Igreja, queria o Reino de Deus, mas a Igreja foi o que conseguimos dar a Ele.

É impressionante como uma frase tão pequena possa conter um número tão grande de absurdos, e é muito difícil conceber como uma pessoa católica, que tenha ao menos noções básicas de Catecismo, seja capaz de proferi-la e ao mesmo tempo manter a Fé. Esta frase estarrecedora, em uma única linha,

  1. afirma que a Igreja não é da vontade de Deus [Jesus não queria a Igreja];
  2. introduz uma oposição descabida entre “Igreja” e “Reino de Deus” [não queria a Igreja, queria o Reino de Deus]; e
  3. afirma que a Igreja é criação humana [a Igreja foi o que conseguimos dar a Ele].

Não percamos tempo com fabiodemelorices. Vamos à Doutrina Católica.

Primeiro, é óbvio que a fundação da Igreja sempre esteve nos desígnios de Deus. Nem poderia ser diferente, uma vez que, se Cristo tivesse querido com Sua Encarnação uma coisa diferente da Igreja, teria fracassado miseravelmente em Sua Missão e, portanto, não seria Deus e, portanto, não deveríamos nos preocupar com Ele e nem com mais nada nessa vida.

Não fossem suficiente as claríssimas palavras de Nosso Senhor nos Evangelhos – “E eu te declaro que és Pedro, e sobre esta Pedra edificarei a Minha Igreja, e as portas do Inferno não prevalecerão contra Ela” -, o Catecismo ainda nos diz com todas as letras:

766. (…) Assim como Eva foi formada do costado de Adão adormecido, assim a Igreja nasceu do coração trespassado de Cristo, morto na cruz (CCE).

Se tudo isso ainda não bastasse, o erro de número 52 condenado por São Pio X no decreto Lamentabili é o seguinte:

52. Cristo não pensou constituir a Igreja como uma sociedade destinada a durar na terra por uma longa série de séculos; além disso, na mente de Cristo, o reino dos céus juntamente com o fim do mundo já deveria ter chegado.

Ora, tudo isso posto, em qual esotérico sentido, então, de que maneira minimamente católica é possível afirmar “Jesus não queria a Igreja”? Essa frase é herética e blasfema. Encontrá-la nos lábios de um sacerdote católico é daquela espécie de desolação no lugar santo que nos faz gritar do fundo da alma: Exsurge, Deus, iudica causam tuam.

Em segundo lugar, não existe oposição entre a Igreja fundada por Cristo e o Reino de Deus, exatamente porque a Igreja por Ele fundada é precisamente o Reino de Deus já inaugurado na terra! De novo, é o que nos ensina o Catecismo:

541. (…) Ora a vontade do Pai é «elevar os homens à participação da vida divina». E fá-lo reunindo os homens em torno do seu Filho, Jesus Cristo. Esta reunião é a Igreja, a qual é na terra «o germe e o princípio» do Reino de Deus (CCE).

567. O Reino dos céus foi inaugurado na terra por Cristo, e resplandece para os homens na palavra, nas obras e na presença de Cristo. A Igreja é o gérmen e o princípio deste Reino. As suas chaves são confiadas a Pedro (CCE).

A Igreja já é o Reino de Deus! Pouco importa aqui a obviedade de que este Reino só estará plenamente estabelecido quando Cristo voltar em Sua Segunda Vinda Gloriosa, exatamente porque, então, será a Igreja – a mesmíssima Igreja da qual hoje fazem já parte todos os católicos – que reinará perfeitamente. O Fim dos Tempos não destrói a Igreja, cáspita, mas é exatamente o contrário: realiza-A em plenitude! Que um sacerdote católico não saiba dessas coisas é uma dessas tragédias religiosas que, em épocas mais sensatas, seria interpretada como um sinal do Fim dos Tempos iminente e levaria os católicos a baterem no peito e fazerem penitência, suplicando ao Senhor misericórdia pelos seus muitos pecados.

Em terceiro lugar, e muito sucintamente, é óbvio que a Igreja não é criação humana. Não é criação humana porque é criação de Cristo, que é Deus. Não é criação humana porque Ela não poderia ser Santa e Santificante se fosse o homem que A tivesse criado, uma vez que o homem não tem por si só capacidade de santificar a nada e nem a ninguém. E não é criação humana, por fim, porque assim o diz com todas as letras a Doutrina Católica: «a Igreja católica [é] fundada por Deus» (Lumen Gentium, 14).

Não fomos nós que “demos” a Igreja a Cristo, foi Ele quem no-La deu, através do Seu Sacrifício na Cruz; e o fez para que por meio d’Ela (e somente por meio d’Ela) pudéssemos nos unir a Ele. Qualquer criança minimamente catequizada aprende isso. Por que diz o contrário o pe. Fábio de Melo?

Após a polêmica inflamada, o pe. Fábio publicou no Facebook uma de suas famosas respostas que não respondem a coisa alguma. Absolutamente nada do blá-blá-blá lá despejado tem o mínimo a ver com o que se está discutindo. Aproveito a oportunidade, no entanto, para fazer (mais uma vez) um comentário que talvez possa ser útil ao reverendíssimo sacerdote. Lá, no seu Facebook, no meio da tagarelice irresponsável, o padre diz o seguinte:

Estou unido ao Papa Francisco, quando movido por coragem profética, falou-nos do perigo que a Igreja corre de tornar-se uma ONG.

Será que está mesmo? Em outra tristemente famosa entrevista (ocorrida em meados do ano passado), o padre Fábio fez questão de destacar a sua própria vaidade e afirmou ser «vaidoso sim». A matéria que inicia esse post traz na manchete a seguinte piedosa frase proferida pelos lábios sacerdotais do padre Fábio de Melo: «Sempre me senti artista». Será que o padre Fábio acredita, em consciência, estar unido ao Papa Francisco?

Vejamos o que o Vigário de Cristo tem a dizer sobre isso. Em homilia proferida na semana passada (sábado, 11 de janeiro; original italiano aqui, tradução para o português aqui, de onde retiro a citação), o Papa Francisco falou o seguinte:

[Q]uanto mal fazem à Igreja os padres untuosos! Aqueles que colocam a sua força nas coisas artificiais, na vaidade.

Quantas vezes se ouve dizer, com dor: “Este é um padre-borboleta, porque há sempre vaidade nele”.

Se nos afastamos de Jesus Cristo, devemos compensar isto com outras atitudes… mundanas. E assim, há todas estas figuras… também o padre de negócios, o padre empreendedor…

[…]

É belo encontrar padres que deram a sua vida como sacerdotes, verdadeiramente, de quem as pessoas dizem: “Sim, tem esta característica, tem aquela… mas é um padre”. E as pessoas têm a intuição.

Em vez disso, quando as pessoas vêem os padres – para dizer uma palavra – idólatras, que em vez de terem Jesus têm os pequenos ídolos… pequenos… alguns até devotos do “deus Narciso”… Quando as pessoas vêem isto, dizem: “Coitado!”

Que sirvam estas palavras para o pe. Fábio, mas que sirvam também para nós, a fim de que saibamos escolher com mais sabedoria os homens que admiramos e a quem seguimos. Procuremos – como nos pede o Papa Francisco – aqueles «padres que deram a sua vida como sacerdotes». Procuremos os padres que nos falem das coisas de Deus! Não percamos tempo com estes que, ao contrário, têm um gosto particular por frases heréticas e blasfemas, nunca se responsabilizando pelas barbaridades que ensinam com seus exemplos e suas palavras.