Guerra ideológica e grupos de risco

Na esteira da recente decisão do Conselho Nacional de Justiça de obrigar os cartórios de todo o Brasil a realizarem casamentos gays, há duas notícias que merecem ser melhor divulgadas.

A primeira delas é esta do IPCO, que faz uma sóbria leitura do que está acontecendo no país a respeito desta onda de concessão de falsos direitos (cada vez mais exagerados) ao vício contra a natureza. Ainda, apresenta uma iniciativa (foi a primeira vez que eu a vi) que tem potencial para se tornar interessantíssima: uma página para “contato com a imprensa”, contendo os endereços de email de diversos veículos de comunicação a nível nacional e estadual, bem como um breve texto sobre «Como aumentar o efeito de sua carta à imprensa» que merece uma leitura.

O grande problema do Brasil contemporâneo é a enorme discrepância que existe entre as posições ideológicas dos Quatro Poderes e as dos demais cidadãos, meros mortais. Quanto mais estes puderem se fazer ouvir, melhor, e neste sentido é muitíssimo bem-vinda qualquer iniciativa que se proponha a tirar o tal “povo brasileiro” dos discursos demagógicos e trazê-lo para o protagonismo da vida social verdadeira. Há uma guerra ideológica em curso, e simplesmente não faz sentido nos omitirmos de lutá-la.

A segunda notícia é esta d’O Estado de São Paulo, replicada por Zero Hora: HIV ainda desafia saúde pública. Vem da imprensa laica, portanto. Os dados apresentados nela são os seguintes:

Nos dados mais recentes do Ministério da Saúde, de 2012, homens que fazem sexo com homens aparecem como de maior vulnerabilidade: 10,5% estão infectados [com o vírus da AIDS]. Na população em geral, a incidência é de menos de 0,5%.

A desproporção salta aos olhos: na população em geral, nós só encontramos um soropositivo a cada 200 pessoas. Entre os tais «homens que fazem sexo com homens»gays, portanto, por mais que os homossexuais “puros” aparentemente não queiram ser contados entre eles e vice-versa -, é um a cada dez! Por mais que o tempo passe, os grupos de risco continuam existindo, e mudar a forma como se lhes denomina («Não é mais uma questão de se falar em grupo de risco — como ocorreu no começo da epidemia e criou estigmas até hoje dolorosos —, mas entender quem está mais vulnerável», fala Alexandre Naime Barbosa, infectologista entrevistado na matéria) é somente uma tentativa cômoda de mascarar o problema. É óbvio que não o resolve, e nem muda o fato de que há proporcionalmente muito mais soropositivos entre os que vivem como em Sodoma do que entre os que vivem como a Igreja prega! Que aos olhos de muitos Ela seja culpada pela epidemia da AIDS no mundo ao mesmo tempo em que se exalta nas alturas o homossexualismo é somente outro sintoma das loucuras e contradições do mundo moderno.

Tem mais um detalhe. Essa notícia não é muito diferente de outra que eu comentei há quase cinco anos aqui no Deus lo Vult!; na verdade é praticamente igual. Em meados de 2008 eu disse aqui: «Os “[h]omens que fazem sexo com homens são 19 vezes mais propensos a contraírem o vírus HIV do que a população em geral”, como diz o GLOBO» – os dados eram a nível mundial. A matéria de então d’O GLOBO ainda está lá.

Cinco anos, toneladas de camisinhas e milhões gastos com campanhas anti-homofobia depois, os gays em questão ainda são 20 vezes mais propensos a contraírem o HIV do que a população em geral! A realidade não tem compromissos ideológicos. E, depois de fracassos acumulados sobre fracassos, é espantoso que aparentemente ninguém nunca se pergunte se estão de fato fazendo a coisa correta para combater a AIDS. Mas a ideologia fala sempre mais alto: questionar o establishment é pecado mortal, e é incompreensível que os nossos dados epidemiológicos ainda insistam em ser tão obscurantistas.

Os grupos de risco existem

Se até o GLOBO noticia, então é porque a verdade é tão evidente que não dá mais para camuflar: risco de contrair HIV ainda é mais alto em gays. Uma notícia análoga já havia sido comentada aqui.

Os “[h]omens que fazem sexo com homens são 19 vezes mais propensos a contraírem o vírus HIV do que a população em geral”, como diz o GLOBO, risco que pode chegar a ser “179 vezes maior na Bolívia” – os negritos são meus. A doença – que “foi inicialmente detectada entre os gays” no início da década de 80 –  espalhou-se tanto desde então que os especialistas reunidos na Conferência Internacional de Aids chegaram à conclusão de que “governos e agências de saúde internacionais não souberam lidar com a crescente epidemia de HIV entre homens que fazem sexo com homens”.

Por “agências de saúde internacionais”, entenda-se ONU e OMS. Por “não souberam lidar”, entenda-se insistiram no uso “panacéico” do preservativo. Quem vai se levantar contra estes irresponsáveis que são, em última instância, os responsáveis diretos pela não-contenção da doença?

Incluam no rol dos [ir]responsáveis o Ministério da Saúde do Brasil. Porque, afinal, permanece no site do Programa Nacional de DST e Aids:

P. Atualmente, ainda há a distinção entre grupo de risco e grupo de não risco?
R. Essa distinção não existe mais. No começo da epidemia, pelo fato da aids atingir, principalmente, os homens homossexuais, os usuários de drogas injetáveis e os hemofílicos, eles eram, à época, considerados grupos de risco. Atualmente, fala-se em comportamento de risco e não mais em grupo de risco, pois o vírus passou a se espalhar de forma geral, não mais se concentrando apenas nesses grupos específicos. Por exemplo, o número de heterossexuais infectados por HIV tem aumentado proporcionalmente com a epidemia nos últimos anos, principalmente entre mulheres.

E, seguindo a mesma linha da inversão da realidade, os comentários postados na página da notícia chegam ao ridículo:

#  Faísca 05/08/2008 – 14h 22m
Os homofóbicos de plantão se esquecem de que foi a atitude dos gays que contribuiu para se estancar a epidemia de aids, pois este grupo logo se mobilizou e deu sua contribuição. O que acontece hoje é que a homofobia impede campanhas voltadas para este grupo e os jovens gays como não viram a epidemia no auge não têm tanto medo da aids. Pesquisas indicam que os jovens gays pouco vão ao médico por medo do preconceito. Omissão do Governo, desinformação e preconceito deixam os gays sem amparo algum.

Oras, a simples afirmativa de que havia grupos de risco sempre foi – e ainda é – tachada de homofobia! Agora, a culpa do crescimento da doença entre os gays, ao invés de ser daqueles que militaram para convencer o mundo inteiro de que não há risco de contágio adicional algum associado ao homossexualismo, é dos “homofóbicos” que sempre disseram o contrário! Haja paciência…