Os bebês e os anciãos: sobre chinesa que resgata recém-nascidos jogados no lixo

Mais uma da série Belas Histórias: Chinesa de 88 anos salva mais de 30 bebês abandonados nas ruas. No meio de tanta porcaria que a gente costuma lê na imprensa, vale a pena conhecer um pouco da vida de Lou Xiaoying.

“Mesmo que eu esteja ficando velha, eu simplesmente não podia ignorar aquele bebê e deixar ele morrer no lixo. Ele olhava tão doce e tão necessitado que tive que leva-lo para casa comigo”, disse ela.

Um pouco de contexto: na China, país famoso pela implantação rígida (e desumana e irresponsável) da assim chamada política de filho único, é comum que os filhos “clandestinos” ou “indesejados”, quando não são abortados “voluntariamente” ou à força, sejam simplesmente mortos ou abandonados para morrer (aos que tiverem estômago, vejam este vídeo). Aliás, en passant, vale lembrar que as maiores vítimas desta política  bárbara são as meninas chinesas, uma vez que as famílias, só podendo ter um único filho, preferem muitas vezes que este seja um filho homem, com maior facilidade para trabalhar e ajudar a família quando crescer. O resultado disso é que há milhões (isso mesmo, milhões) de chineses que, pela aplicação elementar do princípio das casas-de-pombo, simplesmente não encontrarão no seu país uma esposa com quem casar. Maravilhas da China.

Mas voltando à história de Lou Xiaoying, acho-a particularmente profética porque ela nos revela a nobreza de dois estágios da vida humana absurdamente desvalorizados nos dias de hoje: a primeira infância e a velhice, os bebês e os anciãos, ambos desprezados pelo hedonismo generalizado atual, pelo aborto e infanticídio de um lado e pela eutanásia (por vezes compulsória…) do outro. Ver uma velha chinesa catadora de lixo cuidando de crianças cujos pais tiveram a vilania de as abandonar para morrer… é um tapa sem mão no egoísmo moderno, é uma resposta tão dura e tão bem dada aos bárbaros que nos governam (e que adoram encher a boca para falar de “direitos reprodutivos” ou para defender o “direito a uma morte digna”) que, se eles tivessem algum resquício de vergonha na cara, deveriam abaixar a cabeça e se retirar para algum lugar distante e isolado onde pudessem meditar nos seus crimes e fazer penitência pelo mal que provocaram à humanidade.

E, last but not least, também é preciso mencionar a repercussão que esta notícia teve: até o presente momento, tem 149 tweets e 711 recomendações do Facebook, mesmo sem estar na coluna de notícias mais lidas. Isto significa que – como eu falei há não muito tempo analisando um outro caso correlato – as pessoas conseguem distinguir o certo do errado mesmo a despeito da propaganda massiva da mídia que tenta subverter o seu senso moral a todo custo, e elas conseguem identificar o heroísmo quando ele está na frente delas, e elas o admiram e entendem que isto é o que deve ser valorizado e promovido, e não as últimas modas assassinas que, inobstante, insistem em monopolizar maior espaço nos nossos meios de comunicação vendidos aos inimigos da humanidade.

A vida humana merece respeito desde a sua concepção até a sua morte natural. Se há pessoas egoístas o bastante para não perceberem este fato óbvio, isto se trata de um evidente e grave defeito de caráter que deveria receber censuras dos que mantém intacto o seu bom senso, e não as loas dos formadores de opinião ávidos por o elegerem como comportamento-modelo moderno e civilizado. Os doentes que não querem os seus velhos e as suas crianças, ao menos tenham a decência de os deixar viver! A despeito do que digam, os velhos podem servir ao menos para cuidar das crianças abandonadas e, estas, quando crescerem, poderão amparar os anciãos que as salvaram quando ninguém mais apostava nelas. E um futuro onde vivam tais crianças parece-me, sob qualquer aspecto, muito melhor do que um futuro onde a atual mesquinharia egoísta reine absoluta.

Tristeza, por favor, vá embora…

Eu sempre achei essa propaganda genial. Sem cenas apelativas, sem músicas de péssimo gosto, sem basear-se exclusivamente em personagens famosos (a presença de Marcos Palmeira é completamente acidental), sem mensagens subversivas, sem nada. Apenas apontando uma característica do brasileiro com a qual todo mundo se identifica: a alegria, o bom humor, a capacidade de encontrar motivos para diversão até mesmo diante das adversidades.

Há quem diga que esse é um dos motivos pelo qual o país “não vai para frente”, porque os brasileiros não conseguem levar nada a sério, estão sempre sorridentes e satisfeitos com tudo e com qualquer coisa, têm a irritante mania de levar tudo na brincadeira. Eu discordo em grande parte. Sem dúvidas é necessário ter seriedade na vida. Mas a alegria, antes de ser um fator conformista de manutenção do status quo, é uma poderosa força para enfrentar as adversidades.

Chesterton termina o seu Ortodoxia falando sobre a alegria de Nosso Senhor Jesus Cristo. Permito-me citar os dois parágrafos completos, uma vez que o escritor inglês sem dúvidas consegue se expressar muito melhor do que eu:

A alegria, que foi a pequena publicidade do pagão, é o gigantesco segredo do cristão. E no fechamento deste caótico volume torno a abrir o estranho livrinho do qual proveio o cristianismo; e novamente sinto-me assombrado por uma espécie de confirmação. A tremenda figura que enche os evangelhos ergue-se altaneira nesse respeito, como em todos os outros, acima de todos os pensadores que jamais se consideraram elevados.

A compaixão dele era natural, quase casual. Os estóicos, antigos e modernos, orgulhavam-se de ocultar as próprias lágrimas. Ele nunca ocultou as suas; mostrou-as claramente no rosto aberto ante qualquer visão do dia-a-dia, como a visão distante de sua cidade natal. No entanto, alguma coisa ele ocultou. Solenes super-homens e diplomatas imperiais orgulham-se de conter a própria ira. Ele nunca a conteve. Arremessou móveis pela escadaria frontal do Templo e perguntou aos homens como eles esperavam escapar da danação do inferno. No entanto, alguma coisa ele ocultou. Digo-o com reverência; havia naquela chocante personalidade um fio que deve ser chamado de timidez. Havia algo que ele encobria constantemente por meio de um abrupto silêncio ou um súbito isolamento. Havia uma certa coisa que era demasiado grande para Deus nos mostrar quando ele pisou sobre esta nossa terra. As vezes imagino que era a sua alegria.

A alegria é uma grande dádiva de Deus. Não é irresponsabilidade, não é fuga aos próprios compromissos, não é conformismo nem nada disso: ao contrário, é um verdadeiro tesouro. Permite-nos enfrentar as tribulações da vida mais facilmente. Ouso ir mais além: a alegria permite que haja, no mundo, um reflexo daquilo que, segundo Chesterton, Nosso Senhor escondeu quando esteve por esta terra: a alegria eterna, a verdadeira felicidade.

Mas esta alegria da qual falo não é “publicidade pagã”, i.e., não é algo que se ostenta e se busca como um fim em si mesmo. Não é a alegria vazia e hedonista que tão facilmente encontramos no carnaval, não é uma busca desordenada e desenfreada por prazeres. Como tudo na vida cristã, precisa estar ordenada para Deus; afinal, quem foi que disse não ser possível haver uma alegria ordenada para o Fim Último, para o Deus que – conforme rezamos na Santa Missa – alegra a nossa juventude, laetificat juventutem meam?

Gosto daquela propaganda, porque a alegria lá expressa é inocente. E é a cara do brasileiro que sofre, que tem problemas, mas que consegue manter um sorriso no rosto, consegue encontrar ânimo diante das adversidades. Claro, ela não é perfeita, porque é bastante fácil – principalmente nos nossos dias! – perder Deus de vista e idolatrar o prazer. Mas, quando penso no bom humor brasileiro, eu penso em algo que tem um excelente potencial de ser bem utilizado. Penso em algo que poderia, se bem direcionado, ser um bonito reflexo neste mundo da alegria do Onipotente. Enfim, gosto de pensar que Deus, do alto dos Céus, sorri de volta quando vê um brasileiro, em estado de graça, alegrando-se da forma que sabe tão bem fazer.

A repulsa à Cruz de Cristo

Recebi hoje uma notícia segundo a qual uma igreja britânica decidiu retirar uma imagem de Cristo Crucificado da frente do templo, porque era desagradável aos fiéis – e “assustava as crianças”. Pelo que pude entender da reportagem, é uma igreja protestante; provavelmente anglicana.

A escultura (tem uma foto na reportagem linkada acima) é feia, mas não por ser uma “descrição horrenda da dor e do sofrimento”, e sim por ter sido feita numa arte moderna pela qual eu tenho uma natural repulsa. Não é tanto de causar tristeza a remoção da “obra de arte”, mas sim os motivos alegados para que ela fosse removida: o hedonismo do mundo moderno está contaminando até mesmo os cristãos, que não suportam mais pôr os olhos no Homem das Dores.

Ah, se eles soubessem que é precisamente a dor de Nosso Senhor que nos deve ser causa de santa alegria… se eles soubessem que “fomos curados graças às Suas chagas” (Is 53, 5)! Querer afastar a dor da vida é criar uma ilusão, porque nós vivemos – como rezamos na Salve Rainha – em um “Vale de Lágrimas”, e as tribulações não “desaparecem” quando nós fechamos os olhos e nos recusamos a vê-las. Devemos enfrentar os nossos sofrimentos e carregar as nossas cruzes; não fingir que elas não existem, porque existem, quer as aceitemos, quer não.

Ouvi certa vez alguém dizer que, no Calvário, havia três cruzes, para nos ensinar que todos sofrem: sofrem os inocentes, como Cristo, sofrem os pecadores penitentes, como São Dimas, e sofrem os que não aceitam o sofrimento, como “o Mau Ladrão” (Gesmas ou Gestas). É pouquíssimo provável que nós consigamos sofrer como inocentes, mas precisamos, no mínimo, aproveitar o nosso sofrimento para mais perfeitamente nos unirmos a Cristo Nosso Senhor, como São Dimas. O que não podemos, de nenhuma maneira, é sofrer como Gestas!

Dizer que o Crucificado assusta crianças é uma tremenda bobagem, somente concebível numa sociedade que tenciona, talvez, criar as suas crianças dentro de uma bolha cor-de-rosa onde o sofrimento não tem lugar. Quando, um dia, essas crianças forem confrontadas com “o mundo de verdade”, será então um grande choque; o mundo pode prometer uma vida sem sofrimentos, mas ele nada pode contra a palavra do Criador, que nos diz que, no mundo, havemos de ter aflições (cf. Jo 16, 33). Uma promessa de uma terra sem males é utópica e enganosa – a única esperança que podemos ter está precisamente na Cruz de Nosso Senhor, pois foi aí que Ele demonstrou o Seu amor por nós. Não com uma mentira reconfortante, mas com a verdade nua e crua, dolorosa, do Seu Divino Sangue se esvaindo, de Seus pés e mãos transpassados, da agonia do corpo exausto e ferido, dependurado à vista de todos, morrendo para que tivéssemos vida… Nós não queremos a falsa segurança de uma vida a salvo da morte, mas – ao contrário – a esperança de uma Vida apesar da morte. É disso que precisamos: da Verdade. A Cruz de Nosso Senhor nos traz à memória, de súbito, todo o cerne da mensagem de Salvação das Escrituras Sagradas: somos pecadores, Deus nos ama, temos esperança.

O mundo odeia a Cruz de Cristo… até onde pode ir um mundo que odeie o sofrimento? Como não perceber que uma concepção da vida que exclua a dor não vai poder produzir senão traumas e decepções, quando as pessoas se depararem – e fatalmente se depararão – com o mundo real? Busquemos o Crucificado, esforcemo-nos para estarmos sempre juntos de Nosso Senhor. E, junto com São Paulo, anunciemos com destemor “Cristo crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os pagãos; mas, para os eleitos – quer judeus quer gregos -, força de Deus e sabedoria de Deus” (1Cor 1, 23-24).