Igreja Santa e Pecadora?

[Traduzo trecho do Angelus do Papa Bento XVI de ontem. Lembrei-me da malfadada expressão “Igreja Santa e Pecadora” que encontramos amiúde. Desnecessário dizer que o Papa não a utiliza. A idéia por ele retomada é a da Lumen Gentium, capítulo 8: “a Igreja, contendo pecadores no seu próprio seio, simultaneamente santa e sempre necessitada de purificação, exercita continuamente a penitência e a renovação”.

A Igreja conter pecadores no Seu seio é diferente da Igreja ser pecadora; a primeira expressão é uma obviedade e, a segunda, é herética. É no primeiro sentido que deve ser entendido tudo quanto vem de Roma. São os modernistas que abusam do termo – infeliz, reconheçamos – para “dessacralizar” a Igreja e negar o artigo do Credo segundo o qual a Igreja é Santa.

Conheço uma única utilização da expressão “Igreja Santa e Pecadora” por um Papa: foi João Paulo II em 1982. É claro que o Papa a aplica no sentido católico. No entanto, desde então – talvez por causa da confusão que ela causou -, nunca mais foi utilizada…]

Caros amigos, a mais bela flor brotada da palavra de Deus é a Virgem Maria. Ela é as primícias da Igreja, jardim de Deus sobre a terra. Mas, enquanto Maria é a Imaculada – assim a celebraremos depois de amanhã [terça-feira] -, a Igreja tem continuamente necessidade de Se purificar, porque o pecado prejudica [insidia] todos os Seus membros. Na Igreja, está sempre em ato uma luta entre o deserto e o jardim, entre o pecado que torna a terra árida [inaridisce] e a Graça que a irriga para que produza frutos abundantes de santidade. Rezemos, assim, à Mãe do Senhor, a fim de que Ela nos ajude, neste tempo do Advento, a “endireitar” [raddrizzare] as nossas veredas, deixando-nos guiar pela palavra de Deus.

Bento XVI
Angelus, 6 dicembre 2009

Apanhado de notícias

Relíquias de Dom Bosco em Curitiba, desde ontem: para quem estiver na cidade, hoje “a urna estará na Paróquia São Cristóvão (Rua Santa Catarina, 1.750, Vila Guaíra), também podendo ser visitada durante todo o dia, com missas às 10, 15 e 20 horas”.

– Aproveitando, sobre relíquias, ver Dom Estêvão em uma Pergunte & Responderemos de 1960, pp. 194-202. “Com estas palavras [Mc 14, 6-9; elogio “a respeito de Maria de Betânia, que ungira o corpo do Mestre pouco antes do desenlace final”] Jesus aprovava solenemente a veneração póstuma do seu corpo sagrado. Os dizeres do Divino Mestre implicavam outrossim um convite a que se tratassem de modo semelhante os despojos de todos os justos que Ele no decorrer dos tempos enxertaria em seu Corpo Místico”.

– Reportagem que não entendi: Bispos anglicanos recusam proposta do Papa. “Cerca de 30 bispos e arcebispos anglicanos, opostos à linha liberal da Igreja no que se refere à homossexualidade, recusaram esta quarta-feira a proposta do Vaticano de se converterem ao catolicismo” – grifos meus. Hein?! Que linha liberal da Igreja? Será que estes anglicanos apedrejam homossexuais?

Audiência Geral do Sumo Pontífice: arte e verdade, a Beleza como um caminho para encontrar Deus. O Papa falou sobre as catedrais medievais. Leiam na íntegra, pois não consigo citar tudo que gostaria! “O impulso ao alto [das catedrais góticas] queria convidar à oração e era em si mesmo uma oração. A catedral gótica queria traduzir, assim, em suas linhas arquitetônicas, o desejo das almas por Deus. (…) Das vidreiras pintadas se derramava uma cascata de luz sobre os fiéis para narrar-lhes a história da salvação e envolvê-los nesta história”.

Comissão da CNBB prepara Seminário Nacional de Liturgia. “A equipe lembrou também o início do movimento litúrgico impulsionado por Lambert Beaudin ao afirmar, em 1909, a necessidade de ‘democratizar a liturgia'” – valei-nos Deus! A tradução da Editio Typica Tertia do Missal Romano, no entanto, que aliás já tem até uma versão corrigida, não aparece nesta Terra de Santa Cruz. Domine, usquequo?

Good bye, bad bishops: site que mostra contadores em tempo real indicando quanto tempo falta para alguns purpurados apresentarem a sua renúncia. A grande maioria é de bispos americanos, embora estejam lá o Schönborn e o Kasper. A versão tupiniquim de um site desses… deixa para lá.

Discurso do Papa aos bispos da Regional Sul 1. “Dado que a consciência bem formada leva a realizar o verdadeiro bem do homem, a Igreja, especificando qual é este bem, ilumina o homem e, através de toda a vida cristã, procura educar a sua consciência. O ensinamento da Igreja, devido à sua origem – Deus –, ao seu conteúdo – a verdade – e ao seu ponto de apoio – a consciência –, encontra um eco profundo e persuasivo no coração de cada pessoa, crente e mesmo não crente”.

A Eucaristia, a Igreja e eu

O reverendíssimo Dr. Pe. João Carlos Almeida, scj, em seu blog, tem-se esforçado por tentar provar a sua tese sobre a “constituição eucarística da Igreja e de cada batizado”, utilizando-se para isso de documentos da Santa Igreja Católica. Julga o reverendo sacerdote ter encerrado a polêmica ao citar a Sacramentum Caritatis, de SS Bento XVI, onde é dito: “Assim, «tornamo-nos não apenas cristãos, mas o próprio Cristo»” (Sacramentum Caritatis, 36).

Não tenho certeza de que o pe. João Carlos compreenda realmente o que está falando. Em um post do seu blog no qual ele pergunta se [s]erá heresia afirmar que a constituição da Igreja é essencialmente Eucarística, ele afirma corretamente: “a antiguidade cristã designava com as mesmas palavras — corpus Christi — o corpo nascido da Virgem Maria, o corpo eucarístico e o corpo eclesial de Cristo”. Perfeitamente; no entanto, dizer somente isso é amputar a Doutrina Católica e propiciar o surgimento de erros crassos na compreensão do dogma.

É impressionante: parecem aquelas piadas de “lógica” que circulam pela internet. “Eu não sou ninguém, ninguém é perfeito, logo eu sou perfeito. Mas só Deus é perfeito, logo eu sou Deus. Deus é amor, o amor é cego, logo Deus é cego. Mas eu sou Deus… meu Deus, eu sou cego!”. A argumentação do reverendíssimo pe. João Carlos, data maxima venia, urge dizer, é estritamente análoga: “a Eucaristia é o Corpo de Cristo, a Igreja é o Corpo de Cristo, logo a Igreja é a Eucaristia. Eu sou a Igreja, a Igreja é a Eucaristia, logo eu sou eucarístico”. As conclusões repugnam o bom senso tanto quanto aquelas às quais chegou o sujeito da piada que se descobriu cego por meio do exercício especulativo. São absurdas e é muitíssimo fácil demonstrar: se eu sou a Eucaristia e a Eucaristia é digna de adoração, logo eu sou digno de adoração. A menos que eu seja Deus – e não me consta que eu seja -, isso é idolatria. Logo, por reductio ad absurdum, resta claríssimo, sem a menor sombra de dúvidas, que nem a Igreja é – e nem muito menos eu sou – a mesma coisa que a Eucaristia.

O problema aqui é terminológico, e é o mesmíssimo da aplicação indiscriminada da palavra “presença”, confundindo a presença eucarística com a presença nos cristãos reunidos ou nas Escrituras Sagradas. As palavras não têm um único sentido. A aplicação indiscriminada de palavras que significam coisas distintas em contextos distintos, sem que isso seja deixado claro, confunde os fiéis. E, na minha opinião, todo problema de terminologia é sintoma de um problema cognitivo: o sujeito que não consegue explicar algo direito, é porque provavelmente não o compreende direito. Por isso que eu disse acima não ter certeza de que o reverendíssimo pe. João Carlos compreenda o seu discurso.

A Igreja é sem dúvidas o Corpo de Cristo, mas é o Corpo Místico de Cristo. E Santo Tomás de Aquino ensina que se chama a Igreja inteira Corpo Místico por analogia com o corpo natural do homem (Summa, IIIa, q.8, a.1, responsio). A Eucaristia, por sua vez, é real e substancialmente o Corpo de Cristo, sem o ser – como a Igreja – de maneira análoga. E isso faz toda a diferença.

Santo Tomás faz tanta questão de não confundir as duas realidades que, falando sobre a Eucaristia, distingue n’Ela uma coisa, “significada e contida no Sacramento, que é o mesmo Cristo, e outra, significada e não contida, que é o corpo místico de Cristo”, a sociedade dos santos (Summa, IIIa, q.80, a4, responsio). A primeira é res et sacramentum e, a outra, res tantum: não dá para confundir as realidades como se fossem uma só e a mesma realidade (cf. também Summa, IIIa, q.73; em especial a.6, responsio). Receber o Corpo de Cristo é, sim, unir-se (mais) ao Corpo [Místico] de Cristo, mas as palavras significam coisas distintas: a primeira é o Sacramento em si e, a segunda, o efeito do Sacramento. “Tornar-se o próprio Cristo” [i.e., ser parte constituinte do Corpo Místico de Cristo, que é a Igreja] não tem nada a ver com “tornar-se a Eucaristia”. Os sentidos são múltiplos, e é importante não confundi-los.

Toda esta confusão poderia ser evitada se os ministros do Deus Altíssimo tivessem um maior cuidado com os seus discursos, preocupando-se mais em transmitir a Doutrina Católica do que em fazer rebusques de retórica que, dependendo do público ouvinte [ou leitor], podem provocar muito mais mal do que bem. Causa finita, sim, mas somente quando se compreende exatamente o quê Roma locuta. O exercício do munus docendi não é simplesmente citar trechos pinçados de documentos pontifícios sem os explicar. Pra fazer isso, aliás, ninguém precisa de doutorado em Roma.

Nossa Senhora da Conceição dos Militares

Eu lamento não ter fotos melhores – essas foram tiradas de celular, em um fim de  tarde quando, “por acaso”, eu passava diante da Igreja de Nossa Senhora da Conceição dos Militares, aqui em Recife, no centro da cidade. A igreja foi restaurada recentemente e é magnífica, mesmo não sendo tão imponente como outras igrejas grandes que nós temos na cidade.

Os púlpitos no alto, o altar-mor, os altares laterais, o teto pintado com uma grande imagem da Virgem, e um grande quadro retratando uma das batalhas entre católicos e protestantes – portugueses, negros e índios contra holandeses – da época da Colônia; Pernambuco um dia honrou a Fé trazida pelos portugueses.

Gosto de pensar nesta invocação da Virgem – Nossa Senhora da Conceição dos Militares – cuja origem eu não conheço. Gosto de imaginar a Virgem militante, general dos soldados de Cristo, avançando como a aurora, temível como um exército em ordem de batalha. Tu gloria Ierusalem, Tu laetitia Israel, como está gravado num dos púlpitos da igreja; a Rainha dos Céus, a preferida do Senhor dos Exércitos. Recorremos à Vossa proteção, Virgem Santíssima. Guardai-nos e defendei-nos. Sede em nosso favor. Livrai-nos dos perigos. Conduzi-nos ao Céu. Concedei-nos que Vos louvemos. Dai-nos virtude contra os Vossos inimigos.

En Passant

O “Pacientes na Tribulação” resolveu escrever contra um artigo do Veritatis Splendor – artigo este, aliás, que foi posteriormente tirado do ar pelo próprio VS. Não tenho tempo para me meter na polêmica agora [ainda tenho, aliás, algumas pendências com os senhores Sandro Pontes e Felipe Coelho aqui, das quais não me esqueci]; gostaria somente de registrar o ocorrido e comentar uma frase feita nos comentários. O autor do blog disse o seguinte:

Quando os protestantes falam em “Roma”, eles querem atacar a Igreja Católica enquanto instituição. Quando um tradicional usa o termo “Roma modernista”, ainda que impróprio, refere-se aos modernistas infiltrados na Santa Igreja de Roma.

E isso não me parece uma diferença lá muito grande, porque também os protestantes não atacam “a Igreja em Si” com a clareza de consciência de que o estão fazendo, e sim a Igreja Católica que, para eles, não é a Igreja de Cristo. Pari passu, quando os “tradicionalistas” atacam o Papa [que, para alguns, não é o Vigário de Cristo…], a semelhança [antes que comecem os protestos, uso o termo “semelhança” de propósito, a “igualdade” preferindo-o] é evidente.

– Na Argentina [a notícia tem um mês mas eu ainda não comentei sobre o assunto aqui] segue o processo de descristianização da sociedade por meio da campanha de apostasia coletiva promovida no país. Os inimigos da Igreja que, antes, agiam de maneira sutil, envenenando a cultura, promovendo anti-valores nos meios de comunicação, debochando dos religiosos, etc., agora saem às ruas para, às claras, falar em apostasia e em repúdio formal à Igreja de Nosso Senhor.

A campanha de apostasia em andamento na Argentina foi lançada no dia 7 de março com o slogan “Não em meu nome!”. O objetivo é fazer chegar á Igreja católica argentina o maior número de pedidos de apostasia. A este propósito foi criado um site onde os interessados a pedir a apostasia podem baixar e preencher uma carta endereçadas às autoridades eclesiásticas.

Deus tenha piedade da Argentina.

Missas suspensas em Cidade do México, por causa da gripe suína; o México confirmou a oitava morte. Os colégios estão fechados, mas as igrejas não: os fiéis podem continuar a rezar nelas, caso o desejem. Não entendo, portanto, o motivo da suspensão das celebrações; da última vez que isso aconteceu no México, os motivos eram mais sérios e, os resultados, foram mais trágicos [aliás, vale muito a pena – recomendo enfaticamente – ver um velho cristero falando sobre “el gobierno cabrón” e cantando Viva Cristo Rei!]. Que Nossa Senhora de Guadalupe proteja o México: Santa Maria de Guadalupe, a ti rogamos proteção e amparo, para que em breve vençamos essa epidemia que afligiu o nosso país, pois tu nos amas com um afeto especial. Com o teu cuidado maternal velas sobre nós e com a tua intercessão maternal estás sempre disponível para nós.

Garota em São Paulo está grávida da namorada; lesbianismo, dupla de homossexuais cuidando de crianças, fecundação artificial heteróloga, barriga de aluguel: um verdadeiro compêndio de imoralidades e de ofensas à lei de Deus. Segundo a notícia dada por Jamildo, o que as duas querem “é sair da maternidade juntas, com um documento que permita registrar as crianças no cartório com o sobrenome de cada uma e o nome das duas mães na certidão de nascimento”; acaso isso é permitido no Brasil?! Ontem à noite, nasceram os gêmeos. Diante das câmeras. Sob o entusiasmo dos gayzistas de todos os naipes. Tenha Deus misericórdia de nós todos.

40 anos

Hoje, a Missale Romanum completa exatos quarenta anos. Eu nem sabia, quando publiquei ontem à noite um texto sobre a Santa Missa… Foram quarenta anos difíceis. É impossível negar…

Quarenta é um bom número. Lembra-me os quarenta anos do deserto ao fim dos quais os judeus entraram na Terra Prometida, os quarenta dias no deserto ao fim dos quais Nosso Senhor começou a Sua vida pública, os quarenta anos da Quaresma ao fim dos quais, todos anos, nós celebramos a Santa Páscoa. E dá-me esperanças…

Quem me conhece, sabe da minha predileção pelas coisas antigas. Já falei por diversas vezes. E, quem me conhece, sabe também que eu não me alinho com as posições dos que negam a autoridade do Papa – e da Igreja – de legislar; quem me conhece, sabe que eu não julgo aceitável pôr em questão a Suprema Autoridade de Governo da Igreja Católica. O que está promulgado, promulgado está. “Non fit disputatio”, como quer que se escreva isso.

O que não me impede de ter as minhas predileções, e minhas esperanças. Não me impede de me alegrar ao ver-me, no final da Quaresma, aos quarenta anos da Missale Romanum. Quarenta anos…! Oremus pro Ecclesia Sancta Dei.

Introibo ad altare Dei

missa-pos-guerra
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Não sei exatamente onde e quando foi tirada esta foto; talvez seja até muito famosa e eu não a conheça. O amigo que me enviou, disse-me que foi uma missa celebrada em uma igreja destruída na Segunda Guerra Mundial, logo após o fim da guerra. Gosto sobremaneira dela: dá pra ver os escombros e, mesmo assim, quase dá para sentir o quanto as pessoas estão compenetradas no serviço litúrgico. O templo está em ruínas; mas a Santa Missa é celebrada com toda a dignidade, como se estivesse sendo celebrada na mais imponente igreja da Europa. O templo está destruído, mas a Fé está viva: a Fé sobreviveu à Guerra, sobreviveu aos bombardeios, sobreviveu à destruição. Após o fim da Guerra, volta-se a celebrar a Santa Missa; o sacerdote mais uma vez se paramenta, os assistentes mais uma vez se preparam, os degraus do altar são mais uma vez subidos, o Sacrifício de Cristo mais uma vez se faz presente.

E gosto de olhar para esta foto e pensar que… Deus não nos abandona jamais. O templo físico pode estar destruído, mas basta um sacerdote para que, lá, aconteça o maior milagre da Graça, para que Deus Se faça real e substancialmente presente. Mesmo em meio aos escombros. Mesmo quando tudo está destruído, é possível subir ao altar de Deus, que é a nossa alegria – introibo ad altare Dei / ad Deum qui laetificat iuventutem meam. Mesmo em meio ao pó e às ruínas, é possível cantar os louvores do Altíssimo – confitebor tibi in cithara, Deus, Deus meus. Mesmo quando não temos mais nada, é-nos possível esperar em Deus – spera in Deo, quoniam adhuc confitebor illi.

E, ao mesmo tempo, é triste olhar para esta foto e imaginar que, se fosse nos dias de hoje… quem iria oferecer a Santa Missa nestas condições? Em uma igreja em ruínas, após a guerra, sem luz elétrica, [aparentemente] sem povo… em quantas almas católicas encontraríamos hoje o zelo pelas coisas de Deus demonstrado por estes cinco homens numa fotografia em branco e preto? E, no entanto, isto é tão importante, pois é para isso que os sacerdotes são ordenados…!

Nos escombros de uma igreja, sozinho, o sacerdote se mantém firme porque sabe que está diante de Deus. Sabe que é à Trindade Santa que ele está ofertando o Sacrifício do Corpo e Sangue do Senhor. Sabe que o ritual por ele desempenhado tem valor infinito, e Deus é digno de ser infinitamente adorado. Sabe que toda a Igreja está com ele; que a Santa Missa transcende o tempo e o espaço e o coloca diante do Trono Eterno do Altíssimo. Sabe tudo isso e, por isso, porta-se como convém. Mesmo numa igreja em ruínas.

Será pedir muito encontrar este zelo nos sacerdotes dos nossos dias? Será sonhar muito alto querer que os ministros do Deus Altíssimo sejam ciosos das coisas sagradas, inflamados de um santo desejo da glória de Deus e da salvação das almas? Rezemos ao Senhor da Messe, para que nos mande bons trabalhadores. E elevemos os olhos para os Céus, de onde nos virá o nosso socorro. Esperemos em Deus. Nunca nos esqueçamos dessa verdade tantas vezes repetidas na Liturgia da Santa Igreja: adjutorium nostrum in nomine Domini / qui fecit coelum et terram.

Separando a Luz das trevas

Uma boa forma de começar o dia: recebendo os emails de uma certa senhora, que se diz católica, mas que só divulga mensagens contrárias à Igreja. Desta vez, a pérola foi uma matéria publicada no El País e traduzida para o português pela UOL Notícias. E é uma boa forma de se começar o dia porque dá gosto ver os inimigos da Igreja estrebuchando, é reconfortante ver os lobos colocando as garras de fora, é motivo de júbilo ver que as coisas passam a se definir e o claro-escuro começa a dar lugar à separação entre luz e trevas.

“Decisões anacrônicas mostram incapacidade de Ratzinger em guiar o Vaticano”, é o título da reportagem. Basta o Papa ser católico para essa corja reclamar; é suficiente que Bento XVI tome atitudes que redundem no bem da Igreja, na Glória de Deus, na salvação das almas, para que – por menores que sejam elas! – os inimigos de Deus venham a público rasgar as vestes. Excelente. [E]t divisit [Deus] lucem ac tenebras (Gn 1, 4); hoje, à semelhança daquele Primeiro Dia, Bento XVI esforça-se para separar a luz das trevas, a verdade dos erros, a Fé Católica das heresias, a Igreja de Cristo das falsas religiões.

O ódio ao Santo Padre escorre pelas linhas da matéria, desde a “incapacidade de Ratzinger em guiar o Vaticano” do título até o “[p]or isso há muitos bispos em guerra” do último parágrafo. Perpassando todo o texto, a vontade de criar uma Igreja diferente d’Aquela deixada por Nosso Senhor. Para ficar num só exemplo do ridículo desta gente, segundo o jornalista Filippo di Giacomo, a crise da Igreja “reflete uma doença crônica de sete séculos: seu sistema de governo não funciona nem é colegiado”. Como a Igreja nunca foi “colegiada” no sentido que esta trupe dá ao termo, segue-se que a “doença crônica” diagnosticada não tem sete séculos, tem vinte séculos, e é congênita. Causa espanto uma tão longa sobrevida!

Enfim, não há muita coisa na matéria que mereça comentários. Mas, repito, é reconfortante e motivo de alegria ver as coisas se delinearem, e os inimigos da Igreja apresentarem-se como inimigos da Igreja que são, prescindindo da pele de cordeiro. Alegremo-nos, porque as atitudes do Papa separam a Luz das trevas!

[E]t divisit lucem ac tenebras (Gn 1, 4); antes de derem separadas a luz das trevas, foi necessário que Deus dissesse FAÇA-SE: fiat lux. Desde então, ecoando na História, este “faça-se” a vontade de Deus esteve associado a esta separação; há dois mil anos, em Nazaré (inclusive comemoramos recentemente), uma Virgem disse FIAT e separou Luz de Trevas: fiat mihi secundum verbum tuum (Lc 1, 38), et lux in tenebris lucet et tenebræ eam non comprehenderunt (Jo 1, 5). Non comprehenderunt! Esta oração do Angelus, o Papa a repete todos os dias. E gosto de imaginar que isso explica os acontecimentos recentes, explica as matérias raivosas do El País et caterva, explica a revolta dos maus católicos contra o Papa, explica tudo: quando o Doce Cristo na Terra diz fiat mihi secundum verbum tuum, e quando Deus ouve este FIAT, repete-se o Primeiro Dia e a Luz resplandece nas Trevas: e os inimigos de Deus não compreendem o Santo Padre. Rezemos pelo Papa.

Moral Católica e AIDS

Respondendo a uma pergunta sobre a posição da Igreja Católica frente ao HIV/AIDS, considerada por alguns como irrealista e ineficiente, o Papa disse:

“É minha convicção acreditar que a presença mais importante no front da batalha contra o HIV/AIDS é de fato a Igreja Católica e Suas instituições. (…) O problema do HIV/AIDS não pode ser superado com meros slogans. Se a alma está deficiente [if the soul is lacking], se os africanos não se ajudam uns aos outros, o flagelo não pode ser resolvido pela distribuição de preservativos; bem pelo contrário, nós corremos o risco de agravarmos o problema. A solução só pode vir através de um duplo compromisso: em primeiro lugar, a humanização da sexualidade – em outras palavras, uma renovação espiritual e humana que traga uma nova maneira de agir para com o outro; e, em segundo lugar, uma amizade verdadeira, sobretudo para com os que sofrem, uma prontidão – mesmo que seja através de sacrifício pessoal – para sustentar [to stand by] aqueles que sofrem”.
[Vatican Information Service]

É bem sabido que a Igreja se opõe ao uso da camisinha; não – como dizem alguns expoentes da ignorância coletiva – porque “prefere que as pesssoas peguem aids do que usem camisinha”, mas exatamente ao contrário: porque Ela sabe que não se pode combater a AIDS sem que se combata primeiro a promiscuidade. Ela sabe que não existem receitas miraculosas, nem panacéias universais para que vivamos em uma Terra sem males. Ela sabe que a insistência em um erro não pode produzir senão erros ainda maiores.

A Igreja – como disse o Papa – é a presença mais importante no front do combate contra a AIDS. E eu diria ainda mais: é a Única que não atrapalha. A Única que vai ao cerne do problema. O Papa afirma claramente que a mera distribuição de preservativos pode até mesmo agravar o problema da AIDS; por tocar na ferida do ídolo moderno, é atacado com violência (tanto que até mesmo o porta-voz da Santa Sé teve que se manifestar). Ao redor do mundo, a França diz que os comentários do Papa são “uma ameaça” e o “representante no Brasil do órgão das Nações Unidas para o combate à doença (Unaids), Pedro Chequer”, chegou a chamar o discurso do Papa de “genocida”. Permanecem, contudo, no mero jogo de palavras; a posição da Igreja – contra a qual se levantam furibundos todos os Seus inimigos – dá resultados.

Por exemplo, na Uganda, a política “ABC” de combate à AIDS (primeiro, Abstinence; depois, Be faithful e só por fim Condom – a ênfase é dada na abstinência, na fidelidade, e só em último lugar na camisinha) é a única no mundo que tem trazido resultados significativos no combate à AIDS.

Por exemplo, em Washington, o embaixador da Suazilândia incentiva a abstinência na luta contra a AIDS. Olhando para as políticas eficazes da Uganda, a Suazilândia também resolveu aplicá-las e, por isso, para a AIDS, “o contágio de pessoas infectadas caiu de 42,6 por cento em 2004 para 39, 2 por cento este ano”.

Por exemplo, o Population Research Institute, da Universidade Estadual da Pensilvânia, afirmou que “a Igreja Católica desempenha um papel essencial na contenção da epidemia de AIDS na África”. Vale citar:

A Tailândia tem aproximadamente sessenta milhões de habitantes. Lá existem fortes programas divulgados para o uso de preservativos. Em agosto de 2003 existiam no país quase 900.000 pacientes registrados com AIDS e, aproximadamente, 125.000 óbitos por AIDS.

Em 1991, a Organização Mundial de Saúde previu para esse intervalo de tempo cerca de 60 a 80.000 casos registrados de AIDs.

Essa cifra se contrapõe aos filipinos católicos com setenta milhões de habitantes. Entre os filipinos quase não existe propaganda de preservativos.

Em 30 de setembro de 2003 havia naquele país exatamente 1.946 pacientes com AIDS e 260 mortes por AIDS. Essa é uma fração dos 80 a 90.000 casos, os quais a Organização de Saúde havia previsto para as Filipinas no ano 2000.

De onde se vê que a Moral Católica não é uma coisa “irreal” e “ineficiente”. Irreal é esperar que coisas boas advenham de comportamentos morais desregrados. Ineficiente é combater a AIDS incentivando a promiscuidade.  Irresponsáveis são os lunáticos irracionais que têm verdadeira fé na salvação do gênero humano pela borracha. Em defesa das vítimas da AIDS, no entanto, existe a Igreja Católica; e, independente dos ataques que Ela sofra, vai continuar a oferecer auxílio aos que sofrem. Mais uma vez, os fatos mostram que Ela está correta; e o próprio estrebuchar dos Seus inimigos revela-o de modo insofismável.

Entre a Lua e a Estrela

Dentre uma infinidade de outras coisas que eu recebo no meu email, vez por outra vem um texto do PSOL. Tenho por hábito não apagar absolutamente nada antes de, ao menos, passar a vista por cima da mensagem (por isso que minha caixa de entrada sempre tem centenas – literalmente – de emails não lidos…); foi o que me levou a abrir o email do Partido Socialista e descobrir este texto pró-palestina escrito pela Executiva Nacional do partido.

O PSOL exige que o governo brasileiro mude sua atitude e assuma uma posição ativa de apoio a causa palestina, seguindo no campo diplomático os passos da Venezuela – diz o texto. Penso cá com os meus botões; quem é o PSOL para exigir alguma coisa? Qual a necessidade de que o Governo Brasileiro aja com a mesma insensatez da ditadura venezuelana? Hoje em dia, parece que qualquer um se sente no direito e no dever de fazer exigências passionais, baseando-se em qualquer coisa ou mesmo em nada, e esperando que sua histeria seja sinceramente levada em consideração!

Não tenho conhecimento de causa suficiente para tecer considerações aprofundadas sobre o conflito no Oriente Médio. Outros já o fizeram; em particular, há vários textos do Reinaldo Azevedo no seu blog sobre o assunto nos últimos dias, que podem e devem ser lidos e levados em consideração. Pra ficar em um só exemplo de vários que poderiam ser dados, há um post do dia 05 de janeiro que diz o seguinte:

É dever de todo governo defender o seu território e a sua gente. Mas, curiosamente (ou nem tanto), pretende-se cassar de Israel o direito à reação. Por quê? O que grita na censura aos israelenses é a voz tenebrosa de um silêncio: essa gente é contra a existência do estado de Israel e acredita que só se obteria a paz no Oriente Médio com a sua extinção. Mas falta a essa canalha coragem para dizer claramente o que pretende. Nesse estrito sentido, um expoente do fascismo islâmico como Mahamoud Ahmadinejad, presidente do Irã, é mais honesto do que boa parte dos hipócritas europeus ou brasileiros. Ele não esconde o que pretende. Aliás, o Hamas também não: o fim da Israel é o segundo item do seu programa, sem o qual o grupo terrorista julga não cumprir adequadamente o primeiro: a defesa do que entende por fé islâmica.

Evidentemente, sou muitíssimo mais simpático à posição defendida pelo Reinaldo do que àquela proposta pela Executiva Nacional do PSOL. Ademais, é reconfortante saber que a condenação (virtualmente unânime na mídia nacional) a Israel não é compartilhada pelos próprios israelitas: eles estão unidos.

“Esta é uma Guerra justa, e não nos sentimos culpados quando civis que não pretendemos ferir são feridos porque nós sabemos que o Hamas usa esses civis como escudos humanos”, afirma Elliot Jager, que cuida da página editorial do Jerusalém Post.

Há todavia um outro aspecto da questão que, a meu ver, é posto um pouco de lado. Claro que, no caso presente, a condenação aos judeus repetida ad nauseam et ubique é uma estupidez; claro que Israel tem o direito de se defender, e não há desproporcionalidade alguma. No entanto, e quanto à solução definitiva? O Reinaldo reproduz Ali Kamel:

[P]ara que haja paz, os dois lados têm de ceder em questões tidas como inegociáveis, o apelo às armas têm de ser abandonado, o Estado Palestino deve ser criado ao lado de Israel, cujo direito a existir não deve ser questionado. Se isso acontecer, muitos árabes e israelenses daquela região não se amarão, terão antipatias mútuas, mas viverão lado a lado.

E eu não consigo ver as coisas com esta simplicidade toda, porque existem questões religiosas em jogo, e estas são sempre inegociáveis. Como vão dividir Jerusalém? Como vão distribuir entre as duas partes litigiosas o Monte Sião? A resposta definitiva ao problema, que sempre apontam como se fosse a criação de dois estados – um israelita, um palestino -, é tão absurda que me causa repugnância. O aspecto religioso – o predominante nesta confusão toda – é simplesmente descartado, e querem oferecer soluções “na canetada” que não o levem em consideração. É estúpido.

Então, como se resolve o problema de uma vez por todas? Eu não sei e, sinceramente, não consigo ver nenhuma solução humanamente possível. Não me sinto à vontade para tomar partido entre os infiéis e os pérfidos judeus – ou, para dizer as coisas de outra maneira, entre os descendentes de Ismael e os nossos “irmãos mais velhos” (os descendentes de Esaú), entre árabes e judeus. Não há solução definitiva nestes moldes; há males menores e maiores, mas sempre condicionados a diversos fatores, sempre contingentes.

Não me parece correto dizer, simpliciter, que “a Terra Santa pertence aos judeus”, simplesmente porque – como Esaú – a Sinagoga perdeu a primogenitura, e o verdadeiro povo de Deus é, hoje, a Igreja Católica e Apostólica. Incomoda-me um pouco um certo entusiasmo exagerado pró-judaísmo que eu encontro por aí: afinal, ainda sendo justa a reação israelita atual (e isso é ponto pacífico), não muda o fato de que os judeus não são o lado branco da Força. No entanto, ainda falando sob uma ótica humana, creio ser importante lembrar que, historicamente, há uma diferença muito grande entre os dois povos. Basta olhar para a Guerra da Reconquista, ou para a degradação promovida pelos filhos de Maomé em países que eram prósperos antes das cimitarras chegarem…

Qual é, portanto, a verdadeira solução? Só consigo ver uma, expressa magnificamente nas orações que a Igreja faz na Sexta-Feira Santa: oremus et pro Iudaeis e oremus et pro paganis. É somente quando Cristo vencer, que poderá haver paz no Oriente Médio; e é somente sob o signo da Cruz – não da Lua Crescente, nem da Estrela de David – que a terra onde foi derramado o Sangue do Salvador poderá enfim ter aquilo que lhe compete por direito.