Igreja Católica e Wikipedia: call for collaborators

Quer fazer alguma coisa simples e relevante? Colabore com o Projeto Catolicismo da Wikipedia. Trata-se de «um grupo dedicado a melhorar a cobertura da Wikipedia lusófona de tópicos relacionados com a Igreja Católica».

Isto é importante. A Wikipedia já foi (e, em certos aspectos, ainda é) muito ruim; mas é impossível negar a abrangência e a relevância que a famosa enciclopédia colaborativa possui na internet. E, se a ferramenta já está aí, é perfeitamente razoável trabalhar para que ela seja tão precisa quanto possível. Isto é sem dúvidas melhor do que dar livre trânsito à desinformação, sem fazer nada.

Ao contrário de antes, hoje a Wikipedia lusófona (aparentemente) já conta com um grupo sério de administradores. Não é mais a “terra de ninguém” que era no começo. É, portanto, possível ajudar.

Proposta concreta do dia: aqui. Trata-se da tradução deste artigo da Wikipedia em inglês. Ei-lo, em português, aqui: muita coisa já está feita. Ainda precisa, no entanto, de mais tradução e de revisão, de discussão e de mais informação. Aos que puderem dispôr de um pouco do seu tempo, não deixem de dar uma olhada (por rápida que seja). Sugestões são bem-vindas – pode ser aqui. A Nova Evangelização agradece.

Saber, poder e responsabilidade

Eu concordo em parte com o Cardoso neste post. Entre outras coisas, o articulista diz que a internet “sozinha” – ao contrário do que alguns apregoam – não faz com que as pessoas tenham um salto intelectual qualitativo. E o exemplo citado por ele é irrefutável:

Quando o email se popularizou vários acadêmicos deram entrevistas dizendo que era uma Era de Ouro da Palavra Escrita, as crianças escreveriam como nunca, teríamos milhares de novos autores, o ensino do idioma no colégio seria facilitado, etc.

Aí veio o miguxês.

As ferramentas são somente ferramentas, e dar poder às pessoas não necessariamente vai fazer com que elas adquiram responsabilidades. Às vezes, funciona. Outras vezes, no entanto – e, infelizmente, na maior parte das vezes -, as pessoas não mudam (talvez piorem), e utilizam mal o poder que lhes foi concedido.

Na verdade, nada substitui a educação, e “educação” não deve ser confundida meramente com “informação”. Hoje em dia temos muita informação. Qualquer criança “sabe” (= ter informação) muito mais coisa do que um adulto médio de algumas décadas atrás. Mas não sabe o que fazer com isso. Informação em demasia, sem desenvolver os processos intelectuais necessários para processá-la, e sem um senso moral apurado para saber o que fazer com ela, é um desastre.

A internet cria o “miguxês”, mas este não é o único problema dos nossos dias. O excesso de informação, dissociado de uma formação moral decente, cria as aberrações morais hodiernas. Pode-se clonar? Clone-se. Pode-se fertilizar artificialmente? Fertilize-se. Pode-se curar doenças destruindo embriões humanos? Destrua-se e cure-se. Pode-se abortar com segurança? Aborte-se. Et cetera, que esta lista é bem grande.

Na verdade, confunde-se o “pode-se” técnico com o “pode-se” moral. Não lembro quem diz uma frase parecida, mas já a escutei mais de uma vez: [p.s.: Fides et Ratio, 88] ter capacidade técnica de fazer algo não significa que este algo pode ser feito. As crianças de hoje sabem, do ponto de vista informativo, muito mais do que os adultos de antigamente; mas até mesmo as crianças de antigamente sabiam “certo” e “errado” muito melhor do que alguns adultos dos nossos dias…

O progresso técnico desvinculado da moral é em grande parte responsável pela crise dos nossos dias. Isto obviamente não significa que somos contra o progresso técnico, da mesma forma que não somos contra a internet por causa da nova gramática “miguxa”. Mas somos, sim, contra a desvirtuação das ferramentas, e pregamos, sim, que haja ordem nas coisas. Afinal de contas, há usos mais nobres para a internet que o miguxês. E há usos mais nobres para a ciência que a degradação do ser humano. Os irresponsáveis defensores de uma ciência sem ética correspondem perfeitamente aos “miguxos” da internet, só que num plano mais elevado, mais sério, e mais desastroso.