O vere beata nox…

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=YUpKM4gucxU]

[Nem o áudio é dos melhores e nem o latim “americano” é a melhor coisa do mundo, mas foi o único Exultet inteiro que encontrei no youtube…]

O vere beata nox,
quae sola meruit scire tempus et horam,
in qua Christus ab inferis resurrexit!

Estes versos, nós os ouvimos logo no início da Vigília Pascal. Sempre os achei fabulosos: a Igreja cantando as alegrias d’Aquela Noite na qual Nosso Senhor ressuscitou dos mortos. Aquela Noite que nós até hoje lembramos, precisamente no Sábado Santo: a Noite que marcou a vitória definitiva de Cristo sobre a morte, a Noite que é para nós causa de grande júbilo e alegria, a Noite sem a qual não haveria Igreja, não haveria esperança para nós, vã seria a nossa Fé e vazia a nossa pregação.

Lembramos esta Noite, e A chamamos feliz: verdadeiramente feliz! Única a merecer saber o tempo e a hora em que Cristo ressuscitou dos mortos. Única testemunha presencial da Ressurreição. Única a quem foi dado conhecer o momento exato da grande vitória de Nosso Senhor, da manifestação mais clara de Sua Divindade. A Ressurreição deve ter sido, realmente, um espetáculo magnífico de ser contemplado: ver Cristo romper os grilhões da morte, subir vitorioso dos Infernos…! Somos felizes, porque Ele ressuscitou; porque o Sepulcro Vazio o atesta, porque esta Noite abençoada – verdadeiramente abençoada! – no-lo segreda. Esta Noite viu Nosso Senhor vencer a morte. E, até hoje, a Igreja canta esta vitória.

Sim, vere beata nox, sem dúvidas. Sem Ela, nada nos restaria. Sem Ela, nada poderíamos esperar. Sem Ela, ainda estaríamos nos nossos pecados. Mas Cristo ressuscitou, como disse – aleluia! -, e é isto o que nós celebramos na noite do Sábado Santo, é esta a alegria que preenche todo o Tempo Pascal. Alegremo-nos, com toda a Igreja; anunciemos esta tão estupenda verdade. Ressuscitou verdadeiramente.

Uma feliz páscoa para todos!

Oração para obter misericórdia na hora da morte

[Recebi esta oração por email, enviada pela Teresa Moreno, a quem agradeço. A despeito de não conhecer a autoria (e de não ter encontrado nada numa rápida pesquisa que fiz pela internet), ela me pareceu muito piedosa, servindo excelentemente à meditação. Que Nosso Senhor conceda-nos a todos a graça de uma boa morte; que, finda a nossa peregrinação neste vale de Lágrimas, alcancemos, pela intercessão da Bem-Aventurada Virgem Maria e todos os santos, a graça de vivermos eternamente com Ele.]

A Nosso Senhor Jesus Cristo,
para Obter Misericórdia na Hora da Morte.

Meu Jesus crucificado, ouvi, na Vossa grande misericórdia, a súplica que Vos faço agora, para a hora da minha morte, quando todos os meus sentidos desfalecerem:

quando pois, Jesus, a imobilidade dos meus pés indicar que o fim da minha viagem, neste triste vale, chegou, ó misericordioso Jesus, tende piedade de mim;

quando as minhas mão trêmulas e enregeladas já não puderem sustentar e apertar sobre o peito o vosso amado crucifixo, ó misericordioso Jesus, tende piedade de mim;

quando os meus olhos, escurecidos e prestes a se apagarem, já não puderem mais contemplar-Vos nessa Cruz, ó misericordioso Jesus, tende piedade de mim;

quando os meus lábios insensíveis já não puderem mais beijar as vossas chagas e, em balbucio, mal puderem, pela última vez, invocar o Vosso Nome Santíssimo, ó misericordioso Jesus, tende piedade de mim;

quando as minhas faces pálidas e os meus cabelos desgrenhados causarem aos circundantes terror e compaixão, ó misericordioso Jesus, tende piedade de mim;

quando os meus ouvidos já irem se fechando para os sons e vozes deste mundo, e se abrindo para escutar a sentença da minha sorte para toda a eternidade, ó misericordioso Jesus, tende piedade de mim;

quando a minha imaginação, agitada por temerosos fantasmas, perturbar o meu espírito, e a lembrança das minhas iniqüidades, junto com o temor da Vossa santa justiça, encherem minh’alma de remorso e confusão, ó misericordioso Jesus, tende piedade de mim;

quando eu, em tristeza de morte, derramar minha última gota de lágrima, aceitai-a como oferenda de sacrifício expiatório, para que eu morra como vítima de penitência, e assim, ó misericordioso Jesus, tende piedade de mim;

quando parentes e amigos em torno de mim, se enternecendo e se apiedando face ao meu lastimoso estado, por mim Vos invocarem, escutai-os ó misericordioso Jesus, e tende piedade de mim;

quando, após o meu espírito ter lutado contra o espírito do mal, na tentativa extrema de não ser vencido e lançado no abismo negro do desespero, e, naquela última aflição de alma, tiver o mundo inteiro desaparecido para mim, ó misericordioso Jesus, tende piedade de mim;

quando as últimas e fenecidas ânsias de vida forçarem minh’alma a sair, aceitai-a, Jesus, como o desejo ardente de uma santa impaciência de acercar-se de Vós, e Vós, ó misericordioso Jesus, tende piedade de mim;

quando meu coração, exausto da agonia da morte, determinar sua derradeira palpitação e render-se ao fim, ó misericordioso Jesus, tende piedade de mim;

quando a minha alma partir, aceitai a destruição do meu corpo como filial homenagem à Vossa augustíssima majestade e humanidade, e então, ó misericordioso Jesus, tende piedade de mim;

e quando, finalmente, minha alma comparecer diante de Vós e, pela primeira vez, ver e admirar o esplendor da Vossa majestade, não a expulseis, mas recebei-a com misericórdia, para que cante os Vossos louvores; e para toda a eternidade, ó misericordioso Jesus, tende piedade de mim.

Oremos: ó clementíssimo Jesus, tão amante das almas, eu Vos suplico, pela agonia do Vosso SS. Coração e pelas dores da Vossa Mãe Imaculada, que purifiqueis no Vosso sangue todos os pecadores que estão em agonia e neste dia hão de morrer; ó Coração agonizante de Jesus, tende piedade dos moribundos.

“A coroa de espinhos” – Meditação de Santo Tomás de Aquino

[Fonte: Permanência]

A COROA DE ESPINHOS

6a. feira depois das Cinzas

«Saí, filhas de Sião, e vêde o rei Salomão com o diadema de que sua mãe o coroou no dia do seu casamento e no dia do júbilo do seu coração» (Ct 3, 11)

É a voz da Igreja que convida as almas dos fiéis a contemplar quão admirável e belo é seu Esposo. Pois as filhas de Sião são iguais às filhas de Jerusalém, almas santas, habitantes do Reino de Deus, que gozam, com os anjos, da paz perpétua e da contemplação da glória do Senhor.

I. — Saí, ou seja, deixai a vida turbulenta deste mundo, para que, com o espírito livre, possais contemplar aquele a quem amais. E vêde o rei Salomão, isto é, o verdadeiro e pacífico Cristo. Com o diadema de que sua mãe o coroou; que é como se dissesse: considerai o Cristo, que, por nós, se fez carne, que tomou a carne da carne de sua Virgem Mãe. O diadema é sua carne, carne que tomou por nós, carne na qual morreu, destruindo o império da morte; carne na qual ressuscitou, deixando-nos a esperança da ressurreição.

Deste diadema, diz o Apóstolo (Heb 2, 9): « Mas aquele Jesus, que por um pouco foi feito inferior aos anjos, nós o vemos, pela paixão da morte, coroado de glória e de honra ». Diz-se que sua mãe o coroou, pois a Virgem Maria deu-lhe a carne de sua carne.

No dia do seu casamento, isto é, no tempo de sua Encarnação, quando a si uniu a Igreja, sem mácula nem ruga; ou quando Deus uniu-se ao homem. No dia do júbilo do seu coração. A alegria e o júbilo de Cristo é a salvação e a redenção do gênero humano; « e, indo para casa, chama os seus amigos e vizinhos, dizendo-lhes: Congratulai-vos comigo, porque encontrei a minha ovelha » (Lc 15, 6).

II. — Pode-se, também, aplicar tudo isso à Paixão de Cristo, segundo a letra. Com efeito, Salomão, prevendo em espírito a Paixão de Cristo muito antes, adverte as filhas de Sião, isto é, o povo Israelita: Saí, filhas de Sião, e vede o rei Salomão, isto é, o Cristo; com o diadema, ou a coroa de espinhos, que sua mãe, a sinagoga, o coroou no dia do seu casamento, quando a si uniu a Igreja, e no dia do júbilo do seu coração, quando rejubilou-se por ter, por sua Paixão, redimido o mundo do poder do inferno.

Saí, portanto, e deixai as trevas da infidelidade, e vede, isto é, compreendei que aquele que sofre como homem, é Deus verdadeiramente. Ou ainda: saí para fora de sua cidade para o verdes, crucificado, sobre o monte Calvário.

Expositio in Canticum canticorum, III

Mensagem de Natal

[Publicação original: Deus lo Vult! v. 1.0]

E deu à luz seu filho primogênito, e, envolvendo-o em faixas, reclinou-o num presépio; porque não havia lugar para eles na hospedaria“. (Lc 2,7)

hoje vos nasceu na Cidade de Davi um Salvador, que é o Cristo Senhor“. (Lc 2,11)

É noite de alegria. Porque, no meio da escuridão, uma Luz resplandeceu. No meio das Trevas, uma Luz brilhou, e todos A vieram contemplar.

O Menino Deus nasceu à noite, porque é na noite que precisamos da luz. Nasceu à noite, para ensinar que era noite na humanidade; uma noite longa que se arrastava por séculos. Era noite desde o pecado de Adão. Todo o mundo jazia no maligno.

Mas uma Luz resplandeceu em meio às Trevas. Na noite de Belém, nos nasceu um Salvador. E aquela Luz brilhou tão forte nas trevas do pecado, que todos A perceberam. Os Reis Magos A perceberam, e vieram adorá-La. Herodes A percebeu, e tentou apagá-La. Porque, em meio às Trevas, é impossível não notar uma Luz resplandecente. Os filhos da Luz buscam-Na e sentem-se à vontade junto a Ela; os filhos das Trevas d’Ela fogem horrorizados, pois têm vergonha das suas obras ímpias, que realizam na escuridão. A Luz atrai os bons e afugenta os maus. Por isso, o Deus Menino nascido em Belém estava destinado a ser um sinal de contradição, como profetizou o velho Simeão.

Simeão abençoou-os e disse a Maria, sua mãe: Eis que este menino está destinado a ser uma causa de queda e de soerguimento para muitos homens em Israel, e a ser um sinal que provocará contradições (Lc 2,34)

O Cristo Deus, Unigênito do Pai, Deus de Deus, Luz da Luz, Deus Verdadeiro do Deus Verdadeiro, veio ao mundo destinado a ser uma causa de queda para muitos. Causa de queda para os que preferissem as Trevas à Luz. Causa de queda para os que, como Herodes, quisessem apagar essa Luz para continuar a viver nas Trevas.

E, neste Natal, somos como os Reis Magos, ou somos como Herodes? Procuramos ao Deus Menino para oferecer-Lhe o melhor que temos, ou fugimos d’Ele e O queremos matar, justamente para que não nos desfaçamos de nossos vícios que nos são tão caros? Desejamos que o Cristo nasça? Ou queremos que Ele não venha, para que possamos viver ainda um pouco mais nas Trevas, ainda um pouco mais no pecado, sem que nossas torpezas sejam postas a descoberto?

Se eu tivesse que escolher, diria que estamos muito mais para Herodes do que para os Reis Magos. Mas eu proponho uma terceira opção: neste Natal, nós somos como as construções, a cujas portas bateram Santa Maria e São José. Construções suntuosas como palácios, ricas demais para perceberem que lhes falta a maior das riquezas. Aconchegantes como hospedarias, animadas demais para perceberem Alguém que precisa de um pouco de atenção. Familiares, como casas, mas fechadas demais sobre si próprias para abrirem a porta a uma Mulher grávida e Seu marido. Ou indignas demais, como estrebarias, inadequadas para receber um Rei.

Mas não importa que construção nós sejamos, não importa se somos palácios ou hospedarias, casas ou estrebarias. Importa que estejamos com Maria. Porque, em Belém, de todas aquelas construções, somente uma teve a honra de abrigar o Filho de Deus feito Homem: aquela na qual se encontrava a Virgem Santa. Que assim seja também conosco. Neste Natal, como naquele primeiro, o Menino Deus só nasce naquelas almas que não negam hospedagem a Maria Santíssima. Procuremos, pois, abrir as portas de nossa alma a essa Boa Senhora, e Ela, em troca, abrirá para nós as portas do Céu e nos trará Jesus Menino, Luz que resplandece nas trevas, Senhor Nosso e Nosso Salvador.

Um feliz e santo Natal a todos.