Os prodígios e a Fé

Este comentário merece um post, porque ia ficar grande para um P.P.S. ao post de ontem. Quem me mostrou foi o Claudemir Júnior, a quem agradeço. Está no Evangelho Quotidiano de hoje.

A passagem é aquela de ontem, na qual os Apóstolos impediram um homem que não andava com eles de expulsar demônios, e foram censurados por Nosso Senhor (Mc 9, 38-43. 45. 47-48). O autor do comentário é João Cassiano (c. 360-435), “fundador do mosteiro de Marselha”, que eu não conhecia. O comentário é o seguinte:

Os grandes da fé não tiravam nenhum partido do poder que detinham de operar maravilhas. Confessavam que não tinham mérito nenhum nisso e que quem fazia tudo era a misericórdia do Senhor. Se alguém admirava os seus milagres rejeitavam a glória humana com palavras recolhidas dos apóstolos: «Homens de Israel, porque vos admirais com isto? Porque nos olhais, como se tivéssemos feito andar este homem por nosso próprio poder ou piedade?» (Act 3, 12) No seu entender, ninguém devia ser louvado pelos dons e maravilhas de Deus. […]

Mas por vezes acontece que homens inclinados ao mal, condenáveis a respeito da fé, expulsam demónios e operam prodígios em nome do Senhor. Foi disso que os apóstolos se queixaram um dia: «Mestre – disseram eles – vimos um homem expulsar demónios em Teu nome e impedimo-lo porque não é dos nossos». Nessa altura Cristo respondeu: «Não o impeçais porque quem não está contra nós é por nós». Mas quando, no fim dos tempos, Lhe disserem: «Senhor, Senhor, não foi em Teu nome que profetizámos, em Teu nome que expulsámos os demónios e em Teu nome que fizemos muitos milagres?», Jesus afirma que responderá: «Nunca vos conheci; afastai-vos de Mim, vós que praticais a iniquidade» (Mt 7, 22ss).

E àqueles a quem Ele próprio concedeu a graça gloriosa dos sinais e dos milagres, o Senhor avisa que não se ensoberbeçam com isso: «Não vos alegreis porque os espíritos vos obedecem; alegrai-vos, antes, por estarem os vossos nomes escritos no céu» (Lc 10, 20). O Autor de todos os sinais e milagres chama os Seus discípulos a guardar a Sua doutrina: «Vinde – diz-lhes – e aprendei de Mim», não a expulsar demónios pelo poder do céu, nem a curar os leprosos, nem a dar luz aos cegos, nem a ressuscitar os mortos, mas, diz Ele: «Aprendei de Mim porque sou manso e humilde de coração» (Mt 11, 29).

Primoroso, não? Alguém envie isso aos novos “comentaristas”, experts em tirar doutrinas heterodoxas das Escrituras Sagradas. Alguém os mostre a Doutrina Católica, refulgindo quando alguém que tem Fé se põe a comentar os textos sagrados. Alguém contraponha a beleza do comentário de João Cassiano à fealdade das exegeses relativistas hodiernas.