Colabore com o «Obras Raras do Catolicismo»

Merece divulgação e apoio esta 3ª Campanha de Digitalização do projeto “Obras Raras do Catolicismo”. O site, que já há algum tempo vem disponibilizando sem custo absolutamente nenhum um precioso catálogo de obras fundamentais para o conhecimento da Igreja Católica, iniciou há não muito tempo uma força-tarefa para a digitalização de outras 150 obras, cuja lista pode ser encontrada em sua página inicial.

Estão para ser digitalizados títulos como vários do Frei Boaventura, a Summa Philosophica in usum Scholarum, os Elementa Philosophiae Aristotelico-Thomisticae, o Bibliorum Sacrorum Graecus Codes Vaticanus auspice Pio IX. Pontifice Maximo, diversos volumes das Sources Chrétiennes organizadas por  de Lubac e Daniélou, a Opera omnia de Nicolai de Cusa e a de Roberti Cardinalis Bellarmini, as Disputationes Scholasticae et Morales do Card. Joannes De Lugo e muitos outros.

Bem sei que o interesse imediato desses volumes para o católico médio pode ser baixo, uma vez que se trata de obras complexas e antigas, em latim, o que pode ser um impeditivo para a maior parte dos frequentadores do site (o próprio autor dessas linhas inclusive). No entanto, a campanha merece apoio, como disse acima, por pelo menos três razões.

Primeiro, os títulos são verdadeiros tesouros da Igreja, aos quais o acesso é hoje em dia muitíssimo difícil mesmo para muitos seminários ou bibliotecas especializadas. Pense-se no bem que a disponibilização dessas obras, na internet, sem custo, pode fazer mormente para o clero ou para aqueles que estão se preparando para ingressar no clero. Pense-se, igualmente, no potencial de propagação que mesmo um único beneficiário desses obras pode atingir, caso venha a ocupar uma posição de liderança ou destaque na Igreja.

Segundo, o acervo do site já conta com diversas obras das quais muito nos temos utilizado ao longo dos últimos anos, e colaborar com a campanha atual é também, e simultaneamente, contribuir para que o site continue funcionando. Para ficar somente em três exemplos dos muitos que poderiam ser citados, onde mais poderíamos encontrar, na íntegra, clássicos como o «Legítima Interpretação da Bíblia» do Lúcio Navarro, «Las Tres Edades de la Vida Interior» de Garrigou-Lagrange ou esses dois volumes (aqui e aqui) da «Historia de la Iglesia» de Boulenger?

Terceiro, por fim, e talvez mais importante, o Eduardo Gomes e o Paulo Frade realizam um verdadeiro trabalho civilizacional, nesta época em que o acesso à informação é tão fácil e, ao mesmo tempo, devota-se às obras antigas um desprezo que seria incompreensível se não fosse pelo mysterium iniquitatis que informa o espírito dos nossos tempos. Trata-se de um verdadeiro trabalho de preservação de conhecimento, em tudo análogo àquele desempenhado pelos monges copistas na Alta Idade Média (ou – por que não? – pelos da Ordem Albertiana de Leibowitz do (aliás sensacional) romance do Miller), ao qual – é certo! – as futuras gerações saberão prestar o merecido reconhecimento. Extensível, sem dúvidas, aos que contribuíram para o tornar possível.

Aos que ainda não conhecem, é mais do que recomendável uma visita ao «Obras Raras do Catolicismo»: é de impressionar. E se você é capaz de compreender a importância deste trabalho, contribua com a sua continuidade e expansão. O site aceita doações via PayPal e PagSeguro, além de transferência bancária: com apenas alguns poucos cliques, você pode colaborar com esta que é, quiçá, uma das mais relevantes iniciativas da internet contemporânea. Não perca a oportunidade.

Puer natus est nobis!

Puer natus est nobis, et fílius
datus est nobis, cuius impérium
super húmerum eius, et vocábitur
nomen eius magni consílii
Angelus.

Um santo Natal a todos os leitores do Deus lo Vult!. Que o Menino-Deus esta Noite nascido nos conceda o imerecido dom da Salvação. Que a imponência das Trevas que até então nos cercavam dê lugar à luminosa humildade do Verbo que por nós desce a um estábulo frio e a uma manjedoura suja. Que o Gloria entoado nesta Noite Santa ecoe por toda a nossa vida e, no Ocaso de nossos dias, possamos ouvi-lo jubilosos quando nos encontrarmos diante d’Aquele por Quem e para Quem fomos criados. Tudo começa hoje. Alegremo-nos! Cristo nasceu por nós!

Feliz Natal!

Divulgação: Curso de latim clássico

Não costumo recomendar cursos que eu não conheça ou dos quais eu próprio não vá participar, mas este de latim clássico que o Instituto Angelicum está promovendo me deixou profundamente feliz e com uma verdadeira vontade de fazê-lo. Se eu pudesse, já estaria matriculado.

Gostei de tudo o que vi: do professor (que eu não conheço, mas em cuja competência confiei após assistir dois ou três teasers do curso), da forma como o curso foi estruturado, da ementa, do material, do objetivo de aprender simultaneamente latim e cultura clássica através do latim, etc. Pareceu-me, em suma, uma verdadeira preciosidade. Quem o puder fazer, não perca a chance.

As inscrições podem ser feitas aqui. As vagas são limitadas e estamos nos últimos dias de inscrições. Corram.

Missa de início do Pontificado do Papa Francisco

Li ontem na Folha de São Paulo que o Papa faria uma «cerimônia mais curta e sem latim» na Missa de início do Ministério Petrino do Bispo de Roma Francisco hoje celebrada. A menina da CBN, aliás, foi ainda mais longe e soltou que o latim era uma «língua morta que o seu predecessor, o Papa Emérito Bento XVI, tentara restaurar» – as aspas não são literais porque cito de memória o que ouvi no carro, mas a oposição entre as celebrações litúrgicas do Papa Bento XVI e esta Missa inicial do Papa Francisco era rigorosamente a que exponho aqui.

Estou neste momento assistindo à Solenidade de São José, Esposo da Bem-Aventurada Virgem Maria transmitida pelo site do Vaticano. Neste exato momento está sendo cantado o Per ipsum, et cum ipso et in ipso que conclui a Oração Eucarística – foi aliás usado o Cânon Romano, todo ele em latim. E ninguém precisava esperar o dia de hoje para o descobrir, porque o .pdf do livrete da celebração já estava ao menos desde ontem disponível para download no site do Vaticano e, nele, era possível ver que, à exceção das leituras e da oração da assembléia, a Missa seria toda em latim. Como o foi.

Na verdade, houve uma única ausência do latim nesta celebração. O Evangelho foi lido em grego e por um diácono grego; isto simboliza a jurisdição universal do Romano Pontífice, que abarca tanto o Ocidente quanto o Oriente. Segundo o costume, haveria uma sua repetição em latim logo em seguida, e esta não foi feita. Foi o suficiente para que a mídia tupiniquim inteira soltasse aos quatro ventos que o Papa iria celebrar uma missa “sem latim”, na patética ânsia de aproveitar qualquer oportunidade – verdadeira ou falsa – para semear na opinião pública um sentimento de oposição entre o Papa Francisco e o Papa Bento XVI. Como se fosse possível à Igreja opôr-se à própria Igreja, ou como se Cristo pudesse estar contra Cristo. Na verdade, a imprensa dá – mais uma vez! – mostras de que não entendeu nada do discurso do Papa aos representantes dos meios de comunicação social que comentei aqui ontem: ela teima em fazer coberturas religiosas excluindo a perspectiva da Fé e, por conta disso, apresenta ao mundo uma visão distorcida da Igreja Católica. Por isso, não deixa de quebrar a cara e de passar vergonha quando os fatos desmentem impiedosamente as suas falsas previsões e notícias sem sentido.

Como  acaba de acontecer. Acabou de ser celebrada em latim a Missa que todo mundo (à exceção da Folha de São Paulo, da CBN e dos outros órgãos brasileiros de imprensa que colocam a sua agenda ideológica acima da busca desapaixonada da verdade dos fatos) sabia que seria celebrada em latim. Com incenso, arranjo beneditino sobre o altar, coral gregoriano e polifônico, paramentos dignos, comunhão de joelhos, Mons. Marini de cerimoniário pontifício, férula papal (a de Bento XVI) nas mãos do Papa Francisco, Te Deum na procissão de saída. Perfeitamente adequada ao dia de hoje: Quaresma, Dia de São José (Patrono Universal da Igreja) e início do Ministério Petrino do Papa Francisco.

A homilia que o Papa proferiu nesta manhã já se encontra em português no site do Vaticano. Dela, destaco:

Hoje, juntamente com a festa de São José, celebramos o início do ministério do novo Bispo de Roma, Sucessor de Pedro, que inclui também um poder. É certo que Jesus Cristo deu um poder a Pedro, mas de que poder se trata? À tríplice pergunta de Jesus a Pedro sobre o amor, segue-se o tríplice convite: apascenta os meus cordeiros, apascenta as minhas ovelhas. Não esqueçamos jamais que o verdadeiro poder é o serviço, e que o próprio Papa, para exercer o poder, deve entrar sempre mais naquele serviço que tem o seu vértice luminoso na Cruz.

E o Papa Francisco encerrou a sua homilia com um pedido: «e, a todos vós, digo: rezai por mim! Amen». Sim, Santo Padre, rezaremos. Para que o Espírito Santo Paráclito possa culminar-lhe de todas as abundantes graças necessárias para o santo desempenho do múnus de Vigário de Cristo e Pastor da Igreja Universal. Para que São José, Patrono da Igreja, conceda-lhe a força necessária para guiá-La em meio às tribulações dos dias de hoje. E para que a Virgem SSma., Mãe de Deus, tome a Seu encargo todos os milagres necessários para que este Pontificado dê os extraordinários frutos de santidade dos quais o nosso mundo tanto precisa. Amen!

O Sacratissimum Cor Iesu

[Fonte: Preces Latinae; peço desculpas por não dispôr de uma tradução.]

O Sacratissimum Cor Iesu, Tu beatae Margaritae Mariae desiderium regnandi super christianas familias pandisti: ecce ut tibi placeamus adsumus hodie, ut plenum tuum super nostram familiam imperium proclamemus. Volumus deinceps tuam vitam vivere, volumus in sinu familiae nostrae florere virtutes, quibus Tu in terris pacem promisisti, volumus longe arcere a nobis spiritum mundi, quem Tu damnasti. Tu regnabis in mente nostra fidei nostrae simplicitate, in corde nostro tui solius amore, quo flagrabit erga te et cuius vivam servabimus flammam frequenti divinae Eucharistiae receptione. Dignare, Cor divinum, nobis praeesse in unum convenientibus, benedicere negotiis spiritualibus et temporalibus, arcere molestias, sanctificare gaudia, poenas levare. Si quando misere quis nostrum in tantum aerumnam inciderit ut te affligat, fac in memoriam illi redigas, Cor Iesu, te cum peccatore, quem paenitet, plenum esse bonitatis et misericordiae. Et quum hora separationis insonuerit et mors in familiae nostrae sinum luctum intulerit, nos omnes, sive abeuntes sive manentes, tuis aeternis decretis nos subiiciemus. Hoc solatio erit nobis, animo recogitare venturum esse diem, in quo familia nostra, in caelo coniuncta, tuam gloriam, tua beneficia in aeternum cantare poterit. Dignetur Cor immaculatum Mariae, dignetur gloriosus Patriarcha sanctus Ioseph tibi hanc consecrationem offerre, eiusque vivam in nobis singulis diebus vitae nostrae conservare memoriam. Vivat Cor Iesu, Regis et Patris nostri! Amen.

Errata

Um anônimo teve a caridade de fazer-me uma correção no texto “Que há de extraordinário…?” aqui publicado. Trata-se de um erro de tradução: na verdade, “de internis nisi Ecclesia” significa do que é interno, [ninguém] a não ser a Igreja [julga], e não “do que é interno, nem a Igreja julga” como eu coloquei.

Fui induzido ao erro por dois motivos: primeiro, pelo contexto no qual a frase se encontrava no texto do sr. Orlando Fedeli, onde o sentido é claramente aquele que foi colocado por mim no texto aqui publicado. Segundo, porque o próprio Orlando Fedeli traduziu errado em outro lugar do site Montfort (grifos meus):

Não entro no foro das intenções, onde nem mesmo a Igreja entra: “De internis, nisi Ecclesia”.

Na verdade, o ditado correcto é “De internis, nec Ecclesia”, como o próprio professor Fedeli cita correctamente uma vez, e como encontra-se em repositórios de frases latinas na internet. Portanto, a despeito da tradução [de segunda mão] equivocada, é certo que o prof. Fedeli quis escrever “de internis nec Ecclesia”, e não “de internis nisi Ecclesia” como escreveu.

Agradeço, mais uma vez, ao anônimo pela correção.