“Não, não és Franciscano” – Frei Ângelo Bernardo

[Publico, a seguir, a primeira parte de um artigo muito oportuno que me foi enviado por um frei amigo meu. Deveria ter sido publicado ontem – dia de São Francisco de Assis -, mas o corre-corre das atividades quotidianas mo impediram de fazer. Peço desculpas ao meu caro amigo religioso. Faço-o agora, com muita alegria! Importa defender a memória do grande santo de Assis, contra as suas deturpações que grassam tão impiedosamente nos dias de hoje. Em particular, na imagem disseminada pelo sr. Leonardo Boff, sobre quem trata o presente artigo. Que São Francisco de Assis interceda por nós! E nos conceda verdadeiros franciscanos.]

Não, não és franciscano!

frei Ângelo Bernardo, OMin.

Estas são considerações indignadas de um filho do poverello de Assis. Desde a leitura, releitura, apreciação da fala do “Doutor Leonardo Boff”, procurei ler suas obras com afinco, sobretudo a que o ‘condenou’: “Igreja: Carisma e Poder – Ensaios de Eclesiologia Militante”, editado pela Vozes em 1981, bem como outras obras há anos publicadas, como “Jesus Cristo Libertador”, tendo sua primeira edição em 1972 e outras mais recentes. Para não incorrer em erros e contradições, busquei entender o seu pensamento, o modo como, o a partir donde ele escrevia e escreve.

Desde a primeira vez que li a enfadonha entrevista do “Doutor” à revista IstoÉ, em 28 de Maio passado, fiquei espantado com tanta arrogância da parte de quem já foi um dia, um filho de São Francisco. São falas de alguém que, certamente, “já não tem mais nada a perder” e, por isso mesmo, atira qual guerrilheiro para todos os lados, sobretudo, para o coração daquela que lhe acolheu um dia: a Igreja. Manifestamente, ressalta inúmeras vezes, ao longo dos anos e da entrevista, sua ojeriza ao sucessor de Pedro, ao Vigário de Cristo, o Papa Bento XVI.  É claro que todos têm consciência de que quando ele o ataca, o faz não pela investidura papal, mas pelo cardeal que o silenciou, anos atrás, Joseph Ratzinger.

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A maléfica “Igreja-poder”

Leio um artigo do Boff – recentemente publicado – no qual ele tece severas  críticas àquilo que chama de “Igreja-poder”, que ele pinta como se fosse o diabo e que – não obstante e nada surpreendentemente – identifica-se com a Igreja fundada por Nosso Senhor.

Como eu conversava ontem com um amigo, o que espanta não é que Boff seja um herege. O que causa verdadeiro estupor é que ele se recuse a enxergar aquilo mesmo que se encontra debaixo do seu nariz, que ele tem debaixo dos olhos, o que ele próprio escreve. Isso, sim, é impressionante. Passemos a vista pelo texto do Boff: para ele, esta Igreja-poder “se impôs através dos tempos”.

De que tempos? Boff responde: 1) desde que Ela Se considera a única Igreja verdadeira, com exclusão da demais; 2) desde que Ela impede os hereges de escreverem e pregarem; 3) desde que se respeitam e veneram as autoridades eclesiásticas; 4) desde que se canonizam [i.e., são propostas como modelos] as pessoas que têm “sentire cum Ecclesia” (a expressão – obviamente não em latim – é do texto do Boff), que obedecem, que são submissas; 5) desde que há cristãos (sim, porque tirando a petição de princípio do ponto quinto, o que sobra é isso mesmo); e 6) desde que a Igreja tem ritos e símbolos. Ou seja: desde sempre! A dar crédito aos “motivos” elencados pelo Boff para a perpetuação desta “Igreja-poder”, chega-se à inevitável conclusão que esta estrutura maligna perdura realmente há muito tempo: desde pelo menos Nosso Senhor. É facílimo ver.

Quanto ao primeiro ponto: “Todo aquele que caminha sem rumo e não permanece na doutrina de Cristo, não tem Deus. Quem permanece na doutrina, este possui o Pai e o Filho. Se alguém vier a vós sem trazer esta doutrina, não o recebais em vossa casa, nem o saudeis. Porque quem o saúda toma parte em suas obras más” (IIJo 9-11).

Quanto ao segundo: “Com efeito, há muitos insubmissos, charlatães e sedutores, principalmente entre os da circuncisão. É necessário tapar-lhes a boca, porque transtornam famílias inteiras, ensinando o que não convém” (Tt 1, 9-10a) ; e ainda: “Se alguém não obedecer ao que ordenamos por esta carta, notai-o e, para que ele se envergonhe, deixai de ter familiaridade com ele” (IITs 3, 14).

Quanto ao terceiro: “Cuidai de vós mesmos e de todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastorear a Igreja de Deus” (At 20, 28a); ver também o parágrafo seguinte.

Quanto ao quarto: “Sede submissos e obedecei aos que vos guiam (pois eles velam por vossas almas e delas devem dar conta)” (Hb 13, 17). E ainda:  “Quem vos ouve, a mim ouve; e quem vos rejeita, a mim rejeita; e quem me rejeita, rejeita aquele que me enviou” (Lc 10, 16).

Quanto ao quinto, dado que – ao contrário do que o próprio Boff prega – a constituição hierárquica da Igreja (que ele chama de “Igreja-poder”) é querida assim por Deus e estabelecida assim desde Cristo (como se depreende da leitura não-seletiva do Novo Testamento), segue-se que todos os “que acima de tudo apreciam a ordem, a lei e o princípio de autoridade em detrimento da lógica complexa da vida que tem surpresas e exige tolerância e adaptações” (nas palavras do Boff) são, descontada a retórica, precisamente os que amam a Igreja nos moldes em que Cristo A instituiu – i.e., os cristãos.

Quanto ao sexto: “Assim, todas as vezes que comeis desse pão e bebeis desse cálice lembrais a morte do Senhor, até que venha” (ICor 11, 26).

E tudo isto sem ser necessário nem mesmo recorrer à patrística. Todos os pontos levantados pelo Boff para explicar a “auto-reprodução” da “Igreja-poder” são elementos essenciais da Igreja Católica, já encontrados desde o século I, dentro mesmo das Escrituras Sagradas. Como, então, o ex-franciscano tem a capacidade de dizer que isto “[e]ra o que Jesus exatamente não queria”? Onde está, então, o que Jesus Cristo queria, se até mesmo dentro do Novo Testamento nós encontramos tudo aquilo que o Boff vive a condenar?

Não é impressionante que o Boff seja um herege. Impressionante é que ele consiga demonstrar – sem o perceber! – que aquilo que ele chama de “instituição-Igreja (…) com características autoritárias, absolutistas e excludentes” seja exatamente a instituição que encontramos no Novo Testamento. E, mesmo assim, não perceba o próprio erro, e continue insistindo que é mais fácil a Igreja Católica ter passado dois mil anos errando do que ele próprio ser capaz de errar.

“Reparai na vossa dignidade, sacerdotes!”

Esta eu li no Evangelho Quotidiano de hoje. É da carta de São Francisco de Assis a toda a Ordem. Trago somente os trechos que mais me comoveram:

Reparai na vossa dignidade, irmãos sacerdotes, e sede santos porque Ele é santo (1P 1, 16) […] Grande miséria e miserável fraqueza se, tendo-O assim presente nas mãos, vos entreteis com qualquer outra coisa!

Que todo o homem tema, que o mundo inteiro trema, que o céu exulte quando Cristo, o Filho de Deus vivo, Se encontra sobre o altar, entre as mãos do sacerdote. Que grandeza admirável, que bondade extraordinária! Que humildade sublime! O Senhor do universo, Deus e Filho de Deus, humilha-Se pela nossa salvação, a ponto de Se ocultar numa pequena hóstia de pão.

Reparai na vossa dignidade, sacerdotes! Quem o diz é São Francisco, o poverello de Assis. Que diferença entre o verdadeiro santo e o “hippie medieval” que muitas vezes nos apresentam! Lembrei-me agora de Genésio Boff que, recentemente, declarou-se “católico apostólico franciscano”. Que diferença gritante entre o santo de Assis e o herege da Teologia da Libertação! Inspira-te o franciscanismo, Genésio? Olha, então, para o que diz São Francisco, e repara na tua dignidade sacerdotal!

Como não seria diferente o mundo de hoje, se os sacerdotes do Deus Altíssimo seguissem o sábio conselho franciscano e reparassem na própria dignidade. “Que todo o homem tema” quando Cristo é elevado na Santa Missa. “Que o mundo inteiro trema” neste momento terrível. E que o Altíssimo, elevado na Cruz do Calvário – e elevado pelo sacerdote no sacrifício quotidiano da Missa – tenha piedade de nós todos. E nos conceda piedosos sacerdotes, que tenham consciência da própria dignidade, e que se esforcem para ser santos como o Pai dos Céus é santo.

As piadas de Boff

Li com um misto de diversão, enfado e tristeza a (última) longa entrevista dada pelo sr. Leonardo Boff à IstoÉ.

Diversão, porque a quantidade de bobagens que o ex-franciscano é capaz de falar impressiona. Seriam excelentes piadas, se não estivéssemos convencidos de que Genésio fala sério. Os perfis fakes de Leonardo Boff criados no Twitter e no Formspring são tão parecidos com o próprio ex-frade que, se o colocássemos para responder às perguntas e para enviar tweets, aposto que quase ninguém notaria a diferença.

Leonardo Boff, o fake, responde que, se sua casa estivesse em chamas e ele só pudesse salvar três coisas, elas seriam “[a] foice, [o] martelo e a bíblia pastoral”. E diz que “o verdadeiro Cristo ressucitado, filiado ao PT, ainda está por vir do alto do céu, munido de foice e martelo”.

Leonardo Boff, o original, insiste no lenga-lenga de se ter sentado “na cadeira onde sentou Galileo Galilei”; fala que “[a] Igreja se engessou em suas doutrinas, em suas normas, em seus ritos que poucos entendem e num direito canônico escrito para legitimar desigualdades e conservadorismos”; fala que não há “nenhuma doutrina ou dogma que impeça as mulheres de serem ordenadas e até de serem bispos” e em “patriarcalismo intrínseco à instituição”; afirma-se “católico apostólico franciscano”. Oras, um sujeito capaz de falar este monte de asneiras em uma entrevista poderia, perfeitamente, subscrever tudo o que os seus perfis fakes dizem. O Boff é uma piada pronta.

No entanto, ainda tem gente que leva este sujeito a sério – e daí o motivo do enfado. Com certeza há gente estúpida o bastante para acreditar no ex-frei amasiado sobre a possibilidade de ordenação de mulheres – apesar da Igreja já ter reiteradas vezes dito o contrário. Com certeza há pessoas que achem que o Papa devesse renunciar. Com certeza há imbecis que irão subscrever a crítica de Genésio ao celibato eclesiástico e ao “patriarcalismo” da Igreja. Porque, se este sujeito fala, é porque tem quem o ouça.

E daí o motivo da tristeza. Porque há pessoas que preferem dar ouvidos a um velho hippie que julga ser, ele próprio, o único oásis de graça e salvação que ele nega ser a Igreja. Há pessoas que preferem seguir um ex-frei amasiado que provavelmente se acha o último digno sucessor de São Francisco de Assis – a quem ele chama de “último cristão verdadeiro e talvez o primeiro depois do Único, que foi Jesus Cristo” – a seguir o Papa, Doce Cristo na Terra e Pedra sobre a qual Nosso Senhor edificou a Sua Igreja.

Genésio Boff tem a petulância de mandar o Papa trancar-se em um convento, para “se preparar para o grande encontro com o Senhor da Igreja e da história. E pedir misericórdia divina”. E o Boff, acaso não precisa da misericórdia do Altíssimo? Infelizmente, o ex-frei não tem mais um convento onde possa ficar. Ele faria bem, no entanto, se se preocupasse mais em pedir a misericórdia divina do que em atacar publicamente a Igreja de Cristo. Genésio, Genésio, para o teu bem, ouve o teu próprio conselho.