Vendendo esperanças

Há quase um ano, escrevi aqui o seguinte sobre um menino de nove anos de idade, doente, e que, por ocasião do julgamento sobre as pesquisas com células-tronco embrionárias pelo STF, acompanhava tudo com bastante ansiedade:

Ele tem nove anos, e já pergunta quando vão sair os remédios. Quem é que vai se preocupar em dizer ao menino, dia após dia, mês após mês, ano após ano, que ele espere a panacéia universal que vai ser descoberta “logo amanhã”?

Ontem, no entanto, saiu na Folha de São Paulo uma reportagem que levava o seguinte título: “Acho um absurdo vender esperanças”, diz secretária de SP sobre células-tronco. E, no corpo da matéria – que continha uma entrevista -, constava o seguinte:

Folha – A secretaria auxilia no financiamento das pesquisas com células-tronco em andamento?

Battistella – Acho um absurdo vender esperanças. Sou absolutamente contra a forma como se coloca isso [as pesquisas] para o público. A ciência de boa qualidade consegue superar as barreiras sem perder de vista os limites éticos. Não entendo que esse seja o caminho mais rápido para melhorar a vida das pessoas com deficiência. Temos de ter esperança, sempre, mas não ilusões. Esse é um caminho que ainda não se mostrou viável na questão da lesão medular, da paraplegia. É preciso olhar para aquilo que a vida nos deu e viver com aquilo que temos. Cruzar os braços e ficar esperando o resultado de uma pesquisa enquanto a vida passa lá fora é um absurdo. Não podemos colocar as pessoas em uma situação de risco perdendo de vista o direito à vida. A secretaria não reservou nenhum recurso para esse tipo de pesquisa. Entendo que células-tronco têm resultado de sucesso para alguns tipos de câncer. Mas o grupo de pessoas que a secretaria representa precisa de outras linhas de pesquisa que o coloque dentro da sociedade.

Ah, pois muito bem. E por que ninguém se preocupou com a venda de esperanças no ano passado, por ocasião do lobby feito pela legalização das pesquisas, alguém pode me explicar? O senso de responsabilidade da Folha de São Paulo está uns doze meses atrasado. A sra. Linamara Rizzo Battistella deveria ter sido ouvida um ano atrás.

P.S.: Sou capaz de apostar que a sra. Battistella não é católica, já que a reportagem não faz – estranhamente! – a menor alusão ao obscurantismo religioso ou às trevas medievais, mesmo tendo a médica afirmado “que a pasta do governo de São Paulo não vai destinar nenhum centavo para estudos relativos às células-tronco”…

P.S.2: Tomei ciência desta notícia por email, vinda de uma certa senhora que se diz católica, e que foi capaz de fazer o seguinte comentário na mensagem enviada:

Não contente em desativar o local onde realizam pesquisas, “cede-lo” e  para a “Canção Nova” novamente o Governo Serra mostra que não se importa e não tem interesse em pesquisas.

Eles querem um Estado atrasado, retrogrado, dependente.

Eles nivelam por baixo.

Deus nos livre e nos guarde de ter esse homem na Presidência.

Haja paciência…