O disfarce dos lobos

Vindo sabe-se lá de qual recôndito do inferno, um certo “Anjo” apareceu aqui no Deus lo Vult! para defender o indefensável e contrariar a Igreja de Nosso Senhor no tocante ao homossexualismo. Lançando mão de um vazio jogo de palavras e citando “autoridades” desconexas da Igreja e a Ela frontalmente contrárias, pretende este sujeito ter autoridade de ensino e pregar a própria moral à margem da Moral Católica, apresentando-a no entanto como se fosse a mais pura expressão do Cristianismo.

A coerência é em si uma virtude, que se pode encontrar também entre aqueles que não cerram fileiras com a Igreja de Cristo. É coerente que um homossexual, que não queira renunciar aos seus maus hábitos, opte por não ser católico; no entanto, é profundamente indignante quando este homossexual, não contente em ter a sua própria concepção de mundo, quer negar à Igreja o direito de ter a Sua e, por meio de um palavrório vazio, tenta obscurecer a clareza da posição católica sobre o assunto e apresentar o anti-catolicismo como se catolicismo fosse. As “Católicas Pelo Direito de Decidir” fazem, sobre o tema do aborto, a mesmíssima coisa que o tal site da “Diversidade Católica” faz sobre o tema do homossexualismo: ambos os grupos de pessoas apresentam a própria visão de mundo (clara e insofismavelmente contrária à católica) como se fosse a visão da Igreja. Urge desmascarar os mentirosos.

O tal “Anjo” citou um artigo (desgraçadamente, da autoria de um padre) chamado “Eles também são da nossa estirpe”, publicado numa revista da Vozes da década de 60, no qual é apresentada uma “teologia” (i)moral completamente independente e destoante da Teologia Moral Católica. Convém insistir: uma coisa é a apresentação das próprias idéias como sendo próprias, e outra muito diferente é apresentá-las indevidamente como se fossem de outrem. Neste último caso, é fraude e engodo. É exatamente o que o padre Jaime Snoek faz no artigo citado.

Separemos desde logo os termos: a mera atração sexual por pessoas do mesmo sexo não é, em si, pecado. Quer isso seja chamado de “inclinação desordenada”, quer de “homofilia nuclear”, quer de “homossexualidade” [reservando “homossexualismo” para as relações sexuais], ou qualquer outra coisa. A nomenclatura utilizada para designar a coisa não muda a coisa em si; e, dentro do que ensina a Igreja, é muito clara a diferença entre “sentir” e “consentir”, não sendo passíveis de moralidade os atos que são involuntários. Não precisaria, portanto, o reverendíssimo sacerdote gastar tanto tempo na definição e utilização de termos estranhos ao leitor mediano, quando poderia simplesmente dizer as coisas de modo direto e acessível a todas as pessoas. Aliás, vale salientar que as discussões sobre a origem da “homofilia” e sobre as diferentes designações que manifestações distintas dela podem receber não têm nada a ver com o ponto em litígio, que é a licitude moral dos atos anti-naturais.

O que realmente interessa no artigo vem a partir da página 797, sob o título de “A Homofilia Perante a Moral”. Para fugir da clareza cristalina da posição católica e torcer a evidência das Escrituras e da Tradição, o pe. Snoek tergiversa sobre três sub-tópicos: a Bíblia, a Atitude das Igrejas e a Reflexão Teológica. Não se sabe qual dos três é mais digno de lástima.

Sobre a Bíblia, o problema é muitíssimo evidente, porque quem detém autoridade para a interpretação das Escrituras Sagradas é a Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo, e ponto final. Torcendo de maneira absurda os mais claros textos escriturísticos, quer do Antigo Testamento, quer das Epístolas de São Paulo, ao final das contas o que o pe. Snoek faz é, simplesmente, expôr a sua própria e particular interpretação (não importa se referendada por fulanos ou sicranos, é mesmo assim interpretação particular pelo simples fato de não ser interpretação da Igreja). Não é necessário entrar no mérito da validade das suas interpretações, até porque isso não é possível, pois ou se reconhece uma autoridade capaz de dar a última palavra, ou haverá tantas interpretações quanto cabeças interpretantes. Basta mostrar que a interpretação da Igreja – única intérprete autorizada das Escrituras Sagradas – difere radicalmente da interpretação proposta pelo artigo da revista da Vozes. Citemos o Catecismo:

2357 A homossexualidade designa as relações entre homens ou mulheres, que experimentam uma atracção sexual exclusiva ou predominante para pessoas do mesmo sexo. Tem-se revestido de formas muito variadas, através dos séculos e das culturas. A sua génese psíquica continua em grande parte por explicar. Apoiando-se na Sagrada Escritura, que os apresenta como depravações graves a Tradição sempre declarou que «os actos de homossexualidade são intrinsecamente desordenados». São contrários à lei natural, fecham o acto sexual ao dom da vida, não procedem duma verdadeira complementaridade afectiva sexual, não podem, em caso algum, ser aprovados.
[Catecismo da Igreja Católica, 2357]

Mais claro, impossível. Para a Igreja, a Sagrada Escritura “apresenta [os atos de homossexualidade] como depravações graves”. Para o pe. Snoek, no entanto, parece ser “bastante claro que estas proibições [entre elas, “a severa condenação da homofilia”], no seu contexto, foram inspiradas pela idéia de pureza cultural, abolida pela Nova Lei”. São portanto duas posições contrárias e inconciliáveis. É, aliás, revelador que o artigo em análise cite o Catecismo Holandês, ao invés do Romano, para justificar a sua posição injustificável: fica, portanto, evidente que a posição do pe. Snoek não está de acordo com a posição da Igreja de Roma. Que se apresentem teorias escabrosas e imorais, vá lá, toleremos; mas não queiram enganar os incautos, fazendo crer que tais teorias são referendadas pela Igreja de Cristo.

Sobre a Atitude das Igrejas, incrivelmente, o autor do texto vai buscar a atitude das… igrejas protestantes! Uma única palavra retirada da Tradição da Igreja, dos escritos dos Padres, dos Decretos dos Concílios Ecumênicos, dos documentos papais, nada disso consegue o pe. Snoek aduzir em favor da sua tese. E é óbvio que não consegue, porque ela – como já foi dito – é radicalmente incompatível com o Cristianismo. Estranho que este padre queira apresentar as suas conclusões estapafúrdias como sendo católicas; baseando-se na livre-interpretação das Escrituras Sagradas e citando atitudes de igrejas protestantes, deveria o reverendíssimo sacerdote ser coerente com a sua argumentação e abraçar o protestantismo. No entanto, prefere disfarçar-se de católico para, assim, enganar mais pessoas e arrastar mais almas para longe do estreito caminho que conduz à Salvação.

Haurindo as suas premissas de fontes tão lamacentas, o que se poderia esperar da Reflexão Teológica que propõe o sacerdote? Nada além de falsas conclusões oriundas de falsas premissas, de desprezo ao ensino do Magistério da Igreja e de descalabros completos – não tenho mais fôlego para comentar, e isso só iria tornar este post (ainda mais) maçante. É suficiente ter bem claro que as posições defendidas pelo padre Jaime Snoek em particular e pelo site “Diversidade Católica” em geral estão em franca oposição à Moral da Igreja, e imagino que isso já tenha ficado mais do que evidente. Movido por um sentimento (justo) de compaixão para as pessoas que sofrem de problemas homossexuais, esforça-se contudo o pe. Snoek não para libertá-las de seu pecado, e sim para aprisioná-las ainda mais nos seus maus hábitos, ensinando-as não a lutarem contra as tentações, mas a se entregarem de maneira vil a elas. Assusto-me ao imaginar o mal que este tipo de atitude pode causar: ao invés de reconduzir as ovelhas desgarradas aos prados verdejantes, esforça-se o lobo vestido de pastor para convencer as ovelhas que é uma coisa muito boa viver cercada por lama nos pântanos e charcos do mundo.