Até logo, Salvador!

Despedindo-me de Salvador, após ter estado aqui desde a sexta-feira. Meu vôo parte amanhã bem cedo para Recife; uma (triste) curta noite de sono me espera. Oferecemo-la, no entanto, ao Altíssimo como sacrifício de Quaresma. Até porque valeu bastante a pena.

As fotos, eu as mostro depois; por agora, apenas palavras. De agradecimento à cidade pela hospitalidade (e, naturalmente, ao meu caríssimo e cultíssimo Cicerone: obrigado, Dionísio!), de deslumbramento pelas coisas que vi e ouvi ao longo desses dias. Salvador é uma cidade bonita, que merece – e muito – ser conhecida.

Graças a Deus, pude ver bastante coisa! Muitas curiosidades históricas, como p.ex. sobre o piso das ruas do centro histórico (original até hoje preservado) ser chamado de “Cabeça de Nêgo” em referência aos escravos que o fizeram. Ou sobre as paredes das casas antigas não terem sido jamais construídas literalmente com óleo de baleia, e sim com o dinheiro arrecadado da (alta) taxação que este produto possuía. Ou sobre a casa dos jesuítas cedida ao governo que, durante um tempo, abrigou as “viúvas envergonhadas” rapidamente expulsas quando elas começaram a promover bingos. Ou sobre o Palácio Rio Branco ter também um Salão dos Espelhos em referência ao de Versailles, bem como pinturas nas paredes descobertas após a remoção de camadas e mais camadas de tinta. E muito mais.

Alegrei-me com a posse do novo primaz do Brasil. Entristeci-me com a destruição da antiga Sé, na década de 30, para dar passagem a uma linha de bonde. Vibrei com as histórias da resistência dos baianos aos hereges holandeses, que cá chegaram e rapidamente foram escorraçados. Emocionei-me com a história de Madre Joana Angélica, mártir da Fé, assassinada por tentar impedir um grupo de soldados de entrarem no convento da Lapa. Encantei-me com uma pequena igreja do século XVII defronte ao farol de Humaitá, sobre cujo pórtico a Imaculada Conceição da Virgem é louvada com dois séculos de antecedência de sua promulgação dogmática. E outras coisas mais, que agora não tenho tempo para escrever mas sobre as quais voltarei a falar em tempo oportuno.

Salve, Salvador! Até breve (estarei de novo aqui por ocasião da beatificação de Irmã Dulce). Volto para Recife com boas lembranças, com uma maior bagagem (também literalmente…) e com esperanças sobre o futuro… Uma cidade dessas merece mais. Que a Virgem da Conceição da Praia interceda pela cidade de São Salvador. E que o futuro reserve páginas mais gloriosas para a Sé Primaz do Brasil.

“Eles deram o testemunho mais forte de sua fé: seu sangue”

É da semana passada, mas vale muito a pena para quem ainda não leu: “Do comunismo ao catolicismo e ao sacerdócio”. “Educado na União Soviética comunista, Yurko Kolasa não sabia nada da fé católica até o início de sua adolescência”. No entanto, a Igreja estava viva, mesmo sob a terrível perseguição que sofria.

E dava o testemunho silencioso – porém eloqüente – do sangue dos Seus mártires. E aquilo que Tertuliano dizia nos primórdios do Cristianismo permanece verdade até os dias de hoje: o sangue dos mártires é semente de cristãos. O martírio – palavra que significa precisamente “testemunho” – é capaz de provocar milagres. Até mesmo de transformar um militante comunista em sacerdote do Deus Altíssimo. Em pastor de almas.

Sanguis martyrum, semen christianorum! Prodigioso florescimento, que atravessa a História e dá sinais de vitalidade até mesmo nos tempos ateus modernos. Porque também nos modernos tempos de hoje – aliás, principalmente nos tempos de hoje – há perseguição religiosa, e há os que dão ao Todo-Poderoso o supremo testemunho do próprio sangue.

No moderno e evoluído século XXI – pois sim! Mas não é em vão. Os cristãos multiplicam-se quando são perseguidos. O sangue dos mártires fortalece a Fé dos que ficam. As suas orações diante do Altíssimo redundam em nosso favor. Semen christianorum! Deus não permitiria o mal se, dele, não pudesse tirar alguma coisa ainda melhor – diz Santo Agostinho. E o martírio é um exemplo bem claro desta verdade postulada pelo Bispo de Hipona. Da perseguição religiosa, do assassinato covarde, Deus tira o testemunho supremo do martírio: e permite que, desta radical fidelidade, nasçam outros cristãos.

Certa vez, alguém me disse que a única vantagem de se morar em Cuba era crescer escutando os gritos de “Viva Cristo Rei!” que os católicos davam no Paredón ao serem fuzilados. De fato, esta vantagem existe: a de forjar a própria Fé com base no testemunho vivo dos que dão o sangue por Cristo Nosso Senhor. Bendita seja a Igreja em Seus mártires! Que o sangue deles derramado possa aumentar em nós a Fé, e congregar na Igreja Imaculada de Cristo cada vez mais homens – criados por Deus para a santidade.

Bem-aventurada Albertina Berkenbrok

Em 1952, na mesma capela onde Albertina recebeu a primeira comunhão, reúne-se o Tribunal Eclesiástico da arquidiocese de Florianópolis para dar início ao processo de sua beatificação e canonização; de fato, a essa arquidiocese pertencia então a paróquia de Vargem do Cedro. Posteriormente, com a divisão da arquidiocese e a criação da Diocese de Tubarão, é o primeiro bispo de Tubarão, Dom Anselmo Pietrulla, OFM, que leva adiante a causa. Obedecendo às determinações das leis da Igreja, em 1956 é feito um processo complementar. Infelizmente, por uma série de circunstâncias, de 1959 em diante o processo de Albertina interrompe-se e interrompido fica até o ano 2000.

Apesar disso, a fama de martírio e santidade de Albertina, bem como a devoção do povo para com ela, não cessaram. Em maio de 2000, o terceiro bispo de Tubarão, Dom Hilário Moser, SDB, retomou o processo. Nomeou postulador da causa de beatificação e canonização de Albertina, Fr. Paolo Lombardo, OFM, de Roma. O postulador veio a Tubarão em maio do mesmo ano, quando foi possível dar os primeiros passos concretos no sentido de retomar o processo.

[…]

ALBERTINA FOI BEATIFICADA em Solene celebração Eucaristica no dia 20 de Outubro de 2007 em frente a Catedral Diocesana de Tubarão. Presidiu a Cerimônia o Cardeal Saraiva – prefeito para a causa dos Santos.

BeataAlbertina.com
[cf. tb. BeataAlbertina.net]

Hoje é o dia da Bem-Aventurada Albertina Berkenbrok. Morreu jovem, e morreu defendendo a sua virgindade. Que ela interceda por nós, nestes tempos em que os valores pelos quais ela deu a vida são tão desprezados.

São Policarpo e o valor do Evangelho

[Depois que eu escrevi ontem aqui sobre porcos e pérolas, um leitor do Deus lo Vult! enviou-me por email um trecho da ata do martírio de São Policarpo de Esmirna (da edição “Padres Apostólicos”, coleção “Patrística”, da Paulus; também na “História Eclesiástica” de Eusébio de Cesaréia), bem como algumas considerações que Santo Ireneu (apud Eusébio de Cesaréia) faz sobre o glorioso mártir. Cito-as ambas; primeiro a ata de martírio e, depois, o que escreveu Santo Ireneu, porque ambas as passagens são bastante ilustrativas do valor que os Padres da Igreja davam à Mensagem Cristã, não aceitando de modo algum desperdiçá-la.]

No estádio, o tumulto era tão grande que mal se escutavam as palavras. Ao entrar Policarpo no estádio, veio uma voz do céu: Sê forte, Policarpo, sê homem (cf. Js 1,9). Ninguém viu quem falava, mas muitos dos nossos ouviram a voz .

Ora, enquanto o conduziam, houve um grande tumulto da parte dos que ouviram dizer ter sido preso Policarpo. Ele adiantou-se e então o procônsul perguntou se ele era, de fato, Policarpo. Ao obter a resposta afirmativa, exortou-o a renegar, dizendo: Tem pena de tua idade!, e frases semelhantes, conforme se costuma dizer. Acrescentou: Jura pela fortuna de César! Muda de opinião e dize: Abaixo os ateus!

Então Policarpo, fitando severamente a multidão presente no estádio, estendeu a mão contra eles, suspirou, olhou para o céu e disse: Abaixo os ateus!

Insistiu o procônsul, dizendo, Jura e eu te liberto. Amaldiçoa a Cristo. Policarpo disse: Há oitenta e seis anos que o sirvo e ele jamais me fez mal. Como posso blasfemar a meu Rei, meu Salvador?

O procônsul insistiu ainda e disse: Jura pela fortuna de César! Policarpo retrucou: Se esperas em vão que hei de jurar pela fortuna de César, como dizes, finges ignorar quem sou eu; escuta, falo com franqueza: Sou cristão. Se queres aprender a doutrina do cristianismo, dá-me o prazo de um dia e escuta.

O procônsul disse: Convence o povo. Policarpo respondeu: Considero-te digno de explicação, pois aprendemos a tributar aos magistrados e às autoridades estabelecidas por Deus a honra que lhes compete, contanto que não nos prejudique (cf. Rm 13,1). Quanto a estes, não os julgo dignos de me defender diante deles.

* * *

Ele [São Policarpo] viveu longamente e atingiu idade avançada, morrendo num glorioso e brilhante martírio. Sempre ensinou o que aprendera dos apóstolos, o que a Igreja transmite, somente a verdade.

Atestam-no todas as Igrejas da Ásia e todos os que até hoje sucederam a Policarpo, o qual foi testemunha da verdade mais fidedigna e mais segura que Valentino, Marcião e os restantes de espírito pervertido. Tendo ido a Roma, sob Aniceto, reconduziu muitos dos supramencionados hereges à Igreja de Deus, anunciando ter recebido dos apóstolos uma só e única verdade, aquela transmitida pela Igreja.

Alguns ouviram-no contar que João, o discípulo do Senhor, tendo ido a Éfeso, quis banhar-se; mas vendo ali Cerinto, saiu do balneário, sem se banhar, dizendo: Fujamos daqui, para que o balneário não desabe. Aí se encontra Cerinto, o inimigo da verdade.

O próprio Policarpo um dia viu Marcião, que veio ao seu encontro e lhe disse: Reconhece-nos. Ele lhe respondeu: Eu te conheço. Conheço-te, primogênito de Satanás. Tal era a prudência dos apóstolos e de seus discípulos que não mantinham relação alguma, nem mesmo conversavam com os falsificadores da verdade, segundo diz Paulo: Depois de uma primeira e de uma segunda admoestação, nada mais tens a fazer com um herege, pois é sabido que um homem assim se perverteu e se entregou ao pecado, condenando-se a si mesmo (Tt 3,10-11).’ […]

O poder da Igreja não residiu nunca na fama – pe. Antoine Coelho, LC

Sim, como podemos ainda atrever-nos a falar de vitória de Cristo? Como atrever-se ainda a falar de Cristo diante de altifalantes contrários tão poderosos? Na verdade, basta abrir a Bíblia para encontrar a resposta. Na Bíblia repete-se quase incansavelmente uma mensagem. É quase uma espécie de refrão. O homem que confia nas suas forças, no poder dos seus cavalos, na valentia dos seus guerreiros, na vantagem da sua situação, acaba derrotado. O David piedoso e de coração sincero, embora seja fraco e sem experiência, termina derrotando o Golias bem treinado mas presunçoso. A “fraqueza de Deus” é mais forte que a força dos poderosos e é precisamente através da fraqueza que se expande a invencível graça de Deus. Quem se crê forte já não pode ser um veículo eficaz da salvação.

Em realidade, a nossa força não pode ser outra que a aparente fraqueza do amor. É precisamente essa força, ou se quisermos, essa falsa fraqueza, que Cristo pede a Pedro no Evangelho deste domingo. Não lhe pergunta se é sábio, se será um grande planeador, um homem hábil ou eficaz, um líder capaz…Somente lhe pergunta se o ama realmente. O poder da Igreja não residiu nunca na sua fama. Os cristãos foram muitas vezes considerados canibais e assassinos no tempo dos romanos. Tampouco na sua capacidade de resposta. Somos atacados através da manipulação da informação, mas não podemos usar este tipo de armas. É toda uma gama ampla e rica de armas astuciosas, que não poderemos nunca utilizar, pois queremos permanecer fiéis ao amor. Mas aí está: o nosso poder é precisamente e somente o amor, ou seja, o Espírito Santo.

“Pedro, amas o Senhor?” É essa a pergunta decisiva acerca de um Papa. “Bento XVI, amas Cristo?” Sabemos que sim pelo martírio que está a sofrer com paz e com fé. Ainda hoje assisti à catequese que sempre dá às quartas feiras. Parece que nada lhe tinha sucedido nas semanas anteriores. Mas sim, muitas coisas sucederam que paradoxalmente tornam o seu ministério mais fecundo.

E mais que nunca também a nossa palavra pode ser fecunda. Quando tudo parecia ter-se tornado mais difícil em Jerusalém, os apóstolos e fiéis elevaram essa oração ao Senhor: “…verdadeiramente nesta cidade aliaram-se Herodes e Pilatos com as noções e os povos de Israel contra o teu servo Jesus, que ungiste para realizar o que, com o teu poder e sabedoria, havias pré-determinado que sucedesse. E agora, Senhor, tem em conta as suas ameaças e concede aos teus servos que possam pregar a tua Palavra com toda a valentia”. Acabada sua oração, tremeu o lugar onde estavam reunidos, e todos ficaram cheios do Espírito Santo e pregavam a Palavra de Deus com valentia.

Padre Antoine Coelho, LC
Homilia do III Domingo da Páscoa

Exemplo de sacerdote

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Esta placa está afixada defronte à igreja de São Lourenço da Mata, uma das cidades mais antigas do Brasil, que fica na região metropolitana de Recife. Um amigo teve a gentileza de enviar-me. Achei fantástica! O padre Gonçalo Ribeiro foi “morto a punhaladas pelos holandeses em 1636, por ter dito em público que certos livros que eles espalhavam contra a religião católica continham doutrinas heréticas, e não se quis desdizer a intimações”.

Não conhecia o padre Gonçalo, mas o seu exemplo é fonte de inspiração para os católicos tíbios dos nossos dias. Pernambuco dos mártires! Alegra-me saber que São Lourenço da Mata, um dia, esteve sob os cuidados pastorais de um tão fiel sacerdote do Deus Altíssimo. Até o martírio. Que aprendamos dele; e que ele interceda a Deus por nós.

El Martes me fusilan – homenagem aos Cristeros

Letra [recebi por email, do Carlos, a quem agradeço]

El martes me fusilan

El martes me fusilan
A las 6 de la mañana.
Por creer en Dios eterno
Y en la gran Guadalupana.
 
Me encontraron una estampa
De Jesús en el sombrero.
Por eso me sentenciaron
Porque yo soy un cristero.
 
Es por eso me fusilan
El martes por la mañana.
Matarán mi cuerpo inútil
Pero nunca, nunca mi alma.
 
Yo les digo a mis verdugos
Que quiero me crucifiquen
Y una vez crucificado
Entonces usen sus rifles.
 
Adiós sierras de Jalisco,
Michoacán y Guanajuato.
Donde combatí al Gobierno
Que siempre salió corriendo.
 
Me agarraron, de rodillas,
Adorando a Jesucristo.
Sabían que no había defensa
En ese santo recinto.
 
Soy labriego por herencia,
Jalisciense de naciencia.
No tengo más Dios que Cristo
Por que me dio la existencia.
 
Con matarme no se acaba
La creencia en Dios eterno.
Muchos quedan en la lucha
Y otros que vienen naciendo.
 
Es por eso me fusilan
El martes por la mañana.
 
Peloton, prepareeen, apunteeen
Viva Cristo Rey y fuego.

Dois curtas aviltantes

1. Excomunhão imposta por Dom José é desaprovada (para assinantes). “[U]ma pesquisa do Ibope encomendada pela ONG Católicas pelo Direito de Decidir mostra que 86% dos católicos discordam da decisão tomada pelo então arcebispo de Olinda e Recife, dom José Cardoso Sobrinho”.

Nem sei por onde começar. Não sei se dá para confiar, antes de tudo, nas pesquisas encomendadas (a expressão é excelente!) por estas senhoras. Depois, Dom José não “impôs” excomunhão nenhuma, mas apenas citou a punição automática prevista pelo Código de Direito Canônico, como já foi ad nauseam explicado. Depois, a (má) opinião dos (maus) católicos não faz a menor diferença neste assunto. Depois, o péssimo artigo de dom Rino Fisichella não é (como diz a reportagem) “o Vaticano se pronunciou”. Enfim, é uma péssima matéria, que só serve para lançar sombras à figura do grande Dom José Cardoso Sobrinho e, por extensão, à Igreja Católica.

Enquanto isso, nas notícias relacionadas, jovem conta como fez o próprio aborto. “Essa decisão era minha, de mais ninguém. Sabe a vontade que muita gente tem de ter um filho? Pois bem, eu tinha essa mesma vontade, só que para não ter filho naquele instante”. E, no final da notícia: “Católica, Marina defende o aborto para as mulheres que não queiram ter um filho”. Sim, católica. Como o presidente Lula, as Católicas pelo Direito de Decidir et caterva.

* * *

2. Essa Deus não perdoa, entrevista de Dom Cappio à Veja (via Acarajé Conservador). “O Lamarca é um mártir” – quem o diz é Sua Excelência. E pretende fazer “um santuário para todos os mártires da diocese”.

Para a Igreja Católica, “mártir” é quem é morto por ódio à Fé. Para Dom Cappio, “mártir” é “quem morre em defesa de uma causa justa e derrama seu sangue por valores evangélicos”. Mesmo que a causa “justa” em questão seja a instauração de um regime assassino e condenado pela Igreja, e mesmo que os valores “evangélicos” aqui sejam os da Heresia da Libertação.

Dom Cappio, portanto, não define “martírio” da mesma forma que a Igreja. E é bispo católico. Faço coro ao que perguntou o professor Felipe Aquino: até quando isso ficará sem providências?