Santa Dulce dos Pobres, rogai por nós, olhai pelo Brasil

A canonização da Irmã Dulce, ocorrida na manhã deste domingo (13 de outubro), foi uma reconfortante notícia para os católicos, em meio a tantas outras apreensivas que já quase nos acostumamos a receber nestes dias difíceis. Mas hoje o Anjo Bom da Bahia entrou no rol dos santos, a Irmã Dulce dos Pobres alcançou a glória dos altares; hoje é um dia feliz, hoje nós podemos descansar e dar graças a Deus.

Eu estive em Salvador em 2011 para ver a cerimônia de beatificação. Registrei então o carinho que o povo baiano demonstrava pela Irmã Dulce, que não se restringia ao círculo dos católicos devotos e, ao contrário, expandia-se até mesmo para além das fronteiras da Igreja. Aquela mulher viveu a caridade de forma tão concreta, visível, palpável até, que é como se, nela, as virtudes teologais ganhassem corpo e expressão sensível. É como se elas se encarnassem de tal modo que não podiam mais passar despercebidas. A Irmã Dulce foi o Catolicismo que, em pleno século XX, não se deixou confinar: saiu das igrejas e conventos para ganhar as ruas e os jornais, a cidade, o mundo.

Esta é a verdadeira santidade dos nossos dias: uma vida de austeridade e de sacrifício, indiferente aos encantos do mundo, confiante na Providência de Deus, esquecida de si no serviço ao próximo. Não estamos falando de um leprosário primitivo nem de nenhuma ordem mendicante medieval: tudo isso aconteceu aqui ao lado, em Salvador, em território urbano, em uma de nossas maiores capitais, um dia desses. A Irmã Dulce faleceu em 1992.

Também não estamos falando de assistencialismo social, do tipo que as pessoas sedizentes esclarecidas hoje acham que é dever do Estado dar a todo cidadão brasileiro. Para Santa Dulce dos Pobres, a caridade era um dever visceral dos cristãos e não um burocrático papel do Estado. Neste sentido, curiosíssimo o episódio narrado neste caderno especial da Folha: um hospital estava sendo reformado e, em dado momento, um estagiário foi dizer à Irmã Dulce que estava faltando cimento para concluir a obra. A boa baiana pega o rapaz pelo braço e o leva por diversas alas do hospital, dá de comer a crianças, troca curativos, procura remédios, conforta doentes, pára na capela para rezar. Duas horas depois, vira-se para o rapaz e lhe diz: “meu filho, você viu que Deus me deu muitos problemas para resolver hoje. O cimento você resolve, né?”

Vida da Irmã Dulce

E é este misto de vida ativa e vida contemplativa que confunde os sábios do mundo e dá frutos da parte do Altíssimo. É este o tipo de atividade que não se pode institucionalizar, burocratizar, impessoalizar; ela só pode ser humanamente desempenhada por almas generosas inflamadas de amor a Deus. Como dizia Bento XVI, a Igreja entende que a caridade “não é uma espécie de actividade de assistência social que se poderia mesmo deixar a outros, mas pertence à sua natureza, é expressão irrenunciável da sua própria essência” (Deus Caritas Est, 25).

Do mesmo modo, o milagre que deu ensejo à canonização foi um prodígio impressionante. Um cego voltou a enxergar; talvez um dos mais tradicionais milagres do Novo Testamento, destes que os céticos desdenham e, os espiritualizados, buscam interpretar em sentido figurado. Mas, hoje, não estamos falando de miopia nem de catarata, destes males da retina ou do cristalino para os quais a moderna medicina consegue, muitas vezes, dar remédio. O miraculado é o maestro José Maurício Bragança Moreira, que passou 14 anos cego e, em 2014, da noite para o dia, voltou a enxergar. O glaucoma lhe havia destruído o nervo óptico, condição que, como sabemos, no atual estágio de desenvolvimento da medicina é infelizmente irreversível.

No entanto, certa noite, sofrendo de conjuntivite, sem conseguir dormir, José Maurício abraçou-se com uma imagem de Irmã Dulce e lhe pediu um refrigério para a dor que o consumia. Conseguiu dormir; na manhã seguinte, ao acordar, quando a sua esposa lhe deu algumas compressas de gelo para os olhos, ele percebeu que estava conseguindo enxergar o gelo e as mãos. A visão foi rapidamente voltando. Hoje, a julgar pelas fotos, parece que nem óculos ele usa mais.

E atenção. Não é que o nervo dele tenha regenerado de repente, o que já seria um milagre e tanto. O que os exames mostram é que o nervo óptico continua danificado; ele não deveria portanto enxergar e, não obstante, enxerga. É como se fosse não um milagre instantâneo, operado naquela noite de 2014, mas um milagre permanente: Deus está mantendo a visão de um homem que não possui estruturas biológicas aptas para enxergar. Se houvesse ainda a figura do “advogado do diabo” no processo de canonização, ele provavelmente alegaria que o milagre é pouco ortodoxo; no entanto, ele mesmo seria forçado a reconhecer que se trata de um feito portentoso.

Um milagre grandioso para celebrar não a entrada de Irmã Dulce no Céu — porque esta provavelmente se deu já naquele ano de 1992 –, mas o seu ingresso oficial, definitivo, na liturgia da Santa Igreja. Para mostrar que a vitalidade do Cristianismo continua sobre-humana a despeito das crises da Igreja. Para deixar claro que, mesmo há séculos de distância, o Evangelho mantém ainda o seu frescor e ainda é capaz de impregnar com seu perfume o nosso tempo, enchendo de assombro e admiração as nossas metrópoles.

Que o Anjo Bom da Bahia interceda por nós, olhe pela Igreja, vele pelo Brasil! Santa Dulce dos pobres, rogai por nós!

Duas notícias: cirurgia fetal e “ressurreição” de um bebê

No meio das recentes polêmicas sobre o aborto em caso de estupro (saiu também na ACI), duas bonitas histórias sobre gravidez e filhos. Ambas publicadas na mídia secular.

Eu, Leitora: “Meu bebê foi operado dentro de mim”, na Marie Clarie. «A cirurgia durou quatro horas e meia. Fiquei completamente sedada. Os médicos fizeram um corte acima de onde se faz a cesárea, abriram o útero, tiraram um pouco do líquido amniótico, viraram a bebê de costas e lhe deram uma anestesia na altura da bolha. Fizeram a correção na coluna, repuseram parte do líquido retirado e costuraram novamente o útero e a barriga. Após a operação, passei 24 horas com anestesia na UTI, onde o médico me examinou e mostrou que a coluna da Lívia estava corrigida. Foi um alívio, fiquei emocionada».

Bebê considerado morto é achado com vida em capela de hospital, em G1. «A dona da funerária que atendeu à família diz não acreditar no que presenciou na capela do hospital. “A avó me ligou para buscar o corpo e eu fui. Chegando lá, encontrei o corpo da menina em cima do altar da capela. De repente, vimos que ela ergueu a perninha. Nós nem acreditamos. Ela estava respirando. Nos abraçamos e começamos gritar: ‘Ela está viva, ela está viva!'”, relata a dona da funerária, Rosiles Ferro».

São histórias bonitas que nos enchem de esperança, por ver que ainda é possível encontrar pessoas que se importam com a vida humana mesmo enquanto ela ainda é frágil e indefesa – doente até, desiludida pela medicina. Ainda há quem  seja capaz de se maravilhar com o milagre da vida.

Afinal, de onde vem o abortismo do CFM?

A recente decisão do Conselho Federal de Medicina de apoiar a descriminalização do aborto no país não saiu do nada. Veio de Belém do Pará, do “I Encontro Nacional dos Conselhos de Medicina 2013”; mais especificamente, de uma mesa redonda chamada “Aborto e Desigualdade Social”, com a seguinte singela composição (grifos meus):

Coordenada pelo presidente do CFM, Roberto d’Avila, [a mesa redonda] contará com a participação da professora Débora Diniz, da Universidade de Brasília (UnB). Além dela, contribuirão o professor Christian de Paul de Barchifontaine, reitor do Centro Universitário São Camilo; o promotor de Justiça Diaulas da Costa Ribeiro e o secretário-geral do CFM, Henrique Batista e Silva, coordenador do grupo técnico criado para avaliar o tema.

O Wagner Moura fez-nos o favor de identificar os participantes deste evento:

  1. A Débora Diniz, velha conhecida nossa, é a provável maior expoente da ONG abortista ANIS, que faz virulenta militância a favor do aborto no Brasil.
  2. O Diaulas Ribeiro «é o jurista que autoriza que rapazes com paralisia cerebral tenham relações sexuais com prostitutas, é ele também conhecido por defender eutanásia e, advinhem, aborto».
  3. Last but not least. o sr. Christian de Barchifontaine é sacerdote católico! É o «padre camiliano que SEMPRE está nos eventos onde a ANIS – ONG pró-legalização-do-aborto da antropóloga Debora Diniz – está».

Faço coro integralmente à indignação do Wagner Moura: como é possível que um órgão que supostamente representa toda uma categoria de profissionais faça um pronunciamento com indisfarçado viés ideológico, embasado pelas conclusões de um “grupo técnico” formado exclusivamente pela patota abortista mais descarada?

Agora me expliquem que medicina é essa do Conselho Federal de Medicina que para tratar de assuntos referentes a aborto forma um “grupo técnico” no qual somente e unicamente militantes pró-aborto foram convidados?!

[…]

Quem são esses médicos que aceitam ser “orientados” por um “grupo técnico” totalmente alinhado com uma ideologia que transforma a vida humana em mero acordo social (só é humano quem o grupo decidir que seja)? Isso é ridículo. Como é que um Conselho Federal de MEDICINA se submete a essa pouca vergonha? Ora, nenhum dos peritos em aborto citado na matéria do próprio CFM é médico. NENHUM! São todos muito bem remunerados por velhíssimas conhecidas organizações internacionais que se intrometem nos assuntos do Brasil: Ford, Rockfeller e MacArthur.

Como é possível que ninguém proteste contra esta absurda ingerência de “especialistas” – a soldo de organizações pró-aborto internacionais – em assuntos de interesse de uma categoria profissional da qual eles sequer fazem parte? Médicos, escrevam ao CFM! É o nome de vocês que o Conselho está emporcalhando com toda essa empulhação!

E como é possível que um sacerdote católico esteja de conluio com esta caterva para legalizar o assassinato de crianças no Brasil? Um padreCorruptio optimi pessima, como diz o adágio latino. Quanto a isso, nós próprios podemos exigir explicações. Os contatos eletrônicos da Província Camiliana Brasileira – à qual o revmo. pe. Christian de Paul de Barchifontaine responde – seguem abaixo:

provincial@camilianos.org.br
diretoria@saocamilosede.org.br
imprensa@camilianos.org.br

Não nos calemos, senhores, não nos calemos. O mal avança despudoradamente, e está tão confiante de nossa fraqueza que nem se preocupa mais em agir às sombras: desvela-se em toda a sua fealdade à luz do dia, zombando das leis de Deus e da Sua Igreja. Mas os que militam a favor da morte não prevalecerão nesta Terra de Santa Cruz, não terão a palavra final sobre este povo do qual a Senhora de Aparecida é Imperatriz e Padroeira. Levantemo-nos em defesa d’Ela! Que o solo da nossa Pátria não seja manchado pelo sangue das crianças abortadas. Que a Virgem Santíssima nos ajude e, por Sua poderosa intercessão, livre o Brasil da maldição do aborto.

A cura dos doentes não vem da destruição de embriões humanos: um Nobel para o dr. Yamanaka

Leiam na íntegra este artigo da dra. Lenise Garcia publicado ontem na Gazeta do Povo, do qual reproduzo aqui somente um trecho. Nele, a professora da UnB comenta o recente Nobel de Medicina concedido ao Dr. Shinya Yamanaka (premiação conjunta, dividida com o inglês John B. Gurdon) por conta de sua descoberta das células-tronco pluripotentes induzidas (iPS). O que confirma novamente aquilo que – contra os protestos das Zatz da vida – nós sempre dissemos: o sacrifício de embriões humanos em laboratórios não é necessário para o tratamento de pessoas doentes. Os benefícios médicos podem perfeitamente vir (e geralmente vêm) da boa ciência, e não de uma ideologia cientificista ávida por transgredir todos os limites éticos e transformar seres humanos em cobaias vivas, em fanáticas e imorais tentativas de encontrar a panacéia universal.

* * *

No dia 11 de dezembro de 2007, comentando o artigo em que pela primeira vez demonstrou a possibilidade de se obterem células-tronco pluripotentes induzidas a partir de células de pele humanas, ele [o dr. Yamanaka] relatou ao jornal The New York Times o efeito que teve sobre ele o olhar ao microscópio, a convite de um amigo, um dos embriões humanos estocados na clínica: “quando vi o embrião, eu de repente me dei conta de que havia uma diferença muito pequena entre ele e minhas filhas. Pensei: nós não podemos continuar destruindo embriões para nossa pesquisa. Deve haver outro meio.”

Para encontrar esse “outro meio”, o dr. Yamanaka dedicou vários anos de pesquisas, que o levaram não somente ao sucesso técnico na obtenção das células pluripotentes, mas também a um grande aprofundamento no conhecimento que hoje temos sobre a regulação gênica.

Visões sobre o aborto: a mesquinhez e a nobreza

Está muito pertinente a nota do “Brasil Sem Aborto” a respeito das propostas anti-vida do novo Código Penal. A denúncia que este texto faz é verdadeira e merece a nossa atenção: o projeto contém inúmeros pontos polêmicos – que, aliás, são taxativamente reprovados pela esmagadora maior parte da população brasileira – e está sendo conduzido a toque de caixa pelos nossos parlamentares, em uma tentativa de passar um verniz de legitimidade sobre a imposição de uma ideologia minoritária e estranha ao nosso povo e que, pelo conteúdo e pela forma, configura-se um verdadeiro atentado à democracia do Brasil.

Pelo conteúdo, uma vez que (como explicou de forma magistral o delegado de polícia Rafael Brodbeck na semana passada) muitas das propostas que ele contém estão longe de corresponder aos anseios da população brasileira: trata-se de «um Código ideológico, escrito por intelectuais em desconexão com a realidade brasileira e que não representam as mais profundas aspirações do nosso povo». Pela forma, porque (como disse a supracitada nota do Brasil Sem Aborto) está sendo realizado às escondidas e no apagar das luzes, conduzindo mudanças radicais em uma legislação importante de nosso ordenamento jurídico sem um debate público proporcionado: «Surpreende o fato do Presidente do Senado Federal, ainda que dentro de suas prerrogativas constitucionais e regimentais, apressar-se em transformar o polêmico ante-projeto em projeto de lei às vésperas do início do recesso parlamentar. Surpreende também que essa apresentação contrarie informação anteriormente divulgada, de que o ante-projeto seria analisado por uma sub-comissão da CCJ, presidida pelo senador Eunício Oliveira, antes de se transformar em projeto de lei».

Na contramão desta desastrosa tentativa política de implantar a vergonha abortista no país, é um refrigério ler esta notícia que o Estadão publicou no início do mês sobre uma mãe – brasileira! – que decidiu manter a gravidez apesar do câncer de mama. A história é emocionante:

Simone morava no Canadá quando recebeu o diagnóstico da gravidez praticamente ao mesmo tempo que o de câncer de mama. Para poder levar a gestação adiante, teve de comprar uma briga com médicos e recusar o protocolo de tratamento indicado, que preconizava o aborto terapêutico. O parto ocorreu junto com a mastectomia.

Não estamos falando de uma mãe superanimada com uma gravidez planejada e tranqüila, muito pelo contrário: foi uma gravidez inesperada (ela estava tomando anticoncepcionais) e de altíssimo risco para ela própria e para o bebê, uma vez que havia um câncer em estado avançado que, segundo os seus médicos, se agravava ainda mais por conta da gravidez. Ela não teve apoio médico algum para a sua tentativa de salvar a filha: ao contrário, os médicos se recusaram a lhe tratar se ela não abortasse (!). E ela estava em um dos melhores hospitais do Canadá, o que acabou com as suas esperanças de encontrar no país alguém que quisesse cuidar dela.

Ou seja, nós estamos falando de uma mulher gravemente doente, longe de casa, carregando no ventre um filho que não havia planejado e que lhe diziam estar piorando a sua doença, a qual se recusavam a tratar enquanto ela não consentisse no sacrifício da criança! É difícil até mesmo imaginar uma situação mais dramática do que essa. No entanto, ela procurou um médico na internet e pegou um vôo de volta para o Brasil, onde encontrou quem estivesse disposto a respeitar sua vontade e a tratar tanto a ela própria quanto ao seu filho por nascer.

Melissa nasceu saudável às 36 semanas de gestação. A mãe perdeu uma mama e vai precisar passar ainda por diversas sessões de quimioterapia, mas passa bem.

“O mais difícil já passou. A Melissa é um milagre, uma promessa que se cumpriu”, diz Simone, que atribui o milagre da vida da filha ao “anjo Waldemir Rezende”. Agora ela só tem três desejos: poder pegar a bebê no colo todos os dias, fazer sua mamadeira e trocar sua fralda. Como qualquer mãe.

Diante de uma história dessas, como defender – como pretendem os abortistas de todos os naipes – que uma mãe possa matar o seu filho ao próprio alvitre? Como consentir nesta covarde fuga ao sofrimento e à responsabilidade materna? O ser humano foi feito para as coisas elevadas e nobres, e não para a mesquinharia. Nobre é não fugir das próprias responsabilidades, ainda que isto signifique colocar a própria vida em risco: a enorme repercussão positiva que teve a notícia acima dá testemunho de que – como era de se esperar – as pessoas admiram a nobreza, dão valor ao heroísmo. Ora, são dignos de proteção exatamente os valores, e não os anti-valores; merecem ser promovidas as coisas que são admiráveis, e não o seu contrário. E é exatamente por isso que a vilania e a mesquinhez não podem receber proteção legal positiva, não podem ser consideradas um “direito” e não se pode desviar recursos públicos para que elas sejam exercidas. A vida é sagrada e é dever de todos e de cada um protegê-la. Naturalmente, não significa que isto seja fácil; mas significa, sim, que é a coisa certa a ser feita.

“Não existe evidência científica possível para sustentar que um zigoto, ou um óvulo recém-fecundado, não tenha direitos”

Eu não achei que fosse viver para ler isto na Folha de São Paulo: «Rodrigo Guerra, diretor do Cisav (Centro de Pesquisa Social Avançada do México), concordou que não existe evidência científica possível para sustentar que um zigoto, ou um óvulo recém-fecundado, não tenha direitos». E ainda: «o embrião tem capacidades humanas, embora limitadas, e portanto toda a normalidade existente internacionalmente para proteger seres humanos com capacidades diferentes deve se aplicar nestes casos».

Na mídia nacional! Na Folha de São Paulo! É nestes momentos que a evidência é tão evidente que se impõe por si mesma: «Sabemos por experiência empírica contundente que as estruturas precursoras do sistema nervoso central existem desde o momento da fecundação. Desde aí o genoma humano é completo e funcional, e seu metabolismo é autônomo, ou seja, processa energia por si mesmo, embora continue sendo dependente nutricionalmente da mãe».

Respeito à vida humana desde a concepção até a morte natural: exatamente o que pede a Igreja. É praticamente a mesma conclusão a que chegaram os cientistas liderados por John Haas. E o mais importante é que tal assunto é tratado com a inegociabilidade que merece: o grupo de cientistas «rejeitou a abertura de um debate sobre o tema». Bravo! Certas coisas não se discutem. A certas posições irracionais não é lícito conceder a gentileza de um debate, como se ela fosse algo a priori aceitável.

Enquanto isso, os comentários dos bárbaros inimigos da civilização destilam o mesmo irracionalismo raivoso de sempre. Por exemplo, houve quem dissesse que «John Haas é presidente de um grupo católico anti-aborto (National Catholic Bioethics Center)! Ele está falando como religioso e não como cientista». E (como comentou um amigo) o Dawkins et caterva, militantes anti-religiosos raivosos, porventura falam como cientistas? Honestidade intelectual passa longe dessa gente…

“Parece um bonequinho, tem que apertar a descarga e torcer para não entupir” [sobre aborto clandestino]

Após aborto, mulheres entram em hospitais como pacientes e saem indiciadas. Esta é a chamada pró-aborto de uma notícia daqui do Diário de Pernambuco da última segunda-feira. Ao longo da matéria, a crítica aos médicos que – supostamente – acionam as autoridades policiais após perceberem que suas pacientes tentaram cometer o horrendo crime do aborto.

Eu não vou nem comentar o notório viés da “pesquisa inédita” noticiada, que tem entre seus autores o abortista “Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero” (Anis) e em particular a dra. Débora Diniz, escancaradamente pró-aborto. Também não vou comentar a irrelevância estatística do estudo apresentado, que contou com o fantástico número de… 7 (isto mesmo, sete!) mulheres (!). Não sei, também, se o médico (ou qualquer outro profissional) realmente está impedido de chamar as autoridades policiais quando se depara com um crime diante de si.

Vou comentar somente um ponto que talvez passe batido à primeira leitura do texto. Refiro-me ao parágrafo que segue, contando a história de Joana (nome fictício), atualmente “com 27 anos, mãe de dois filhos”:

Depois do primeiro aborto, aos 16 anos, ela recorreu à prática mais três vezes, em um curto espaço de tempo. Chegou a tomar um preparo que incluía boldo e querosene, em certa ocasião. Hoje, casada, mãe de um garoto de 13 e uma menina de três, Joana faz um mea-culpa, mas explica que o desespero toma conta da mulher que se vê diante de uma gestação indesejada. “Acho que agiria diferente se fosse agora. Não sei se teria todos os filhos, mas evitaria engravidar. Naquela época, me faltava juízo”, diz a diarista, que atualmente não descuida do anticoncepcional. Ela acredita que ninguém passa por um aborto impunemente. “Não é por causa de religião, mas acho que um dia serei cobrada. O castigo começa na hora em que você vê o feto, parece um bonequinho, tem que apertar a descarga e torcer para não entupir.”

Do chocante exposto acima, nós podemos ver que:

i) trata-se de um procedimento amplamente banalizado, a ponto de uma garota fazê-lo quatro vezes (!) em “um curto espaço de tempo” (!) sem que ninguém pareça ter se importado minimamente com isso;

ii) Joana hoje em dia é mãe de dois filhos, o que foi sorte – uma vez que abortos podem provocar esterilidade;

iii) mesmo tendo provocado pelo menos quatro abortos, Joana se arrepende e diz achar que agiria diferente se fosse agora; o que faz com que seja uma tremenda vigarice apresentá-la como exemplo capaz de provocar clamor pela liberação do aborto no Brasil; e

iv) a garota descreve com uma frieza enojante – digna de alguma psicopatia – o procedimento de ocultação de cadáver do seu filho recém-assassinado: «você vê o feto, parece um bonequinho, tem que apertar a descarga e torcer para não entupir».

Se fosse algum maníaco sexual explicando em detalhes o procedimento de estupro de suas vítimas, a narrativa certamente feriria a susceptibilidade dos leitores e não seria veiculada. Se fosse um assassino explicando pormenorizadamente como se desfez do corpo de alguma vítima (p.ex., cortando em pedaços e jogando aos cachorros), muitos iriam se revoltar com esta frieza doentia. Ora, aqui nós temos uma mulher falando sobre como “se livrar” do cadáver de uma criança (o filho dela!) por ela assassinada! É sintomático que isto não provoque a indignação dos leitores do jornal. É um absurdo que clama aos céus uma confissão dessas ser utilizada para fazer a apologia do assassinato de crianças, pintando os criminosos como vítimas e tentando macabramente angariar-lhes simpatia. Quanto à criança, brutalmente assassinada e lançada no esgoto, com esta ninguém se importa, esta ninguém vê – contanto que não entupa o vaso sanitário. Que Deus nos perdoe.

Dois investigadores à caça de falsos milagres nos arquivos vaticanos: fracasso absoluto

[Ofereço tradução livre de interessante artigo divulgado originalmente no Religión y Libertad. Vale a leitura.]

Dois investigadores à caça de falsos milagres nos arquivos vaticanos: fracasso absoluto

É o sonho de todo ateu ou cético: demonstrar que o que ontem a medicina não podia explicar, hoje já pode. Contudo, não.

[Religión en Libertad] A cada ano, a Sagrada Congregação para as Causas dos Santos oferece um curso (Studium) de dois meses no Vaticano para formar postuladores de causas de beatificação e canonização, [aberto inclusive] a todas as pessoas que tomam parte neste tipo de processos.

Este ano [o curso] ocorreu entre janeiro e março, e concluiu-se na sexta-feira passada [11 de março de 2011], com uma assistência de oitenta alunos de doze países: leigos, sacerdotes, religiosas e advogados civis e canônicos receberam formação naquilo que, nas palavras do secretário da Congregação e professor do curso, é «um processo judicial que deve seguir um procedimento estrito, porque uma pessoa que é beatificada – e ainda mais se é canonizada – converte-se em um “bem público” para a Igreja». As formalidades jurídicas que aprendem os participantes do curso «não são simples formalidades, mas garantem ao máximo [aportan las máximas garantías] a seriedade do processo».

E uma parte fundamental [do processo] são os milagres, requisito para todas as causas (à exceção das dos mártires), e que em sua esmagadora [abrumadora] maioria consistem em curas inexplicáveis.

Neste sentido Patrizio Polisca, presidente da comissão médica da Congregação e médico pessoal do Papa, revelou um fato de grande importância. Após explicar que os cientistas que participam dos processos não julgam sobre milagres, «porque um milagre é um juízo teológico», mas que se limitam a afirmar, se procede, que um fato «não tem explicação natural», o doutor Polisca contou que dois investigadores recentemente estiveram estudando a fundo os arquivos da Congregação.

Tratava-se de desenterrar [desempolvar] casos antigos que os médicos de seus tempos haviam considerados inexplicáveis, e que haviam servido para beatificar ou canonizar alguma pessoa, para averiguar se, no estado atual da medicina, estes casos teriam encontrado [alguma] explicação. A conclusão foi clara: «não se encontrou nenhum caso que, em outros tempos, foi considerado inexplicável e que tenha, hoje, uma explicação médica».

Uma prova a posteriori do rigor com o qual a Igreja trata estes casos. De fato, sublinhou monsenhor Bartolucci, para a cura de casos de câncer a Congregação exige um mínimo de dez anos sem recaídas para começar a estudar seu suposto caráter milagroso, prazo que se estende ainda mais para o caso de tumores cerebrais.

De fato, as normas seguidas [nestes casos] não mudaram desde que foram estabelecidas por Bento XIV em 1734: a enfermidade tem que ser grave, não deve estar catalogada entre aquelas que se curam espontaneamente, a cura não pode ser atribuída a tratamento algum e deve ser completa e duradoura.

Os avanços da Medicina nestes três séculos não permitiram desmentir nenhum dos juízos emitidos desde 1734.

O valor da vida humana: em Fortaleza, polícia invade clínica de aborto

Na Inglaterra, a Baronesa Mary Warnock disse que, diferente do ouro e da platina, a vida humana não tem valor em si. Esta senhora faz parte da Câmara dos Lordes, câmara alta do Parlamento do Reino Unido.

A frase é de uma profunda estupidez. O ouro e a platina é que não têm valor “em si”. Ao contrário, só são valiosos porque há seres humanos que os consideram valiosos. E, como ex nihilo, nihil, se a vida humana não tivesse valor, nada mais o teria. No entanto, o ouro e a platina são valiosos, não há quem o negue. E, se o são, muito mais valiosos são os seres humanos que conferem valor à matéria inanimada.

Nada surpreendentemente, esta besteira dita pela sra. Warnock não é invenção dela. O Peter Singer diz a exata mesma coisa, apenas mudando as palavras. Como é possível que pessoas de relativa inteligência e importância pública divulguem, aos quatro cantos, opiniões desta natureza e ninguém pareça se importar?

É exatamente pelo fato da vida humana ter valor em si que ela deve ser protegida. E, se nós negamos valor intrínseco à vida humana, abrimos espaço para quaisquer arbitrariedades. Aborto e eutanásia, extermínio de judeus, escravidão de negros – qualquer coisa. Afinal, se tudo for arbitrário e tudo for questão de conveniência, o mundo passa a ser regido pela lei do mais forte. Os judeus, na Alemanha Nazista, não tinham utilidade social suficiente para fazer valer, junto à sociedade alemã, as suas reivindicações de não serem deportados para campos de concentração e, lá, assassinados. Mutatis mutandis, as crianças abortadas também não têm projeção social o bastante para pleitearem, junto às autoridades públicas, o seu não-abortamento. Se a vida humana não tiver privilégios a ela inerentes, e se tudo for questão de convenções sociais… vale tudo. O limite é a maldade de quem estiver no poder, e a História já deu mostras o bastante de que o ser humano sempre é capaz de se superar em matéria de atrocidades e injustiças.

Enquanto isso, aqui em Fortaleza, uma clínica de abortos foi estourada. Na operação “Exterminador do Futuro”, “[f]oram cumpridos 6 mandados de prisão preventiva e 3 de busca e apreensão”. Entre os presos, o sr. Dionísio Broxado Lapa Filho, médico e ex-prefeito de Maracanaú. Gente graúda, que estava há muitos anos pondo em prática as idéias criminosas de Singers e Warnocks. O caso é emblemático: mostra-se como uma resposta concreta à “cultura da morte” que permeia o nosso triste século XXI. Mostra que ainda há esperanças. Parabéns às autoridades envolvidas nesta operação.

E que Nossa Senhora Aparecida livre o Brasil da maldição do aborto.

Dize-me com o quê trabalhas…

Fazendo coro ao que o Gustavo Souza disse no Exsurge, Domine!. Ganha um doce quem adivinhar qual o profissional que se utiliza dessas ferramentas.

Citando o Gustavo:

As imagens acima, ao contrário do que o leitor poderia supor, não retratam ferramentas de trabalho de um encanador, nem de um serralheiro, nem tampouco de um pedreiro. Estes horrendos instrumentos são utilizados por médicos e outros “profissionais” durante a realização de um procedimento abortivo! Neste site [de onde eu tirei as imagens acima] há outras ferramentas [com “design” igualmente assustador] que a grande maioria das pessoas nem imagina que exista e que tenha este tipo de aplicação.

Advirto que o site contém imagens fortes. É para isto que serve a medicina? É esta a “profissão” cujo exercício queremos regularizar?