O messias turco

Uma notícia esdrúxula: o turco Mehmet Ali Agca, que atirou no Papa João Paulo II em 1981, foi libertado esta semana. Não é pelo fato do indivíduo ter sido solto que a notícia é esquisita – afinal, é comum as pessoas serem libertadas após cumprirem as suas penas -, mas sim por dois “detalhes” que aparecem na notícia.

O primeiro, é a classificação que Agca recebe já na primeira linha da matéria: ele é um “terrorista ultradireitista turco”. Qual o motivo da alcunha? O que faz com que Agca seja um “ultradireitista”? Aliás, qual a definição de “ultradireitista”? Nenhuma dessas coisas é explicada pela reportagem. Que, aliás, nem fala de política. O turco é simplesmente apodado assim, como se fosse a coisa mais natural do mundo, e como se o questionamento sobre o porquê do termo não fizesse sentido.

Engraçado, ainda, é o fato de haver indícios (e isso não é novidade) de que tenha sido a KGB quem encomendou o assassinato do Papa João Paulo II. Vai ver, então, que Agca é um ultradireitista por fazer parte da organização russa de extrema-direita (!) conhecida como KGB! Ou, então, ele é um ultra-direitista que não via problema algum em trabalhar para a polícia secreta da Rússia comunista. É sintomático, a propósito, que a informação sobre a KGB tenha saído até mesmo no Times (link acima), e não tenha recebido sequer uma menção na mídia tupiniquim.

O outro motivo que torna a notícia esdrúxula é a mensagem do terrorista turco, que foi distribuída pelo seu advogado:

“Declaro a mensagem divina de Deus no nome de Alá”, começa a mensagem de Agca, composta por cinco artigos, um dos quais afirma: “Deus é um, eterno e único. Deus é total. A Trindade não existe”.

Agca explica que ele “não” é Deus e também não é seu filho, mas “o eterno Messias, ou seja, o mais alto e eterno servente de Deus no Cosmos”.

“O espírito santo não é nada além de um anjo criado por Deus. Não existe a Trindade. Declaro que o fim do mundo está chegando. Todo mundo desaparecerá no final deste século”, assegura em sua carta.

Mais um candidato a Messias! E, este, é muçulmano, tentou assassinar o Papa João Paulo II, possivelmente a mando da KGB. E anunciando o fim do mundo para já! A gente vê cada coisa que nem acredita.

o terrorista ultradireitista

Curtas de fim de sexta-feira

Bento XVI caminha na corda bamba entre israelitas e palestinos, conforme diz o título de uma matéria-desabafo do pe. Thomas Williams, LC, publicada em ZENIT na última quarta-feira. “Parece que alguns dos ouvintes do Santo Padre – afirma – não se sentiriam satisfeitos com nada do que o Papa possa dizer ou fazer, a ser não que caísse de joelhos suplicando que a terra o engolisse na mais total das vergonhas. […]  Como um equilibrista espiritual, ele tem de oscilar com cuidado à direita e à esquerda, e imediatamente é rotulado como insensível ou mau. […] Parece que muitos observadores não se importam com as verdadeiras intenções do Papa, e passam todas as suas palavras e ações pelo microscópio, em busca de uma falta”.

– Surgem rumores de que o homem que tentou assassinar papa se converteu ao catolicismo e quer ser batizado. “Mehmet Ali Agca, o homem que em 13 de maio de 1981 tentou matar o papa João Paulo II, alega ter se convertido ao catolicismo”. A mesma reportagem diz que o seu ex-advogado é cético quanto à sua conversão. Aqui tem uma entrevista estranha que não sei se é com o próprio Agca ou com o seu atual advogado; são essas coisas confusas que me fazem achar melhor aguardar um pouco para saber se é verdade ou se é boato.

O Estado e o aborto: artigo de Ogeni Luiz Dal Cin, advogado e filósofo. “Ora, como preservar a liberdade – esse o paradoxo do liberalismo – em detrimento da vida, se a liberdade supõe a vida e se a destruição da vida em nome da liberdade destrói a potencialidade da liberdade na vida violada? Destruir o outro antes que possa exercer sua liberdade para não precisar reconhecer-lhe a liberdade? […] De nada adiantou nosso constituinte definir, em cláusula pétrea, o direito à vida, sem nenhuma restrição, e defini-lo como direito superior e independente do Estado, se agora, por uma lei ordinária, na junção de interesses ideológicos e personalíssimos, já se considera casuisticamente mais que suficiente o intuito de legalizar o direito de matar a vida humana, antes do nascimento”.

Cientista nega tese de Anjos e Demônios, mas ninguém liga. “Zichichi, religioso e antidarwiniano, foi o homem que descobriu a antimatéria em 1965. Segundo ele, sua descoberta não pode ser roubada e muito menos contida num recipiente, mas é isso que ocorre em Anjos e Demônios, a nova parceria com a qual a dupla Howard/Hanks espera superar a receita bilionária do O Código da Vinci”. Parece que, não contente em apresentar aberrações históricas, o filme traz também aberrações científicas…

– Aliás, aos que dizem que o filme é ficção e ninguém confunde com a realidade, a própria matéria do Estadão acima citada traz a seguinte declaração do direitor do filme, Ron Howard: “Quando li Anjos e Demônios pela primeira vez, foi o que realmente ficou comigo. Essa sociedade secreta perseguida pela Igreja tinha entre seus integrantes Galileo Galilei e Bernini. O que aconteceu com eles? Os illuminatti existem até hoje? Meu Deus, se eu não me interessasse por isso, com o que mais iria me interessar?”. Se aparentemente nem o diretor do filme sabe que Galileo e Bernini não fizeram parte de Illuminati nenhuma, quanto mais o espectador de cultura mediana!

– Sobre a mesma confusão feita [por ignorância ou cretinice] pelo próprio Dan Brown, vale ler este post do blog do Veritatis que traduz uma entrevista do escritor disponível no seu site: “Sim, parte da informação factual revelada é surpreendente, mas eu acho que a maioria das pessoas compreende que uma organização tão longeva e poderosa como o Vaticano não poderia ter chegado a esse ponto sem guardar alguns esqueletos no armário. Eu acho que a razão pela qual “Anjos e demônios” está criando polêmica agora é que o livro abre alguns desses armários, que a maioria das pessoas nem sabia que existiam”. E então, será que somos nós que não sabemos diferenciar ficção de realidade?

– Escritor inglês ateu, amigo de Dawkins e Hitchens, converteu-se em abril passado ao cristianismo. A. N. Wilson anunciou no início do mês passado o seu retorno à Fé Cristã em um artigo de jornal chamado “por que eu creio novamente”! Da primeira matéria citada: “No han descubierto [seus amigos ateus] – como creen ellos – el tremendo engaño de la religión (…) El problema es que no se han dado cuenta de algo muy sencillo. Quizá es demasiado obvio para entenderlo; tan obvio como los amantes creen que deben estar juntos, o tan obvio como la decisión final del que se fuga”.