Santa Dulce dos Pobres, rogai por nós, olhai pelo Brasil

A canonização da Irmã Dulce, ocorrida na manhã deste domingo (13 de outubro), foi uma reconfortante notícia para os católicos, em meio a tantas outras apreensivas que já quase nos acostumamos a receber nestes dias difíceis. Mas hoje o Anjo Bom da Bahia entrou no rol dos santos, a Irmã Dulce dos Pobres alcançou a glória dos altares; hoje é um dia feliz, hoje nós podemos descansar e dar graças a Deus.

Eu estive em Salvador em 2011 para ver a cerimônia de beatificação. Registrei então o carinho que o povo baiano demonstrava pela Irmã Dulce, que não se restringia ao círculo dos católicos devotos e, ao contrário, expandia-se até mesmo para além das fronteiras da Igreja. Aquela mulher viveu a caridade de forma tão concreta, visível, palpável até, que é como se, nela, as virtudes teologais ganhassem corpo e expressão sensível. É como se elas se encarnassem de tal modo que não podiam mais passar despercebidas. A Irmã Dulce foi o Catolicismo que, em pleno século XX, não se deixou confinar: saiu das igrejas e conventos para ganhar as ruas e os jornais, a cidade, o mundo.

Esta é a verdadeira santidade dos nossos dias: uma vida de austeridade e de sacrifício, indiferente aos encantos do mundo, confiante na Providência de Deus, esquecida de si no serviço ao próximo. Não estamos falando de um leprosário primitivo nem de nenhuma ordem mendicante medieval: tudo isso aconteceu aqui ao lado, em Salvador, em território urbano, em uma de nossas maiores capitais, um dia desses. A Irmã Dulce faleceu em 1992.

Também não estamos falando de assistencialismo social, do tipo que as pessoas sedizentes esclarecidas hoje acham que é dever do Estado dar a todo cidadão brasileiro. Para Santa Dulce dos Pobres, a caridade era um dever visceral dos cristãos e não um burocrático papel do Estado. Neste sentido, curiosíssimo o episódio narrado neste caderno especial da Folha: um hospital estava sendo reformado e, em dado momento, um estagiário foi dizer à Irmã Dulce que estava faltando cimento para concluir a obra. A boa baiana pega o rapaz pelo braço e o leva por diversas alas do hospital, dá de comer a crianças, troca curativos, procura remédios, conforta doentes, pára na capela para rezar. Duas horas depois, vira-se para o rapaz e lhe diz: “meu filho, você viu que Deus me deu muitos problemas para resolver hoje. O cimento você resolve, né?”

Vida da Irmã Dulce

E é este misto de vida ativa e vida contemplativa que confunde os sábios do mundo e dá frutos da parte do Altíssimo. É este o tipo de atividade que não se pode institucionalizar, burocratizar, impessoalizar; ela só pode ser humanamente desempenhada por almas generosas inflamadas de amor a Deus. Como dizia Bento XVI, a Igreja entende que a caridade “não é uma espécie de actividade de assistência social que se poderia mesmo deixar a outros, mas pertence à sua natureza, é expressão irrenunciável da sua própria essência” (Deus Caritas Est, 25).

Do mesmo modo, o milagre que deu ensejo à canonização foi um prodígio impressionante. Um cego voltou a enxergar; talvez um dos mais tradicionais milagres do Novo Testamento, destes que os céticos desdenham e, os espiritualizados, buscam interpretar em sentido figurado. Mas, hoje, não estamos falando de miopia nem de catarata, destes males da retina ou do cristalino para os quais a moderna medicina consegue, muitas vezes, dar remédio. O miraculado é o maestro José Maurício Bragança Moreira, que passou 14 anos cego e, em 2014, da noite para o dia, voltou a enxergar. O glaucoma lhe havia destruído o nervo óptico, condição que, como sabemos, no atual estágio de desenvolvimento da medicina é infelizmente irreversível.

No entanto, certa noite, sofrendo de conjuntivite, sem conseguir dormir, José Maurício abraçou-se com uma imagem de Irmã Dulce e lhe pediu um refrigério para a dor que o consumia. Conseguiu dormir; na manhã seguinte, ao acordar, quando a sua esposa lhe deu algumas compressas de gelo para os olhos, ele percebeu que estava conseguindo enxergar o gelo e as mãos. A visão foi rapidamente voltando. Hoje, a julgar pelas fotos, parece que nem óculos ele usa mais.

E atenção. Não é que o nervo dele tenha regenerado de repente, o que já seria um milagre e tanto. O que os exames mostram é que o nervo óptico continua danificado; ele não deveria portanto enxergar e, não obstante, enxerga. É como se fosse não um milagre instantâneo, operado naquela noite de 2014, mas um milagre permanente: Deus está mantendo a visão de um homem que não possui estruturas biológicas aptas para enxergar. Se houvesse ainda a figura do “advogado do diabo” no processo de canonização, ele provavelmente alegaria que o milagre é pouco ortodoxo; no entanto, ele mesmo seria forçado a reconhecer que se trata de um feito portentoso.

Um milagre grandioso para celebrar não a entrada de Irmã Dulce no Céu — porque esta provavelmente se deu já naquele ano de 1992 –, mas o seu ingresso oficial, definitivo, na liturgia da Santa Igreja. Para mostrar que a vitalidade do Cristianismo continua sobre-humana a despeito das crises da Igreja. Para deixar claro que, mesmo há séculos de distância, o Evangelho mantém ainda o seu frescor e ainda é capaz de impregnar com seu perfume o nosso tempo, enchendo de assombro e admiração as nossas metrópoles.

Que o Anjo Bom da Bahia interceda por nós, olhe pela Igreja, vele pelo Brasil! Santa Dulce dos pobres, rogai por nós!

Sobre a multiplicação dos pães

A respeito de um recente texto de propósito obscuro sobre uma interpretação que o Papa Francisco expôs [não tão] recentemente do episódio da multiplicação dos pães, vale muito a pena ler este texto hoje publicado no «Católico Porque…». Cito apenas um trecho:

Mas o milagre não estaria na multiplicação dos pães, isto é, Jesus não os multiplica antes da distribuição dos Apóstolos, senão que sua quantidade vai aumentando durante a mesma, é o que se depreende da fala do Papa. Os pedaços que alimentam a multidão são pedaços dos cinco (ou sete) pães iniciais.

Sinceramente, é difícil até imaginar como poderia ter sido diferente! Teria porventura Nosso Senhor criado ex nihil uma montanha de pães antes de iniciar a distribuição?! O texto bíblico fornece algum mínimo suporte a semelhante interpretação? É muita má vontade. Que Deus proteja o Papa! Que o faça feliz e não o entregue nas mãos dos seus inimigos, principalmente quando estes se dizem católicos zelosos pela pureza da Fé mas agem como demônios insurgindo-se contra o Cristo-na-Terra.

Duas notícias: cirurgia fetal e “ressurreição” de um bebê

No meio das recentes polêmicas sobre o aborto em caso de estupro (saiu também na ACI), duas bonitas histórias sobre gravidez e filhos. Ambas publicadas na mídia secular.

Eu, Leitora: “Meu bebê foi operado dentro de mim”, na Marie Clarie. «A cirurgia durou quatro horas e meia. Fiquei completamente sedada. Os médicos fizeram um corte acima de onde se faz a cesárea, abriram o útero, tiraram um pouco do líquido amniótico, viraram a bebê de costas e lhe deram uma anestesia na altura da bolha. Fizeram a correção na coluna, repuseram parte do líquido retirado e costuraram novamente o útero e a barriga. Após a operação, passei 24 horas com anestesia na UTI, onde o médico me examinou e mostrou que a coluna da Lívia estava corrigida. Foi um alívio, fiquei emocionada».

Bebê considerado morto é achado com vida em capela de hospital, em G1. «A dona da funerária que atendeu à família diz não acreditar no que presenciou na capela do hospital. “A avó me ligou para buscar o corpo e eu fui. Chegando lá, encontrei o corpo da menina em cima do altar da capela. De repente, vimos que ela ergueu a perninha. Nós nem acreditamos. Ela estava respirando. Nos abraçamos e começamos gritar: ‘Ela está viva, ela está viva!'”, relata a dona da funerária, Rosiles Ferro».

São histórias bonitas que nos enchem de esperança, por ver que ainda é possível encontrar pessoas que se importam com a vida humana mesmo enquanto ela ainda é frágil e indefesa – doente até, desiludida pela medicina. Ainda há quem  seja capaz de se maravilhar com o milagre da vida.

Jesus e os Muçulmanos

[Reproduzo narrativa sobre um Milagre Eucarístico ocorrido na Palestina no ano de 1879. Não o conhecia, e tampouco sei quem é o autor do livreto aqui reproduzido; encontrei-o no Adversus.

Este tipo de milagre não é novidade na história da Igreja; já no século XIII Santo Tomás de Aquino se referia aos casos em que “um menino” aparecia miraculosamente no Santíssimo Sacramento (Summa IIIa, q.76, a8). E o Aquinate dizia que, nestes casos, a Hóstia Consagrada «permanece verdadeiramente o Corpo de Cristo», digna de toda Glória e adoração. Bendito seja Deus no Santíssimo Sacramento do Altar.]

Os milagres e o Deus das lacunas

Está muito bom este recente artigo de D. Fernando Rifan sobre milagres, que foi reproduzido pelo Tubo de Ensaio. Falando mais especificamente sobre o Santuário de Lourdes, o bispo da Administração Apostólica São João Maria Vianney nos dá esta informação:

Notícia deste mês: uma religiosa italiana, irmã Luigina Traverso, que sofria de paralisia ciática meningocele lombar, foi curada “miraculosamente” em Lourdes, na França, “por intervenção extraordinária de Deus obtida pela intercessão de Nossa Senhora”, conforme reconheceu, no dia 11 de outubro passado, dom Alceste Catella, bispo de Casale Monferrato, diocese italiana onde reside a religiosa. Esta foi a 68.ª cura “sem explicação” de Lourdes oficialmente reconhecida. O bispo da diocese de Tarbes e Lourdes, dom Nicolas Brouwet, assim como o dr. Alessandro de Franciscis, presidente do Bureau des Constatations Médicales de Lourdes, apresentaram os fatos em uma conferência de imprensa no último dia 12 de outubro.

Este Bureau des Constatations Médicales de Lourdes é o órgão do santuário responsável pela investigação dos (em princípio, alegados) milagres que ocorrem no lugar onde Nossa Senhora apareceu a Santa Bernadette. Fazem parte dele «médicos de todos os credos religiosos, inclusive ateus, e os documentos ficam à disposição dos especialistas de qualquer parte do mundo», e os seus procedimentos são explicados sucintamente por D. Rifan em seu artigo.

“Milagres”, na definição tradicional, são os fatos supra, praeter vel contra naturam: “acima, diferentes ou contrários à natureza”. Na Summa (Summa Ia, q.105, a7, Resp.), Santo Tomás ensina mais simplesmente que milagres são «aquelas coisas que são feitas por Deus fora da ordem das causas conhecidas por nós». O Aquinate nos lembra também na mesma Summa que as coisas realizadas por causas naturais, por prodigiosas que sejam, não podem – por definição – ser consideradas milagres.

A questão que obviamente se coloca aqui é: como distinguir entre uma causa superior à natureza e uma simples causa natural desconhecida? Como eu sei se aquela paralisia foi curada por ação direta de Deus sem o intermédio de causas segundas ou se, ao contrário, houve alguma singular confluência de causas naturais desconhecidas que culminaram na reversão da paralisia? É sem dúvidas possível à inteligência humana conhecer em certa medida a natureza das coisas criadas, mas é impossível esgotá-la. Não importa o quanto se acumule o conhecimento humano, sempre haverá a possibilidade de nos depararmos com algum fenômeno desconhecido. E um fato raro, que nos provoque admiração, não necessariamente é um fato cujas causas se encontrem para além das virtudes próprias da natureza. Como evitar, assim, que a investigação acerca da ação de Deus no mundo termine num simples argumentum ad ignorantiam, que degenere num apelo ao “Deus das lacunas”?

Não me parece que haja uma resposta definitiva para este problema, senão “apenas” provável. Esta investigação é, portanto, de ordem metafísica e não empírica – esta última presta tão-somente um suporte à razão humana no sentido de fornecer certeza moral para a exclusão de causas naturais na explicação do fenômeno; por isso a necessidade de contar com homens de saber de todos os credos, por isso a necessidade do longo transcurso de tempo antes de que seja dada uma resposta a cada questão concreta apresentada.

Do ponto de vista dos fins concretos para os quais se presta a verificação dos milagres – a beatificação e canonização dos servos de Deus -, esta resposta é suficiente. Afinal de contas, as causas segundas estão sob o império da soberana Providência de Deus e, se Ele permitiu a ocorrência de um fato natural extraordinário precisamente nas circunstâncias em que os Seus filhos estavam rezando e pedindo por um sinal dos Céus, pode-se sem sombra de dúvidas considerar o sinal como concedido, ainda que não se trate de um milagre strictu sensu. Num processo de canonização, esgotadas as diligências humanas para fornecer uma explicação natural para o fenômeno, pode-se certamente considerar ser vontade de Deus que aquele fenômeno seja considerado miraculoso para os fins almejados.

E do ponto de vista dos céticos? Bom, como eu já escrevi aqui há alguns anos, os que partem do pressuposto a priori de que Deus não existe sempre poderão «sacar a capacidade regenerativa do rabo da lagartixa para explicar uma cura de amputação, e uma catalepsia prolongada associada a uma raríssima mutação hibernativa para explicar um morto de quinze anos que retornasse à vida», coisa que certamente não pode ser considerada a posição mais racional do mundo. Mesmo diante do fracasso absoluto da caça aos falsos milagres, os céticos sempre poderão se aferrar a uma “Ciência das lacunas” e fazer o seu ato de fé na capacidade explicativa universal da Ciência. Mas entre este fideísmo pueril e a sensatez da Igreja Católica, eu fico com esta última, obrigado. E, em defesa da nossa posição, basta dizer – como diz D. Rifan no encerramento do seu artigo – que a Igreja leva tão a sério as Suas investigações sobre milagres que «Se mostra, nesses casos, mais rigorosa do que a própria medicina».

Dois investigadores à caça de falsos milagres nos arquivos vaticanos: fracasso absoluto

[Ofereço tradução livre de interessante artigo divulgado originalmente no Religión y Libertad. Vale a leitura.]

Dois investigadores à caça de falsos milagres nos arquivos vaticanos: fracasso absoluto

É o sonho de todo ateu ou cético: demonstrar que o que ontem a medicina não podia explicar, hoje já pode. Contudo, não.

[Religión en Libertad] A cada ano, a Sagrada Congregação para as Causas dos Santos oferece um curso (Studium) de dois meses no Vaticano para formar postuladores de causas de beatificação e canonização, [aberto inclusive] a todas as pessoas que tomam parte neste tipo de processos.

Este ano [o curso] ocorreu entre janeiro e março, e concluiu-se na sexta-feira passada [11 de março de 2011], com uma assistência de oitenta alunos de doze países: leigos, sacerdotes, religiosas e advogados civis e canônicos receberam formação naquilo que, nas palavras do secretário da Congregação e professor do curso, é «um processo judicial que deve seguir um procedimento estrito, porque uma pessoa que é beatificada – e ainda mais se é canonizada – converte-se em um “bem público” para a Igreja». As formalidades jurídicas que aprendem os participantes do curso «não são simples formalidades, mas garantem ao máximo [aportan las máximas garantías] a seriedade do processo».

E uma parte fundamental [do processo] são os milagres, requisito para todas as causas (à exceção das dos mártires), e que em sua esmagadora [abrumadora] maioria consistem em curas inexplicáveis.

Neste sentido Patrizio Polisca, presidente da comissão médica da Congregação e médico pessoal do Papa, revelou um fato de grande importância. Após explicar que os cientistas que participam dos processos não julgam sobre milagres, «porque um milagre é um juízo teológico», mas que se limitam a afirmar, se procede, que um fato «não tem explicação natural», o doutor Polisca contou que dois investigadores recentemente estiveram estudando a fundo os arquivos da Congregação.

Tratava-se de desenterrar [desempolvar] casos antigos que os médicos de seus tempos haviam considerados inexplicáveis, e que haviam servido para beatificar ou canonizar alguma pessoa, para averiguar se, no estado atual da medicina, estes casos teriam encontrado [alguma] explicação. A conclusão foi clara: «não se encontrou nenhum caso que, em outros tempos, foi considerado inexplicável e que tenha, hoje, uma explicação médica».

Uma prova a posteriori do rigor com o qual a Igreja trata estes casos. De fato, sublinhou monsenhor Bartolucci, para a cura de casos de câncer a Congregação exige um mínimo de dez anos sem recaídas para começar a estudar seu suposto caráter milagroso, prazo que se estende ainda mais para o caso de tumores cerebrais.

De fato, as normas seguidas [nestes casos] não mudaram desde que foram estabelecidas por Bento XIV em 1734: a enfermidade tem que ser grave, não deve estar catalogada entre aquelas que se curam espontaneamente, a cura não pode ser atribuída a tratamento algum e deve ser completa e duradoura.

Os avanços da Medicina nestes três séculos não permitiram desmentir nenhum dos juízos emitidos desde 1734.

Ateísmo – dois curtas

1. Estuprador ateu reclama de violação de direitos após dividir cela de prisão com companheiro cristão. “‘Recentemente, tive o desprazer de compartilhar uma cela com um crente fundamentalista [Bible-thumping]’. Uma fonte disse que Relf estava ‘furioso’ em ter que dividir [a cela], na Manchester Prision, com o cristão convicto, e que queria que ele fosse ‘expulso'”.

2. Cão que ladra não morde – sobre as objeções ateístas ao milagre de Lanciano. “O fato é que as autoridades religiosas têm permitido testes no que sobrou dessa carne e desse sangue [do milagre de Lanciano], o último deles tendo ocorrido em 1971. Foi a respeito disso que um amigo me mostrou, hoje, um texto de um site de ateístas militantes que se propunha a “desmistificar” o milagre. Desconsiderando o tom raivoso do artigo, atenhamo-nos aos fatos que o autor alega ter em seu favor, e veremos que a consistência dos argumentos é a mesma de um pudim de leite condensado”.

Possível milagre em Lourdes

Nós não precisamos de milagres. A Fé Católica já está selada com eles. Segundo a clássica argumentação de Santo Tomás de Aquino, no início do Cristianismo, os povos pagãos abraçaram com entusiasmo a Fé Católica, abandonando rapidamente as falsas religiões seguidas pelos seus antepassados. Ora, ou estes se converteram por terem visto milagres, ou se converteram sem os ter visto, e tertium non datur. No primeiro caso, eis aí os milagres que legitimam a Fé; no segundo caso, seria um verdadeiro milagre que os homens tivessem abandonado as suas tradições familiares sem motivos. Deves te dar por vencido.

No entanto, Deus ainda realiza milagres. Mesmo neste século sem Fé. E talvez tenha realizado um em Lourdes. Em uma dona de casa chamada Antonia Raco. “A doença [esclerose lateral amiotrófica – neurodegenerativa progressiva e fatal] foi diagnosticada em 2004 e desde 2006 já não caminhava mais. Porém, no dia 5 de agosto, voltando de Lourdes, retomou todas atividades normais que a doença lhe impedia realizar”. Segundo o neurologista que cuidava da senhora, “[é] uma doença que pode diminuir de velocidade e, no máximo parar, mas não acreditamos possível que melhore, porque atinge os neurônios irreversivelmente”.

Acessem o link, vejam as fotos e o vídeo. Não precisamos de milagres, mas Deus às vezes digna-Se conceder-nos um. Talvez em Lourdes, por intercessão da Virgem lá aparecida. Ad Majorem Dei Gloriam.

Mais curtas

– Sem tempo de traduzir: Muslim Mob Burns Down 100 Christian Homes in Pakistan. A notícia diz que, na manhã de quarta-feira, cem casas e igrejas cristãs foram incendiadas por muçulmanos no Paquistão. Diz que o ataque foi semelhante a um outro realizado em fevereiro de 1997, quando milhares de casas e igrejas cristãs foram queimadas e centenas de cristãos saíram feridos. A polícia chegou ao local, mas a situação estava fora de controle porque milhares de muçulmanos estavam reunidos. Rezemos pelos cristãos perseguidos.

– Charge contra Dom José publicada na Folha de Pernambuco; aquele sorriso idiota não está senão no rosto dos inimigos da Igreja, que se sentem aliviados por não precisarem mais encarar um Sucessor dos Apóstolos que faz jus ao báculo que empunha. Mas o ódio dos anti-clericais a Sua Excelência Reverendíssima só faz dar testemunho em favor do excelente trabalho realizado por Dom José Cardoso Olinda e Recife: os ataques o honram.

Fetos em 3D; que interessante! A técnica permite que sejam gerados modelos tridimensionais físicos dos fetos ainda no útero – vejam algumas fotos aqui. O projeto é do designer brasileiro Jorge Roberto Lopes dos Santos. Só é de se lamentar a diferença entre a aplicação da técnica no Brasil e no Reino Unido: “Enquanto no Brasil o foco principal é tentar fazer com que mães e pais compreendam alguma malformação de seus bebês, no Reino Unido os modelos são usados para incentivar o apego da mãe em relação ao filho”, segundo a matéria de G1.

– Vi hoje no boletim do VIS (aqui reproduzido): o Santo Padre aprovou a publicação do decreto concernente a um milagre do Venerable Siervo de Dios John Henry Newman, inglés, (1801-1890), cardenal y fundador de los Oratorios de San Felipe Neri en Inglaterra. Fico feliz, porque o ex-protestante convertido sempre me pareceu bem digno da honra dos altares.

– “Pretender que alguém possa controlar a natureza e regular os ritmos do clima, sobre tudo quando nem sequer nós somos capazes de predizê-lo corretamente, é algo patentemente absurdo”; foi a frase proferida na International Conference on Climate Change. A conferência já está na sua terceira edição, os cientistas (perto de 400) que dela participaram publicaram um livro de 880 páginas contendo “uma refutação dos mitos climáticos ” e, no entanto, “[e]ssas grandes assembléias não tiveram quase cobertura na mídia brasileira”. Muito perspicaz a frase com que se encerra o artigo: “O catastrofismo ecologista reedita a historinha da criança impotente que pretende frear o mar construindo muralhas de areia. E, ainda depois choraminga porque não está conseguindo”.

Milagre de Fátima – jornal “O Século” de 17 de outubro de 1917

Já em maio de 1917 Jacinta e Lúcia haviam dito que a Senhora que tinham visto prometera um milagre para o dia 13 de outubro, ao meio-dia, como prova da sinceridade dos pequenos. Tinham recordado essa promessa várias vezes e nunca tinham alterado a sua história, nem mesmo sob a coação de maus tratos e perseguições capazes de aterrorizar umas crianças de dez, nove e sete anos. E no dia predito por elas, setenta mil pessoas afirmaram ter presenciado o sol girar e ameaçar cair. Um testemunho tão amplo veio confirmar que as crianças tinham visto efetivamente a Mãe de Deus e que fora concedido a essas almas simples da Cova da Iria aquilo que fora recusado aos fariseus de coração incrédulo e adúltero: um sinal no céu.

– Walsh, William Thomas, “Nossa Senhora de Fátima”, pág. 172. Quadrante, São Paulo, 1996.

O SÉCULO NOTICIA: MILAGRE DO SOL

[fonte: Montfort]

“O Século” noticia:
O MILAGRE DO SOL

O jornal “O Século” publica um artigo de Avelino de Almeida, onde este descreve o que presenciou na Cova da Iria no dia 13 de Outubro de 1917.

COISAS ESPANTOSAS!
COMO O SOL BAILOU AO MEIO DIA EM FÁTIMA
As aparições da Virgem – Em que consistiu o sinal do céu – Muitos milhares de pessoas afirmam ter-se produzido um milagre – A guerra e a paz
Lucia, de 10 anos; Francisco, de 9, e Jacinta, de 7, que na charneca de Fátima, concelho de Vila Nova de Ourem, dizem ter falado com a Virgem Maria

OUREM, 13 de Outubro
Ao saltar, após demorada viagem, pelas dezasseis horas de honrem, na estação de Chão de Maçãs, onde se apearam tambem pessoas religiosas vindas de longes terras para assistir ao “milagre”, perguntei, de chofre, a um rapazote do “char-á-bancs” da carreira se já tinha visto a Senhora. Com seu sorriso sardoico e o olhar enviezado, não hesitou em responder-me:

– Eu cá só lá vi pedras, carros, automoveis, cavalgaduras e gente!

Por um facil equivoco, o trem que nos devia conduzir, a Judah Ruah e a mim, até à vila, não apareceu e decidimo-nos a calcoffiar corajosamente cêrca de duas leguas por não haver logar para nós na diligência e estarem, desde muito, afreguezadas as carriotas que aguardavam passageiros. Pelo caminho, topámos os primeiros ranchos que seguiam em direção ao local santo, distante mais de vinte kilometros bem medidos.

Homens e mulheres vão quasi todos descalços – elas com saquiteis à cabeça, sobrepujados pelas sapatorras; eles abordoando-se a grossos vara-paus e cautelosamente munidos tambem de guarda-chuva. Dir-se-hiam, em geral, alheados do que se passa à sua volta, n”um desinteresse grande da paizagem e dos outros viandantes, como que imersos em sonho, rezando n”uma triste melopeia o terço. Uma mulher rompe com a primeira parte da ave-maria, a saudação; os companheiros, em côro, continuam com a segunda parte, a suplica. N”um passo certo e cadenciado, pisam a estrada poeirenta, entre pinhaes e olivedos, para chegarem antes que se cerre a noite ao sitio da aparição, onde, sob o relento e a luz fria das estrelas, projetam dormir, guardando os primeiros Jogares junto da azinheira bemdita – para no dia de hoje verem melhor.

À entrada da vila, mulheres do povo a quem o meio já infêtou com o virus do céticismo, comentam, em tom de troça, o caso do dia:

– Então vaes vêr ámanhã a santa?

– Eu, não. Se ela ainda cá viesse!

E riem-se com gosto, emquanto os devotos proseguem indiferentes a tudo o que não seja o objetivo da sua romagem. Em hourem só por uma amabilidade extrema se encontra aposentadoria. Durante a noite, reunem-se na praça da vila os mais variados veículos conduzindo crentes e curiosos sem que faltem velhas damas vestidas de escuro, vergadas já ao peso dos anos, mas faiscando-lhes nos olhos o lume ardente da fé que as animou ao ato corajoso de abandonar por um dia o inseparavel cantinho da sua casa. Ao romper d”alva, novos ranchos surgem intrépidos e atravessam, sem pararem um instante, o povoado, cujo silencio quebram com a harmonia dos canticos que vozes femininas, muito armadas, entoam n”um violento contraste com a rudeza dos tipos…

O sol nasce, mas o cariz do céu ameaça tormenta. As nuvens negras acastelam-se precisamente sobre as bandas de Fátima. Nada, todavia, detem os que por todos os caminhos e servindo-se de todos os meios de locomoção para lá confluem. Os automoveis luxuosos deslisam vertiginosamente, tocando as buzinas; os carros de bois arrastam-se com vagar a um lado da estrada; as galeras, as vitorias, os caleches fechados, as carroças nas quaes se improvisaram assentos vão ajoujados a mais não poderem. Quasi todos levam com os farneis, mais ou menos modestos, para as bocas cristãs a ração de folhelho para os irracionaes que o “poverelo” de Assis chamava nossos irmãos e que cumprem valorosamente a sua tarefa… Tilinta uma ou outra guiseira, vê-se uma carrocinha adornada de buxo; no emtanto, o ar festivo é discreto, as maneiras são compostas e a ordem absoluta… Burrinhos choutam à margem da estrada e os ciclistas, numerosissimos, fazem prodígios para não esbarrar de encontro aos carros.

Pelas dez horas, o ceu tolda-se totalmente e não tardou que entrasse a chover a bom chover. As cordas de agua, batidas por um vento agreste, fustigam os rostos, encharcando o macadame e repassando até os ossos os caminhantes desprovidos de chapeus e de quaesquer outros resguardos. Mas ninguem se impaciente ou desiste de proseguir e, se alguns se abrigam sob a copa das arvores, junto dos muros das quintas ou nas distanciadas casas que se debruçam ao longo do caminho, outros continuam a marcha com uma impressionante resistencia, notando-se algumas senhoras cujos vestidos colados aos corpos, por efeito do impeto e da pertinácia da chuva, lhes desenham as fórmas como se tivessem saído do banho!

O ponto da charneca de Fátima, onde se disse que a Virgem aparecera aos pastorinhos do logarejo de Aljustrel, é dominado n”uma enorme extensão pela estrada que corre para Leiria, e ao longo da qual se postaram os veículos que lá conduziram os peregrinos e os mirones. Mais de cem automoveis alguem contou e mais de cem bicicletas, e seria impossível contar os diversos carros que atravancaram a estrada, um d”eles o auto-omnibus de Torres Novas, dentro do qual se irmanavam pessoas de todas as condições sociaes.

Mas o grosso dos romeiros, milhares de creaturas que foram de muitas leguas ao redor e a que se juntaram fieis idos de varias províncias, alemtejanos e algarvios, minhotos e beirões, congregam-se em tomo da pequenina azinheira que, no dizer dos pastorinhos, a visão escolhera para seu pedestal e que podia considerar-se como que o centro de um amplo circulo em cujo rebordo outros espectadores e outros devotos se acomodam. Visto da estrada, o conjunto é simplesmente fantástico. Os prudentes camponios, abarracados sob os chapeus enormes, acompanham, muitos d”eles, o desbaste dos parcos farneis com o conduto espiritual dos hinos sacros e das dezenas do rosario.

Não ha quem tema enterrar os pés na argila empapada, para ter a dita de ver de perto a azinheira sobre a qual ergueram um tosco portico em que bamboleiam duas lanternas… Altenam-se os grupos que cantam os louvores da Virgem, e uma lebre, espavorida, que galga matagal em fóra, apenas desvia as atenções de meia duzia de zagaletes que a alcançam e prostram à cacetada…

E os pastorinhos? Lucia, de 10 anos, a vidente, e os seus pequenos companheiros, Francisco, de 9, e Jacinta, de 7, ainda não chegaram. A sua presença assinala-se talvez meia hora antes da indicada como sendo a da aparição. Conduzem as rapariguinhas, coroadas de capelas de flôres, ao sitio em que se levanta o portico. A chuva cae incessantemente mas ninguem desespera. Carros com retardatários chegam à estrada. Grupos de freis ajoelham na lama e a Lucia pede-lhes, ordena que fechem os chapeus. Transmite-se a ordem, que é obedecida de pronto, sem a minima relutância. Ha gente, muita gente, como que em extase; gente comovida, em cujos labios secos a prece paralisou; gente pasmada, com as mãos postas e os olhos borbulhantes; gente que parece sentir, tocar o sobrenatural…

A criança afirma que a Senhora lhe falou mais uma vez, e o céu, ainda caliginoso, começa, de subito, a clarear no alto; a chuva pára e presente-se que o sol vae inundar de luz a paizagem que a manhã invernosa tomou ainda mais triste…

A hora antiga” é a que regula para esta multidão, que calculos desapaixonados de pessoas cultas e de todo o ponto alheias ás influencias misticas computam em trinta ou quarenta mil creaturas… A manifestação miraculosa, o sinal visivel anunciado está prestes a produzir-se – asseguram muitos romeiros… E assiste-se então a um espectáculo unico e inacreditavel para quem não foi testemunha d”ele. Do cimo da estrada, onde se aglomeram os carros e se conservam muitas centenas de pessoas, a quem escasseou valor para se meter à terra barrenta, vê-se toda a imensa multidão voltar-se para o sol, que se mostra liberto de nuvens, no zenit. O astro lembra uma placa de prata fosca e é possivel fitar-lhe o disco sem o minimo esforço. Não queima, não cega. Dir-se-hia estar-se realisando um eclipse. Mas eis que um alarido colossal se levanta, e aos espectadores que se encontram mais perto se ouve gritar:

– Milagre, milagre! Maravilha, maravilha!

Aos olhos deslumbrados d”aquele povo, cuja atitude nos transporta aos tempos biblicos e que, palido de assombro, com a cabeça descoberta, encara o azul, o sol tremeu, o sol teve nunca vistos movimentos bruscos fóra de todas as leis cosmicas – o sol «bailou», segundo a tipica expressão dos camponeses.. Empoleirado no estribo do auto-omnibus de Torres Novas, um ancião cuja estatura e cuja fisionomia, ao mesmo tempo doce e energica, lembram as de Paul Déroulède, recita, voltado para o sol, em voz clamorosa, de principio a fim, o Credo. Pergunte quem é e dizem-me ser o sr. João Maria Amado de Melo Ramalho da Cunha Vasconcelos.

Vejo-o depois dirigir-se aos que o rodeiam, e que se conservaram de chapeu na cabeça, suplicando-lhes, veementemente, que se descubram em face de tão extraordinária demonstração da existência de Deus. Cenas idênticas repetem-se n”outros pontos e uma senhora clama, banhada em aflitivo pranto e quasi n”uma sufocarão:

– Que lastima! Ainda ha homens que se não descobrem deante de tão estupendo milagre!

E, a seguir, perguntam uns aos outros se viram e o que viram. O maior numero confessa que viu a tremura, o bailado do sol; outros, porém, declaram ter visto o rosto risonho da propria Virgem, juram que o sol girou sobre si mesmo como uma roda de fogo de artificio, que ele baixou quasi a ponto de queimar a terra com os seus raios… Ha quem diga que o viu mudar sucessivamente de côr…

São perto de quinze horas.

O ceu está varrido de nuvens e o sol segue o seu curso com o esplendor habitual que ninguem se atreve a encarar de frente. E os pastorinhos? Lucia, a que fala com a Virgem, anuncia, com ademanes teatraes, ao colo de um homem, que a transporta de grupo em grupo, que a guerra terminára e que os nossos soldados iam regressar… Semelhante nova, todavia, não aumenta o jubilo de quem a escuta. O sinal celeste foi tudo. Ha uma intensa curiosidade em vêr as duas rapariguinhas com suas grinaldas de rosas, ha quem procure oscular as mãos das «santinhas», uma das quaes, a Jacinta, está mais para desmaiar do que para danças”, mas aquilo por que todos anciavam – o sinal do ceu – bastou a satisfazel-os, a radical-os na sua fé de carvoeiro. Vendedores ambulantes oferecem os retratos das crianças em bilhetes postaes e outros bilhetes que representam um soldado do Corpo Expedicionario Portuguez “pensando no auxilio da sua protetora para salvação da Patria” e até uma imagem da Virgem como sendo a figura da visão…

Bom negocio foi esse e decerto mais centavos entraram na algibeira dos vendedores e no tronco das esmolas para os pastorinhos do que nas mãos estendidas e abertas dos leprosos e dos cegos que, acotevelando-se com os romeiros, atiravam aos ares seus gritos lancinantes…

O dispersar faz-se rapidamente, sem dificuldades, sem sombra de desordem, sem que fosse mister que o regulasse qualquer patrulha da guarda. Os peregrinos que mais depressa se retiram, correndo estrada fóra, são os que primeiro chegaram, a pé e descalços com os sapatos à cabeça ou dependurados nos varapaus. Vão, com a alma em lausperene, levar a boa nova aos logarejos que não se despovoaram de todo. E os padres? Alguns compareceram no local, sorridentes, enfileirando mais com os espectadores curiosos do que com os romeiros avidos de favores celestiaes. Talvez um ou outro não lograsse dissimular a satisfação que no semblante dos triunfadores tantas vezes se traduz…

Resta que os competentes digam de sua justiça sobre o macabro bailado do sol que hoje, em Fátima, fez explodir hossanas dos peitos dos fieis e deixou naturalmente impressionados – ao que me asseguraram sujeitos fidedignos os livres pensadores e outras pessoas sem preocupações de natureza religiosa que acorreram à já agora celebrada charneca.

Avelino de Almeida

O jornal português da época, scanneado, está disponível em três partes [clique para ampliar]:

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P.S.: Na verdade, estas fotos são propriamente da revista “Ilustração Portugueza” (No. 610, Outubro 29, 1917, 18-20), editada pelo jornal “O Século”. Agradeço ao Edson pela correção.