Vandalismo e ofensas gratuitas são “piadas” para alguns

Parece que um apresentador de TV teve a fantástica idéia de conclamar os seus telespectadores a picharem igrejas (!) e enviarem as fotos para o programa. O sujeito faz referência a este fato ocorrido no interior do Paraná, quando alguém resolveu fazer uma “homenagem” de gosto estupidamente discutível ao Kurt Cobain e pichar “Deus é Gay” – entre outras delicadezas – nas paredes da Igreja [Católica] Matriz de Santa Helena (PR). Após a repercussão negativa do fato, o fulano responsável pelo programa meio que pediu desculpas por sua “piada” (aqui e aqui), a despeito de poluir em seguida o Twitter com provavelmente a maior sequência encadeada de orações adversativas que o microblog já armazenou.

O pior não é a “letra” de música do Nirvana e nem mesmo (por incrível que pareça) o próprio ato do vandalismo. O mais deprimente é encontrar alguém que pareça achar graça nisso e, fazendo piada em um programa de televisão, sinta-se depois ofendido quando acusado da apologia ao crime que estava fazendo. É como se nessa pichação não existisse um imenso desrespeito e uma agressão gratuita ao sentimento religioso dos católicos (aliás, dos cristãos como um todo). É como se não tivesse redundado em dano material à paróquia este vandalismo que danificou os muros de uma propriedade sua. É como se nada disso importasse, porque “é engraçado” debochar de religiosos e ninguém pode violar o sacrossanto direito de se divertir às custas das desgraças alheias.

Os seres humanos possuem uma característica que lhes é própria e sem a qual se bestializam facilmente; trata-se da empatia, i.e., da capacidade de perceber (ou ao menos de entrever) a realidade sob o ponto de vista de outras pessoas: é o velho “colocar-se no lugar dos outros”. Basicamente, é esta habilidade humana que nos permite, p.ex., oferecer os nossos sentimentos a alguém que perdeu um ente querido que nos seja desconhecido: nós conseguimos entender que, embora fulano seja desconhecido para nós, a sua importância para a viúva ou para o órfão é grande ao ponto de provocar-lhes um profundo sofrimento, e somos capazes de compreender em certa medida o estado de espírito de alguém que esteja passando por um situação dessas a ponto de podermos dizer “meus pêsames” [= “pesa em mim”] ou “minhas condolências” [“co” = junto, “dolência” = dor, “dividir a dor”] sem que isto seja mentira ou hipocrisia.

Esta habilidade humana parece estar profundamente danificada – ou, pior ainda, ter sido irremediavelmente destruída… – em pessoas como este apresentador que acha divertido picharem as casas dos outros. Mais ainda: a apreciação prolongada deste tipo de comportamento pode destruir paulatinamente as habilidades empáticas do sujeito que se submete a isso, a ponto de torná-lo insensível ao sofrimento alheio: se hoje riem quando vandalizam um templo católico, quem garante que ainda serão capazes de se solidarizar quando explodirem uma igreja com gente dentro? É preocupante. Muito pior do que o agressor é o sujeito que acha “não haver problema” na agressão. E ainda pior do que este último é o fulano que está convencido de que a agressão é na verdade uma piada.

Porcos e pérolas

Não sei se é para ânimo ou para temor o que eu li há pouco no Análisis y Actualidad, sobre a MTV e os sacerdotes. Não vi os vídeos, mas li que a MTV italiana elaborou uma série de reportagens sobre as histórias de jovens padres. Segundo consta no referido site,

[n]estes programas, almeja-se oferecer respostas, por meio de testemunhos, a perguntas como: qual o papel que têm os sacerdotes na sociedade moderna? Por que decidiram tornar-se sacerdotes? Como e quando sentiram a sua vocação? Como se relacionam com as demais pessoas? O que buscam e o que encontram na Igreja e em seu ministério sacerdotal?

O que é motivo de ânimo nesta notícia, é muito simples: afinal, são jovens sacerdotes dando publicamente o seu testemunho de resposta generosa à vocação sacerdotal. Porém, causa-me temor pensar nos efeitos que terão estes testemunhos, porque muitas vezes não se devem jogar pérolas aos porcos.

Não sei na Itália, mas aqui no Brasil a MTV é um antro de degradação moral e baixo nível intelectual. Espiritualidade zero. Adianta colocar testemunhos de vocação sacerdotal em um ambiente desses? As pessoas que assistem ao canal não estarão já propícias a receber negativamente a mensagem que se deseja passar?

E que tipo de “concessões” terão que ser feitas, nos testemunhos, para que eles se tornem “palatáveis” à MTV – para que dêem audiência? Falarão estes jovens sacerdotes em ministério do altar, em Sacramento da Confissão, em pecado e em salvação das almas, em necessidade da Igreja, em Céu e em Inferno? Ou ficarão numa conversinha naturalista de “sou muito feliz assim”, “sinto-me realizado”, “sou uma pessoa normal”, etc.? Não sei na Itália, mas no Brasil parece-me óbvio que uma propaganda vocacional decente não poderia ser veiculada na MTV.

Os porcos não sabem o valor das pérolas. Mutatis mutandis, temos aqui em Recife a Rádio Recife – 97,5 FM – que, todos os dias, às seis horas da noite, toca a Ave-Maria de Schubert. Eu poderia ficar feliz porque a rádio saúda a Virgem Santíssima; mas este sentimento em mim coexiste com uma profunda angústia pela banalização da hora do Angelus, com a profanação das coisas santas. Afinal, na Rádio Recife, a saudação angélica das 18:00 é precedida por algum brega indecente, e as mesmas pessoas que a escutarem irão, logo depois, cantar alguma outra canção imoral em seguida. Acaso vale a pena…? Às vezes lembro-me de que Nosso Senhor calou-Se diante de Herodes. E penso se, em certas situações, não deveríamos nós fazer o mesmo.