Sobe a lua

Sobe a lua… não ainda. Não é a noite de lua cheia vista ontem n’A Paixão de Mel Gibson. Quarto minguante. A lua sobe tarde… mas sobe sorrindo.

Subir tarde na noite, tarde na vida… mas subir! Iluminando a noite e tornando-a bonita. Subir sorrindo, para coroar a beleza do quadro noturno. Enaltecendo o artista.

Cai a noite, sobe a lua. Os grilos cantam. Ninguém vê. Cai a vida, sobe a alma: que suba! Ainda que ninguém veja. Aqui não são grilos cantando, e sim coros angélicos. A noite se ilumina, o Universo abrilhanta-se. Ainda que caia a noite.

A Vigília dos Pastores – Nelson Rodrigues

Escrevo à noite. Vem na aragem noturna um cheiro de estrelas. E, súbito, eu descubro que estou fazendo a vigília dos pastores. Aí está o grande mistério. A vida do homem é essa vigília e nós somos eternamente os pastores. Não importa que o mundo esteja adormecido. O sonho faz quarto ao sono. E esse diáfano velório é toda a nossa vida. O homem vive e sobrevive porque espera o Messias. Neste momento, por toda a parte, onde quer que exista uma noite, lá estarão os pastores – na vigília docemente infinita. Uma noite, Ele virá. Com suas sandálias de silêncio entrará no quarto da nossa agonia. Entenderá nossa última lágrima de vida.

Nelson Rodrigues, em crônica natalina publicada n’O Globo da qual só encontrei, infelizmente, este pequeno excerto