Dilma Rousseff e o aborto no debate da Folha/UOL

Assisti, hoje pela manhã, a um pedaço do debate online, promovido pela Folha/UOL, entre três dos presidenciáveis: Dilma Rousseff, José Serra e Marina Silva. Ainda não está disponível na íntegra no site da Folha.

Não gosto deste tipo de “debate”. É óbvio que não dá para levá-lo a sério – e, ao final, acaba sendo muito mais uma exibição de argumentos ad populum e de retórica sentimental, do que um confronto verdadeiro e honesto entre idéias e propostas. É claro que, em dois minutos, ninguém consegue articular um raciocínio decente, corretamente embasado, sobre qualquer assunto minimamente sério. Não sei quem foi que disse certa vez que, em “igualdade de condições” (leia-se: com limites arbitrários igualitariamente aplicados), a mentira sempre ganha da verdade. Eu concordo totalmente. Uma pergunta mal-intencionada, que leve somente alguns poucos segundos para ser formulada, pode exigir muito esforço para ser respondida a contento. Não é enrolação. É, simplesmente, porque a verdade tem compromissos – a mentira, não, qualquer coisa que diga, de qualquer jeito, se servir aos seus propósitos, está muitíssimo “bem dita”. Dois minutos para cada uma delas simplesmente não é justo: a verdade, nestes casos, está em uma tremenda desvantagem.

Este debate, no entanto, teve uma coisa interessante: a participação dos internautas, com perguntas gravadas em vídeo. Lá para as tantas – quarto bloco, se a memória não me falha -, uma pergunta feita pela @jufragetti foi exibida. Era para a Dilma Rousseff, e sobre o aborto.

Em dois minutos, como eu disse acima, ninguém consegue articular uma resposta séria sobre absolutamente nada. Mas o tempo reduzido tem outro gravíssimo inconveniente: por dois minutos, qualquer pessoa consegue dar voltas e enrolar, para não ter que responder de modo direto a uma pergunta inconveniente. E foi exatamente o que fez a sra. Rousseff.

Começou dizendo que nenhuma mulher gosta de abortar – coisa que, embora discutível, absolutamente não vem ao caso. Não faz a menor diferença se as mulheres “gostam” de assassinar os próprios filhos ou se “não gostam”: o que interessa é saber, com clareza, se elas podem fazê-lo ou se não o podem! A pergunta, como qualquer pessoa que tenha dois neurônios é capaz de perceber, era esta e não outra.

Disse que, pessoalmente, era contrária ao aborto. De novo: não faz a menor diferença se ela, em assunto que considera “de foro íntimo”, é contrária ou é a favor: o que interessa é o que ela vai fazer enquanto presidente. Mais uma vez, isto estava mais do que evidente na pergunta que foi feita, pois o que estava sendo transmitido era um debate entre presidenciáveis, e não uma entrevista para a Tititi.

Então veio, finalmente, com a conversa mole de que o aborto é “questão de saúde pública”. Ora, como todo mundo que está acostumado com a novilíngua política sabe muito bem, isso significa que o aborto vai deixar de ser crime para passar a ser exigência de saúde. Como está no famigerado Plano Nacional de Direitos Humanos do Governo. Como, aliás, é compromisso histórico do PT, e só não vê quem não quer.

A sra. Rousseff enrolou, enrolou, enrolou, mas deixou escorrer a baba peçonhenta, o veneno por debaixo do doce das palavras: a candidata petista é abortista sim. Caso não fosse, poderia ter dito – como teve chance – de dizê-lo claramente. Portanto, e mais uma vez: como os católicos não podem apoiar uma candidata abortista, não podem conceder o seu apoio, de nenhuma maneira, à sra. Dilma Rousseff (ouviu, @ver_josenildo?). A cada dia que passa, isto fica mais e mais claro. É sinceramente lamentável ver as pessoas imolarem a própria consciência no altar da partidolatria.

A Novilíngua Gay

– Não vês que todo o objetivo da Novilíngua é estreitar a gama do pensamento? No fim, tornaremos a crimidéia literalmente impossível, porque não haverá palavras para expressá-la. Todos os conceitos necessários serão expressos exatamente por uma palavra, de sentido rigidamente definido e cada significado subsidiário eliminado, esquecido.

[…]

Como será possível dizer “liberdade é escravidão” se for abolido o conceito de liberdade? Todo o mecanismo do pensamento será diferente. Com efeito, não haverá pensamento, como hoje o entendemos.

[George Orwell, 1984, apud Mídia Sem Máscara]

A linguagem é evidentemente importante para o pensamento; via de regra, nós pensamos por meio de palavras, e as palavras (a rigor, as idéias significadas pelas palavras – não é trivial concebermos uma idéia sem que a associemos a uma palavra para a designar) que nós conhecemos provocam uma inegável influência nos raciocínios que nós somos capazes de produzir. A pior escravidão, portanto – eis o cenário surreal imaginado por Orwell – é a escravidão do pensamento que nem mesmo sabe ser escravo, pois não tem sequer consciência do significado de “escravidão”.

Era nisso que eu pensava quando li uma notícia segundo a qual a ONG Anis havia feito uma pesquisa em livros e dicionários e “descoberto” que eles eram homofóbicos (ou pelo menos “homoindiferentes”). Sem nenhuma surpresa para nós, esta baboseira foi financiada pelo Ministério da Saúde.

“Livro didático ignora diversidade sexual”; não tenho certeza de que a conclusão da pesquisa seja verdadeira. Se for, Deo gratias!, porque ainda não estamos no fundo do poço e nossas crianças ainda não estão sendo (tão) expostas à deformação nas escolas. Não existe “diversidade sexual”, de modo que os livros fazem muito bem em ignorar as coisas que não existem. A diversidade aqui é dupla: masculino e feminino, ponto. Agora, independente disso, existem as depravações comportamentais sexuais, que aí podem incluir qualquer coisa, ao gosto do freguês, desde relações entre pessoas do mesmo sexo até relações com defuntos, ou com animais, ou com carros, ou com cabeças de frango (atenção! Conteúdo textual inadequado!), et cetera, et cetera, et cetera. Não há limites. Por acaso os livros didáticos para as crianças deveriam cobrir esta gama interminável de horrores? Tal despautério absurdo só faz sentido na cabeça dos gayzistas que, financiados com dinheiro público, não desejam senão transformar o mundo numa grande Sodoma.

Não me incomodam tanto as conclusões disparatadas da tal Anis; o que me deixa realmente preocupado é o previsível passo seguinte: a substituição da linguagem. Os dicionários são homofóbicos? Que sejam reescritos na forma de apologias gayzistas! Os livros nada falam sobre os depravados? Transformem os livros em contos de pornô gay! E, assim, o sentido das palavras vai sendo perdido, e as mentalidades vão sendo (de)formadas dentro da agenda gayzista. Quando for proibido falar em “anti-natural” (aliás, palavra cujo sentido já foi, em larga escala, perdido…) para se referir às depravações sodomitas, e as pessoas acabarem de perder completamente o senso moral por não serem nem mesmo capazes de chamar o erro de erro e de conceituá-lo como aquilo que ele é, então o pesadelo de Orwell estará realizado. Acho que nem mesmo ele jamais acreditou que tal situação absurda pudesse existir fora dos seus escritos.