Pe. Anderson Alves sobre a Família e o Matrimônio

O Pe. Anderson Alves está escrevendo uma série de textos sobre a Família e o Matrimônio, que são preciosos e merecem ser lidos. Recolho abaixo um excerto de cada um dos dois mais recentes, recomendando-lhes uma leitura na íntegra.

– Matrimônio: entre crise e beleza. «Por esta razão, os homens são incapazes de entender as mulheres e o demônio quis tentar em primeiro lugar à mulher. Ele sabia que, uma vez destruída a dignidade da mulher, toda a criação viria à ruína. Ele agora usa a mesma estratégia: destruir a figura da mulher para pôr em crise toda a sociedade».

– Se nos amamos e vamos nos casar, por que não podemos ter relações? «Nos tempos atuais as pessoas “usam” o sexo como se fosse um jogo. E o que ocorre? Cada vez menos pessoas adquirem a capacidade de fazer escolhas definitivas, cada vez menos pessoas se casam. O ato matrimonial, ao qual Deus quis unir um prazer sensível, deve produzir um prazer superior, de natureza espiritual: a alegria de saber que se está cumprindo a vontade de Deus».

Todos os artigos do Pe. Anderson publicados em ZENIT podem ser encontrados aqui.

Cristo, «o Salvador de todos, sobretudo dos fiéis»

Com relação à polêmica – no meu entender desnecessária, como expliquei – envolvendo a recente declaração do Papa Francisco de que Cristo morreu na Cruz do Calvário por todas as pessoas, incluindo os ateus, gostaria de indicar dois textos que o prof. Angueth colocou em seu blog desde a última vez que o mencionei aqui.

O primeiro é uma resposta ao meu texto anterior. Aqui há pouco a se discordar. Vale uma leitura, quando menos pela formulação elegante que o professor fez da tensão entre vontade salvífica de Deus e capacidade humana de rejeitá-Lo, que diz tudo o que eu gostaria de ter dito de um modo muito mais claro e conciso: «Evangelizar é acreditar no “pro omnibus”, mas apenas no sentido de aumentar o número dos “pro multis”». Lapidar.

Sobre o modo como o professor interpreta a referida homilia papal, alegando que ela causa confusão, sou partidário da idéia de que esta confusão é toda ou quase toda causada não pela homilia em si, mas pela repercussão que se faz dela e (principalmente) pela forma como se lhe repercute. Penso que é injusto exigir do Papa (ou mesmo de qualquer pessoa na face da terra!) que se expresse sempre de modo a não permitir aos seus inimigos a manipulação ideológica de suas palavras. E, portanto, penso que a causa católica mais precisa de quem desfaça as confusões do que de quem lhes engrosse o coro dos alardeadores.

O segundo texto é da autoria do pe. Anderson Alves, que os leitores do Deus lo Vult! certamente já conhecem. Traz excertos interessantes do Denzinger sobre o assunto que merecem ser conhecidos, dos quais traduzo só o primeiro:

(Concílio de Arles, 475. Denzinger 160b): «Confieso también que Cristo Dios y Salvador, por lo que toca a las riquezas de su bondad, ofreció por todos el precio de su muerte y no quiere que nadie se pierda, El, que es salvador de todos, sobre todo de los fieles, rico para con todos los que le invocan [Rom. 10, 12]…»

[(Concílio de Arles, 475. Denzinger 160b): «E confesso também que Cristo, Deus e Salvador, em razão das riquezas de Sua bondade, ofereceu por todos o preço de Sua morte e não quer que ninguém se perca. Ele, que é o Salvador de todos, sobretudo dos fiéis, rico para com todos os que O invocam [Rm 10, 12]…»]

Ora, então Cristo é Salvador «sobretudo dos fiéis»? Por que o «sobretudo»? Então é Ele também o Salvador dos infiéis?

Sim e não. Sim, se com isso entendemos que Ele padeceu e morreu também pelos que se perdem; e não, se interpretarmos que mesmo os infiéis se salvam pelo fato de terem um Salvador. A primeira interpretação é o ensino de sempre da Igreja; a segunda, uma heresia tresloucada. Eis aí um excelente exemplo de como é necessário que a Doutrina Católica seja interpretada organicamente. E isto, note-se, num Concílio Local, não numa homilia de cinco minutos improvisada.

Em resumo, não há elementos para sustentar que o Papa Francisco tenha uma visão heterodoxa da Doutrina Católica. Mesmo as acusações de imprudência e de propiciar a confusão por conta de imprecisões terminológicas carecem de razoabilidade. O mundo está contra o Papa, e isso se manifesta inclusive quando o louva e bajula por conta de coisas que ele não disse, não fez e não é. Coloquemo-nos ao lado dele. Rezemos por ele. Estejamos unidos a ele, para que estejamos unidos a Cristo.

A incoerência do relativismo contemporâneo

Mais um texto do pe. Anderson Alves (a se somar aos outros que já foram recomendados aqui), pertinente e atual como de costume. Remeto à leitura da íntegra e apenas trago um curtíssimo excerto – uma frase, somente! – que julgo lapidar:

Da dignidade do ser humano, de fato, não se deduz a verdade de todos os seus conhecimentos, nem a bondade moral de todos os seus atos.

Nestes tempos enlouquecidos onde um padre que se aproveita da Igreja para apregoar em público uma doutrina espúria e contrária a tudo o que a Ela ensina é tratado como vítima enquanto a Igreja que Se defendeu dizendo que ele não fazia parte d’Ela é apresentada como vilã e opressora, convém denunciar abertamente a incoerência do relativismo contemporâneo. Isso faz mal não apenas para a alma, mas também para a inteligência. Acreditar em coisas contraditórias é não somente pecado, mas também defeito intelectual da maior gravidade.

Miscelânea: aborto, relativismo, pedofilia, Papa Francisco

Gostaria de comentar com mais vagar cada um dos temas abaixo, mas a escassez de tempo mo impede. Prefiro, então, simplesmente indicar os assuntos agora, remetendo às leituras das quais disponho; pois, se não o fizer, temo que a agitação do dia-a-dia me leve a passá-los em silêncio.

– O julgamento de um monstro e a omissão da grande mídia nos EUA: «Embora não fosse obstetra, nem ginecologista, apenas clínico geral, Gosnell era proprietário de uma clínica de abortos. Ele atendia mulheres que queriam abortar seus filhos mesmo depois da 24ª semana de gestação, o limite imposto por uma lei estadual. Sua clínica não seguia várias normas sanitárias, contratava pessoas sem formação e desprezava os procedimentos pré-abortivos, que preveem uma lista de exames e orientações à mãe. As maiores atrocidades, no entanto, ocorriam quando algo dava “errado” na mesa de cirurgia. Conforme conta a colunista Kirsten Powers, do jornal USA Today, Gosnell decapitava os bebês sobreviventes, e os guardava em jarras, na geladeira». Também no Wagner Moura: «Nunca é fácil falar sobre aborto. E por isso mesmo é normal que nos reconheçamos quase que obrigados a ridicularizar católicos pró-vidas de cultura inglesa que nessa questão de defesa da vida parecem tão… Tão pouco diplomáticos!».

– O relativismo relativo ou a justa relatividade da verdade: «Sendo assim, quando uma afirmação é verdadeira a sua contraditória necessariamente será falsa. Isso quer dizer que se uma pessoa diz “isso que está diante de mim é um computador”, não pode dizer no mesmo tempo “isso que está diante de mim não é um computador”. Quem está certo da verdade da primeira afirmação, não pode aceitar a verdade da segunda. Isso é o princípio básico de coerência do pensamento e da linguagem humana. Quem nega esse primeiro princípio se torna incapaz de fazer qualquer afirmação, de raciocinar, de dialogar, de viver em sociedade. Se torna, para continuar com o exemplo de Aristóteles, semelhante a um vegetal, com quem não é educado discutir». Trata-se de mais um texto sobre o tema da lavra do revmo. pe. Anderson Alves, de quem eu já tive o prazer de recomendar outros textos aqui no blog.

Sobre Igreja, celibato e pedofilia: «O celibato mete medo, causa pavor. A castidade e a pureza dos padres e das freiras humilham-nos, desconcertam-nos. Não nos sentimos capazes de imitá-los. Desconfio que também os que vivem a homossexualidade sintam-se confundidos pelas pessoas continentes. Estas acusam a nossa sociedade encharcada de sexo. A mesma TV que promove a sacanagem, hipocritamente, condena a pedofilia. O celibato é um incômodo feixe de luz atirado aos olhos de quem está no breu, cambaleando, trôpego, embriagado pelo prazer dos sentidos (gostaria de perguntar a Arnaldo Jabor se prazer e alegria são a mesma coisa). A luz em si é boa, mas incomoda a quem está nas trevas. A continência sexual em si é um bem, mas agride quem quer comer o alimento dos porcos. Quem deplora o celibato é porque se sente incapaz de vivê-lo. Julga impossível aos outros o que é impossível para si. O inepto julga os demais ineptos».

– ¡Alerta tradis y conservadores, Dios no lo quiera, pero cualquier cosa mala que le pase a Francisco la culpa será vuestra!, que peço perdão por não traduzir. A idéia, simultaneamente cômica e cretina, é insinuar a existência de um complô conservador para ferir o Papa – ou, melhor dizendo, é pintar com cores tão tétricas a figura dos tradicionalistas que eles possam ser facilmente usados como bodes expiatórios naturais para qualquer coisa que aconteça com o Santo Padre. A insídia talvez mais cretina sai da pena do Leonardo Boff, que menciona João Paulo I e dispara: «Es un peligro, porque hay una historia en el Vaticano de muchos asesinatos, hace mucho tiempo. Él debe tener cuidado porque donde hay disputa del poder no hay amor, y el poder siempre busca más poder».

– O primeiro golpe contra o Papa Francisco: «Diga-se contra o dogma relativista que não há afirmação sem a negação do seu contrário. Não dá para confirmar na fé, sem negar o que se opõe a ela. Penso que o próximo passo dos bispos americanos é partir para o ataque contra um jornal que se apresenta com o nome “católico” e, sob esta fantasia, promove o seu oposto. Os católicos precisam conhecer sob que vestes o diabo se apresenta, pois eles sabem atacar, e como! Quando alguma mínima reação é esboçada, apelam para a caridade fraterna, numa versão tão melíflua quanto antievangélica». O autor fala sobre a confirmação, feita recentemente pelo Papa Francisco, das reformas na vida religiosa feminina americana: «Muitos esperavam que o Papa Francisco adotasse uma posição paternalista e transigisse com o império das freiras. […] Mas o Papa Francisco reafirmou o resultado do trabalho, chamado “Doctrinal Assessment” (Avaliação Doutrinária), e o programa de reformas desta mesma conferência de religiosas. E ao que parece, a Congregação para os Religiosos ficou à margem do processo».

A inaudita pretensão de mudar o mundo. Trago apenas as palavras do Papa Francisco no dia 06 de abril, recolhidas por Sandro Magister, que foram proferidas em uma de suas homilias espontâneas e, por isso, não constam no site do Vaticano, de modo que nós só temos acesso a elas de segunda mão: «“A fé não se negocia. Esta tentação sempre existiu na história do povo de Deus: cortar um pedaço da fé, ainda que não seja muito. Mas a fé é assim, tal como a recitamos no Credo. É necessário superar a tentação de fazer o que todos fazem, não ser tão, tão rígidos, porque precisamente daí começa um caminho que acaba na apostasia. De fato, quando começamos a destroçar a fé, a negociá-la, a vendê-la à melhor oferta, começamos o caminho da apostasia, da não fidelidade ao Senhor”».

Pe. Anderson Alves sobre Bento XVI

Nestes últimos dias do pontificado de Bento XVI, o pe. Anderson Alves tem nos brindado com alguns belos textos sobre o Santo Padre.

– O último encontro com um sábio humilde, em Zenit. «Eram impressionantes as palavras de fé do Papa que dizia que devemos evitar tanto o falso pessimismo, o pensar que tudo vai mal e que a Igreja é uma árvore que está morrendo; quanto o falso otimismo, daqueles que vêm os Seminários, conventos e igrejas fechando e dizem que tudo vai bem. Em vez disso, os cristãos devem ser realistas e estar certos de que o futuro é nosso, é de Deus, e que a árvore da Igreja cresce sempre de novo, pois ela sempre se renova; por isso devemos servi-la com a consciência de que ela é de Deus, que a mantém e governa; os sacerdotes devem dizer simplesmente: “somos servos inúteis; fizemos o devíamos fazer” (Lc. 17, 10)».

– João Paulo II e Bento XVI: a via da expiação e da oração, no Presbíteros. «E não devemos ser enganados por falsos profetas do mundo atual. Aqueles que agora criticam o Papa Bento XVI, por ser ancião e ter renunciado são os mesmos que criticaram João Paulo II por ser ancião e não ter renunciado. Os que se esquecem de Deus, estão sempre preparados para apedrejar ao seu próximo, mesmo com acusações contraditórias contra quem não cometeu nenhum pecado. Na história da Igreja há Papas santos que não renunciaram ao seu ministério e também um Papa santo (Celestino V) que renunciou ao mesmo».

Curtas: Tragédia em Santa Maria e Renúncia do Papa

Dois pra lá e dois pra cá.

Tragédia em Santa Maria I, D. Fernando Rifan: «Comovidos e chocados, choramos os jovens da boate de Santa Maria, rezamos por eles e lamentamos as graves negligências que causaram o desastre. Mas cabe uma reflexão de caráter geral: nos noticiários após a tragédia, pôde-se conhecer a imensa quantidade de boates ou casas noturnas que pululam nas cidades e como milhares de jovens as frequentam. E, segundo o testemunho deles, tomam bebidas alcoólicas antes, durante e depois das baladas, sem falar em outras drogas que aparecem nesses ambientes. Assim fica muito difícil ter bons reflexos em situações de perigo. Sexo, bebidas, drogas etc.: é só assim que se divertem nossos jovens? É dessa maneira que teremos uma juventude responsável, sadia, honesta e feliz, da qual virá o futuro? É só no pecado que conseguem se alegrar?»

Tragédia em Santa Maria II, pe. Anderson Alves: «Mais esse tipo de perguntas mostra algo mais sério: uma espécie de ateísmo prático que toma conta do modo de pensar e de agir de uma parte da nossa população. Esse tipo de ateísmo superficial e emotivo consiste em viver como se Deus não existisse e, quando ocorre alguma tragédia, joga-se a culpa toda em Deus, para assim minimizar as responsabilidades dos verdadeiros culpados. E quem o faz, nem se dá ao trabalho de se perguntar como é possível que um Deus que não existe, seja o responsável por todas as tragédias humanas. Prefere-se crer num ateísmo prático e aparentemente cômodo no qual se procura viver em total autonomia de Deus, da verdade e da moralidade e se espera que, nas situações de risco, Deus abra milagrosamente uma “saída de emergência” para livrar ao homem de qualquer perigo.»

Renúncia do Papa IProf. Hermes Rodrigues Nery: «E a Igreja tornou-se “perita em humanidade” justamente porque tem paciência. Afinal, já são vinte séculos de percurso. E toda vez que ela foi fiel à Tradição (aos preceitos da Sagrada Aliança), a sua história foi exuberante. (…) Assim como Jesus deu o exemplo, a Igreja ergueu a humanidade a níveis elevados de civilização quando soube ser força de resistência e levantar o olhar para a destinação última do homem: estar ou não com Deus.»

Renúncia do Papa II, D. Fernando Rifan: «Ao lado do heroísmo do Beato João Paulo II de levar o sofrimento pessoal até o fim, temos o grande heroísmo de Bento XVI de renunciar por amor à Igreja, para evitar qualquer sofrimento para ela. No começo da Igreja, no tempo das perseguições, houve cristãos que resolveram ficar onde estavam e enfrentar o martírio. Exemplo de fortaleza. Houve outros cristãos, que temendo a perseguição e a própria perseverança, acharam melhor fugir da perseguição e se refugiar no deserto, para rezar e fazer penitência, longe do mundo. Exemplo de humildade. Houve santos de ambas as posturas, os que enfrentaram e os que se retiraram. Heroísmo de fortaleza e heroísmo de humildade, frutos da Fé. A Igreja é feita de heróis da Fé!»

Os reis-magos e o moderno ateísmo à luz da Verdade

Dois excelentes textos do pe. Anderson Alves que foram publicados este mês. O segundo é particularmente interessante, e não merece menos do que a minha enfática recomendação de leitura.

1. Os reis-magos, homens de diálogo em busca da verdade. «Os magos buscaram a verdade, seguindo o caminho do diálogo, que era o mesmo de Sócrates e também de Abraão, que, ao ser interpelado por Deus, saiu de sua pátria, de si mesmo, o que implica sacrifícios. Para os magos, a peregrinação exterior terminou no encontro com o Rei dos judeus que nasceu como uma pobre criança e aí iniciava uma nova peregrinação para eles: aquela Revelação da verdade de Deus era uma luz nova que lhes abria horizontes novos de existência e que devia ser comunicada».

2. O Ateísmo é uma escolha racional? «[É] comum pensar que o relativismo funde o ateísmo; que as pessoas que não aceitam Deus, fazem-no porque não querem aceitar a existência da verdade, à qual deveriam se submeter. Isso é um absurdo. O ateísmo parte de uma afirmação que tem valor de verdade absoluta: Deus não existe. Se essa afirmação não fosse tomada pelos ateus como verdade, eles simplesmente deixariam de ser ateus. O relativismo para eles se dá somente nas “verdades” inferiores e todos deveriam se submeter ao imperativo único da nova moral: é proibido estabelecer regras morais».

P.S.: Não deixem também de ler “É possível um relativismo absoluto?”, do mesmo sacerdote, dando continuidade ao tema.

«Os filhos passam a ser considerados ou como uma “ameaça” ou como um “direito”, não mais como um dom»

Interessante e muito oportuno este artigo do pe. Anderson Alves sobre filhos e sua educação. Destaco apenas um trecho, que ilustra bem a suprema incoerência dos “valores” atualmente pregados, que se nos apresentam “evoluídos” (isto quando não se pretendem auto-evidentes!) e com base nos quais querem que a sociedade seja regida:

S. Freud, na sua época, sonhava o dia em que fosse separada a geração dos filhos da estrutura familiar, algo que a partir de 68 vem se tornando frequente. Desde então, procura-se incutir nos jovens a idéia de que os filhos são um obstáculo, algo que tolhe a liberdade, a autonomia e que impede a realização pessoal. Os filhos passam a ser considerados como uma ameaça e a gravidez como uma espécie de doença, que deve ser evitada a todo custo. E às pessoas que não são tão jovens, transmete-se a ideia de que os filhos são um “direito”. Desse modo, os filhos passam a ser considerados ou como uma “ameaça” ou como um “direito”, não mais como um dom.

Parece bastante óbvio que a desagregação das famílias vai se seguir ao império de valores tão criminosamente relativistas (e errados tanto num extremo quanto no outro). E é ao inexorável desenrolar deste processo que nós estamos assistindo atônitos, muitas vezes até nos perguntando onde foi que erramos. Como costuma acontecer, os erros são de base: corrigi-los sempre dá muito trabalho, mas precisa ser feito, quando menos por uma questão de sobrevivência, porque uma sociedade não pode subsistir se é solapada em suas bases mais fundamentais.

Carta aos ministros do STF – pe. Anderson Alves

[O revmo. pe. Anderson Alves, da diocese de Petrópolis, entrou em contato comigo por email e gentilmente disponibilizou a carta (aqui em .pdf) por ele enviada aos ministros do Supremo Tribunal Federal, a respeito do julgamento do aborto dos anencéfalos que está marcado para ocorrer amanhã. Divulgo-a com prazer, parabenizando o sacerdote por sua zelosa atitude em defesa da vida humana inocente; e convido todos os leitores do Deus lo Vult! a repercutirem as palavras do pe. Anderson. Como ele muito bem disse, “[i]nfelizmente, a maioria dos brasileiros não pode participar nessa decisão, esse poder nos foi negado e está exclusivamente nas mãos dos senhores decidir. Nós, povo brasileiro, não nos calamos antes dessa decisão e não nos calaremos depois dela”. É isto o que importa agora: não nos calarmos. Seremos cobrado por nosso silêncio. Que não passemos à história como os que se omitiram diante das necessidades dos inocentes indefesos. Marchemos garbosamente sob os estandartes da Virgem Santíssima, mesmo que a batalha pareça perdida e os nossos inimigos se multipliquem ao nosso redor, já debochando de nós. Que a Imaculada Aparecida, padroeira do Brasil, possa olhar por nós.]

Carta Endereçada aos Senhores Ministros do STF

Prezados senhores ministros,

Como cidadão brasileiro, gostaria de lhes comunicar que a possibilidade dos senhores votarem, no próximo dia 12, a despenalização da antecipação do parto (o que equivale ao aborto) de crianças portadores de anencefalia está aterrorizando o povo brasileiro. Se esses seres humanos extremamente indefesos forem considerados como material descartável, o que podemos esperar para o futuro do nosso País? Causa-nos muito estranhamento o fato dos senhores, exclusivamente, serem os responsáveis de uma decisão tão relevante, especialmente porque sabemos bem que há uma iniciativa popular que promove a aprovação do “Estatuto do Nascituro”, que pretende garantir o respeito da vida humana desde sua concepção até à morte natural.

Gostaríamos de lembrar aos senhores que mais de 82% da população brasileira é contrária à prática do aborto. Além disso, os senhores não foram eleitos pelos brasileiros, mas sim colocados como ministros por indicação presidencial, presidente esta que se declarou várias vezes favorável ao aborto. Temos a sensação de que como nem por referendo, nem através do poder legislativo (Congresso e Senado) tal prática seria aprovada, a única via possível foi através do poder judiciário. Sabemos bem que, de acordo com o que está escrito na nossa Constituição, esse não pode legislar. Tememos que os senhores ministros mais uma vez atuem de forma contrária ao posto na nossa Constituição, em vistas de um suposto “espírito da lei” ou de uma “extensão dos direitos humanos” a pessoas desprotegidas. A conduta do STF tem sido classificada por muitos como “ativismo jurídico”; entretanto, há vozes que a qualificam como uma forma explícita de “niilismo jurídico”, ou seja, de negação de que o Direito Positivo tenha fundamentos no Direito Natural. Há ainda outros teóricos que observam uma mera posta em prática por todos os meios possíveis da vontade de “multinacionais da morte”, como a Fundação Ford, a IPPF e outros na América Latina, que visam impor nos nossos países legislações de controle de natividade por qualquer meio possível, inclusive contrariando a Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU (de 1948), o texto da Nossa Constituição, o Tratado de Costa Rica e a imensa vontade popular. Há quem qualifique dita postura como “terrorismo jurídico”, no qual são impostos à imensa maioria dos cidadãos brasileiros o silêncio e a impossibilidade de se manifestarem.

Não há nada que justifique cientificamente a interrupção da gravidez de crianças anencéfalas. A medicina deve curar os doentes e, na sua impossibilidade, aliviar os sofrimentos dos enfermos. Jamais deveria causar a morte do enfermo. A criança anencefálica não nasce em situação de morte encefálica, como foi reconhecido pelo governo dos EUA e comitê de bioética da Itália recentemente. Essa pode viver meses ou, em alguns casos, mais de um ano. Nesse tempo ela pode ser amada, respeitada e, uma vez morta, receber uma digna sepultura. O aborto não resolve nada, pois mata a pessoa enferma e destrói moralmente a mãe e, na maioria das vezes, toda a estrutura familiar. O aborto não é livre de riscos para a mulher que o pratica e, em algumas vezes, a anencefalia pode ser mal diagnosticada. Da vossa decisão depende a vida de muitas pessoas.

Gostaríamos de lhes dizer que se os senhores despenalizarem o aborto nesses casos, os senhores estarão atuando contra a vontade popular, a democracia (porque darão a sensação de não respeitar a divisão de poderes), o que diz a ciência biomédica e os senhores serão os únicos responsáveis diante da História do nosso País de tal decisão. Tal ato poderá ser comparado num futuro bem próximo aos mais repugnantes atos da história do nosso País, como foi a “escravidão legal”. Negar o direito à vida desses seres humanos, de fato, será uma injustificada e cruel forma de discriminação. Sabemos que a imensa maioria dos que sofrem a “anencefalia” no Brasil são pessoas pobres e a anencefalia poderia ser reduzida com a ingestão de “ácido fólico” por parte das mulheres durante os três meses que antecedem a gravidez e no decurso da mesma. Essa substância é barata e seria desejável que o SUS a dispusesse a todas as mulheres gratuitamente e não que o Estado permitisse ou promovesse a morte desses seres que não tiveram os recursos suficientes para serem bem formados. Nosso Estado deveria trabalhar na promoção do nosso SUS e não permitir (ou obrigar) que os médicos, formados para salvar vidas, tenham que começar a praticar atos que só podem produzir a morte. Isso seria totalmente irresponsável, discriminatório e injusto.

Infelizmente, a maioria dos brasileiros não pode participar nessa decisão, esse poder nos foi negado e está exclusivamente nas mãos dos senhores decidir. Nós, povo brasileiro, não nos calamos antes dessa decisão e não nos calaremos depois dela. Continuaremos mobilizando a nossa população para exigir do nosso Governo políticas dignas que promovam um Sistema de Saúde decente, defensor e promotor da vida humana e estaremos educando a juventude sobre os riscos e os sofrimentos causados pelo aborto, que sempre destrói ao menos duas vidas: fisicamente a do filho (ainda que haja quem queira chamar somente de “feto” ou de “embrião”) e moralmente a da mãe. Ao mesmo tempo, estaremos exigindo um genuíno respeito pelo texto da nossa Constituição, pela autêntica divisão de poderes no Brasil, pela verdadeira participação democrática. Nosso trabalho buscará ainda a formação dos mais jovens, de modo a educá-los para uma verdadeira responsabilidade nas suas relações interpessoais e familiares, de modo que não tenham que jamais pensar em praticar o aborto. Um governo responsável deveria investir nisso e não conformar-se com o dar a morte aos pobres e inocentes.

A despenalização da prática equivalente ao aborto desses seres humanos seria extremamente injusta porque negaria a essas o direito à vida. Além disso, poderia ser terrível para nossa população devido ao valor pedagógico das leis. O dito ato poderia aparentar a muitos uma radical banalização da vida humana. O povo brasileiro não quer isso.

Pedimos, pois, vossa atenta consideração à vontade do povo brasileiro e aos argumentos que as mesmas ciências médicas e bioéticas nos ensinam. Pedimos ao senhores uma atenta consideração aos dados reais da medicina e aos casos reais de famílias que no Brasil sofrem com o problema. A decisão dos senhores no próximo dia 12 marcará uma etapa nova da História do nosso País. Esperamos que seja positivamente, que nosso País possa continuar sendo reconhecido como um dos que mais amam e defendem a vida dos seres humanos mais indefesos e que se preocupam com o direito humano de todos, não somente dos mais fortes.

Agradecemos sinceramente a vossa atenção e esperamos uma afirmação incondicional dos senhores do valor de toda vida humana.

Indicamos-lhes um texto científico sobre o tema. E casos reais de famílias que acolheram a vida de crianças portadoras de anencefalia.

http://humanitatis.net/?p=5810

http://www.anencefalia.com.br/

http://www.portalum.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=4041%3Avitoria-de-cristo-crianca-com-anencefalia-completa-dois-anos-e-meio-de-vida&catid=88%3Ario-de-janeiro&Itemid=462

http://noticias.cancaonova.com/noticia.php?id=285811

Atenciosamente,
Pe. Anderson Alves

Doutorando em Filosofia na Pontifícia Universidade da Santa Cruz em Roma.