A instrumentalização do sofrimento alheio

Esta notícia é uma verdadeira piada: Vítimas de pedofilia denunciam papa à corte internacional. «Uma associação americana de vítimas de padres pedófilos anunciou nesta terça-feira que apresentou uma queixa ao Tribunal Penal Internaiconal (TPI) contra o papa Bento XVII e outros dirigentes da Igreja católica por crimes contra a humanidade».

Solidarizo-me, de verdade, com as vítimas de abusos sexuais. Em tempos mais civilizados – durante as glórias do Medievo, p.ex. -, um sacerdote que traísse de maneira assim tão grave os seus votos seria trancado em um buraco (possivelmente pelo resto da vida) para meditar nos seus pecados sem ver mais a luz do sol e nem ninguém; ou então seria queimado em praça pública para a maior glória de Deus, e seria justo. As pessoas de hoje, no entanto, dizem que estas práticas são bárbaras e que é um absurdo vergonhoso elas terem um dia existido. E, simultaneamente, promovem um terrível linchamento moral sobre qualquer sacerdote – culpado ou inocente – sobre o qual pese a mais remota suspeita de se ter envolvido em escândalos sexuais (de pedofilia ou não), ao mesmo tempo em que pretendem acusar a Igreja por Ela não [mais!] punir os Seus ministros da forma como fazia anteriormente e que é, hoje, execrada pela totalidade do mundo dito “civilizado”.

Eu entendo que o “braço secular” muda ao longo dos séculos, e entendo que fogueiras ou forcas no Largo da Piedade seriam descabidas nos dias de hoje. Mas o mesmo não vale para os aljubes, que poderiam perfeitamente se ter transformado em prisões eclesiásticas (com o mesmo propósito original). Penso que, assim, as coisas seriam melhores.

No entanto, divago; pois não importa como as coisas poderiam ser (e muito menos se seriam melhores ou piores se fossem de uma maneira diferente do que são), e sim como elas são. E o fato é que, hoje, desconheço qualquer existência de foro eclesiástico para crimes civis. Como alguém colocou em alguma lista de emails da qual participo, a instância responsável por investigar uma denúncia de pedofilia (ou do que quer que seja) são as autoridades do lugar onde o fato supostamente se deu, e não a cúria romana [que fica no Vaticano] e nem muito menos o Papa. Qualquer tentativa de responsabilizar estes é pura calhordice, é instrumentalização do sofrimento alheio para fins ideológicos que deve ser denunciada.

A tal associação americana pretende que o Papa tenha “responsabilidade direta e superior por crimes contra a humanidade, por estupro e outras violências sexuais cometidas em todo o mundo”! Vejam que não estamos sequer falando de alguma coisa que (embora equivocada) tivesse um mínimo de lógica, como p.ex. uma suposta recusa em denunciar às autoridades um suposto caso que porventura tivesse acontecido n’alguma circunscrição geográfica (München, p.ex.) pela qual o então Bispo Ratzinger fosse à época responsável. Na verdade, acusam o Papa de ter “responsabilidade direta” pelos casos de abusos sexuais ocorridos em todo o mundo! Seria alguma coisa como (mutatis mutandis) acusa a sra. Presidente da República do Brasil pelos crimes cometidos por brasileiros em qualquer parte do globo terrestre, e levá-la a um Tribunal Internacional acusando-a de omissão e cumplicidade por eles. A idéia, claro, é estúpida; no entanto, algumas pessoas (movidas por um ódio cego e irracional) perdem completamente a noção do ridículo em sua tentativa de lançar lama na Igreja.

O que a criminologia tem a dizer sobre os abusos sexuais de [crianças e] adolescentes por sacerdotes americanos?

A notícia é da semana passada, mas eu só li ontem e é muito importante: trata-se de uma investigação levada a cabo nos Estados Unidos pelo John Jay College of Criminal Justice sobre os casos de abusos sexuais de menores. Vi a notícia de segunda mão aqui; dentre as informações mais relevantes, vale destacar:

“Dos cerca de 6 mil padres acusados de abuso ao longo da metade do século passado (cerca de 5% do número total de padres que que serviram durante esse período), menos de 4% podem ser considerados pedófilos, assinala o relatório – isto é, homens que se aproveitaram de crianças”.

“Do mesmo modo, o celibato permaneceu uma constante ao longo dos picos e vales das taxas de abuso, e os padres podem ser menos propensos a abusar de crianças hoje em dia do que os homens de profissões similares”.

Portanto, nem os padres são em geral molestadores de crianças e nem os molestadores de crianças em geral são padres. E, mais ainda, a maior parte – a esmagadora maior parte – dos casos de abusos sexuais cometidos por membros do clero não é de pedofilia. E, também, o celibato não torna ninguém mais propenso a abusar de crianças. Ou seja: tudo o que nós sempre dissemos contra os espantalhos grotescos pintados pelos anti-clericais de todos os naipes. Mas, aqui, estamos falando de conclusões obtidas por uma instituição de criminologia respeitada mundialmente. E sobre os abusos cometidos nos Estados Unidos – país que se tornou tristemente emblemático do problema.

Mas há na reportagem uma coisa, uma única coisa, que não me parece bater. Trata-se do seguinte parágrafo:

[O]s pesquisadores não encontraram evidências estatísticas de que os padres gays eram mais propensos do que os padres heterossexuais ao abuso de menores (…). O número desproporcional de vítimas adolescentes do sexo masculino tem a ver com a oportunidade, não com uma preferência ou com uma patologia, afirma o relatório.

E eu, sinceramente, acho isso muito estranho. “Oportunidade” e não preferência?! Alguém aqui consegue imaginar um homem heterossexual que se relacione desproporcionalmente com outros homens e, depois, venha dizer que não é questão de preferência, mas de “oportunidade”? Ou um homem gay que, por “oportunidade”, relaciona-se mais com mulheres do que com outros homens…?

Vamos às fontes. O relatório original (150 páginas) está aqui. Os gráficos a seguir foram retirados dele.

 

Abusos sexuais por ano de ocorrência

 

Vítimas, por idade e gênero

 

Sacerdotes acusados, por tipo de acusação

Eu ainda não tive tempo para lê-lo inteiro, mas algumas coisas saltam aos olhos. Chamar de “desproporcional” o número de vítimas do sexo masculino é pouco: estamos falando de um número (na faixa dos 11-14 anos) quase seis vezes maior! E isto se explica por… “oportunidade”? Não consigo alcançar o porquê de semelhante afirmação; não vejo no quê ela possa se basear. Talvez haja no relatório algo que me escapou à primeira (e apressada) vista. Ou, talvez, o problema esteja na reportagem mesmo.

Curtas

“A ousadia da santidade”, pelo Carlos Alberto Di Franco e publicada… no Estadão! “A tese, por exemplo, de que é necessário ouvir os dois lados de uma mesma questão é irrepreensível; não há como discuti-la sem destruir os próprios fundamentos do jornalismo. Só que passou a ser usada para evitar a busca da verdade. A tendência a reduzir o jornalismo a um trabalho de simples transmissão de diversas versões oculta a falácia de que a captação da verdade dos fatos é uma quimera. E não é. O bom jornalismo é a busca apaixonada da verdade. O jornalismo de qualidade, verdadeiro e livre, está profundamente comprometido com a dignidade do ser humano e com uma perspectiva de serviço à sociedade”.

Comunicado da Santa Sé sobre a audiência entre o Papa Bento XVI e o Cardel Schönborn. “A palavra ‘chiacchiericcio’ (fofoca) foi erroneamente interpretada como desrespeitosa às vítimas de abuso sexual, para com as quais o Cardeal Angelo Sodano nutre os mesmos sentimentos de compaixão e de condenação do mal, como expressado em várias ocasiões pelo Santo Padre. A palavra pronunciada durante a saudação de Páscoa ao Papa Bento XVI foi tomada literalmente da homilia pontifical do Domingo de Ramos e se referia à ‘coragem que não se deixa ser intimidada por fofocas de opiniões predominantes'”.

Crônicas Vaticanas: o Papa e a Itália. “Bento XVI e os seus estreitos colaboradores intervêm muito rapidamente em questões italianas, dando mais atenção em relação a outros países do mundo. Isso porque a Itália constitui uma espécie de laboratório para os muitos desafios que a Igreja deve enfrentar: é um país historicamente católico, mas a prática da fé e o seu impacto social estão em decadência. Portanto, a campanha de nova evangelização do Papa só pode começar literalmente do jardim de casa”.

El cardenal Kasper anuncia su partida y traza un balance de su gestión. Em espanhol, mas dá para compreender. “El balance examinó luego las relaciones con las Iglesias y las comunidades eclesiales de la Reforma: ‘Errores o, más bien, imprudencias en el modo de formular la verdad – admitió el cardenal Kasper -, han sido cometidos entre nosotros e incluso de parte nuestra’. Pero en lo que concierne a este diálogo, el cardenal quiso remitirse al texto recientemente publicado por el dicasterio, ‘Harvesting the fruits’, en el que se hace un balance de los resultados y de los acuerdos alcanzados”.

Poesia sobre a morte de Saramago. Destaco: “Proponho assim, por descargo / – Como quem dá a camisa / – Rezarmos por Saramago / Que bem precisa coitado…! / Mãe dos Céus, Oh se precisa”.

– Sobre a Bélgica: “Papa se solidariza com bispos belgas” e “Indignação da Santa Sé pela brutal inspeção ao episcopado belga”. Deste último: “‘Manifestaram que haveria uma inspeção do arcebispado devido a denúncias de abuso sexual no território da arquidiocese’, explica um comunicado assinado pelo porta-voz da Conferência Episcopal da Bélgica, acrescentando que ‘não se deu nenhuma outra explicação, mas todos os documentos e telefones celulares foram confiscados e se manifestou que ninguém poderia deixar o edifício. Este estado, de fato, durou até quase as 19h30′”.

Os bons exemplos que não viram notícia

Não sei exatamente qual é a origem desta carta de um sacerdote missionário em Angola – diz a notícia que foi enviada ao The New York Times (não diz a data) que, até o presente momento, não a respondeu. Merece, no entanto, ampla divulgação, porque mostra uma face do sacerdócio que não ganha os louvores da mídia, o reconhecimento da opinião popular – não vira notícia.

Não é só na vida sacerdotal – é em todos os lugares. Os acertos não são reconhecidos da mesma maneira que os erros são condenados. Quase ninguém agradece com a mesma rapidez com que lança pedras. Nos estudos, somos cobrados mais por nossas faltas do que pelas inúmeras presenças; mais pelas poucas reprovações do que por todas as aprovações. No trabalho, os erros que cometemos implicam em reclamações e advertências; os acertos diários e as coisas que sempre fazemos bem não recebem agradecimentos na mesma medida. A vida é assim.

E, em um certo sentido, talvez tenha que ser assim mesmo. Espera-se do estudante que estude, espera-se do profissional que trabalhe, espera-se do sacerdote que seja santo e que santifique. Quando as coisas fogem do que esperamos que elas sejam, é até natural que venham manifestações: o estudo irresponsável, o trabalho mal-feito, o pecado do sacerdote… estas coisas revelam falhas, revelam uma inadequação da realidade ao ideal, ao modelo que se tem e que se almeja. É natural que seja assim: isso nos estimula a nos aperfeiçoarmos cada vez mais. A fazermos cada vez mais melhor.

No entanto, somos humanos, e erramos, e temos necessidade não somente de tapas e reprimendas – mas também de reconhecimentos. Reconhecer o êxito nos estudos, o trabalho – ainda que ordinário – bem feito, ou a resposta generosa à vocação sacerdotal, o testemunho de amor a Jesus Cristo dado por tantas e tantas almas sinceras marcadas indelevelmente pelo Sacramento da Ordem.

E estas existem. Graças a Deus, existem, e existem muitas – leiam o texto acima. E é uma questão de justiça reconhecer o bem que elas fazem, muitas vezes “na surdina”, longe dos olhares dos homens. É necessário contrapôr, ao mau testemunho de uns poucos padres, o exemplo de tantos outros que se esforçam por levar uma vida em conformidade com as promessas que fizeram no dia de sua ordenação. Como eu dizia acima, em um certo sentido, é natural que os erros ganhem mais visibilidade do que os acertos; mas não é natural nem é justo que as coisas sejam julgadas com lentes de aumento nos erros e vista grossa feita aos acertos – que, aliás, são em número incomparavelmente maior.

Sim, o missionário está correto: o bem não vira notícia. Nunca virou. E, aliás, nem é bom que vire – porque o Pai, que está nos Céus e vê o que está oculto, saberá com certeza recompensar a todo bem que foi feito nesta terra. Mas, às vezes, é importante darmos a conhecer o bom exemplo de alguns, não por vaidade, não para buscar louvores do mundo, mas simplesmente por uma questão de Justiça. A Igreja é Santa, e contém em Seu seio pecadores – mas contém também inumeráveis exemplos de santidade, e em uma profusão muito maior do que os que provocam escândalos. É justo que isto seja dito às claras. Logicamente, não é uma tentativa de se minimizar a gravidade dos pecados cometidos por quem deveria ser sempre um “outro Cristo”. Mas é para mostrar que Cristo está na Igreja, também em seres humanos falhos. Para mostrar que não há somente falhas. E – é necessário dizer – quem não enxerga isso não pode se dizer jamais comprometido com a Verdade.

P.S.: Recebi por email a carta original em espanhol, e a encontrei na internet. Foi escrita pelo pe. Martín Lasarte.

As piadas de Boff

Li com um misto de diversão, enfado e tristeza a (última) longa entrevista dada pelo sr. Leonardo Boff à IstoÉ.

Diversão, porque a quantidade de bobagens que o ex-franciscano é capaz de falar impressiona. Seriam excelentes piadas, se não estivéssemos convencidos de que Genésio fala sério. Os perfis fakes de Leonardo Boff criados no Twitter e no Formspring são tão parecidos com o próprio ex-frade que, se o colocássemos para responder às perguntas e para enviar tweets, aposto que quase ninguém notaria a diferença.

Leonardo Boff, o fake, responde que, se sua casa estivesse em chamas e ele só pudesse salvar três coisas, elas seriam “[a] foice, [o] martelo e a bíblia pastoral”. E diz que “o verdadeiro Cristo ressucitado, filiado ao PT, ainda está por vir do alto do céu, munido de foice e martelo”.

Leonardo Boff, o original, insiste no lenga-lenga de se ter sentado “na cadeira onde sentou Galileo Galilei”; fala que “[a] Igreja se engessou em suas doutrinas, em suas normas, em seus ritos que poucos entendem e num direito canônico escrito para legitimar desigualdades e conservadorismos”; fala que não há “nenhuma doutrina ou dogma que impeça as mulheres de serem ordenadas e até de serem bispos” e em “patriarcalismo intrínseco à instituição”; afirma-se “católico apostólico franciscano”. Oras, um sujeito capaz de falar este monte de asneiras em uma entrevista poderia, perfeitamente, subscrever tudo o que os seus perfis fakes dizem. O Boff é uma piada pronta.

No entanto, ainda tem gente que leva este sujeito a sério – e daí o motivo do enfado. Com certeza há gente estúpida o bastante para acreditar no ex-frei amasiado sobre a possibilidade de ordenação de mulheres – apesar da Igreja já ter reiteradas vezes dito o contrário. Com certeza há pessoas que achem que o Papa devesse renunciar. Com certeza há imbecis que irão subscrever a crítica de Genésio ao celibato eclesiástico e ao “patriarcalismo” da Igreja. Porque, se este sujeito fala, é porque tem quem o ouça.

E daí o motivo da tristeza. Porque há pessoas que preferem dar ouvidos a um velho hippie que julga ser, ele próprio, o único oásis de graça e salvação que ele nega ser a Igreja. Há pessoas que preferem seguir um ex-frei amasiado que provavelmente se acha o último digno sucessor de São Francisco de Assis – a quem ele chama de “último cristão verdadeiro e talvez o primeiro depois do Único, que foi Jesus Cristo” – a seguir o Papa, Doce Cristo na Terra e Pedra sobre a qual Nosso Senhor edificou a Sua Igreja.

Genésio Boff tem a petulância de mandar o Papa trancar-se em um convento, para “se preparar para o grande encontro com o Senhor da Igreja e da história. E pedir misericórdia divina”. E o Boff, acaso não precisa da misericórdia do Altíssimo? Infelizmente, o ex-frei não tem mais um convento onde possa ficar. Ele faria bem, no entanto, se se preocupasse mais em pedir a misericórdia divina do que em atacar publicamente a Igreja de Cristo. Genésio, Genésio, para o teu bem, ouve o teu próprio conselho.

Curtas sobre pedofilia

– Olavo de Carvalho, oito anos atrás: Farsa monstruosa. “Por isso a imprensa mundial se cala, desviando as atenções do público para casos seletivamente escolhidos onde figure, como emblema do crime, a palavra ‘padre’. Afinal, a Igreja não existe para arcar, como o próprio Cristo, com os pecados do mundo?”. Ver também “Cem anos de pedofilia”.

* * *

– A versão mais recente deste fenômeno citado pelo Olavo é, creio, o caso de Roman Polanski. “Importantes diretores de filmes que competem no Festival de Cannes participaram de um abaixo-assinado solicitando que o governo suíço não dê andamento ao processo de extradição para os Estados Unidos do cineasta Roman Polanski, que se encontra em prisão domiciliar na Suíça. […] Polanski foi preso por um caso de estupro que data de 33 anos atrás, ocorrido nos Estados Unidos. Após ter se declarado culpado, em 1978, de manter relações sexuais com uma garota de 13 anos, Polanski fugiu para sua França natal quando um juiz afirmou que não cumpriria um acordo para impor pena menor”.

* * *

– Enquanto isso, 100.000 pessoas por dia acessam sites de pedofilia “Apenas em 2009, a ONG [Telefono Arcobaleno] mapeou, em todo o mundo, 49.393 sites de conteúdo erótico infantil, o que representa um aumento de 16,5% em comparação ao ano de 2008, e o índice não para de crescer. Por dia, cerca de 135 novos sites de pedofilia pipocam na rede e o pior: fazem sucesso. Aproximadamente, 100 mil internautas acessam, diariamente, cada um desses portais de pornografia infantil”. O relatório original pode ser encontrado aqui.

* * *

– E por que a culpada é a Igreja? Responde com muita propriedade o João César das Neves: “A razão do paradoxo é clara. Cada época projecta na Igreja os seus próprios fantasmas. Ninguém atropelou mais o rigor científico que os iluministas. Ninguém foi mais sangrento que os jacobinos. Ninguém gerou maior pobreza que os marxistas. Ninguém tem mais desregramento sexual que o nosso tempo. O ataque à Igreja é uma constante histórica. A História muda. A Igreja permanece. Porque ela é Cristo. Dela é a nona bem-aventurança: ‘Bem-aventurados sereis quando vos insultarem e perseguirem’ (Mt 5, 11)”.

A qualidade dos ataques à Igreja

Eu nem sei se o que o sr. Armando falou aqui em outro post merece comentários, mas é no mínimo engraçado ver o nível das acusações que os inimigos da Igreja gostam de alardear. Há um artigo grande e maçante chamado – pasmem! – “Padres Pedófilos – o Verdadeiro Catolicismo”, que o sujeito teve a coragem de escrever. Não tenho paciência para refutá-lo todo (e, aliás, nem é necessário, porque ele só faz reunir as mesmas acusações gagás de sempre, já incontáveis vezes refutadas – quem tiver interesse, basta usar a busca daqui mesmo do Deus lo Vult!), mas vou comentar algumas das besteiras lá presentes. Só para mostrar a qualidade dos artigos que tencionam denegrir a imagem da Igreja de Nosso Senhor.

Porque a Igreja Católica oferece, em suas igrejas, o “catecismo”, apenas para crianças,mas não oferece curso algum para adultos, no que diz respeito à similaridade com a “catequização” das crianças?

Sério, em quantas paróquias este sujeito já pisou na vida para falar uma besteira desta magnitude? A enorme maioria das paróquias (talvez até todas) oferecem, além do Catecismo para as crianças da Primeira Eucaristia, pelo menos o Catecismo de jovens para a Crisma. Grande parte delas têm grupos jovens. Muitas têm também catequese para adultos, que se preparam para receber o Batismo, a Eucaristia ou a Crisma – ou os três Sacramentos. Com base em quê, além do próprio preconceito totalmente descolado da realidade, o sujeito vem dizer que a Igreja não oferece catequese para adultos?

Sem contar, aliás, a cretina insinuação caluniosa de que a Catequese das crianças tenha alguma relação com a pedofilia. Que ele prove as acusações que faz. Cuspir cretinices na internet é muito fácil. Quero ver o corajoso “jornalista e escritor” de Taubaté demonstrar a ligação – em uma única paróquia que seja! – entre catequese e pedofilia.

Um aspecto assustador, da pedofilia de hoje, são as associações ativistas chamadas de “pró-pedofilia” que argumentam que a pedofilia não é uma doença, mas uma simples orientação sexual. Chegam ao ponto de, com bases em supostos “estudos científicos” alegarem que a sociedade deve reconhecer e legitimar a pedofilia.

Verdade. Mas qual a mínima relação, por remota e escabrosa que seja, entre estas “associações ativistas” e a Igreja Católica? Por acaso há padres na NAMBLA? Por acaso há ativistas pró-pedofilia usando textos da Bíblia Sagrada ou do Catecismo da Igreja para embasar as suas teses? Qual a razão, então, de se citar associações pró-pedofilia em um texto que leva por título “o Verdadeiro Catolicismo”?

A Igreja nunca pretendeu ensinar o povo ou ministrar-lhe algum ensinamento religioso, mas costumava retirar do povo algumas pessoas para que pudessem ajudá-los em suas liturgias fechadas.

Sem dúvidas, a lógica anti-clerical tem regras próprias. Dependendo da calúnia que se deseje cuspir, a Igreja ora quer impôr a Sua Doutrina goela abaixo a todos, ora não quer dar nenhum “ensinamento religioso” ao povo. A cada dia estas pessoas provam que Chesterton estava certo.

Sobre as “liturgias fechadas”, escapa-me à compreensão o que este gênio quis dizer. Alguém lhe mande um folheto com horários de missa – e um aviso bem grande de que, em tais momentos, as igrejas estão abertas e as pessoas podem entrar.

Com o apoio dos governos onde [a Inquisição] foi instaurada, perseguiram, torturaram e mataram centenas de milhares (há fontes que citam milhões) de pessoas inocentes, quer fossem homens mulheres ou crianças, das formas mais bárbaras imaginadas. (…) Os bens das vítimas assassinadas, eram repartidos entre o Estado e a Igreja.

Sim, há fontes que citam “milhões”. Dan Brown, por exemplo. Tem o mérito o jornalista de Taubaté, no entanto, de trazer a lume este aspecto dos horrores do Santo Ofício freqüentemente negligenciado até mesmo por fontes históricas sérias como o insuspeito autor d’O Código da Vinci: ao lado da perseguição às bruxas e aos cientistas, a Inquisição instaurou uma terrível perseguição a crianças! Logicamente, como explica com maestria o sr. Armando em seguida, tudo isso era por causa dos bens dos infantes nos quais a Igreja, com Sua ganância, queria pôr as mãos. Bonecas e carrinhos eram muito valiosos à época. Há também fontes, aliás, que explicam que o medo infantil do Bicho-Papão remonta precisamente a esta época, sendo este uma referência que as crianças faziam ao Papa no aumentativo.

Dá para levar a sério? E qual a mínima relação existente entre Inquisição (e Cruzadas, e Nazismo, e tantas outras coisas que estão presentes no texto) e pedofilia?

Segue mais um monte de bobagens sobre celibato. Após, uma sessão de “perguntas e respostas”. E, para fechar com chave de ouro, o jornalista arrisca até mesmo uma profecia:

Com certeza a Igreja Católica vai cair. Eu só não posso precisar quando. Só sei que não vai demorar e ela não dura mais que 5 anos!

Beleza, sr. Armando. Daqui a cinco anos a gente conversa de novo. Combinado assim?

Documento sobre abusos sexuais na Igreja – CNBB

[Este documento foi publicado ontem e, desta vez, trago-o aqui na íntegra, porque é o melhor que foi produzido pela Assembléia Geral da CNBB (que se encerrou ontem). Claro que não é perfeito; mas, vindo da Conferência, é realmente impressionante ouvir falar em Sacramentorum Sanctitatis Tutela, em “Instruções de Discernimento Vocacional  acerca das pessoas com tendências homossexuais e sua admissão ao Seminário e às Ordens Sacras”, em Humanae Vitae, etc.

Quanto aos seminários, expulsar os homossexuais; quanto às dioceses, fomentar a santidade sacerdotal; quanto à CNBB, reunir-se com canonistas. Tudo isso explicado em tópicos e pontos, duas páginas apenas, sem a verborragia peculiar dos documentos da Conferência.  Impressionante. Rezemos pelo clero; que este Ano Sacerdotal possa, ainda que seja já agora em seu fim, trazer frutos para o clero brasileiro.

Fonte: CNBB]

PRONUNCIAMENTO DA PRESIDÊNCIA DA CNBB

SOBRE ABUSOS SEXUAIS NA IGREJA

Os Bispos Católicos do Brasil expressam seu compromisso e empenho na investigação rápida e eficaz dos casos de abuso sexual na Igreja, em que padres e religiosos são acusados, tomando as medidas canônicas e civis cabíveis.

O tratamento do delito deve levar em consideração três atitudes: para o pecado, a conversão, a misericórdia e o perdão; para o delito a aplicação das penalidades (eclesiástica e civil); para a patologia, o tratamento.

Os bispos reconhecem o mal irreparável a que foram acometidas as vítimas e suas famílias; a elas dirigem seu pedido de perdão, acompanhado das suas orações, prometendo envidar esforços para ajudá-las na superação de tão grande mal e seus traumas subsequentes, e oferecer-lhes apoio psicológico e espiritual.

Orientações concretas:

1. Quanto à formação dos novos padres:

  • Ater-se às Instruções de Discernimento Vocacional acerca das pessoas com tendências homossexuais e da sua admissão ao Seminário e às Ordens Sacras (cf. Congregação para a Educação Católica, 4 de novembro de 2005).
  • Realizar acurada seleção dos candidatos ao seminário, por meio de um processo de acompanhamento que permita a admissão de pessoas com indispensável saúde física e mental, somada aos atributos de equilíbrio moral, psicológico e espiritual.
  • Assumir o compromisso de implantar imediatamente as “Diretrizes para a Formação dos Presbíteros da Igreja no Brasil”.
  • Buscar ajuda de pessoas especializadas em ciências humanas para assessorar a equipe de formadores dos futuros sacerdotes.
  • Trabalhar a dimensão humano-afetiva dos seminaristas, educando-os para o sentido do amor autêntico e verdadeiro, levando-os a assumir com maturidade e liberdade a exigência do celibato.

2. Quanto às Dioceses e seus Presbíteros:

  • Garantir uma rápida e eficaz resposta frente às acusações de abuso sexual, favorecendo os procedimentos civis e aplicando de imediato a lei eclesiástica, com a suspensão do exercício ministerial, sem apelar para uma simples transferência.
  • Intensificar o apoio à promoção, explicação, aplicação e defesa da doutrina católica sobre a sexualidade, o matrimônio e a família, retomando os ensinamentos da Humanae vitae.
  • Efetivar concretamente a pastoral presbiteral nas dioceses, fomentando a amizade madura entre os padres e dos mesmos com seu bispo, evitando o isolamento e proporcionando a vivência madura do celibato abraçado na alegria e na liberdade.
  • Fortalecer a vida interior pela prática da direção espiritual, oração, frequência ao Sacramento da Penitência e adoração Eucarística, visando à santidade sacerdotal.
  • Desenvolver nas instituições sociais e educativas católicas programas e iniciativas de prevenção e proteção às crianças, adolescentes e jovens.
  • Contar com profissionais das áreas humanas para estudo, acompanhamento e elaboração de programas para acolhida, proteção e recuperação das vítimas de abuso sexual.

3. Quanto à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)

  • Constituir uma comissão ad hoc para elaborar um vademecum – manual de fundamentação e orientação, isto é, um protocolo de política oficial de ação da Igreja no Brasil. O vademecum deverá conter princípios teóricos, a partir da legislação civil e canônica, referentes ao proceder dos bispos e de suas dioceses nos casos de abusos sexuais de menores, adolescentes e jovens; devendo conter também indicações práticas a serem adotadas.
  • A CNBB deverá promover, o quanto antes, um encontro de canonistas dos Tribunais Eclesiásticos, para que esses, com pleno conhecimento do vademecum e das normas canônicas afins, estejam aptos a assessorar e orientar os bispos quanto aos procedimentos jurídicos e canônicos.
  • Identificar os Centros de Tratamento existentes para atendimento a padres e religiosos com problemas relativos à sexualidade, para onde possam ser encaminhados os possíveis casos.
  • Organizar equipes de especialistas, em nível nacional e regional, a fim de assessorar os bispos que se defrontarem com casos de abusos sexuais em suas dioceses.
  • Ter presente as normas do Código de Direito Canônico e do Motu Proprio Sacramentorum Sanctitatis Tutela de 30 de abril de 2001. E ainda: Sexualidade humana: verdade e significado, do Pontifício Conselho para a Família, de 8 de dezembro de 1995; a Declaração sobre algumas questões de ética sexual – persona humana, da Congregação para a Doutrina da Fé, de 29 de dezembro de 1975; Orientações educativas sobre o amor humano – linhas gerais para uma educação sexual, da Congregação para a Educação Católica, de 1º de novembro de 1983; Orientações dadas pela assessoria jurídica da CNBB; e a Carta Pastoral de Bento XVI aos católicos na Irlanda sobre abusos sexuais de menores, de 19 de março de 2010.

Brasília, 13 de maio de 2010.

Dom Geraldo Lyrio Rocha
Arcebispo de Mariana
Presidente da CNBB

Dom Luiz Soares Vieira
Arcebispo de Manaus
Vice-Presidente da CNBB

Dom Dimas Lara Barbosa
Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro
Secretário-Geral da CNBB

Três curtas

1. Soube de fonte segura que D. Benedito Beni, bispo de Lorena-SP, ordenou aos seus padres que aprendessem a celebrar na Forma Extraordinária do Rito Romano. Sua Excelência tem 73 anos, fez teologia na Gregoriana e possui um mestrado em Teologia Dogmática (de 1959-1964). Entre os seus escritos disponíveis no site da Mitra de Lorena, existe um sobre a Santa Missa no qual é possível ler o seguinte: “Sendo único o sacerdote e idêntica a vítima oferecida, o sacrifício da cruz e o da Missa são o mesmo sacrifício. O modo porém como se realiza é diferente: na cruz, houve efusão de sangue; no altar, em que se celebra a missa, a vítima é oferecida sem efusão de sangue”. Que alegria encontrar essas coisas na pena de um bispo católico!

2. Muito oportuno o artigo do pe. Demétrio: padres pedófilos ou pedófilos padres? O que motivou o artigo foi uma declaração de D. Eduardo Benes publicada na Folha de São Paulo recentemente. Escreve com muita propriedade o padre: “Admira-nos que, os mesmos que tentam romper com as pesadas cadeias morais que o ocidente católico impôs à sociedade, que em engrossam nossas avenidas públicas com gritos de ‘viva a diferença!’ – e querem calar as vozes preconceituosas contrárias -, são os que rasgam as vestes, escandalizados diante dos frutos de um comportamento canonizado por eles”.

3. Sucesso da campanha Catholics Come Home! Graças a ela, “mais de 200.000 mil pessoas nos Estados Unidos, entre ateus, ex-católicos e católicos não-praticantes, decidiram voltar ao seio da Igreja para viver e testemunhar a fé católica”. Deo Gratias! Vale a pena rever o vídeo. E rezemos ao Altíssimo: ut omnes errantes ad unitatem Ecclesiae revocare, et infideles universos ad Evangelii lumen perducere digneris. Te rogamus, Domine, audi nos!

A CNBB e Dom Dadeus Grings

Ah, aí já é palhaçada. Dom Dadeus disse que a sociedade atual era pedófila. E aí choveram as reações: 1. Opinião de arcebispo da Capital sobre pedofilia não reflete posição da Igreja; 2. Reação: Declaração de que a ‘sociedade é pedófila’ não é opinião da CNBB; 3. Opinião de arcebispo sobre pedofilia não reflete posição da Igreja, diz CNBB.

É claro que qualquer pessoa de bom senso faz coro ao que disse Dom Dadeus, certamente usando uma figura de linguagem para se referir à erotização da sociedade moderna, inclusive da infância – que é pública e notória. É lógico para qualquer pessoa que tenha dois neurônios funcionais que o bispo não quis dizer que “a sociedade” molestasse, literalmente, crianças – seja lá o que isso signifique. Aliás, isso está explícito na própria fala do bispo que foi veiculada na imprensa:

Dom Dadeus, de 73 anos, criticou a liberalização da sexualidade por “gerar desvios de comportamento”, entre os quais a pedofilia.

Qual é, portanto, a razão das supostas “reações”? A sociedade onde vivemos por acaso não é absurdamente erotizada? Por acaso isto não é uma coisa condenável? Em quê, exatamente, a opinão de Dom Dadeus “não reflete [a] posição da Igreja”?

Vamos às três reportagens acimas. Na primeira e na terceira, que dizem essencialmente a mesma coisa, ao contrário do que é dito no título, não existe nenhuma sombra de crítica à declaração de Dom Dadeus por parte do porta-voz da Assembléia da CNBB, Dom Orani Tempesta. Vejamos (em G1). No título:

Nesta terça, arcebispo de Porto Alegre disse que ‘sociedade atual é pedófila’.

‘Não é doutrina da Igreja esse comportamento’, disse porta-voz da entidade.

E no corpo:

Dom Orani Tempesta, porta-voz da assembleia da CNBB, disse que aos bispos são livres para dar opiniões, mas que as declarações de Dom Dadeus foram mal interpretadas. Ele afirmou que a Igreja condena qualquer tipo de abuso sexual.

“Não é doutrina da Igreja esse tipo de comportamento. Aqueles que fizeram e cometeram algum crime devem ser julgados segundo a legislação de cada país, do Brasil e tudo mais”, afirmou.

Ou seja: o que “[n]ão é doutrina da Igreja” é o abuso sexual, óbvio. Não a declaração de Dom Dadeus de que a sociedade é pedófila (até porque isso, por definição, não é “doutrina”, mas deixa esse “detalhe” para lá). Qual é, portanto, a razão das manchetes, que nada têm a ver com o texto sob elas apresentado?

Na segunda reportagem, d’O Globo, embora ligeiramente diferente, também não há a declaração expressa de Dom Orani de que a CNBB discorda do que foi dito pelo Arcebispo de Porto Alegre. Portanto, aqui o que interessa são duas (de três) perguntas:

(1) Afinal de contas, a CNBB discorda ou não da opinião expressa por Dom Dadeus Grings?

(2a) Se não discorda, por que foi amplamente noticiado que discordava?

(2b) Se discorda, em quê, exatamente, o senhor Arcebispo afastou-se da posição da Igreja?

Nós gostamos dos pingos nos i’s. Sem isso, fica muito difícil saber quando a mídia está distorcendo as falas dos entrevistados ou quando são estes que não estão falando mesmo o que deveriam. Nós gostamos do “sim, sim, não, não”. Será que é difícil dar declarações claras e objetivas?

Nesta terça, arcebispo de Porto Alegre disse que ‘sociedade atual é pedófila’.
‘Não é doutrina da Igreja esse comportamento, disse porta-voz da entidade.