PDC 565/2012: tentando pôr freios à sanha totalitária do STF

No início deste mês foi protocolado o PDC 565/2012. Eu já vira a notícia no blog do pe. Lodi, mas estava esperando o desenrolar do processo; como ainda não houve nenhuma tramitação, reproduzo aqui o pedido feito pelo reverendíssimo sacerdote no dia nove de maio p.p.:

É de se esperar que o presidente da Câmara, Marco Maia (PT/SP) devolva o projeto ao autor, alegando que é “evidentemente inconstitucional”. O deputado Marco Feliciano deverá então recorrer ao plenário no prazo de cinco sessões. Então será necessário um contato maciço com cada deputado para que dê provimento ao recurso.

No momento, é necessário:

– divulgar esta notícia;
– entrar em contato com a CNBB e com os Bispos solicitando que apoiem formalmente a proposta;
– permanecer em vigilante oração.

Este Projeto de Decreto Legislativo é extremamente simples (o inteiro teor pode ser acessado aqui), tem somente duas páginas e um único artigo (porque o segundo é o de praxe, dizendo que a lei “entra em vigor na data da sua publicação”), que estabelece o seguinte: «Fica sustada a decisão do Supremo Tribunal Federal proferida na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) no 54, em 12 de abril de 2012, que declara não ser crime o aborto de crianças anencéfalas, anulando-se todos os atos dela decorrentes». Na justificação pode-se ler:

O presente projeto de decreto legislativo baseia-se na Constituição Federal, que afirma que “é da competência exclusiva do Congresso Nacional zelar pela preservação de sua competência legislativa em face da atribuição normativa dos outros Poderes” (art. 49, XI, CF). No caso, houve uma invasão de competência do Poder Judiciário. Cabe a nós sutar essa decisão por aplicação analógica do inciso V do mesmo artigo, que nos dá competência para “sustar atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar ou dos limites de delegação legislativa” (art. 49, V, CF).

Isto é exatamente a argumentação apresentada pelo Ives Gandra Martins em abril. E o seu conteúdo está perfeito: o STF invadiu (de novo) as competências do Poder Legislativo e, portanto, cabe a este protestar. Não é a primeira nem a segunda vez que a Suprema Corte age de maneira ilegítima e totalitária; é urgente que alguém faça alguma coisa para deter a sanha revolucionária dos onze ministros não-eleitos pelo povo.

Que o STF legislou neste caso é óbvio para qualquer um que mantenha a sua honestidade intelectual: os menos cínicos que o defendem mesmo assim dizem que ele está apenas no mais legítimo exercício de sua “função atípica”, perfeitamente prevista no ordenamento jurídico brasileiro. Acontece que de “função atípica” em “função atípica” o Supremo vai tomando para si a responsabilidade de dizer o que vale e o que não vale no Brasil; de julgamento polêmico em julgamento polêmico, a “função atípica” está virando fim precípuo. Falando sobre outro assunto (as quotas raciais), o Puggina criticou isto acidamente em um texto muito bom sobre os “Ministros Constituintes”: «De jeitinho em jeitinho, vai-se a Constituição para o brejo, a segurança jurídica para o espaço e o Poder Legislativo para o outro lado da praça. Se o Congresso se omite em legislar, andam dizendo os ministros-constituintes, o STF precisa agir subsidiariamente. Esquecem-se de um dado da dinâmica parlamentar: quando o Congresso não delibera é porque não há entendimento sobre a matéria. E isso é absolutamente normal, significando que o parlamento, provisoriamente, decidiu não decidir».

E o mesmo disse também o Dep. Marco Feliciano no final da sua justificação: «Se nós, Poder Legislativo, não pusermos um feio aos avanços indevidos do Judiciário, chegará o momento que este Congresso poderá ser fechado, deixando a onze ministros – nenhum deles eleito pelo povo – a tarefa que hoje nos compete de elaborar leis». E a retórica passa longe de ser vazia, porque ela revela um risco muito concreto: se os Onze não-eleitos têm o condão de decidir e fazer valer tudo aquilo que o povo (representado no Parlamento) não aprova, então a democracia é uma fraude, então a divisão de poderes é para inglês ver. E a varinha dos magos semideuses do Supremo vem sendo usada com prodigalidade. Alguém precisa tomá-la e pôr fim a esta brincadeira perigosa e irresponsável.

Mais curtas, fechando à tarde

Muita coisa para comentar, pouco tempo para fazer…

Enfatizando: hoje é dia de luto. Há exatamente um ano eram assassinados os gêmeos de Alagoinha. E pouca coisa mudou desde então. Recentemente, foi tornada pública uma declaração sobre a presidência da Pontifícia Academia para a Vida (leia-se Dom Rino Fisichella), subscrita por membros da própria Academia. Nesta declaração, pode-se ler: “Longe de criar a unidade e a genuína harmonia na Academia, o discurso do Arcebispo Fisichella em 11 de fevereiro teve por efeito confirmar nas mentes de muitos Acadêmicos a impressão de que nós estamos sendo conduzidos por um clérigo que não compreende o que envolve o respeito absoluto pela vida humana”.

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– Dom Aloísio Oppermann na CNBB: a criatura contra o seu Criador. São apenas dois parágrafos, leiam. “O que me causa espécie, é constatar que, apesar das evidências, malgrado as palavras claras do governo, em que pese a audácia dos dirigentes políticos, a maioria das pessoas (adormecidas pela propaganda?), acham o malfadado programa [PNDH-3], um progresso. Aí incluo clérigos ingênuos, alguns formadores de opinião, vários líderes de outras denominações cristãs”.

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– Enquanto isso, no Zero Hora, desgraçadamente em sentido contrário, Dom Friedrich Heimler também escreve os seus dois parágrafos. Menores que o de Dom Oppermann, e muito piores. “A CNBB realmente não é a Igreja Católica, mas a Conferência Nacional do Bispos do Brasil representa e fala pela Igreja Católica no Brasil. […] A CF-2010, preparada pela terceira vez em nível ecumênico, é uma campanha com os pés no chão, para até o povo entender”. Sou obrigado a concordar: pés no chão, mãos no chão, olhos no chão, coração no chão, tudo no chão. E nada no Céu, nada no Alto. E, exatamente por isso, estéril.

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– Sobre a mesma campanha: Carta à Congregação para a Doutrina da Fé, pelo Percival Puggina. “É preciso atentar para a gravidade da situação. A totalidade da opinião pública e da imprensa brasileira confunde a CNBB com ‘a’ Igreja. Quando alguém se manifesta nessa organização, seja o presidente, seja um assessor, as manchetes falam em manifestação ‘da’ Igreja. A Campanha da Fraternidade é ‘da’ Igreja. Seus temas e seus lemas também são vistos assim. Jamais, alguém da estrutura da organização faz a necessária distinção e esclarecimento, estimulando uma fusão e uma confusão que, ao que se infere, bem lhes convém”.

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Rei espanhol assina lei abortista – lamentável! A poucos dias da Marcha pela Vida 2010! Que Deus tenha misericórdia da Espanha. Sobre o gesto do Rei da Espanha, diz o pe. Clécio: “Enquanto não me provem o contrário, conforme determina o Código de Direito Canônico (can 1398), defendo a posição de que Su Majestad el Rey Don Juan Carlos, na condição de batizado na Igreja Católica, incorreu em excomunhão latae sententiae. Tal modalidade de excomunhão não carece da necessidade de uma declaração por parte da Autoridade Eclesiástica, exceto no caso de o rei insistir em publicamente ignorá-la. Ainda assim, em se tratando de um caso exemplar, os bispos deveriam declará-la para sanar o escândalo causado pelo ato do rei”.

No II Domingo da Quaresma…

[São duas coisas díspares. Uma homilia e um artigo de jornal, um sacerdote e um leigo, uma meditação da Liturgia de hoje e uma denúncia contra a Campanha da Fraternidade. Só as coloquei juntas porque, afinal, ambas falam sobre a Quaresma, embora sob aspectos distintos (e, no meu entender, perfeitamente complementares): a parte “positiva” de bem viver a Quaresma, e a parte “negativa” de se combater tudo o que dificulta o aproveitamento deste tempo favorável.]

1. Pe. Antoine Coelho, LC: “A nós, Deus ofereceu-nos um sinal incomparavelmente mais explícito de que cumpriu e continuará a cumprir as suas promessas. Chama-me muito a atenção o facto de que São João evangelista mencione, no seu relato da Paixão de Cristo, que os soldados romperam as pernas dos dois ladrões crucificados com Ele. ‘Mas ao chegarem a Jesus, como o viram já morto, não lhe romperam as pernas […] E tudo isso sucedeu para que se cumprira a Escritura: não lhe quebrará nenhum osso’. Porquê falta de romper ou não romper pernas, quando o Senhor está já morto? Não é detalhe insignificante a estas alturas? Mas é que ao Senhor, não lhe podia suceder o mesmo que aos animais cortados no sacrifício de Abraão. Com isso a Escritura mostra-nos que, em Cristo crucificado, Deus cumpriu as promessas. Cumpriu o que prometera a Abraão quando passara entre os animais sob a forma do fogo! Em Aquele que está pendurado para o perdão dos nossos pecados deve residir toda a nossa fé e esperança. N’Ele torna-se evidentemente que é o amor infinito de Deus a querer levar-nos à Terra Prometida, à Jerusalém Celeste, com a condição de que como Abraão não deixemos nada em Ur dos caldeus, fiéis ao chamado de Deus que nos fala pela Igreja”.

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2. Percival Puggina: “Toda consciência bem formada se revolta com as tragédias da pobreza material, feitas de analfabetismo, baixo nível educacional e cultural, más condições habitacionais e sanitárias, abandono dos aposentados. Feitas também por corrupção, esbanjamentos, mordomias, absurdos desníveis na remuneração do serviço público e maus governos. Não é com a superação desses embaraços que venceremos a miséria e os desníveis sociais? Pois é tudo campo da política! Miséria e desníveis sociais são temas para os poderes públicos, que se apropriam de 40% do PIB nacional! As justas preocupações com partilha e solidariedade deveriam focar, principalmente, essa brutal ruptura com o Princípio da Subsidiariedade. É grave erro da campanha não dizer que os problemas do Brasil são muito mais políticos do que econômicos. Muito mais institucionais do que empresariais. Bons governos, com boas políticas, enfrentam essas dificuldades valendo-se da competente operação do setor privado”.

A nós, Deus ofereceu-nos um sinal incomparavelmente mais explícito de que cumpriu e continuará a cumprir as suas promessas. Chama-me muito a atenção o facto de que São João evangelista mencione, no seu relato da Paixão de Cristo, que os soldados romperam as p

Curtas

‘O Papa vai contra o Vaticano II’, afirma Hans Küng. Piada. O teólogo suíço rasga as vestes porque – segundo ele – Bento XVI vai contra um Concílio Ecumênico e isso não pode ser feito. No entanto, Küng pode perfeitamente ir contra o Papa, e com isto está tudo muito bem. A entrevista contém uma quantidade tão colossal de besteiras que eu não sei se o caso de Hans Küng é de senilidade, esquizofrenia intelectual ou alguma outra patologia rara ainda não devidamente catalogada. Sei, no entanto, que é grave. E é sintomático que este senhor seja levado a sério pelos meios de comunicação.

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Tolices beato-marxistas, pelo Percival Puggina, sobre a Campanha da Fraternidade. “Perdoem-me os mais benevolentes que eu. Mas ano após ano, servindo-nos sempre um pouco mais do mesmo lero-lero beato-marxista e um pouco menos da palavra de Deus, a CNBB já foi bem além da minha capacidade de tolerância. Ao longo dos anos, foi perfeitamente possível encontrar impressões digitais e carimbos das suas pastorais sociais em documentos que deixavam claro que o Reino de Deus tinha partido político na Terra. Ou não?”

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PT decide apoiar PNDH-3. Entenderam? O Partido dos Trabalhadores apóia o Programa Nacional de Direitos Humanos, aquele que é a favor do aborto e do “casamento” gay, entre outras sandices. “Os petistas também mantiveram na resolução apoio do partido ao Programa Nacional de Direitos Humanos editado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva no final de 2009. Depois da polêmica em torno do programa, os delegados do PT entenderam que o partido deve manifestar ‘apoio incondicional ao programa’ por considerar que ele é ‘fruto de intenso processo de participação social'”. E o que os “católicos petistas” vão dizer agora?

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– Notícias do fim do mundo: Ele virou mulher. Ela não quer deixá-lo. “A britânica Andrea Fletcher sempre foi a feliz companheira do respeitado escritor e jornalista John Ozimek e mãe de Rafe, 5 anos. […] Após o último Natal, porém, John apareceu com uma novidade: nunca foi feliz sendo homem. Quer ser uma mulher. E já tem um nome: Jane Fae. Andrea foi pega de surpresa. Ficou confusa. Mas, com o tempo, (…) simplesmente aceitou a mudança”. Nem sei o que comentar. Domine, miserere.

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Rainha da Espanha se diz contra casamento gay – há bom senso na monarquia. “Posso compreender, aceitar e respeitar que haja pessoas com outra tendência sexual, mas que essas pessoas se sentem orgulhosas por serem gays? Que subam em trios e saiam em manifestações? Se todos os gays saíssem em manifestações… o trânsito entraria em colapso. Se essas pessoas querem viver juntas, vestirem-se de noivos e casarem-se, podem estar em seu direito, ou não, segundo as leis de seu país: mas que não chamem isso de casamento, porque não é. Há muitos nomes possíveis: contrato social, contrato de união”.

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Imagem de Jesus fumando e bebendo causa indignação na Índia. A mim, também causa. Não por causa do fumo ou da bebida; que Nosso Senhor bebia é um dado que se encontra nos Evangelhos, e é perfeitamente possível imaginá-Lo fumando junto com os Seus amigos. O problema é o que foi feito com o ícone sacro, a caricatura que raia à  blasfêmia. Só gostaria de saber em que contexto do livro educativo para o primário se encontra esta imagem. Porque não consigo imaginar um que não seja simplesmente provocativo.

Diversas, sobre o Plano Nacional de Direitos Humanos

– PNDH-3: Coisa de Maluco. “Na juventude, o secretário Vannuchi tentou transformar o Brasil em uma ditadura comunista por meio da guerrilha – ele foi militante da Ação Libertadora Nacional (ALN), organização terrorista esquerdista. Agora, no crepúsculo da vida, tenta fazê-lo à base de canetadas”.

– Só contextualizando: o senhor presidente da República “recuou” na defesa escancarada do aborto que o famigerado PNDH-3 fazia. “Na nova redação, será suprimida a parte que fala da autonomia, pois caracteriza apoio à decisão íntima de interromper a gestação, mas não é a posição do governo e de Lula”. Recuou? Sei…

– Sobre o mesmo assunto: Afinal, quantas divisões tem a imprensa? “A questão do aborto nada tem a ver com a posição da Igreja Católica, como querem alguns tontos. (…) A fama de ‘governo aborteiro’ em ano eleitoral não é conveniente. A maioria da população brasileira é contrária à descriminação do aborto. E só! Lula não quer mudar mais nada”.

– Aliás, segundo afirma o Puggina (via Mídia Sem Máscara), o Reinaldo foi o primeiro a ler o programa inteiro. E ele fez o mesmo. “Agora, Paulo Vannuchi brinda-nos com algo infinitamente mais pretensioso. Quer desfigurar a democracia representativa, o poder judiciário, o direito de propriedade, a religiosidade popular, a cultura nacional, a família e a liberdade de imprensa. Numa tacada, pretende liberar o aborto, mudar para pior o Estatuto do Índio, autorizar a adoção de filhos por casais homossexuais, valorizar a prostituição e se intrometer em temas que vão da transgenia à nanotecnologia e do financiamento público das campanhas eleitorais à taxação de grandes fortunas”.

– E ainda o Kotscho, que é “católico praticante, batizado, crismado e formado em escola de padres”, mas apóia o aborto: “O que não dá para entender é qual a motivação do governo para comprar tantas brigas com cachorro grande ao mesmo tempo, justamente na abertura de um ano eleitoral, já na reta final do segundo mandato, depois de fechar 2009 navegando num mar de almirante, com o presidente Lula batendo recordes de popularidade e sua candidata, Dilma Roussef, subindo nas pesquisas” (Militares, Igreja e Impernsa contra projeto de direitos humanos).

– No entanto, defensores dos Direitos Humanos se opõem a modificações no programa: “A possibilidade de mudança na redação do terceiro Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH 3) para apaziguar setores do governo federal é mal vista por ativistas defensores dos direitos humanos, por políticos perseguidos e parentes de desaparecidos na época da ditadura militar (1964-1985)”.

– E os trezentos convocaram os “companheiros queridos” para uma manifestação, hoje, em defesa do PNDH-3. Num texto de não-sei-quem que foi lá citado: “se a direita – encabeçada pela Igreja, Ruralistas, Milicos, PIG e pelo que há de mais detestável no país – não gostou [do Programa], é porque o projeto é excelente”. Maravilha, não?

Assassinatos impunes

O Percival Puggina escreveu um texto muito pertinente chamado “O Abortista”, cuja leitura, caso ainda não tenham feito, eu recomendo enfaticamente aos visitantes do Deus lo Vult!. Trata sobre um caso ocorrido há uns quinze dias atrás em Sapucaia do Sul, quando uma estudante universitária foi presa por tentativa de homicídio contra a própria filha recém-nascida.

O Puggina fala em aborto. As manchetes que encontrei – a própria do Zero Hora citada, esta d’O Globo, ou ainda esta do jornal NHfalam em parto. Como a criança nasceu prematura (com sete meses) e como a jovem obviamente não desejava a gravidez (dado que “escondeu o bebê dentro de uma bolsa, enrolado numa sacola plástica” após o seu nascimento!), acho a hipótese de aborto muito plausível. Até onde eu saiba, a recém-nascida está internada em estado de saúde grave; não encontrei notícias mais recentes sobre o ocorrido.

A afirmação do amigo do Puggina após saber que a mãe e o pai da criança haviam sido presos – “Estão presos, é? Que absurdo! Vê só o resultado dessas idéias de vocês! Tivessem feito esse mesmo aborto direitinho, num hospital, com assistência médica, nada disso teria ocorrido” – é a mais honesta expressão da mentalidade abortista. Qual a diferença entre a criança dentro da sacola plástica em Sapucaia do Sul e a criança dentro de um saco de lixo hospitalar após o aborto? Nenhuma – só a chance de sobrevivência do bebê que, fora do matadouro abortista, é um pouco maior -, e o interlocutor do Puggina sabe tão bem disso que não cora de vergonha ao dizer o que disse. Do aborto para o infanticídio a diferença é meramente o local onde é realizado o assassinato, se dentro do útero da mãe ou fora dele.

Uma mulher dessas deve ser punida? É óbvio que deve. Curiosamente, no entanto, não querem que sejam punidas as mulheres que assassinam os próprios filhos dentro do seu ventre. Tal irracional discrepância entre as posições tomadas diante de fatos que, em essência, são idênticos, é mais um sintoma da degeneração intelectual e moral que toma conta da nossa sociedade.

No debate sobre o aborto que assisti aqui em Recife, o advogado criminalista reclamava da exibição de fetos assassinados – produtos do aborto – cobertos de sangue que era feita à época dele nos debates sobre o aborto, alegando que não dava para debater o assunto com seriedade após o choque provocado por imagens tão fortes. Acontece que essas “imagens tão fortes” são exatamente o assunto que se está debatendo, de modo que não dá para debater sobre algo sem ter uma idéia clara do que está em discussão. Fosse num mundo mais afeito aos processos intelectuais – fosse na Idade Média -, provavelmente seria possível à enorme maioria das pessoas conceberem o que significa um aborto sem precisarem ver um. No nosso século desgraçado, contudo, onde as pessoas esqueceram como se pensa e só conseguem raciocinar sobre aquilo que vêem, mostrar o banho de sangue – pôr a descoberto o cadáver oculto – é fundamental.

No mesmo debate, a feminista da ONG pró-aborto dizia que a mulher pode ter “um projeto de vida” frustrado por uma gravidez indesejada, de modo que não seria justo que ela abdicasse dos seus sonhos por conta de um filho que ela não tinha então condições de criar. Citou até o exemplo de “terminar a faculdade”. Pois bem, esta jovem de Sapucaia do Sul era estudante universitária e certamente tinha “um projeto de vida” que viu ameaçado pela gravidez, de modo que decidiu abortar a filha e escondê-la, de pernas quebradas, dentro de uma bolsa. Não há “projetos de vida” que justifiquem a eliminação voluntária de uma vida inocente. A jovem de Sapucaia do Sul que encarna os sofismas da sra. Sílvia Regina está presa na Penitenciária Feminina Madre Pelletier, em Porto Alegre. Querem os senhores abortistas discutir sobre o aborto? Discutam-no à luz deste triste caso ocorrido no Rio Grande do Sul!

Defender o aborto é ter um grave defeito intelectual e/ou moral. Não existe nenhuma condição de se tratar um abortista como se fosse uma pessoa na plena posse de suas faculdades mentais; ele não é. Todo abortista é capaz de “raciocinar” como o amigo do Puggina citado no artigo dele. E, diante de pessoas assim, às vezes a melhor coisa a fazer é mesmo mandá-las “para um lugar bem feio” e afastá-las das esferas de decisão da sociedade. É óbvio que quem defende que os assassinatos possam ficar impunes não tem nenhuma condição de legislar ou de julgar.

A Via-Sacra da Campanha da Fraternidade

Vale a pena ler o artigo do Percival Puggina  sobre a Campanha da Fraternidade; é muitíssimo oportuno porque – e isto precisa ficar claro – esta Campanha da Fraternidade deste ano não é somente inútil, é errônea mesmo, transmitindo valores [no mínimo] questionáveis e propagando idéias [no mínimo] estranhas. O articulista demonstra isso muito bem [vale a pena, repito, ler o artigo inteiro]:

O mesmo matiz ideológico concede uma espécie de indulgência plenária à criminalidade que mais asusta o país, toda ela vista como conseqüência do tipo de sociedade onde vivemos. Denuncia as penas de prisão como “vingança” social e convoca os fiéis a “assumir sua responsabilidade pessoal no problema da violência”. Trata-se, em resumo, da velha luta de classes, segundo a qual as vítimas da criminalidade são socialmente culpadas, ao passo que os criminosos são inocentados por inexistência de outra conduta exigível. É a tese do Marcola, sendo acolhida pela CNBB.

E é lamentável que os católicos sejam [na prática] obrigados a engolirem este lixo durante a Quaresma. É frustrante que os nossos bispos, que deveriam ser sentinelas fiéis zelosos pela integridade da Sã Doutrina, pouco ou nada façam para proteger os fiéis destes perigos. A coisa é particularmente grave em cidades de interior, sobre as quais posso falar um pouco porque, já há alguns anos, participo das atividades da Juventude Missionária na Semana Santa. Todo ano vamos a uma cidade diferente; em todas elas, a situação é muito diferente daquela que encontramos na capital. O único ponto de contato daquelas pessoas com a Igreja é o seu pároco – cercado pelos leigos que o ajudam no desempenho das atividades paroquiais. Se elas recebem, destes, lixo “CFista” no lugar de Doutrina Católica, vão acreditar piamente que a Doutrina Católica é o conjunto das besteiras contidas nas Campanhas da Fraternidade.

Conto um caso. Não me lembro da cidade, mas me lembro do fato: 2007, sexta-feira santa, quatro horas da manhã, via-sacra. Todo o povo da cidadezinha reunido. Nós, recém-acordados, não percebemos a tragédia: ia ser rezada a via-sacra da Campanha da Fraternidade. Amazônia. Infelizmente não a consegui encontrar na internet, mas recordo-me que era repleta de coisas como “rios e pororocas”, e “mártires índios”, e “irmã Dorothy Stang” e coisas do gênero. Nós não rezamos. E ficamos contemplando aquele povo simples, inocente, piedoso, em procissão de madrugada, rezando qualquer coisa tosca e estranha ao catolicismo como se fosse a Via Sacra de Nosso Senhor.

Não estou exagerando: estas orações não são católicas. Encontrei neste documento da Diocese de Cachoeiro [v. Anexo 01] a Via Sacra 2009. Só à guisa de exemplo:

  • Primeira Estação: “O nosso país é marcado por grandes escândalos. Corrupção, tráfico de influências, desvios de verbas, entre outros, estão sempre presentes no nosso noticiário. São crimes que trazem trágicas conseqüências para a nossa sociedade (…). O pobre é quase sempre preso, mas as pessoas que pertencem às altas rodas do crime estão apenas respondendo processos e recorrendo às instâncias diversas do sistema judiciário, e muitas vezes até conseguindo da opinião pública a aprovação de seus atos, com a expressão: ‘esse rouba, mas faz!'”.
  • Canto: “Ó Senhor, Caminho e Vida / o Brasil pede perdão / Pelas mortes e agressões” – tiraram os tradicionais versos à Virgem Santíssima!!
  • Sexta Estação: “Assim como essa mulher [Verônica] que se aproxima de Jesus, existem entidades e organizações que trabalham com a formação da consciência das pessoas e com a organização da sociedade para que aconteça a luta por direitos e por uma nova sociedade fundamentada em uma nova hierarquia de valores que tem no seu topo a pessoa humana e a sua dignidade”.
  • Décima Estação (Oração): “Livrai-nos da concentração dos bens nas mãos de poucos. Ajudai-nos a colocar, fraternalmente, nossos bens a serviço do povo desta terra”.
  • Décima Quarta Estação: “Enquanto os poderosos chefes dessa rede de produção e distribuição [narcotráfico] dispõem de muitos meios para escapar da repressão policial, inclusive fazendo a “lavagem de dinheiro”, os pequenos traficantes e os usuários de droga acabam atrás das grades ou mortos pelos becos das favelas. São culpados também, mas é injusta a diferença de punição dos pequenos e a impunidade dos grandes”.

É já difícil imaginar um excremento desta magnitude sendo impresso e distribuído com a assinatura da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil; contudo, ainda mais doloroso é ver o povo humilde rezando isso, de madrugada, com a melhor das boas intenções, acreditando que está praticando o catolicismo tradicional que receberam de seus pais. Isso é escandaloso, ignominioso, vergonhoso, ultrajante, revoltante, é um pecado que brada aos Céus. Para piorar, já existe o regulamento para o concurso do Hino da Campanha da Fraternidade 2010, cujo tema éEconomia e Vida! Isso não pode ficar assim. Já basta de ofender a Nosso Senhor. Queremos uma Quaresma de verdade.

Aborto, questão inegociável

O verdadeiro grau de civilização de uma nação se mede pela forma como se protegem os mais necessitados. Por isto, deve-se proteger mais àqueles que são mais débeis. Porque o critério não é o valor do sujeito em função dos afetos que suscita nos demais, ou da utilidade a que se presta, senão o valor que resulta de sua mera existência”
[Tabaré Vazquéz, presidente do Uruguai, na mensagem de veto à lei assassina que tencionava legalizar o aborto no país]

O aborto é o crime mais covarde que alguém pode cometer. Tanto que a Igreja fulmina com a Sua pena máxima, a excomunhão, de maneira automática, todos aqueles que colaboraram materialmente para que um aborto possa ocorrer: o “médico” que assassinou a criança, o namorado que pressionou a menina para que ela abortasse, a tia que deu dinheiro para a “consulta”, a amiga que levou a gestante ao matadouro, etc.

Particularmente canalhas são as pessoas que têm a coragem – ou, melhor dizendo, a covardia – de defender o aborto. Todas as “defesas” do aborto são sofismas grosseiros, como já disse certa vez o Percival Puggina. A defesa intransigente da vida humana precisa ser uma bandeira daqueles que ainda têm o seu senso moral intacto. É uma grande verdade que o silêncio dos bons faz com que o vozerio dos maus ocupe todo o espaço.

Aborto não é questão religiosa. Não são “os católicos” que não podem abortar, ninguém pode abortar, porque o ser humano tem uma dignidade intrínseca independente da sua religião ou da ausência dela. Não se pode matar um inocente: isso não é válido somente para os católicos, é universalmente válido, para quaisquer pessoas em quaisquer tempos e lugares. O cinismo de alguns abortistas, querendo transformar os princípios morais mais evidentes em assunto de foro íntimo, precisa ser desmascarado com destemor.

Aborto também não é “direito”, porque ninguém tem o direito de matar um inocente. Não compete à mulher a “decisão” de assassinar ou não o próprio filho. Como disse o presidente do Uruguai ao vetar a lei assassina que havia sido fraudulosamente aprovada, é na proteção aos mais necessitados que se avalia o grau de civilização de uma sociedade. É óbvio que o Estado deve defender os necessitados, sendo por conseguinte evidente que o aborto não pode receber apoio estatal. Deve, ao contrário, ser diligentemente combatido.

Já disse aqui outra vez, mas repito: o maior inimigo da paz é o aborto. Palavras de Madre Teresa, cujo argumento é simplesmente irrefutável: se nós dissermos às mães que elas podem matar os próprios filhos, não poderemos dizer às pessoas que elas não podem se matar umas às outras. Afinal, quem pode o mais, pode o menos; e se uma mãe puder matar o próprio filho, é óbvio que ela vai poder também matar um desconhecido. Isto é tão evidente que só um abortista consegue não entender.

Não sou nada adepto das apresentações de Power Point, mas esta contém uma preciosa refutação aos “motivos” alegados pelos abortistas para “justificar” o assassinato de crianças indefesas. Falo exatamente em “motivos”, e não em “argumentos”, porque são coisas completamente distintas; afinal, citando o Puggina, “[o] fato de que praticamente todos os crimes sejam praticados com algum motivo mais ou menos grave não os descaracteriza como crimes em si mesmos”. Não cabe “à mulher” decidir, porque princípios não são passíveis de “decisões”, e sim de aplicações. O princípio de que a vida é inviolável não é para ser “decidido”, e sim aplicado.

É neste sentido que merece os nossos mais sinceros parabéns o presidente do Uruguai. Ele não teve medo do lobby abortista, nem da fraude por meio da qual a lei iníqua foi aprovada. Não titubeou ante a ameaça dos assassinos, mas teve a coragem de levantar a sua voz em defesa dos nascituros. Vetou a lei assassina, e redigiu uma bela apologia do direito à vida. Que o exemplo suscite seguidores; e que a Virgem Santíssima possa abençoar em abundância o presidente Vazquéz e todo o povo uruguaio.