Dom Afonso I, o Apóstolo do Congo

[A história é muito bonita para que a permitamos ser esquecida pelo pouco caso que o Facebook devota a tudo que não seja up-to-date. Copio-a aqui na íntegra.

Em fins do século XV, em pleno recrudescimento da escravidão negra, a Igreja estendia a Boa Nova do Evangelho aos povos da África subsaariana; enquanto negros eram traficados para o Novo Mundo como escravos, a Igreja os sagrava bispos e os enviava de volta à sua terra natal.

Isto é história. O resto é ranço anti-clerical setecentista, do qual já está mais do que na hora de nos livrarmos.

Fonte: Missionários da África.]

A história de Dom Afonso I, o Novo Constantino, o Apóstolo do Congo, o Carlomagno da África

Poucos sabem que o cristianismo na África tem uma origem muita antiga, que se confunde com os primórdios da fé. No norte africano o Evangelho chegou com a pregação dos Apóstolos e logo se encarnou na vida dos povos locais. Coptas, berberes, gregos e romanos abraçaram a Boa Nova. Na Núbia, a Igreja também se instaurou e na Etiópia a Fé está vinculada com as histórias do Antigo Testamento. Contudo, o que é ignorado é que o cristianismo na África subsaariana é mais antigo do que a evangelização da América.

Tudo começa com o ardor do Infante Dom Henrique, o visionário das Grandes Navegações. Motivados pelo interesse de chegar às Índias e descobrir o Reino cristão desconhecido – a Etiópia – os portugueses se lançaram ao mar, descobrindo o vasto continente africano. Nasce, portanto, o desejo de disseminar a fé cristã entre esses povos, anunciando a Boa Nova de Nosso Senhor Jesus Cristo. A Divina Providência, contudo, suscitou um homem dotado de muitos dons e de uma busca incessante pelo Senhor: Nzinga Mbemba (1456 – 1542), filho de Nzinga a Nkuwu, Rei do Congo.

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Esse homem, que ficou conhecido como o “Novo Constantino” e o “Apóstolo de Congo”, foi o instrumento de Deus para o início da evangelização da África subsaariana. Ele era neto do fundador do reino, que conseguiu unificar as tribos, e como filho primogênito herdaria o trono.

Os portugueses aportaram no Congo em 1482 e em 1485 os dois reinos já tinham enviados embaixadores para as suas respectivas cortes. Em 1487 já chegavam de Lisboa quatro congoleses formados na Europa e dispostos a evangelizar o reino africano. Em 1491 mais missionários vinham de Portugal, estabelecendo missões. Tanto o Rei como o seu filho estavam felizes com o advento do cristianismo. Em 3 de maio desse mesmo ano ambos foram batizados. Agora Nzinga Mbemba era Afonso, Príncipe do Congo. Assim, o seu reino se tornava oficialmente cristão, como disse o Papa Paulo VI: “O Congo pode ser realmente chamado de o filho mais velho da Igreja na África negra”.

Afonso assim relata a sua conversão: “A graça do Espírito Santo nos iluminou com um favor único e especial, a nós regalado pela Santíssima Trindade (…) Nós recebemos a doutrina cristã tão bem que, pela misericórdia de Deus, ela foi a cada momento melhor se implantando em nossos corações. Nós definitivamente renunciamos todos os erros e idolatrias que nossos ancestrais do passado acreditaram”.

Entretanto, apenas Afonso se mostrou fiel à mensagem cristã. Muitos dos batizados retornaram aos “erros” dos ancestrais, como a poligamia e a feitiçaria. Seu outro irmão conseguiu junto ao pai que o príncipe devoto fosse exilado, juntamente com os missionários, numa província. Afonso dizia que “estava longe da face do Rei, mas feliz por sofrer pela fé de Nosso Senhor”. Sabendo da morte iminente do pai, Afonso resolveu lutar pelo seu legítimo direito de primogênito, e juntamente com chefes tribais cristãos marchou rumo à capital. Ali se depararam o imenso exército de seu irmão, formado pelos adeptos da idolatria. Antes do primeiro ataque, o pequeno grupo de cristãos se ajoelhou e invocou a intercessão de Santiago, devoção levada pelos portugueses. Quando perceberam, todos os seus inimigos estavam correndo em disparada, garantindo uma vitória fácil ao exército de Afonso. Seu irmão foi capturado e executado. Os inimigos explicaram, depois de capturados, que viram no céu uma cruz branca, Santiago e uma grande quantidade de guerreiros em cavalados negros. Impactado com esse relato, o Rei Afonso rendeu glória a Deus, fez de Santiago o patrono do Congo e mandou gravar no escudo do reino a história dessa vitória, para que fosse perpetuada.

Dom Afonso iniciou o processo de evangelização do Congo. Nos lugares de culto da antiga religião mandou construir igrejas. O antigo chefe do culto pagão, guardião da água sagrada, tornou-se cristão, Dom Pedro, e passou a ser o guardião da água batismal das igrejas. Em seguida foi enviado para Lisboa como embaixador. O Rei passou a pregar depois de cada Missa, conclamando os fiéis para que rezassem e pedissem mais missionários.

Um novo grupo de missionários chegou ao Congo em 1508. Foram recebidos com grande entusiasmo por Dom Afonso, que fez uma belíssima pregação, passando por toda a história da salvação, desde Adão e Eva chegando à Redenção em Cristo. Contudo, ainda sendo apresentados como “santos servos”, os missionários se mostraram homens de escândalo. Em carta enviada para o Rei de Portugal, Afonso diz: “Nesse reino a fé ainda está frágil como um vidro devido ao mau exemplo daqueles que vieram pregá-la (…) Hoje Nosso Senhor é crucificado de novo pelos muitos ministros do Seu Corpo e Sangue. Nós preferíamos não ter nascido para ver como nossas inocentes crianças (…) vão para a perdição graças a esses maus exemplos”. A situação se tornou tão escandalosa que o Núncio em Lisboa sugeriu ao Papa que a esses missionários fosse aplicada a lei dos orientais, permitindo que se casassem. Outra opção apresentada foi a evacuação do Congo de todos os brancos, clérigos e leigos, substituindo-os por gente nova de boa conduta.

A esperança de Dom Afonso era a formação de um clero autóctone. Em 1508 um grupo de congoleses foi enviado para Lisboa, para iniciar os estudos seminarísticos. Entre eles estava Dom Henrique, seu filho. Em 1520 este foi ordenado sacerdote e em 1521, com permissão pontifícia, foi sagrado bispo – o primeiro bispo negro da Igreja -, sendo nomeado Auxiliar de Funchal, na Ilha da Madeira, da qual dependia até então o Reino do Congo. Como Bispo, esforçou-se para aumentar o número de missionários no reino e ver erigida uma diocese no país. Infelizmente Dom Henrique faleceu prematuramente um ano antes da viagem para Lisboa. O Rei também queria fazer um ato de submissão à Roma, para evitar depender religiosamente dos portugueses.

Dom Afonso era um verdadeiro Rei cristão, preocupado com a evangelização do seu reino, com a justiça e com a educação. Abriu escolas para as meninas, combateu a escravidão e lutou pela manutenção da independência de seu país frente aos portugueses. Um contemporâneo seu, em carta ao Rei Manuel de Portugal, diz: “Seu cristianismo é tanto que parece para mim não o de um homem, mas o de um anjo que Deus enviou a esse reino para convertê-lo. Fala tão bem e com tanta segurança que parece que o Espírito Santo constantemente fala através dele. Durante suas audiências ou na resolução de um litígio, Dom Afonso somente fala de Deus e dos santos”. Ao final de sua vida, o Rei viu o aumento da oposição portuguesa em São Salvador, a capital. Muitos estavam incomodados com a proibição do comércio de escravos. Em 1540, Dom Afonso foi alvo de um atentado, armado por um sacerdote, durante a Santa Missa, mas de modo miraculoso saiu ileso. Dom Afonso faleceu três anos depois, com 85 anos e uma fé inabalável. Com sua morte, seu filho Pedro foi feito Rei. Em 1596 foi erigida, finalmente, a diocese de São Salvador do Congo, a primeira da África subsaariana. Hoje nós a conhecemos como Arquidiocese de Luanda.

A história desse bravo e santo homem nos mostra a força da fé e o ardor daqueles que buscam a santidade. Dom Afonso estava movido pelos sentimentos de Cristo, por isso via como urgente a evangelização do Congo. A Igreja, que jamais teve motivações racistas, esforçou-se desde sempre para a promoção do cristianismo entre os africanos. A existência de sacerdotes e bispos congoleses já no século XVI é um resposta acachapante àqueles que reproduzem afirmações mentirosas sobre a nossa fé. Que o exemplo de Dom Afonso seja sempre recordado, o seu modelo de catolicidade que ultrapassando os obstáculos geográficos e culturais consagrou-se pela propagação do Evangelho.

Nota de Falecimento: Fernando Castro, “pai” das Famílias Numerosas

Recebi de um amigo de Portugal a notícia do falecimento do sr. Fernando Castro, «fundador e principal motor (…) da Associação Portuguesa das Famílias Numerosas (APFN)».

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Eu não o conhecia pessoalmente, mas já havíamos trocado emails. Foi ele quem disponibilizou os vídeos sobre envelhecimento da população que eu divulguei certa vez aqui no blog. Buscando agora as mensagens transatlânticas que dele recebi, encontrei numa delas um gentil post scriptum dizendo «[s]e calhar, qualquer dia, teremos oportunidade de nos conhecermos pessoalmente».

Infelizmente essa oportunidade não chegou. O Sr. Fernando foi convocado à Casa Paterna antes que eu pudesse encontrá-lo pessoalmente aqui neste Vale de Lágrimas; mas as nossas peregrinações se cruzaram ao menos por um instante, ao menos no combate comum a uma cultura decadente e suicida que leva as pessoas a enxergarem nos filhos uma ameaça ao presente ao invés da esperança do futuro. E isso foi engrandecedor para mim.

Quem não conhece o trabalho realizado pela APFN pode visitar o site da Associação. E faço eco ao que escreveu um amigo do Sr. Fernando por ocasião da sua morte:

É uma perda a sua morte, mas também um ganho: um reforço no Céu. Imagino-o espantado e contente (tinha um coração puro e ingénuo como uma daquelas criança das que nos falam os Evangelhos) junto de Deus  a Quem sempre serviu e já inquieto e mobilizador a ajudar-nos desde esse posto onde um dia, todos juntos, pela Sua Misericórdia, faremos uma grande festa!

Sim, que a Virgem Santíssima o receba depressa nas Moradas Celestes, e que de lá ele continue a interceder por nós outros que continuamos nessa caminhada, esperando merecer chegar também um dia ao Encontro definitivo com o Deus para Quem fomos criados.

Requiem aeternam dona ei, Domine,
et lux perpetua luceat ei.

Requiescat in Pace,
Amen.

Orientações sobre práticas penitenciais

Esses dias alguém me perguntou sobre se devia manter ou não a penitência quaresmal durante os Domingos da Quaresma. A pergunta revela um sadio interesse sobre os tempos litúrgicos da Igreja e oferece ensejo para esclarecer alguns termos que costumam aparecer juntos e, por isso, provocam às vezes confusões.

Em um apêndice (o X) ao Código de Direito Canônico disponível no site da Santa Sé encontram-se as «Normas de observância penitencial para as dioceses portuguesas». Vale a pena conhecê-las, mesmo em se tratando de um documento de uma Igreja Local, uma vez que as definições e as práticas lá mencionadas são tradicionais em toda a Igreja.

O jejum é «a forma de penitência que consiste na privação de alimentos» (Normas, 3.). A abstinência, a «escolha de uma alimentação simples e pobre» (Normas, 4.), definição que permite compreendê-la melhor do que falar simplesmente em «abstenção de carne». Todo católico está obrigado a deixar de comer carne nas sextas (no Brasil há indulto da Conferência que permite trocar essa abstenção por outra forma de penitência à escolha do fiel, mas isso é outra história); mas simplesmente trocar a carne por um farto rodízio de Sushi talvez não o permita vivenciar com igual fruto o significado da abstinência das sextas-feiras. Isso vale uma reflexão.

Jejuar é privar-se de alimentos. Certo, mas de que maneira? Nesses tempos penitenciais costumam aparecer explicações bem didáticas sobre como se pode jejuar. Não sei de onde saem os diferentes tipos de jejum, e imagino que isso seja de piedade pessoal ou costume local. Sei que o jejum (digamos) “canônico” é o que consiste em fazer somente uma refeição completa no dia, reduzindo-se as demais. Salvo melhor juízo, costumes locais (digamos, jejum absoluto até a hora do almoço e alimentação comedida a partir de então) cumprem o preceito da Quarta-Feira de Cinzas e da Sexta-Feira da Paixão (os dois dias do ano em que os católicos estão obrigados a jejuar).

Penitência é gênero do qual jejum e abstinência são espécies. É qualquer ato humano orientado à conversão; ou, como a conceituou João Paulo II,

penitência significa, no vocabulário cristão teológico e espiritual, a ascese, isto é, o esforço concreto e quotidiano do homem, amparado pela graça de Deus, por perder a própria vida, por Cristo, como único modo de a ganhar: esforço por se despojar do homem velho e revestir-se do novo; por superar em si mesmo o que é carnal, para que prevaleça o que é espiritual; e esforço por se elevar continuamente das coisas de cá de baixo para as lá do alto, onde está Cristo (Reconciliatio et Paenitentia, 4).

Em resumo, fazer penitência é mortificar-se, e mortificação é qualquer exercício que tenha por objetivo domar a vontade. Assim são penitenciais o jejum e a abstinência (sacrificando o prazer da alimentação), a esmola (enfraquecendo o nosso apego aos bens materiais em prol das necessidades dos outros), a própria oração etc. E é também penitência, em suma, qualquer sacrifício de prazer legítimo que se faça durante a Quaresma: «por exemplo, privar-se de fumar, de algum espectáculo, etc» (Normas, 9.).

Todos os cristãos estão sempre obrigados à penitência no sentido latu (cf. CIC 1249), e devem fazê-la a vida inteira. Certos tempos têm um caráter penitencial mais acentuado (como a Quaresma) e, portanto, devem neles os fiéis empregarem maior diligência em se penitenciar. À abstinência estão obrigados os fiéis maiores de 14 anos em todas as sextas-feiras do ano que não coincidam com solenidades (cf. CIC 1252) e, ao jejum, os cristãos entre 18 e 60 anos (cf. id. ibid.) na Quarta de Cinzas e na Sexta da Paixão.

Não se faz jejum aos Domingos, nem mesmo nos da Quaresma. Mas faz-se penitência na Quaresma, inclusive aos Domingos. Este é o espírito. Como o viver concretamente é matéria de piedade particular, a ser decidida pelo fiel em conjunto com seu confessor ou diretor espiritual. O que é realmente importante é distinguir os tempos: é viver a penitência do tempo comum de modo mais brando do que a penitência quaresmal, e a alegria de um Domingo da Quaresma de uma forma mais contida do que em outro Domingo mais festivo. Esta é a vida cristã, cuja essência não desconhece nem a dor do pecado nem a alegria do perdão: é por meio daquela que chegamos a esta. Aqui não há verdadeira oposição entre penitência e alegria. Entendê-lo é fundamental para viver com fruto este e todos os tempos litúrgicos.

“E que é que Vossemecê me quer?”

Hoje é o dia de Nossa Senhora de Fátima, é o dia em que, há quase cem anos, três pastorinhos portugueses encontravam-se pela primeira vez com aquela Senhora que Se dizia do Céu. A história é-nos por demais conhecida, mas nunca é demais relembrá-la; porque a sua força transcende os anos e as décadas e nos desconcerta ainda nos dias de hoje. Três crianças e uma Senhora vinda do Céu.

“E que é que Vossemecê me quer?” A pergunta, feita em 1917 por uma criança, bem poderia ser repetida por cada um de nós. Ó Senhora, o que é que quereis de mim? Devíamos fazê-la e fazê-la de novo a cada dia, colocando-nos à disposição d’Aquela que o próprio Senhor nos deu por Mãe e que, a despeito de nossa incredulidade e dos nossos pecados, dignou-Se aparecer para nós. Que mistério assombroso é o dessa aparição, o que ela significa na nossa vida? Eis uma pergunta que deveríamos fazer a cada dia! Afinal, foi precisamente isto o que Bento XVI nos disse em Portugal, há exatos três anos, quando celebrou a sua última missa diante da esplanada do Santuário de Fátima: «Iludir-se-ia quem pensasse que a missão profética de Fátima esteja concluída». E nós, que tivemos a imerecida graça de conhecer as maravilhas realizadas em Fátima, o que devemos fazer? O que o Todo-Poderoso espera de nós? O que esta Senhora nos quer?

Fátima, todos sabemos, é a grande resposta à incredulidade de um mundo que, no início do século XX, já começava a virar as costas a Deus. A seqüência de aparições hoje inaugurada culminou, em 13 de outubro de 1917, com o grande milagre do sol, presenciado por milhares de pessoas. Ora, de todos os milagres realizados por Nosso Senhor nos Evangelhos, talvez somente o da Multiplicação dos Pães pode ser comparável a este em número de testemunhas; como é possível que isto não nos signifique nada?

E, naquele dia de outubro de 1917, os incrédulos de todos os naipes foram a Fátima. E voltaram assombrados: nós temos os registros dos que foram testemunhas oculares do «macabro bailado do sol» daquele dia 13 terrível. Está lá:

Resta que os competentes digam de sua justiça sobre o macabro bailado do sol que hoje, em Fátima, fez explodir hossanas dos peitos dos fieis e deixou naturalmente impressionados – ao que me asseguraram sujeitos fidedignos os livres pensadores e outras pessoas sem preocupações de natureza religiosa que acorreram à já agora celebrada charneca.

Mas seria muita impiedade de nossa parte reduzir a mensagem de Fátima àquilo que ela tem de maravilhoso. A Santíssima Virgem não teria descido dos Céus apenas para balançar o Sol sobre as cabeças dos livres-pensadores que, já naquela época, empestavam Portugal. A incredulidade contra a qual se levanta a Virgem de Fátima é também a nossa incredulidade: a nossa desesperança, a nossa dureza de coração.

Dureza de coração, porque pecamos; e, mesmo com todas as mercês que Deus tem nos concedido, parece que temos um prazer mórbido em continuar pecando! Contra esta ofensa horrenda que dedicamos ao Todo-Poderoso, aquela Senhora Terrível nos levanta o tríplice brado de “Penitência!” que o Anjo do Terceiro Segredo dirige a toda a terra. E, contra a desesperança à qual podemos ser conduzidos ao contemplarmos desolados os escombros da Cidade de Deus, a Bondosa Senhora do Céu nos promete que, no final, triunfará o Seu Imaculado Coração.

Aproximamo-nos do Centenário das aparições de Fátima; vai fazer um século! Mas, se voltarmos os nossos olhos para a Cova da Iria com olhar sobrenatural, percebemos que bem poderia ter sido ontem. O mundo não parece estar menos incrédulo do que em 1917, e os pecados então cometidos não parecem mais graves do que estes com os quais ainda hoje ofendemos a Deus. Como é possível que coisas tão extraordinárias nos tenham acontecido e, mesmo assim, estejamos tão parecidos com o que éramos antes…? Voltemo-nos para Fátima, aproximemo-nos humildemente desta Amável Senhora. Perguntemo-Lhe o que Ela deseja de nós. Ouçamos o Seu pedido por penitência que temos sido tão negligentes em atender; e comecemos a fazer a nossa parte para sermos um pouco mais o que Ela nos chama a ser. Talvez assim Deus Se compadeça de nós. Talvez assim Ele nos conceda a graça de contemplarmos o prometido Triunfo do Imaculado Coração de Sua Mãe.

Aborto: indiferença diante da vida humana

Sobre as profundezas da aberração moral às quais o ser humano é capaz de chegar quando coloca o seu egoísmo acima do cuidado do próximo – principalmente aqui, quando este “próximo” em questão é tão próximo que está alojado dentro do próprio corpo da mulher – vale a pena lembrar a história de Irene Vilar. Porto-riquenha que passou a maior parte da vida nos Estados Unidos, a mulher realizou nada menos do que quinze abortos entre os 16 e os 33 anos. Ela se auto-define como uma “viciada em abortos”.

“Quando vinha o período ficava triste. Se descobrisse que estava grávida ficava com medo, mas excitada”, disse numa entrevista televisiva. “Não quer dizer que quisesse continuar a fazê-lo. Uma drogada também quer parar.”

Esta história basta para ilustrar com eloqüência o quão grande é a falácia de que as mulheres não abortam por motivos fúteis. Ainda excetuando-se o fato de que a esmagadora maior parte das razões que levam uma mulher a abortar é fútil em comparação com a vida da criança assassinada, o mundo infelizmente nos mostra que existem mulheres capazes até mesmo de arranjar razões em si mesmas fúteis para assassinar o filho que carregam no ventre. Irene tanto queria engravidar quanto abortar. Como disse o “Aborto em Portugal”:

O vício de Irene Vilar, para além dos mesmos resultados práticos, tem a mesma motivação de qualquer defensor da legalização do aborto. Matar porque se quer matar. Poder matar, quando se quer matar. Em duas palavras: psicopatia e maldade.

Lembrei-me da história ao ler sobre a criança doente que um juiz mandou matar na semana passada. A pedido da mãe! Como alguém comentou no Twitter, há pessoas que parecem pensar que seus filhos são brinquedos, passíveis de serem simplesmente descartados se vierem com “defeito”. É esta monstruosa indiferença diante da vida humana – principalmente da mais frágil – que a cultura da morte consegue provocar onde ela é implantada. Elimina-se a natural empatia para com um outro ser humano que sofre: ao contrário, quer-se afastá-lo da vista, eliminá-lo, descartá-lo, a fim de que a dor dele não venha a se tornar um obstáculo ao prazer do qual se acredita a vida ser feita. Na parábola do Bom Samaritano, seria ainda pior do que ver o homem caído e passar adiante: seria empurrar o homem n’algum precipício próximo, ou enterrá-lo mesmo ainda agonizante, qualquer coisa que o tirasse do meio do caminho e impedisse a sua dor repugnante de tornar desagradável a bucólica viagem de Jerusalém a Jericó. Um país que permite o assassinato de suas crianças não é um país “evoluído”, muito pelo contrário: uma sociedade dessas é triste e doente.

Nestes tempos sombrios, é oportuno ler a recente nota de D. Fernando Rifan sobre o aborto, que inclusive foi reproduzida por ZENIT. Destaco:

Assim sendo, como os inimigos não dormem, em maio desse ano, foi lançada uma nova estratégia para impor o aborto por outras vias nos países que insistem em não legalizá-lo. Considerar o aborto uma questão de saúde. A justificativa é a seguinte: as mulheres que estão decididas a abortar devem, segundo eles, ser acolhidas pelos sistemas de saúde para não arriscarem suas vidas em procedimentos de abortos clandestinos. Os governos têm o dever de orientar a gestante sobre qual a melhor forma de usar os métodos abortivos, especialmente os medicamentos abortivos, a fim de garantir o acesso à saúde que é um direito do cidadão e um dever do Estado. Dizem ainda, que os governos não farão o aborto na mulher, por isso, não cometerão nenhum crime. Eles apenas irão “orientar” a mulher que já está decidida e isso não pode ser considerado crime. Ou seja, o erro junto com a verdade, o mal com aparência de bem, enganando assim mais facilmente. E pouco a pouco se introduz o aborto.

Os inimigos do gênero humano assaltam-nos por todos os lados. As investidas vêm por todas as frentes. Não nos é permitido abaixar a guarda; não nos tempos que hoje correm. Que Nossa Senhora Aparecida livre o Brasil da maldição do aborto. Que, a despeito dos nossos pecados, Deus nos ajude e impeça que o opróbrio do aborto se torne uma nódoa infame nesta Terra de Santa Cruz.

Inquisição em Portugal: debate na TV

Este vídeo é antigo, mas eu só vi hoje. Trata-se de um debate sobre a Inquisição em Portugal entre um historiador, o professor Jorge Martins, e um padre [acho que jesuíta p.s.: na verdade, conforme me informou um leitor de Portugal, o sacerdote é do clero diocesano e membro do “Comunhão e Libertação”], o pe. João Seabra, feito em um programa de televisão português, o RTP Memória, que foi ao ar em 7 de novembro de 2005.

Excerto:

Jorge Martins: – Foram 24.000 as vítimas da Inquisição em menos de 200 anos, 1.000 das quais condenadas às fogueiras e, portanto, pode-se dizer que, em termos da população portuguesa, foi um drama imenso pra toda a sociedade porque muitos outros foram perseguidos, foram estigmatizados, foram expulsos, tiveram que fingir. (…) De fato a Inquisição foi uma organização terrorista e criminosa. O papel da Inquisição foi terrível na sociedade portuguesa. Tem que se dizer isso claramente e com todas as letras.

Pe. João Seabra: – Bem, em primeiro lugar, a Igreja não Se conhece, de maneira nenhuma, na descrição do passado que fez o prof. Jorge Martins. É uma descrição cheia de paixão e de comoção e de indignação há quatro séculos de distância, mas que não corresponde aos fatos. (…) Diante dessa mentalidade [da época], a Inquisição Portuguesa foi seguramente muito menos violenta contra as minorias religiosas que efetivamente perseguiu do que as perseguições religiosas da Europa Central, da França, da Suíça, da Inglaterra, da Noruega.

[…]

[Tratar a Inquisição Católica Portuguesa e Espanhola] como se fosse um caso único no contexto da uniformização religiosa que se seguiu às guerras da religião é uma falta de rigor histórico completa. E basta dizer (…) que houve mil executados em 200 anos (…) cinco por ano, em cinco [ou] três tribunais que funcionam, quer dizer que houve duas condenções à morte em Évora, duas em Lisboa e uma no Porto. Ora, era num tempo em que os tribunais civis condenavam à morte dezenas pessoas por ano. Quer dizer, a pena de morte era aplicada (…) para os crimes mais insignificantes. Quer dizer, das pessoas que morriam condenadas à morte em Portugal todos os anos às dezenas, cinco eram condenadas pela Inquisição. Portanto é evidente que o clima de terror judiciário não era imposto pela Inquisição, as pessoas tinham muito mais medo da polícia civil.

Igreja Católica enaltecida em abertura do Ano Judicial, em Portugal

Senhor Presidente da República, senhor Presidente da Assembléia da República, senhor Ministro da Justiça, no meio deste  panorama – cujas conseqüências não estão ainda totalmente diagnosticadas – quero deixar uma nota final para enaltecer o papel da Igreja Católica, e ilumiadamente realçar a ação altamente meritória que as várias organizações d’Ela pendentes têm realizado um pouco por todo o país, atenuando as conseqüências mais dramáticas da pobreza que têm vindo alastrar. A Ordem dos Advogados é uma entidade laica; e eu próprio, que não sou católico e nem sequer religioso, queremos aqui louvar publicamente a ação humanitária levada a cabo por centenas ou milhares de católicos anônimos que, movidos apenas pelos impulsos mais generosos da sua Fé, ajudam os seus semelhantes a suportar as agruras da miséria que se tem abatido sobre um número crescente de portugueses. Por essa ação é que deixo na pessoa de Vossa Excelência, senhor Cardeal Patriarca de Lisboa, o meu muito obrigado. Tenho dito.

– Dr. Marinho e Pinto
Sessão Solene de Abertura do Ano Judicial.

Madre Joanna Angélica de Jesus, Mártir da Fé

Esta é uma das histórias que eu ouvi em Salvador. Madre Joana Angélica, morta ao tentar impedir que soldados profanassem o Convento da Lapa. Até o momento, considerada heroína da Independência; mas é também, e principalmente, mártir da Fé.

“Só passareis por cima do meu cadáver!”, disse aos soldados que tentavam invadir o convento, abrindo os braços e colocando-se defronte à porta. Foi então violentamente atacada a golpes de baioneta. Conforme nos contaram no convento, ainda conseguiu arrastar-se até a Capela e morreu diante do Santíssimo. As irmãs que estavam no convento conseguiram fugir pelos fundos. Soror Angélica de Jesus entregara a própria vida, mas protegera as suas religiosas. E todo mártir da Fé merece a honra dos altares.

As fotos abaixo foram tiradas por mim mesmo, quando visitei o Convento da Lapa. As reportagens transcritas a seguir foram publicadas no “Jornal do Clube Excelsior”, ano 13, nº 140, edição de fevereiro de 2011, às páginas 6 e 7. O jornal foi-me gentilmente cedido pela secretaria do convento, a quem agradeço.

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JOANA ANGÉLICA, HEROÍNA OU MÁRTIR?

Por Zélia Vianna

De modo geral, os títulos de herói e de mártir são aplicados de maneira indiscriminada como se o significado fosse o mesmo. A palavra herói vem do latim “heros” e aponta para uma pessoa de coragem e determinação, dotada de ideais e sentimentos nobres como fraternidade, solidariedade e justiça. Para os gregos, que cultivavam os feitos épicos de seus heróis, como Ulisses e Aquiles, por exemplo, o herói era um semideus, isto é, alguém que ocupava uma posição entre o humano e o divino. A palavra martírio vem do grego e significa “testemunha”.

O Dicionário Aurélio estabelece uma diferença entre as duas palavras. Herói é o “homem extraordinário por seus feitos guerreiros, seu valor e sua magnanimidade”, e mártir é a pessoa que “sofreu tormentos, torturas ou a morte por sustentar a fé cristã”. Logo, embora haja valores coincidentes, não pode[m] ser enquadrado numa mesma definição aquele que, movido por ideais sociais, políticos e patrióticos, morre defendendo a autonomia e a liberdade de um segmento da população ou de seu país, e aquele que morre porque não aceita abrir mão de suas convicções religiosas.

Herói é o protagonista de um episódio dramático, alguém que, quando movido por um ideal, é capaz de transcender a sua condição humana e atingir um alto grau de coragem, força de vontade e determinação. Mártir é alguém que, através de palavras e ações, testemunha com sua vida aquilo que é e aquilo em que crê. Para a fé cristã, mártir é alguém que prefere morrer a renunciar à sua fé, que entrega a própria vida em defesa da verdade [em] que acredita e que deseja preservar.

Segundo os teólogos, três são as condições para que haja martírio:

[1.] Que se sofra verdadeiramente a morte corporal – Logo, aqueles que sofreram tormentos por amor a Deus e foram perseguidos por causa do Evangelho, mas não até à morte, não são considerados mártires no sentido exato da palavra [estes, são chamados confessores – J.F.].

[2.] Que a morte seja infligida por ódio à verdade cristã – A Igreja considera que houve martírio quando a morte tem como causa a profissão de fé no Deus de Jesus Cristo. Não é necessário, porém, que o perseguidor expresse o seu ódio. Basta que este seja seu verdadeiro motivo, mesmo que ele declare um outro, como fez Nero que, para matar os cristãos, acusou-os de haver incendiado a cidade de Roma. Para a Igreja, martírio não é apenas a morte em conseqüência da explícita profissão de Fé, mas também a morte advinda da prática dessas virtudes. Como exemplo lembramos São João Nepomuceno, que teve os ossos desconjuntados e os membros dilacerados por não ceder às pressões de Venceslau, rei da Boêmia, que queria obrigá-lo a contar o que a rainha lhe dizia em confissão, e São João Fisher, que foi decapitado por ordem do rei da Inglaterra.

[3.] Que a morte seja aceita voluntariamente – A Igreja só considera martírio a morte em que a entrega voluntária da própria vida supera a vontade e o gesto de conservá-la.

À luz dessas reflexões, uma pergunta paira no ar: Joana Angélica é uma heroína da Pátria ou uma mártir da fé?

Sóror Joana Angélica era uma freira da Congregação das Irmãs Concepcionistas. Em 1822, quando o brigadeiro Luís Madeira de Melo veio para Salvador comandar a Província, ela era abadessa do Convento da Lapa. A vinda do brigadeiro português revoltou os soldados brasileiros e a cidade virou um campo de batalha. Certo dia, soldados e marinheiros portugueses, embriagados de álcool e de ódio, a título de perseguir supostos revoltosos, invadiram o Convento da Lapa. A fim de preservar a integridade das monjas, Sóror Joana Angélica ordenou que elas fugissem pelo quintal. Os soldados enfurecidos derrubaram o portão de ferro e Joana Angélica colocou-se entre eles e o segundo portão que dá acesso à clausura onde o Santíssimo Sacramento está exposto. Na tentativa de impedir com seu corpo a entrada dos soldados, ela abriu os braços e exclamou: “Para trás, bandidos. Respeitem a casa de Deus. Recuai, só penetrareis nesta Casa por sobre o meu cadáver”. Foi então assassinada com golpes de baioneta e, ao pé do altar, esvaiu-se em sangue. Era o dia 20 de fevereiro de 1822.

Trinta anos separam as datas da morte de duas conhecidas figuras brasileiras: Tiradentes e Joana Angélica. Reverenciar Tiradentes como um herói da Pátria é motivo de orgulho e dever de todos os brasileiros. Mas, será que negar a Joana Angélica o título de mártir não é diminuir a grandeza da sua profissão de fé no Deus de Jesus Cristo?

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INAUGURAÇÃO DO MAUSOLÉU DE JOANA ANGÉLICA:
UM ACONTECIMENTO DE FÉ

No próximo dia 18 de fevereiro [18 de fevereiro p.p. – J.F.], às 18h, na Igreja da Lapa, será inaugurado o mausoléu onde estão depositados os restos mortais de Madre Joana Angélica de Jesus e suas irmãs da Ordem da Imaculada Conceição, sepultadas no Convento da Lapa entre 1744 e 1912. O ato será marcado por uma celebração Eucarística presidida por Dom Geraldo Majella Agnelo, seguida da bênção do mausoléu, com transmissão ao vivo pela Rádio Excelsior da Bahia.

A construção do mausoléu foi motivada pelo desejo expresso em vida ao Padre Aderbal Galvão pela Irmã Terezinha do Menino Jesus, Abadessa do Mosteiro da Lapa no período de 1972 a 2000 (alternado), com a finalidade de resgatar a verdade histórica sobre a morte de Joana Angélica e honrar a sua memória como mártir da fé.

Os fatos históricos comprovam que nenhum brasileiro envolvido nas lutas de resistência pela consolidação da Independência do Brasil encontrava-se no interior do Convento da Lapa, fato alegado pelas tropas portuguesas para justificar a invasão ao Convento no dia 20 de fevereiro de 1822.

Foi, portanto, não em defesa de patriotas brasileiros, mas em defesa das monjas a ela confiadas e do Santíssimo Sacramento exposto na Clausura, ou seja, em nome da fé cristã, que Joana Angélica abriu os braços e tentou impedir com o próprio corpo a entrada na Clausura de soldados portugueses. Com o martírio, seu sangue juntou-se ao de muitos brasileiros que, em diversos locais do território baiano, entregaram suas vidas pela liberdade da nossa terra

Por uma questão de justiça, Joana Angélica merece não somente o título de heroína que lhe é dado pela sociedade civil, mas também de mártir da fé, por entregar a própria vida em defesa da doutrina e dos valores cristãos.

O projeto do mausoléu, previamente aprovado por Dom Geraldo Majella e pela Abadessa do Mosteiro da Lapa, Madre Lindinalva de Maria, é da autoria do artista plástico Márcio Azevedo e foi construído na parte central do segundo salão da nave da Igreja da Lapa. Era nesse local, conhecido no passado como “coro de baixo”, onde eram sepultadas as monjas falecidas no Convento. No início do século XX os restos mortais das monjas foram removidos para a câmara existente sob a escada de acesso ao Coro, de onde foram recentemente trasladados para o mausoléu.

Toda Família Excelsior Vida está convidada para a solenidade. Venha, divulgue, traga seus amigos para este acontecimento de nossa fé.

Fim da Playboy em Portugal

Ontem eu vi que a Playboy portuguesa publicou uma edição com uma capa blasfema, em “homenagem” a José Saramago, mostrando Nosso Senhor ao lado de uma mulher nua. Agressão absurda e gratuita aos católicos, ofensa – indiscutível – ao sentimento religioso de milhões e milhões de pessoas no mundo afora.

[Também ontem, na mesma hora, não pude evitar o comentário: por que esses cretinos não têm cojones para fazer uma capa “bombástica” dessas com uma foto de Maomé? Por que só ofendem os católicos?]

Hoje, acabei de ler uma notícia que, se for realmente verdade, louvado seja Deus. A Playboy encerrou a edição portuguesa por causa da capa cretina. Na notícia:

Em declarações ao site norte-americano Gawker, Theresa Hennessy, vice-presidente da Playboy Entertainment, não poupou críticas à capa que pretende homenagear o livro ‘Evangelho Segundo Jesus Cristo’: “Não vimos nem aprovámos a capa e restantes fotografias do número de Julho da ‘Playboy Portugal’. Trata-se de uma violação chocante das nossas normas e não teria sido permitida a publicação se tivessemos conhecimento antecipado. Devido a esta e a outras questões com os editores portugueses, estamos prestes a rescindir o nosso acordo.”

Queira Deus que seja verdade. Seria menos pornografia e menos blasfêmias em Portugal.