Homofobia militar

A notícia: Ministro do STM discrimina gay em sabatina. “Indicado para uma cadeira no Superior Tribunal Militar (STM), o general Raymundo Nonato de Cerqueira Filho disse ontem que as Forças Armadas não devem aceitar a presença de gays e sugeriu que eles procurem outras atividades longe dos quartéis”.

A repercussão: o senador Eduardo Suplicy quer que o general seja chamado mais uma vez à CCJ, para explicar como as suas declarações não contrariam a Constituição. Será que o Suplicy vai dar voz de prisão ao general?

Eu concordo, em partes, com a opinião do Reinaldo Azevedo. Mas esta questão me parece ser um pouco espinhosa. Esta discriminação é justa? Em princípio, a vida privada do militar não é um empecilho ao exercício de suas funções nas Forças Armadas… há, no entanto, os problemas apontados pelo Reinaldo e pelo próprio general.

Citando o general, citado pelo articulista da Veja: “Comando, principalmente em combate, tem uma série de atributos e um deles é que o soldado, a tropa, fatalmente não vai obedecer”. Parece-me um argumento bem razoável. Concedamos, para fins argumentativos, que isto seja “homofobia” dos soldados. Qual a solução? Dispensar a tropa e contratar uma mais “moderninha”? Ou simplesmente curvar-se à realidade e, até mesmo por prudência, tirar da posição de comando o indivíduo que não goza do respeito de seus comandados?

E se, ao invés do homossexual, fosse outra coisa? Um bêbado, um adúltero contumaz, ou qualquer outro sujeito cujo comportamento moral seja reprovável e que, minando-lhe o respeito, dificultaria o exercício da liderança dentro das Forças Armadas? Far-se-ia também este escarcéu todo, exigir-se-ia que respeitassem e obedecessem o sujeito ao qual se tem naturalmente uma aversão?

Notem que não estamos falando do “respeito” de tratar a pessoa bem – isso nem entra em questão! Estamos falando da confiança que um subordinado deposita no seu comandante, na lealdade que ele consegue angariar, na liderança que ele exerce. Isso são coisas que simplesmente não podem ser resolvidas “na canetada”. Não podem ser resolvidas por uma lei.

A confiança que um homem deposita em outro não se adquire simplesmente por via legal. Se o sujeito quer ser respeitado, que se dê ao respeito. Sob este aspecto, faz muito sentido o que disse o Reinaldo: “[p]or que eles [os homossexuais] precisam afirmar diante dos seus colegas o que gostam de fazer na cama, entre quatro paredes”? Por mais que esperneiem os gayzistas, não dá para fingir que a homossexualidade é normal. Claro que todo homossexual deve ser respeitado como ser humano, claro que nenhum homossexual pode ser agredido ou assassinado, como vale para todas as pessoas. Mas não é possível forçar as pessoas a que os vejam com admiração, a que aprovem os seus comportamentos morais. Isso a Gaystapo parece não querer ou não ser capaz de entender.

O respeito de mão única

Tolerância moderna I: repórter católico é demitido após discordar do “casamento” gay. Resumindo a história: o “casamento” gay foi derrubado no Maine, uma associação pró-gay enviou um email em massa se lamentando pelo ocorrido, o repórter Larry Grard respondeu – de sua conta de email pessoal – desaforadamente à mensagem, o porta-voz da associação reclamou ao chefe do repórter, o repórter foi demitido, e a sua esposa teve a sua coluna quinzenal cancelada.

Tolerância moderna II: menino é afastado de escola após fazer desenho de Nosso Senhor (!). “O pai do aluno disse ter sido chamado pela direção da escola depois de o seu filho ter feito um ‘desenho violento’ atendendo ao pedido da professora para que as crianças da sala fizessem uma composição que tivesse o Natal como tema”. O desenho violento em questão é uma Cruz como Nosso Senhor Crucificado.

Tolerância moderna III: cartaz blasfemo gera polêmica na Nova Zelândia. “Segundo o vigário da igreja [Anglicana] St. Matthew-in-the-City, Glynn Cardy, a ideia do cartaz era questionar estereótipos e promover o debate entre os fieis sobre o nascimento de Jesus Cristo”. Ele disse ainda “que o objetivo do cartaz era satirizar a interpretação literal da concepção de Cristo”. Ao que me conste, o vigário continua lá e o cartaz continua lá.

Tudo isso seria uma grande piada, se as pessoas que vivem neste mundo enlouquecido não o levassem completamente a sério. É muito difícil argumentar contra o óbvio: se o homem moderno não consegue – e eu até acho que ele não consegue – enxergar a enorme disparidade de tratamento ilustrada nas notícias acima, é muito difícil fazê-lo enxergar, pois o caso é praticamente patológico.

As pessoas parecem realmente achar normal que a religião seja vítima de toda espécie de ofensa e vitupério, que seja debochada, que escarneçam dela, e que ela não tenha nenhum espaço na vida pública ou nenhum direito aos tratamentos reservados a outros – na falta de nome melhor – “grupos sociais”. É perfeitamente normal demitir o repórter que ousou “agredir” os gays. É lógico que uma criança capaz de desenhar uma Cruz precisa de tratamento psicológico. No entanto, reclamar da blasfêmia pública é uma censura intolerável e, se o cartaz que debocha do Cristianismo ofende, só pode ser porque os cristãos são melindrosos demais.

Vivemos em tempos difíceis. Os que exigem respeito não nos respeitam. Os que não aceitam a censura fazem de tudo para nos censurar. A via de mão única é claramente cínica e hipócrita e, no entanto, é traquilamente apresentada como se fosse um perfeito modelo de civilidade e modernidade. Esperam que a aceitemos como se fosse a coisa mais natural do mundo?

Não podemos. Isto não é normal. Não é nem mesmo lógico dentro das próprias premissas aceitas pelos que discordam de nós. É absurdo. A ideologia que querem nos empurrar carece até mesmo de coerência interna. Bom seria se os hipócritas de plantão lançassem logo fora as máscaras que ostentam, e assumissem logo serem os anti-religiosos que suas atitudes demonstram. Ao menos, a decência da sinceridade. Mas, pelo visto, parece que isso é esperar demais.

O Papa na Terra Santa 1: respeito e liberdade religiosa

Começou hoje a Peregrinação do Santo Padre à Terra Santa; o primeiro evento que consta na programação que está no site do Vaticano é a Cerimônia de boas-vindas no Aeroporto Internacional “Queen Alia” de Amã. Não está lá ainda a íntegra do discurso do Papa; o sr. Quintas, no entanto, já se antecipou e nos trouxe alguns trechos do pronunciamento de Bento XVI ao desembarcar.

Respeito aos muçulmanos – “oportunidade de expressar meu profundo respeito pela comunidade muçulmana” – e liberdade de credos – “[a] liberdade religiosa é naturalmente um direito humano fundamental”: eis o que a AFP julgou por bem destacar do discurso de Sua Santidade. Isso, para os católicos, tem um significado muito específico e que nada tem a ver com uma indiferença ou um relativismo doutrinal.

Hoje em dia, as pessoas têm mania de confundir “respeito” com “concordância total e irrestrita”. Uma pessoa que eu “respeito” seria alguém cujas atitudes eu subscrevo, pois “acho” que ela está absolutamente certa em tudo o que faz. O Papa sabe muito bem que a religião islâmica – permito-me aqui expressar-me de modo diferente daquele usado pelo Santo Padre porque as circunstâncias são também distintas – é uma falsa religião e, por conseguinte, é evidente que o Papa não concorda com tudo o que pregam os filhos de Maomé no âmbito teológico, e isso já ficou bastante claro, julgo eu, ao longo do seu pontificado.

Pode haver – e há – respeito entre inimigos, ou ainda respeito pela decisão (que se sabe errada) de outrem. Quando aquele jovem rico da Bíblia afastou-se de Nosso Senhor, Ele não o perseguiu nem o fulminou com um raio dos céus nem nada do tipo; a sua [errada] decisão foi respeitada. Há respeito entre São Francisco de Assis e o sultão a quem ele foi pregar o Evangelho, entre São Leão Magno e Átila a quem o Papa foi para tentar impedir o saque de Roma, entre Santo Tomás de Aquino e Averróis por ele refutado. E há respeito dos católicos para com os muçulmanos, sem que com isso o Islam precise se transmutar numa religião verdadeira. Respeito ao muçulmano concreto – ou, no caso do Papa, à comunidade muçulmana concreta – é diferente de respeito ao islamismo, que por sua vez é ainda diferente de concordância plena e irrestrita para com ele: as coisas não devem ser misturadas.

A liberdade dos credos vai na mesma linha; nos dizeres do Concílio Vaticano II, ela “nada afecta a doutrina católica tradicional acerca do dever moral que os homens e as sociedades têm para com a verdadeira religião e a única Igreja de Cristo” (Dignitatis Humanae, 1). Eximindo-me de comentar aqui mais do que já expus à exaustão no debate com o sr. Sandro Pontes, quero apenas salientar que – de novo – nada têm a ver estas palavras com uma suposta capitulação do Cristianismo frente ao Islam, nem com uma mudança [mínima que seja] no Extra Ecclesiam Nulla Salus.

As pessoas, porém, acho que não entendem isso. Li no Fratres in Unum que, diante da então iminente viagem do Santo Padre à Terra Santa, a sra. “Deborah Weissman, presidente do Conselho de Coordenação Inter-religiosa” de Israel, espera que a visita do Papa supere a “ambivalência” de suas posições teológicas porque, afinal, Sua Santidade “ainda não deixou absolutamente claro que os judeus não precisam abraçar a crença de que Jesus foi o Messias para serem redimidos”…! Bom, a doutora pode esperar sentada. E, os judeus, é bom que se convertam, o quanto antes. A visita do Doce Cristo na Terra bem que pode ser uma excelente oportunidade para isso. Oremus et pro Iudaeis.

O respeito devido a Deus

Um grande amigo meu, o Gustavo Souza, que já é provavelmente conhecido de alguns por ter alguns textos aqui publicados e por ter o seu blog relacionado na coluna lateral do Deus lo Vult, escreveu há algum tempo um interessante texto sobre o respeito ao ser humano, a cuja leitura eu remeto. Gostaria de seguir os passos do meu conterrâneo e tecer mais algumas considerações sobre o assunto, já que o mesmo aparenta ser bastante mal compreendido nos nossos dias. Mas começo sob uma outra perspectiva: pretendo falar primeiramente um pouco sobre o respeito a Deus.

Inicio com um parágrafo do Catecismo da Igreja Católica:

Feito membro da Igreja, o baptizado já não se pertence a si próprio mas Aquele que morreu e ressuscitou por nós. A partir daí, é chamado a submeter-se aos outros, a servi-los na comunhão da Igreja, a ser «obediente e dócil» aos chefes da Igreja e a considerá-los com respeito e afeição. Assim como o Baptismo é fonte de responsabilidade e deveres, assim também o baptizado goza de direitos no seio da Igreja: direito a receber os sacramentos, a ser alimentado com a Palavra de Deus e a ser apoiado com outras ajudas espirituais da Igreja.
[CIC 1269]

Saliento a seguinte frase: o Batismo é fonte de responsabilidade e deveres. Já manifestei aqui por diversas vezes o meu mais veemente descontentamento para com os “católicos de IBGE”, “católicos self-service”, “Católicos com Doutrina Diferente da Igreja” (CDDI’s – excelente contributo de um leitor no espaço de comments!) e outras espécies estranhas que, infelizmente, pululam como micróbios em água suja nos nossos dias. Por que essas pessoas são fontes de escândalo e provocam justa indignação naqueles que se esforçam para serem católicos fiéis? Oras, porque elas esvaziam o catolicismo daquilo que lhe é fundamental e apresentam ao mundo, com a sua vida, uma caricatura do Evangelho, uma deformação da Igreja Católica.

Para ser católico não é suficiente dizer-se católico. O Batismo não é uma mera cerimônia social. É – nos dizeres do Catecismo – fonte de responsabilidades e deveres. “Católicos” que não levam a sua vida de acordo com as exigências do seu Batismo são péssimos católicos, são traidores das promessas que fizeram um dia (ou que fizeram por eles, mas eles aceitaram livremente depois), são anti-evangelizadores na medida em que impedem a Igreja Católica de ser conhecida na plenitude de Seu esplendor de Esposa de Cristo sem ruga e sem mácula. Disse o Apóstolo que de Deus não se zomba (cf. Gl 6, 7); os católicos que não querem assumir as “responsabilidades e deveres” decorrentes do seu Batismo e se insistem em se dizer católicos mesmo assim estão faltando ao respeito devido ao Deus Todo-Poderoso.

Devemos respeito a Deus – eis uma verdade tão óbvia quanto negligenciada nos nossos dias! O “temor de Deus”, este dom do Espírito Santo tão esquecido, é o princípio da sabedoria (cf. Pr 1, 7) e é o dom “que nos faz reverenciar a Deus, e ter receio de ofender a sua Divina Majestade, e que nos afasta do mal, incitando-nos ao bem” (Terceiro Catecismo da Doutrina Cristã, q. 921). Enquanto estas coisas não forem devidamente relembradas, dificilmente haverá respeito a Deus.

Hoje em dia “temor” é uma palavra à qual está associada um rótulo odioso, capaz de evocar imagens obscurantistas das quais queremos nos emancipar. Ninguém quer ter medo; dizem-nos que isto é coisa de crianças, e que foi usado como instrumento de dominação pela Igreja Católica, e outras besteiras mais. Dizem-nos ainda que Deus é um amigo ao qual devemos amar e não temer; dizem até que “temor” é para ser traduzido por “ter amor”… é verdade que Deus é nosso amigo a quem devemos amar, e é sem dúvidas verdade que devemos ter amor a Deus. Mas dizer somente isso não é dizer toda a verdade, porque Deus também é a Majestade Suprema infinitamente digna de respeito e veneração. Deus é Pai, mas também é Deus; as duas coisas não são de modo algum excludentes. Precisamos respeitar a Deus (como, aliás, precisamos respeitar os nossos pais – o respeito aos pais está radicado justamente no temor de Deus, como diz o Catecismo (cf. CIC 2217)), precisamos reverenciá-Lo, precisamos ter receio de O ofender. Isso não é um medo irracional nem uma fonte de traumas e frustrações; é, ao contrário, o princípio da Sabedoria.

Respeitar a Deus é também respeitar a Igreja, respeitar os compromissos assumidos no Batismo; respeitar a Deus é esforçar-se para ser, tanto quanto possível, um católico bom e fiel. E, aqui, nós chegamos no respeito ao próximo, que pode ser visto como um caso particular do respeito devido a Deus. A caridade – que nos manda amar ao próximo como a nós mesmos – leva-nos naturalmente a respeitar ao próximo, por amor a Deus (claro, dentro dos limites do que é verdadeiramente respeito, que o Gustavo sinalizou muito bem no texto acima linkado). É por isso que todos os problemas do mundo se resolvem com a Doutrina Católica, e é por isso que são descabidas as críticas daqueles que julgam ser “farisaísmo” (ou coisa parecida) a importância dada àquilo que a Igreja ensina. O conhecimento e a prática do Evangelho de Jesus Cristo são o único caminho seguro para a verdadeira paz nesta terra, são a única resposta às inquietudes dos seres humanos, são a única força capaz de transformar o mundo.

Spiritus sancti timoris,
miserere nobis!

Respeito devido aos sacerdotes – Sta. Catarina de Sena

Filha querida, ao manifestar-te a grande virtude daqueles pastores, quero colocar em evidência a dignidade dos meus ministros. Pelo pecado de Adão, as portas da eternidade fecharam-se, mas o meu Filho abriu-as com a chave do seu sangue. Ao sofrer a paixão e morte, ele destruiu vossa morte e vos lavou no sangue. Sim, foram seu sangue e sua morte que, em virtude da união da natureza divina com a humana, deram acesso ao céu. E a quem deixou Cristo tal chave? Ao apóstolo Pedro e a seus sucessores, os que vieram e que virão depois dele até o dia do juízo final. Todos possuem a mesma autoridade de Pedro; nenhum pecado a diminui, do mesmo modo que não destrói a santidade do sangue de Cristo e dos Sacramentos. Já disse que o sol eucarístico não tem manchas e que o mal cometido por quem o administra ou recebe não apaga sua luz. Não, o pecado não danifica os sacramentos da santa Igreja, não lhes diminui a força; prejudica a graça e aumenta a culpa somente em quem os ministra ou recebe indignamente.

Na terra, quem possui a chave do sangue é o Cristo-na-terra. Certa vez eu te manifestei essa verdade numa visão, para indicar o grande respeito que os leigos devem ter pelos ministros, bons ou maus que eles sejam, e quanto me desagrada que alguém os ofenda. Pus diante de ti a jerarquia da Igreja sob a figura de uma dispensa contendo o sangue de meu Filho. No sangue estava a virtude de todos os sacramentos e a vida dos fiéis. À porta daquela despensa, vias o Cristo-na-terra, encarregado de distribuir o sangue e fazer-se ajudar por outros no serviço de toda a santa Igreja. Quem ele escolhia e ungia, logo se tornava ministro. Dele procedia toda a ordem clerical; ele dava a cada um sua função no ministério do glorioso sangue. E como dispunha dos seus auxiliares, possuía a força de corrigi-los nos seus defeitos.

De fato, é assim que eu quero que aconteça. Pela dignidade e autoridade confiada a meus ministros, retirei-os de qualquer sujeição aos poderes civis. A lei civil não tem poder legal para puni-los; somente o possui aquele que foi posto como senhor e ministro da lei divina.

Os ministros são ungidos meus. A respeito deles diz a Escritura: “Não toqueis nos meus cristos” (Sl 105, 15). Quem os punir cairá na maior infelicidade. Se me perguntares por que a culpa dos perseguidores da santa Igreja é a maior de todas e, ainda, por que não se deve ter menor respeito pelos meus ministros por causa de seus defeitos, respondo-te: porque, em virtude do sangue por eles ministrado, toda reverência feita a eles, na realidade não atinge a eles, mas a mim. Não fosse assim, poderíeis ter para com eles o mesmo comportamento de praxe para com os demais homens. Quem vos obriga a respeitá-los é o ministério do sangue. Quando desejais receber os sacramentos, procurais meus ministros; não por eles mesmos, mas pelo poder que lhes dei. Se recusais fazê-lo, em caso de possibilidade, estais em perigo de condenação. A reverência é dada a mim e a meu Filho encarnado, que somos uma só coisa pela união da natureza divina com a humana. Mas também o desrespeito. Afirmo-te que devem ser respeitados pela autoridade que lhes dei, e por isso mesmo não podem ser ofendidos. Quem os ofende, a mim ofende. Disto a proibição: “Não quero que mãos humanas toquem nos meus cristos”!

Nem poderá alguém escusar-se, dizendo: “Eu não ofendo a santa Igreja, nem me revolto contra ela; apenas sou contra os defeitos dos maus pastores”! Tal pessoa mente sobre a própria cabeça. O egoísmo a cegou e não vê. Aliás, vê; mas finge não enxergar, para abafar a voz da consciência. Ela compreende muito bem que está perseguindo o sangue do meu Filho e não os pastores. Nestas coisas, injúria ou ato de reverência dirigem-se a mim. Qualquer injúria: caçoadas, traições, afrontas. Já disse e repito: não quero que meus cristos sejam ofendidos. Somente eu devo puni-los, não outros. No entanto, homens ímpios continuam a revelar a irreverência que têm pelo sangue de Cristo, o pouco apreço que possuem pelo amado tesouro que deixei para a vida e santificação de suas almas. Não poderíeis ter recebido maior presente que o todo-Deus e todo-Homem como alimento. Cada vez que o conceito relativo aos meus ministros não coloca em mim sua principal justificativa, torna-se inconsistente e a pessoa neles vê somente muitos defeitos e pecados. De tais defeitos falarei em outro lugar. Mas quando o respeito se fundamenta em mim, jamais desaparece, mesmo diante de defeitos nos ministros; como disse, a grandeza da eucaristia não é diminuída por causa dos pecados. A veneração pelos sacerdotes não pode cessar; se tal coisa acontecer, sinto-me ofendido.

Santa Catarina de Sena, “O Diálogo”
Cap. 28.
Paulus, 9ª edição, São Paulo, 2005
pp. 237-240