Um vitral de louvor ao Altíssimo

Sainte Chapelle, por Jorge Ferraz

Um amigo está na Europa, e ele comentou conosco ter visitado a Sainte Chapelle recentemente. Eu também lá estive, há dois anos, e lembro-me bem de que os vitrais daquela igreja são, definitivamente, de tirar o fôlego.

A foto acima foi tirada por mim, quando lá estive. Não é nem de longe a mesma coisa que estar lá, mas dá para se ter uma idéia da magnitude da obra. De uma época em que as coisas eram feitas primordialmente para Deus. E, em muitos casos, é visível que eram feitas para Deus somente.

Por exemplo, ninguém sabe quem foram os autores destes vitrais magníficos. Apenas Deus sabe. Que grande artista não gostaria de ter o seu talento reconhecido, de ser louvado pelos homens e de deixar o seu nome para a posteridade? Este artista, incompreensível nos dias de hoje, existiu na Idade Média. Ou melhor, existiram na Idade Média – é muito comum na história da Igreja encontrar obras cuja autoria se perdeu no tempo. A Sainte Chapelle é um exemplo que se destaca porque os vitrais são assombrosos.

Também por exemplo: estes vitrais são tremendamente altos. Do chão, simplesmente não dá para ver os detalhes que estão próximos ao topo das ogivas. Lembro-me de que tiramos fotos, para que com o zoom da câmera pudéssemos ver os detalhes superiores, que do chão não eram perceptíveis. E a qualidade das obras que estão no alto – longe dos olhares dos povos, completamente imperceptíveis para todo mundo, visíveis somente para Deus – é exatamente a mesma de todas as demais: magnífica. Estas pessoas não faziam obras de arte para serem admiradas pelos homens; ofereciam o melhor a Deus porque Deus é digno de receber o que os homens têm de melhor.

E uma amiga lembrou, muito oportunamente, uma homilia de S. Josemaría Escrivá sobre o assunto:

Gostava de subir a uma torre [em Burgos], para que contemplassem os lavores cimeiros, um autêntico rendilhado de pedra, fruto de um trabalho paciente, custoso. Nessas conversas, fazia-os notar que aquela maravilha não se via lá de baixo. E, para materializar o que com repetida freqüência lhes havia explicado, comentava-lhes: Assim é o trabalho de Deus, a obra de Deus!: acabar as tarefas pessoais com perfeição, com beleza, com o primor destas delicadas rendas de pedra. Diante dessa realidade que entrava pelos olhos dentro, compreendiam que tudo isso era oração, um diálogo belíssimo com o Senhor. Os que haviam consumido as suas energias nessa tarefa sabiam perfeitamente que das ruas da cidade ninguém apreciaria o seu esforço: era só para Deus. Entendes agora como é que a vocação profissional pode aproximar de Deus? Faze tu o mesmo que aqueles canteiros, e o teu trabalho será também operatio Dei, um trabalho humano com raízes e perfis divinos.

Amigos de Deus, ponto 65

Trabalhar para Deus somente; fazer as coisas o melhor possível; não se preocupar com os olhares da multidão; ter consciência de que Deus conhece aquilo que os homens não percebem. Eis o ensino do Cristianismo, expresso nos vitrais da Sainte Chapelle que são visitados diariamente por centenas de pessoas do mundo inteiro. Quantas, no entanto, se apercebem disso? Quantas se preocupam em colocá-lo em prática?

Façamos nós o mesmo, como disse San Josemaría. Peçamos a Deus a graça de olharmos para Ele, primordialmente para Ele, somente para Ele. A glória não está nas coisas do mundo, ensinam-nos as catedrais medievais. Mas as coisas do mundo podem e devem ser usadas para glorificar a Deus. Que a Virgem Santíssima nos ajude a fazermos, da nossa vida, um hino de glória a Deus. Um vitral de louvor ao Altíssimo.