Sagrado Coração de Jesus e Ano Sacerdotal

Amanhã, sexta-feira, festa do Sagrado Coração de Jesus, será aberto o Ano Sacerdotal desejado por Sua Santidade, o Papa Bento XVI. Esta devoção – cujo “fundamento (…) é tão antigo como o próprio cristianismo” (cf. Bento XVI apud pe. Claudiomar) – teve como grande propagadora Santa Margarida Maria Alacoque, no século XVII. Há uma curiosa história sobre esta santa e esta devoção, narrada por Plinio Corrêa de Oliveira:

As revelações do Sagrado Coração de Jesus a Santa Margarida Maria Alacoque, ocorridas em Paray-le Monial, na França, se verificaram durante o reino de Luiz XIV, glorioso sob tantos títulos, mas maculado pela incorreção dos costumes privados do soberano. Incumbiu Nosso Senhor a Santa Margarida Maria de fazer saber ao soberano que se quisesse evitar para seu país as maiores catástrofes, o consagrasse ele em pessoa, ao Sacratíssimo Coração de Jesus. O rei não deu ouvidos ao aviso, e o fato passou desapercebido. É curioso notar, entretanto, que na família real talvez a negativa de Luiz XIV tenha deixado uma impressão penosa, porque Luiz XVI, preso durante a Revolução, consagrou no seu cárcere a França ao Sagrado Coração de Jesus, a fim de libertar sua Pátria dos horrores da perseguição que sobre ela se abatia. Mas era tarde demais. A recusa de Luiz XIV havia afastado a possibilidade de se evitarem para a França os males que sobre ela vieram a cair. Por aí se vê como pode ferir a Nosso Senhor a recusa de um ato público e solene de piedade. E, neste caso, tratava-se de uma recusa muito menos grave do que a dos Estados leigos que, ao contrário da França de Luiz XIV, não reconhecem a Religião oficialmente, e erigem em norma habitual de conduta para com Deus o não cumprimento de seus deveres religiosos.

E, hoje, em Paris, há a Basilique du Sacré Coeur. Com uma placa contendo uma declaração do Parlamento Francês, dizendo ser “de utilidade pública a construção de um Templo em honra ao Sagrado Coração de Jesus” – ou algo assim, pois cito de memória. Foram necessários os horrores da Revolução Francesa para que a Cidade das Luzes desse ouvidos a Santa Margarida Maria Alacoque. Que nós nos empenhemos em divulgar esta devoção sem que precisemos passar pela mesma terrível experiência.

O Santo Padre escreveu uma carta aos sacerdotes para a proclamação do Ano Sacerdotal. Destaco:

Todos nós, sacerdotes, deveríamos sentir que nos tocam pessoalmente estas palavras que ele [São João Maria Vianney] colocava na boca de Cristo: «Encarregarei os meus ministros de anunciar aos pecadores que estou sempre pronto a recebê-los, que a minha misericórdia é infinita». Do Santo Cura d’Ars, nós, sacerdotes, podemos aprender não só uma inexaurível confiança no sacramento da Penitência que nos instigue a colocá-lo no centro das nossas preocupações pastorais, mas também o método do «diálogo de salvação» que nele se deve realizar. O Cura d’Ars tinha maneiras diversas de comportar-se segundo os vários penitentes. Quem vinha ao seu confessionário atraído por uma íntima e humilde necessidade do perdão de Deus, encontrava nele o encorajamento para mergulhar na «torrente da misericórdia divina» que, no seu ímpeto, tudo arrasta e depura. E se aparecia alguém angustiado com o pensamento da sua debilidade e inconstância, temeroso por futuras quedas, o Cura d’Ars revelava-lhe o segredo de Deus com um discurso de comovente beleza: «O bom Deus sabe tudo. Ainda antes de vos confessardes, já sabe que voltareis a pecar e todavia perdoa-vos. Como é grande o amor do nosso Deus, que vai até ao ponto de esquecer voluntariamente o futuro, só para poder perdoar-nos!». Diversamente, a quem se acusava de forma tíbia e quase indiferente, expunha, através das suas próprias lágrimas, a séria e dolorosa evidência de quão «abominável» fosse aquele comportamento. «Choro, porque vós não chorais»: exclamava ele. «Se ao menos o Senhor não fosse assim tão bom! Mas é assim bom! Só um bárbaro poderia comportar-se assim diante de um Pai tão bom!». Fazia brotar o arrependimento no coração dos tíbios, forçando-os a verem com os próprios olhos o sofrimento de Deus, causado pelos pecados, quase «encarnado» no rosto do padre que os atendia de confissão. Entretanto a quem se apresentava já desejoso e capaz de uma vida espiritual mais profunda, abria-lhe de par em par as profundidades do amor, explicando a inexprimível beleza de poder viver unidos a Deus e na sua presença: «Tudo sob o olhar de Deus, tudo com Deus, tudo para agradar a Deus. (…) Como é belo!». E ensinava-lhes a rezar assim: «Meu Deus, dai-me a graça de Vos amar tanto quanto é possível que eu Vos ame!».

Cor Iesu Sacratissimum,
miserere nobis!