Forma Extraordinária do Rito Romano na Canção Nova

Como alguns devem saber, foi celebrada no último domingo (15 de julho de 2012) uma Missa na Forma Extraordinária do Rito Romano na Canção Nova. Quem a celebrou foi o revmo. padre Demétrio Gomes, já conhecido tanto dos que participam da comunidade quanto dos leitores deste blog. Este (inusitado) fato não significa o fim da batalha pela restauração da Liturgia, mas é um começo: um belíssimo começo, um bálsamo consolador dos Céus, um sinal de esperança de que a nossa luta não é em vão e pode dar frutos. E vai dar frutos, porque é um combate ad majorem Dei gloriam. Aspirando à maior glória de Deus.

Quanto às celeumas em torno desta celebração e da própria Canção Nova, remeto às lúcidas palavras do Pedro Ravazzano sobre o assunto. Em uma palavra, nós não estamos em condições de ficar exigindo perfeição total e absoluta de todos aqueles que nos dão indícios de estarem interessados em anunciar as riquezas da Igreja de Cristo. Mais especificamente: não havendo evidências de má-fé (como de fato não há), não faz sentido rejeitar em bloco todas as contribuições que a Canção Nova quer e pode dar à Igreja Católica no Brasil por conta dos problemas que (infelizmente) ainda existem na emissora. Uma coisa de cada vez. Trabalhar pela divulgação da solenidade da Liturgia significa simplesmente trabalhar pela divulgação da solenidade da Liturgia: isto não é (de modo algum) um apoio – explícito ou tácito – a todas as coisas divulgadas pela conhecida emissora carismática, da mesma forma que batalhar pela publicação de um artigo conservador, digamos, no Jornal do Commercio (íntegra aqui) não significa um apoio irrestrito a tudo o que o jornal publica. Isto precisa ficar bem claro.

Sem dúvidas é importante defender a Doutrina da Igreja e Sua praxis tradicional, mas é também urgente divulgar – positivamente, sem confrontos, sem embates – as riquezas da Sua Sagrada Liturgia. Este apostolado também é profícuo, também é importante; e não parece existir razão pela qual ele, podendo existir e havendo quem queira realizá-lo, devesse ser censurado.

“Fé – Amor – Reparação” – D. Fernando Rifan

[Oportuníssimo o artigo semanal de D. Fernando Rifan, que reproduzo na íntegra abaixo, e que vem a lume no momento propício para reparar o estrago causado por certos divulgadores de opiniões heréticas cujas idéias costumam aparecer com mais destaque principalmente nos momentos em que é mais importante voltar-se para Deus. Afundar o mal na superabundância do bem é algo sábio; e depois de ter precisado descascar ontem as bobagens do sr. José Lisboa, poder oferecer aos meus leitores um pouco de catequese positiva a respeito da festa de Corpus Christi apresenta-se como um valoroso refrigério. Bendito seja Deus no Santíssimo Sacramento do Altar.]

FÉ – AMOR – REPARAÇÃO

 Dom Fernando Arêas Rifan*

Amanhã celebraremos com toda a Igreja a solene festa do Corpo de Deus, ou Corpus Christi, solenidade em honra do Corpo de Cristo, presente na Santíssima Eucaristia.

Por que tal festa? “Augustíssimo sacramento é a Santíssima Eucaristia, na qual se contém, se oferece e se recebe o próprio Cristo Senhor e pela qual continuamente vive e cresce a Igreja. O Sacrifício Eucarístico, memorial da morte e ressurreição do Senhor, em que se perpetua pelos séculos o Sacrifício da cruz, é o ápice e a fonte de todo o culto e da vida cristã, por ele é significada e se realiza a unidade do povo de Deus, e se completa a construção do Corpo de Cristo. Os outros sacramentos e todas as obras de apostolado da Igreja se relacionam intimamente com a santíssima Eucaristia e a ela se ordenam” (Direito Canônico cân. 897).

O mesmo nos ensina o Catecismo da Igreja Católica: “A Eucaristia é o coração e o ápice da vida da Igreja, pois nela Cristo associa sua Igreja e todos os seus membros a seu sacrifício de louvor e ação de graças oferecido uma vez por todas na cruz a seu Pai; por seu sacrifício ele derrama as graças da salvação sobre o seu corpo, que é a Igreja. A Eucaristia é o memorial da páscoa de Cristo: isto é, da obra da salvação realizada pela Vida, Morte e Ressurreição de Cristo, obra esta tornada presente pela ação litúrgica. Enquanto sacrifício, a Eucaristia é também oferecida em reparação dos pecados dos vivos e dos defuntos, e para obter de Deus benefícios espirituais ou temporais” (nn.1407, 1409 e 1414).

Esse tesouro de valor incalculável, a Santíssima Eucaristia, centro e o ponto culminante da vida da Igreja Católica, foi instituído por Jesus na Última Ceia, na Quinta-feira Santa. Mas, então, a Igreja estava ocupada com as dores da Paixão de Cristo e não podia dar largas à sua alegria por tão augusto testamento. Por isso, na primeira quinta-feira livre depois do tempo pascal, ou seja, amanhã, a Igreja festeja com toda a solenidade, com Missa e procissão solenes, Jesus Cristo, vivo e ressuscitado, presente sob as espécies de pão e vinho, na Hóstia Consagrada. Esta festa tem a finalidade de expressarmos publicamente a nossa e adoração para com Jesus Eucarístico e, ao mesmo tempo, nossa reparação pelos ultrajes, sacrilégios, profanações, e, até também, pelos abusos litúrgicos que infelizmente acontecem com relação à Santíssima Eucaristia.

O Papa João Paulo II, na sua Encíclica “Ecclesia de Eucharistia”, já nos advertia contra os “abusos que contribuem para obscurecer a reta fé e a doutrina católica acerca deste admirável sacramento” e lastimava que se tivesse reduzido a compreensão do mistério eucarístico, despojando-o do seu aspecto de sacrifício para ressaltar só o aspecto de encontro fraterno ao redor da mesa, concluindo: “A Eucaristia é um dom demasiado grande para suportar ambigüidades e reduções”.

Nessa festa de Corpus Christi, demonstremos, pois, a importância da Eucaristia na Igreja e a nossa fé, adoração, respeito, reparação e amor por Jesus Eucarístico.

 

*Bispo da Administração Apostólica
Pessoal São João Maria Vianney

Dez dicas para a organização de celebrações litúrgicas

[Estas são dicas genéricas. Qualquer semelhança com pessoas ou fatos recentes é mera coincidência.]

1. Cuide-se para que o lugar da celebração assemelhe-se o mais possível a um templo sagrado, ainda que por razões de espaço a cerimônia tenha que se realizar fora do templo, ao ar livre. O altar seja visível e facilmente identificável como tal. Evitem-se construções arquitetônicas estranhas à tradição litúrgica da Igreja.

2. O centro de qualquer solenidade, por festiva que seja, é e tem que ser a Santa Missa. Haja parcimônia na colocação de outros eventos periféricos antes ou depois da celebração – como shows ou queima de fogos, por exemplo. Evite-se que os fiéis sejam instados a chegarem muito tempo antes da celebração para “prestigiar” os eventos precedentes ou, ao contrário, a permanecerem depois da Missa concluída para acompanhar a programação que porventura ainda haja. Principalmente, o momento da Comunhão não seja usado para pedir aos fiéis que fiquem depois da Missa para a queima de fogos.

3. A figura do comentarista é interessante e pode ser utilizada, mas que isso seja feito com parcimônia. O comentarista sirva para esclarecer sucintamente cada aspecto da celebração, e não para fazer as vezes de um animador incitando o povo a tal ou qual comportamento. Principalmente, que as suas intervenções sejam sucintas a ponto de não atrapalhar a celebração: comentários tão ou mais longos do que as próprias leituras da missa não são adequados.

4. A música tem uma função litúrgica insubstituível. Preze-se por cantos – ainda que populares – que sejam piedosos e adequados ao momento, tanto quanto à letra como quanto ao ritmo. Baterias sufocando as próprias vozes do coral de forma alguma são bem-vindas, e mais ainda se elas se mantiverem em uma batida que lembra “vamos brincar de índio” ou “ilari-lari-ê”.

5. A homilia do sacerdote é um importante momento de catequese dentro da cerimônia. Cuide-se para que ela seja audível pelos fiéis presentes, com as palavras claras e distintas, por meio de uma correta configuração do sistema de som. Se o sacerdote fala mais baixo, é imperativo que o microfone seja colocado mais alto, a fim de que não haja empecilhos a esta importante formação espiritual.

6. Dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço, e as coisas tornam-se tão mais indistinguíveis quanto mais distantes elas estão do observador. Em uma multidão, é impossível que todos estejam próximos o suficiente do altar para que sejam capazes de ver a celebração – os sinais externos da Liturgia – da maneira como eles devem ser vistos. Neste caso, telões podem ser utilizados.

7. Em hipótese alguma seja tocado o Hino Nacional após a Consagração. Se isto for difícil de se entender, seja considerado ao menos que a posição adequada diante de Cristo Eucarístico é de joelhos e, diante da execução do Hino Nacional, é de pé. Como não é possível estar simultaneamente de pé e de joelhos, o Hino Nacional não seja tocado no meio da Oração Eucarística.

8. O patriotismo é um valor a ser protegido, mas que se evitem excessos. Avalie-se criteriosamente a conveniência de se colocar uma grande bandeira do Brasil nas costas do crucifixo que entra em procissão. Se o mesmo for estritamente necessário, que a bandeira seja retirada quando o crucifixo chegar ao presbitério, para evitar a flâmula tremeluzente por trás do altar durante toda a Missa.

9. Os chamados “ministros extraordinários da comunhão eucarística” – leigos – devem ser usados na ausência de sacerdotes. Em uma celebração com dezenas de bispos e centenas de padres, o uso de leigos para distribuir a Sagrada Comunhão não é aceitável. Evite-se.

10. Uma solenidade não é medida pela sua duração. Uma missa pode ser extremamente solene sem que precise ser desnecessariamente longa. Seja levado em consideração o fato de que os fiéis também se cansam, geralmente estão em posição desconfortável, sujeitos às intempéries da natureza e, talvez, tenham horários inegociáveis (de viagens, por exemplo) a cumprir após a cerimônia. Dependendo da Liturgia, uma missa de uma hora e meia ou até duas horas está de bom tamanho. Duas horas e meia ou três horas é geralmente um exagero desnecessário.