O Silêncio da Virgem Maria

No Tríduo Pascal, sempre associo o Sábado Santo à Vigília. Se a Quinta-Feira é o dia da Ceia, a Sexta, o da Paixão, o Sábado de Aleluia é o da Ressurreição. Claro, a Vigília Pascal celebrada na noite do sábado – o quanto mais avançada para o Domingo, melhor – é sem dúvidas da mais alta importância: é a maior celebração da Igreja, a Grande Festa, a Vitória de Nosso Senhor sobre a morte, o Túmulo Vazio, a Ressurreição sem a qual – como diz o Apóstolo – seria vã a nossa Fé. Mas é também igualmente verdade que existem mais coisas no Sábado Santo além da Vigília Pascal, existe um tempo – um dia inteiro – entre a procissão do Senhor Morto de ontem à tarde e a Vigília que será celebrada logo mais à noite.

O sábado – todo sábado – é o dia dedicado a Nossa Senhora. Não sei se há relação com o Sábado Santo, mas é precisamente sobre a Virgem Santíssima que eu gostaria de falar um pouco hoje. Nosso Senhor “desceu à Mansão dos Mortos” antes de ressuscitar; a Virgem Maria, no entanto, ficou conosco.

Ficou conosco, como – ouso dizer – penhor da Ressurreição. É fácil acreditar no Cristo Glorioso, mas é difícil não se desesperar diante do Senhor Morto. A Virgem Maria não Se desesperou; ao contrário, manteve-Se firme, de pé. A Sua Fé não desfaleceu, por nenhum momento Ela duvidou. Se é-nos difícil manter a Fé olhando para a Cruz, olhando para o Túmulo, olhemos para esta Mulher que é uma Torre Inabalável! Se não temos a presença de Jesus hoje, acheguemo-nos à Sua Mãe Santíssima e, com Ela, esperemos a Ressurreição. O mundo talvez não suportasse a morte do Rei; por isso, Ele deixou a Rainha, como garantia de que iria voltar.

Poderia o mais perfeito dos filhos abandonar a mais sublime das mães? Decerto que não. Se, portanto, a Virgem cá ficou, poderíamos ter a certeza de que Ele voltaria. Ela nos fala d’Ele. Ela nos aponta para Ele. Ela só n’Ele existe. Se Ela ficou, então Ele, de alguma maneira, também ficou conosco. Ama-nos Ele tanto que não quis nos abandonar nem por um instante: mesmo quando desceu à frieza do Túmulo, quis ficar conosco em Sua Mãe Santíssima.

A lua, à noite, dá-nos a certeza de que as trevas não durarão para sempre; a lua, aliás, só ilumina na medida em que reflete a luz do sol, mesmo que o sol não possa ser visto. Neste Sábado Santo, vemos a luz de Cristo refletida em Maria Santíssima, e sabemos que as trevas da morte não irão durar para sempre, e a aurora há de chegar, a Ressurreição está às portas. Vendo Cristo refletido em Maria Santíssima, ainda que não O possamos ver – escondido por detrás da pedra do Túmulo -, sabemos que Ele com certeza ressurgirá. É a Virgem que nos dá esta garantia. Esta Sua serenidade, este silêncio, esta paz, esta Fé, não seriam possíveis se Ele estivesse irremediavelmente vencido. N’Ela, a Ressurreição de logo mais à noite se torna já visível, palpável…

E, no entanto, Ela guardou silêncio. Após a morte do Seu Filho, Ela era o que de mais santo havia na face da terra, era – ousemos ir mais longe – o que  restou de Graça ao mundo que lançou o filho de Deus à escuridão do Túmulo; mesmo assim, escondeu-Se. A Virgem, que por Si só era a prova da Vitória de Cristo no Domingo da Ressurreição, recolheu-Se ao silêncio, para mais Se assemelhar ao Seu Filho que então jazia no Sepulcro. No entanto, mesmo sem falar, Ela testemunhava Deus; e àqueles que se Lhe achegavam, concedia a graça da Fortaleza para bem atravessar estas terríveis horas – provavelmente as mais terríveis que o mundo já viveu – compreendidas entre a Cruz e a Ressurreição.

Também nós queremos nos achegar a esta Mulher; também n’Ela queremos depositar a nossa confiança e, contemplando-A, em muda admiração, convencermo-nos das coisas do Alto. Ó Maria Santíssima, Virgem do Silêncio, Vós que não desanimastes nem mesmo quando o Vosso Filho foi crucificado, morto e sepultado, ensina-nos a não desanimarmos. Concede-nos a graça necessária para, mesmo nas adversidades, mesmo contra toda a esperança, guardarmos a Fé. Vinde em nosso auxílio. Protegei-nos, velai por nós, guardai-nos e defendei-nos. Ó Virgem Mãe de Deus, rogai por nós!