Lutero e o Papa alemão

Fui surpreendido, durante o final de semana, com a afirmação de que o Papa havia elogiado Lutero. Não dei muita atenção à notícia que, imediatamente, rechacei como estapafúrdia. Afinal de contas, Lutero fora um monge sem vocação, perturbado, entregue escancaradamente aos prazeres da carne e que (talvez numa tentativa de tranqüilizar a própria consciência) inventou uma teologia satânica onde pudesse salvar-se sem precisar abandonar os seus pecados – arrastando assim para o Inferno uma multidão incomensurável de almas.

Só depois eu li as matérias da mídia e (principalmente) as fontes primárias. Divertiu-me principalmente esta notícia, onde o jornalista não faz a menor idéia do que está falando. Misturando gafes históricas imperdoáveis (diz que «[o] papa Leão 9 expulsou Lutero da Igreja Católica Romana em 1521», quando Leão IX morreu em 1054 e o Papa que excomungou Lutero foi na verdade Leão X) com uma interpretação louca do discurso do Papa no convento de Lutero, o texto termina sem dizer nada com nada. Isto aqui, p. ex., é de um nonsense cômico:

Os protestantes gostariam que os católicos dissessem que Lutero não era um herege, mas um grande teólogo cristão. “Seria bom se eles pudessem declará-lo um doutor da Igreja”, disse à Reuters a bispa luterana de Erfurt, Ilse Junkermann.

É óbvio que os católicos não podem dizer que monge apóstata alemão é “um grande teólogo cristão” (!), e nem muitíssimo menos pode a Igreja declarar “doutor da Igreja” (!!) um heresiarca. A idéia é francamente tão absurda que, por si só, revela o vergonhoso desconhecimento da Igreja Católica do responsável pela matéria. E, ao final, ainda sou obrigado a ler que «[n]ão está claro se o Vaticano, que não gosta de oficialmente desfazer iniciativas de papas anteriores, pode ou deseja ir tão longe como a reabilitação de fato de Lutero» – cáspita, isto só não está claro para o retardado que escreveu esta reportagem! Pois qualquer pessoa normal e que conheça um mínimo de Doutrina Católica sabe que a Igreja não retrocede em questões doutrinárias e – mais que isso! – que Ela não pode retroceder, sob pena de perder a própria identidade. E, sim, isto está claro como o sol ao meio-dia para qualquer pessoa que não seja cega.

Depois da diversão, fui às fontes primárias. Está aqui o pronunciamento de Sua Santidade no Augustinerkloster de Erfurt – o convento onde Lutero viveu como monge agostiniano antes de romper com a Igreja. E descobri que o Papa “elogia” sim, Lutero, naquilo que ele é elogiável; para, imediatamente depois, criticá-lo acidamente no que ele precisa ser criticado.

O discurso do Papa é obra de um gênio. Ele está falando a luteranos e, portanto, precisa encarar a ingrata tarefa de dizer coisas pouco honrosas sobre o pai espiritual de seus ouvintes. O que faz o Papa? Ora, sabe-se que Lutero era uma mente doentia atormentada pelo pecado, que não confiava na graça de Deus e pôs na própria cabeça que era incapaz de deixar de pecar: então o Papa fala sobre a importância de nos preocuparmos a respeito do juízo de Deus em um mundo onde «a maioria das pessoas, mesmo cristãs, dá por suposto que Deus, em última análise, não se interessa dos nossos pecados e das nossas virtudes». Mas não deixa de criticar: esta luta perturbada de Lutero, «no fim de contas, era uma luta a propósito de Deus e com Deus».

O que o Papa faz? Ora, sabe-se que Lutero levou uma vida imoral e dissoluta, não obstante a sua doutrina possua elementos de verdade capaz de seduzir os incautos (como de fato tem seduzido nos últimos séculos); então o Papa fala que a espiritualidade de Lutero era cristocêntrica, mas que isso não é suficiente: «Mas isto pressupõe que Cristo seja o centro da nossa espiritualidade e que o amor por Ele, o viver juntamente com Ele, oriente a nossa vida». Coisa que todos sabem que Lutero não fez. Dizer que é necessário que o viver juntamente com Cristo – i.e., o viver em estado de Graça, o viver praticando a virtude e evitando o pecado – oriente a nossa vida… eu não consigo pensar em uma forma mais elegante de contrariar os seguidores do Sola Fide, aqueles cuja doutrina tem por princípio fundamental justamente que o que importa é no quê se crê, e não como se vive. Bento XVI só “elogia” Lutero para, imediatamente em seguida, demonstrar a falsidade do luteranismo.

E assim caminha o Papa, construindo com maestria a ponte entre ele e os luteranos ao aludir aos problemas do luteranismo sem bater (muito…) de frente com a figura de Lutero; permitindo-se até mesmo apontar os pontos problemáticos do protestantismo a partir de algum aspecto mais aceitável do monge alemão. Para, no final, pedir o óbvio: que os protestantes se convertam. E de um modo tão gentil que se torna quase impossível negar, digno de um diplomata experiente tratando de um assunto espinhoso: «E por isso Lhe pedimos a graça de aprender de novo [a] viver a fé, para assim nos podermos tornar um só».

É com este pedido que termina o discurso do Papa: pedindo a Deus para que católicos e protestantes possam se “tornar um só”. E como tal é possível? Obviamente não é possível condescender com a Fé legada pelos Apóstolos, com a Fé Católica que a Igreja guarda. Isto o próprio Papa disse com todas as letras, na celebração ecumênica feita pouco depois no mesmo convento de Erfurt:

Nas vésperas da vinda do Papa, falou-se diversas vezes de um dom ecuménico do hóspede que se esperava desta visita. Não é preciso especificar os dons mencionados em tal contexto. A propósito, quero dizer que isto constitui um equívoco político da fé e do ecumenismo. Quando um Chefe de Estado visita um país amigo, geralmente a sua vinda é antecedida por contactos das devidas instâncias que preparam a estipulação de um ou mesmo vários acordos entre os dois Estados: ponderando vantagens e desvantagens chega-se a um compromisso que, em última análise, aparece vantajoso para ambas as partes, de tal modo que depois o tratado pode ser assinado. Mas a fé dos cristãos não se baseia numa ponderação das nossas vantagens e desvantagens. Uma fé construída por nós próprios não tem valor. A fé não é algo que nós esquadrinhamos ou concordamos. É o fundamento sobre o qual vivemos. A unidade não cresce através da ponderação de vantagens e desvantagens, mas só graças a uma penetração cada vez mais profunda na fé mediante o pensamento e a vida.

E, se não é possível transigir com a Fé, então a unidade na Fé só é possível com a conversão dos transviados. Sim, que os filhos de Lutero possam abjurar os seus erros e receber de novo a Fé Católica, a Fé Verdadeira, a Fé sem a qual é impossível agradar a Deus. Que sejam profícuos os esforços ecumênicos de Sua Santidade! Que o filho pródigo caia em si e, cansando-se de comer a lavagem dos porcos, volte depressa à Casa Paterna – onde Deus o espera com festa.

O discurso do Papa-Rei na chegada à Espanha

O Papa chega à Espanha. Na cerimônia de boas vindas no Aeroporto de Santiago de Compostela, Bento XVI refere-se a si próprio como “o Sucessor de Pedro”. E fala que esta sua viagem apostólica tem por objetivo confirmar na Fé os seus irmãos.

Enche de esperança ver o Papa falar – e agir – desta maneira. É uma demonstração pública de que se tem consciência da própria missão no mundo. É um recado dado aos covardes que, cada vez mais, querem relegar a Religião a um completo subjetivismo, ao território das opiniões pessoais. O Papa é o Sucessor de Pedro, e põe-se a caminho para confirmar a Fé dos irmãos.

No início do mês passado, Sua Santidade voltou a usar a Tiara Papal em seu brasão pontifício. Embora no site da Santa Sé o brasão de Bento XVI ainda esteja desatualizado, não é possível deixar de perceber a importância deste gesto. Não vai ser possível deter o Retorno do Papa Rei.

O curioso é que foi justamente Bento XVI o primeiro papa a não usar a tiara no brasão pontifício, substituindo-a por uma mitra. O fato causou perplexidade à época: o Papa estava “[a]bandonando uma tradição de nove séculos”! Não sei por qual motivo Bento XVI adotou um brasão sem a tiara, em 2005. Mas, às vezes, fico a pensar se não foi exatamente para preparar o impacto do retorno triunfal da Coroa Pontifícia em 2010. Porque simplesmente manter a tiara teria pouco ou nenhum significado. Restabelecê-la, ao contrário, coloca-a no centro das atenções e passa uma clara mensagem sobre as intenções de Sua Santidade: o Papa é Rei.

Volto à Espanha. O Papa-Rei, o “Sucessor de Pedro” que sai em peregrinação para confirmar a Fé dos seus irmãos, fala sobre a Fé e a vida pública. Retoma corajosamente o discurso de João Paulo II, “que desde Compostela exhortó al viejo Continente a dar nueva pujanza a sus raíces cristianas”. E sentencia (tradução livre):

Também eu quero convidar a Espanha e a Europa a edificar seu presente e projetar seu futuro a partir da verdade autêntica sobre o homem. A partir da liberdade que respeita esta verdade e nunca a machuca. E a partir da justiça para todos, começando pelos mais pobres e desvalidos. Uma Espanha e uma Europa não apenas preocupadas com as necessidades materiais dos homens, mas também com as [necessidades] morais e as sociais, com as espirituais e as religiosas; porque todas elas são exigências genuínas do homem inteiro, e só assim se trabalha eficaz, íntegra e fecundamente por seu bem.

Que o mundo possa ouvir a voz de Pedro, para que assim seja salvo.

A 13 de Maio, na Cova da Iria…

“A 13 de maio, / na Cova da Iria / no Céu aparece / a Virgem Maria”. Lembro-me desta canção que aprendi quando era pequeno. E me lembro, hoje, qual não foi a surpresa quando, em Fátima pela primeira vez, descobri que os sinos da Basílica dobram com esta música. Música da minha infância. Mesmo estando separado de Recife por um oceano inteiro, eu me sentia em casa. Eu estava em casa.

Hoje é treze de maio, hoje é dia de Nossa Senhora de Fátima. Bem queria estar acompanhando a visita do Vigário de Cristo à terra onde apareceu a Virgem Mãe de Deus! Quereria estar em Fátima, hoje, mas o Atlântico se interpõe entre mim e o objeto da minha vontade. Daqui, rezo uma ave-maria; cantando a música que aprendi quando criança e que ouvi quando estava longe da terra natal, aos pés da Virgem.

Que a Virgem de Fátima possa proteger Portugal – esta terra onde, como Ela própria disse, “sempre se conservará o dogma da Fé”. Portugal ameaçado pelo secularismo; ontem mesmo, comentei aqui sobre a campanha da Associação Ateísta Portuguesa, segundo a qual somente 18% dos portugueses eram católicos praticantes e, por isso, nada justificava as “benesses” estatais concedidas por ocasião da visita do Vigário de Cristo a Portugal. Pois bem, eis a resposta: meio milhão de pessoas na missa do Papa em Fátima, quase a população de Lisboa inteira.

Que a Virgem de Fátima possa proteger o Papa! No segredo confiado aos três pastorinhos, esta Boa Senhora mostrou-lhes o Santo Padre, que “atravessou uma grande cidade meia em ruínas, e meio trémulo com andar vacilante, acabrunhado de dôr e pena, ia orando pelas almas dos cadáveres que encontrava pelo caminho”. Não consigo deixar de ver esta cidade em ruínas como sendo uma figura da sociedade atual; e o “martírio” que, na minha opinião, mais se aproxima da linguagem empregada em Fátima é o martírio atual de Bento XVI.

E que a Virgem de Fátima possa proteger a Igreja; Aquela que prometeu que, no final, Seu Imaculado Coração triunfaria, possa sustentar a esperança de tantos quanto hoje sofrem, vendo a triste situação do mundo e da Igreja. Eu queria estar em Fátima hoje; mas, cantando a música que aprendi quando criança, percebo de repente – como percebi no além-mar – que o Atlântico é pequeno e não me pode impôr limites. Posso entrar em uma igreja, em qualquer lugar, e rezar à Virgem de Fátima pelas intenções do Sumo Pontífice – e, então, graças ao mistério da comunhão dos santos e aos liames que unem sobrenaturalmente todos os membros da Igreja, estou aos pés de Cristo, estou aos pés da Virgem, estou aos pés do Papa.

Rezemos pelo Papa, pela Igreja, pelo mundo. Que os méritos da Virgem de Fátima possam vir em nosso socorro. Que Aquela que venceu sozinha as heresias do mundo inteiro possa nos proteger. Que triunfe – depressa – o Imaculado Coração da Virgem.

Homilia de Bento XVI em Fátima

Mais ainda, aquela Luz no íntimo dos Pastorinhos, que provém do futuro de Deus, é a mesma que se manifestou na plenitude dos tempos e veio para todos: o Filho de Deus feito homem. Que Ele tem poder para incendiar os corações mais frios e tristes, vemo-lo nos discípulos de Emaús (cf. Lc 24, 32). Por isso a nossa esperança tem fundamento real, apoia-se num acontecimento que se coloca na história e ao mesmo tempo excede-a: é Jesus de Nazaré. E o entusiasmo que a sua sabedoria e poder salvífico suscitavam nas pessoas de então era tal que uma mulher do meio da multidão – como ouvimos no Evangelho – exclama: «Feliz Aquela que Te trouxe no seu ventre e Te amamentou ao seu peito». Contudo Jesus observou: «Mais felizes são os que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática» (Lc 11, 27. 28). Mas quem tem tempo para escutar a sua palavra e deixar-se fascinar pelo seu amor? Quem vela, na noite da dúvida e da incerteza, com o coração acordado em oração? Quem espera a aurora do dia novo, tendo acesa a chama da fé? A fé em Deus abre ao homem o horizonte de uma esperança certa que não desilude; indica um sólido fundamento sobre o qual apoiar, sem medo, a própria vida; pede o abandono, cheio de confiança, nas mãos do Amor que sustenta o mundo.

Bento XVI
Santa Missa na Esplanada de Fátima, 13 de maio de 2010

Campanha de apostasia lusitana

Em um comentário que alguém fez aqui hoje, nem me lembro onde, era feita menção a esta Campanha de Apostasia 2010, da Associação Ateísta Portuguesa. As suas justificativas:

Apenas cerca de 18 por cento dos portugueses se afirmam como “católicos praticantes”, um número que tem vindo a diminuir de forma consistente ao longo dos anos;

Desde 2007 existem por ano mais casamentos civis do que religiosos;

Desde 2008 cerca de um terço dos nascimentos ocorrem inclusive fora do casamento, segundo dados do INE.

Estes números ilustram uma clara e progressiva secularização da sociedade Portuguesa, de todo incompatível com a encenação pia levada a efeito [a visita do Papa Bento XVI a Portugal] com a cumplicidade e a expensas do estado laico.

A proposta dos membros da AAP é o envio, à paróquia onde foram batizados e à diocese à qual ela pertence, de uma “carta de pedido de apostasia”, onde se pede que o nome do ateu seja removido dos livros de Batismo – nos quais deve ser registrado: “Renegou ao seu baptismo e foi declarado apóstata por carta escrita”.

Para entender melhor qual a reivindicação dos lusitanos apóstatas, vale a pena ler o seguinte texto do Pontifício Conselho para [a interpretação d]os textos legislativos: sobre o Actus formalis defectionis ab Ecclesia catholica. Quanto a esta campanha, só dois comentários e uma pergunta:

1. Um comentário: é honesta a atitude dos apóstatas. Têm o meu total apoio. Lógico que eu não desejo que ninguém abandone a Fé Católica sem a qual é impossível agradar a Deus, mas todos sabemos que a Fé não pode ser imposta ou forçada. Se o sujeito não quer ser católico, que não seja. Nós outros continuaremos a rezar por ele.

2. A pergunta: quais são os “privilégios injustos e injustificáveis” que a Igreja Católica está “reclamando” junto ao estado laico português? Afinal de contas, de quê exatamente se queixam os ateus?

3. Outro comentário: se os ateus estão dizendo que só 18% dos portugueses são católicos praticantes e, por isso, não se justifica a “tolerância de ponto” que está sendo concedida a estes católicos durante a visita pontifícia, quero só ver a quantidade de apostasias formais que a AAP vai conseguir. Porque, embora seja até provável que muitos não abracem com entusiasmo a Fé Católica e Apostólica, duvido muitíssimo que sejam muitos os que abracem com fervor a fé atéia. Sugiro à AAP que, depois, produza um relatório com as solicitações formais que foram realizadas. E vamos ver do lado de quem os números estão.

Que acontece se o sal se tornar insípido? – Bento XVI

Fonte: Vaticano.

Homilia do Papa Bento XVI

[…]

Lisboa amiga, porto e abrigo de tantas esperanças que te confiava quem partia e pretendia quem te visitava, gostava hoje de usar as chaves que me entregas para alicerçar as tuas esperanças humanas na Esperança divina. Na leitura há pouco proclamada da Epístola de São Pedro, ouvimos dizer: «Eu vou pôr em Sião uma pedra angular, escolhida e preciosa. E quem nela acreditar não será confundido». E o Apóstolo explica: «Aproximai-vos do Senhor. Ele é a pedra viva, rejeitada, é certo, pelos homens, mas aos olhos de Deus escolhida e preciosa» (1 Pd 2, 6.4). Irmãos e irmãs, quem acreditar em Jesus não será confundido: é Palavra de Deus, que não Se engana nem pode enganar. Palavra confirmada por uma «multidão que ninguém pode contar e provém de todas as nações, tribos, povos e línguas», e que o autor do Apocalipse viu vestida de «túnicas brancas e com palmas na mão» (Ap 7, 9). Nesta multidão incontável, não estão apenas os Santos Veríssimo, Máxima e Júlia, aqui martirizados na perseguição de Diocleciano, ou São Vicente, diácono e mártir, padroeiro principal do Patriarcado;  Santo António e São João de Brito que daqui partiram para semear a boa semente de Deus noutras terras e gentes, ou São Nuno de Santa Maria que, há pouco mais de um ano, inscrevi no livro dos Santos. Mas é formada pelos «servos do nosso Deus» de todos os tempos e lugares, em cuja fronte foi traçado o sinal da cruz com «o sinete de marcar do Deus vivo» (Ap 7, 2): o Espírito Santo. Trata-se do rito inicial cumprido sobre cada um de nós no sacramento do Baptismo, pelo qual a Igreja dá à luz os «santos».

Sabemos que não lhe faltam filhos insubmissos e até rebeldes, mas é nos Santos que a Igreja reconhece os seus traços característicos e, precisamente neles, saboreia a sua alegria mais profunda. Irmana-os, a todos, a vontade de encarnar na sua existência o Evangelho, sob o impulso do eterno animador do Povo de Deus que é o Espírito Santo. Fixando os seus Santos, esta Igreja local concluiu justamente que a prioridade pastoral hoje é fazer de cada mulher e homem cristão uma presença irradiante da perspectiva evangélica no meio do mundo, na família, na cultura, na economia, na política. Muitas vezes preocupamo-nos afanosamente com as consequências sociais, culturais e políticas da fé, dando por suposto que a fé existe, o que é cada vez menos realista. Colocou-se uma confiança talvez excessiva nas estruturas e nos programas eclesiais, na distribuição de poderes e funções; mas que acontece se o sal se tornar insípido?

[…]

Assim há um vasto esforço capilar a fazer para que cada cristão se transforme em testemunha capaz de dar conta a todos e sempre da esperança que o anima (cf. 1 Pd 3, 15): só Cristo pode satisfazer plenamente os anseios profundos de cada coração humano e responder às suas questões mais inquietantes acerca do sofrimento, da injustiça e do mal, sobre a morte e a vida do Além.

Queridos Irmãos e jovens amigos, Cristo está sempre connosco e caminha sempre com a sua Igreja, acompanha-a e guarda-a, como Ele nos disse: «Eu estou sempre convosco, até ao fim dos tempos» (Mt 28, 20). Nunca duvideis da sua presença! Procurai sempre o Senhor Jesus, crescei na amizade com Ele, comungai-O. Aprendei a ouvir e a conhecer a sua palavra e também a reconhecê-Lo nos pobres. Vivei a vossa vida com alegria e entusiasmo, certos da sua presença e da sua amizade gratuita, generosa, fiel até à morte de cruz. Testemunhai a alegria desta sua presença forte e suave a todos, a começar pelos da vossa idade. Dizei-lhes que é belo ser amigo de Jesus e que vale a pena segui-Lo. Com o vosso entusiasmo, mostrai que, entre tantos modos de viver que hoje o mundo parece oferecer-nos – todos aparentemente do mesmo nível –, só seguindo Jesus é que se encontra o verdadeiro sentido da vida e, consequentemente, a alegria verdadeira e duradoura.

Bento XVI e a Conferência Francesa

Do discurso do Santo Padre de ontem aos lobos mitrados à Conferência Episcopal Francesa, domingo dia 14 de setembro de 2008, festa de exaltação da Santa Cruz e primeiro aniversário da entrada em vigor do motu proprio Summorum Pontificum (negritos e sublinhados meus):

El pueblo cristiano debe teneros afecto y respeto. La tradición cristiana ha hecho hincapié desde el principio en este punto: «Los que son de Dios y de Jesucristo, están con el Obispo», decía san Ignacio de Antioquía (Ad Phil., 3,2), que añadía también: «A quien el dueño de la casa haya mandado para la administración de la casa, hay que recibirlo como al que lo ha mandado (Ad Ef. 6, 1). Vuestra misión, espiritual sobre todo, consiste, pues, en crear las condiciones necesarias para que los fieles, citando de nuevo a san Ignacio, puedan «cantar al unísono por Jesucristo un himno al Padre» (ibíd., 4, 2) y hacer así de su vida una ofrenda a Dios.

[…]

Sí, queridos Hermanos en el Episcopado, seguid llamando al sacerdocio y a la vida religiosa, como Pedro echó las redes por orden del Maestro, tras pasar una noche de pesca sin obtener nada (cf. Lc 5,5).

Nunca se repetirá bastante que el sacerdocio es esencial para la Iglesia, por el bien mismo del laicado. Los sacerdotes son un don de Dios para la Iglesia. No pueden delegar sus funciones a los fieles en lo que se refiere a las misiones que les son propias. Queridos Hermanos en el Episcopado, os invito a seguir solícitos para ayudar a vuestros sacerdotes a vivir en íntima unión con Cristo. Su vida espiritual es el fundamento de su vida apostólica. Exhortadles con dulzura a la oración cotidiana y a la celebración digna de los sacramentos, especialmente de la Eucaristía y la Reconciliación, como lo hacía San Francisco de Sales con sus sacerdotes. Todo sacerdote debe poder sentirse dichoso de servir a la Iglesia. A ejemplo del cura de Ars, hijo de vuestra tierra y patrono de todos los párrocos del mundo, no dejéis de reiterar que un hombre no puede hacer nada más grande que dar a los fieles el cuerpo y la sangre de Cristo, y perdonar los pecados. Tratad de estar atentos a su formación humana, intelectual y espiritual, y a sus recursos para vivir. Pese a la carga de vuestras gravosas ocupaciones, intentad encontraros con ellos regularmente, sabiéndolos acoger como hermanos y amigos (cf. Lumen gentium, 28; Christus Dominus, 16). Los sacerdotes necesitan vuestro afecto, vuestro aliento y solicitud. Estad a su lado y tened una atención especial con los que están en dificultad, los enfermos o de edad avanzada (cf. Christus Dominus, 16). No olvidéis que, como dice el Concilio Vaticano II usando una espléndida expresión de san Ignacio de Antioquía a los Magnesios, son «la corona espiritual del Obispo» (Lumen gentium, 41).

El culto litúrgico es la expresión suprema de la vida sacerdotal y episcopal, como también de la enseñanza catequética. Queridos Hermanos, vuestro oficio de santificar a los fieles es esencial para el crecimiento de la Iglesia. Me he sentido impulsado a precisar en el “Motu proprio” Summorum Pontificum las condiciones para ejercer esta responsabilidad por lo que respecta a la posibilidad de utilizar tanto el misal del Beato Juan XXIII (1962) como el del Papa Pablo VI (1970). Ya se han dejado ver los frutos de estas nuevas disposiciones, y espero el necesario apaciguamiento de los espíritus que, gracias a Dios, se está produciendo. Tengo en cuenta las dificultades que encontráis, pero no me cabe la menor duda de que podéis llegar, en un tiempo razonable, a soluciones satisfactorias para todos, para que la túnica inconsútil de Cristo no se desgarre todavía más. Nadie está de más en la Iglesia. Todos, sin excepción, han de poder sentirse en ella “como en su casa”, y nunca rechazados. Dios, que ama a todos los hombres y no quiere que ninguno se pierda, nos confía esta misión haciéndonos Pastores de su grey. Sólo nos queda darle gracias por el honor y la confianza que Él nos otorga. Por tanto, esforcémonos por ser siempre servidores de la unidad.

[…]

Queridos Hermanos en el Episcopado, con alegría y emoción os encomiendo a Nuestra Señora de Lourdes y a Santa Bernadette. El poder de Dios se ha manifestado siempre en la debilidad. El Espíritu Santo ha lavado siempre la suciedad, regado lo árido, enderezado lo torcido. Cristo Salvador, que ha tenido a bien convertirnos en instrumentos para transmitir su amor a los hombres, nunca dejará de haceros crecer en la fe, la esperanza y la caridad, para daros el gozo de llevar a Él un número creciente de hombres y mujeres de nuestro tiempo. A la vez que os confío a su fuerza de Redentor, os imparto a todos y de corazón una afectuosa Bendición Apostólica.

Comento eu: que despedida mais apropriada! Aludir, falando à Conferência Episcopal Francesa, ao Deus que é a solução para toda debilidade, sujeira, aridez e coisas tortas caiu como uma luva!