Os verdadeiros cristãos são os filhos da Igreja e da Virgem Maria

Há duas frases tradicionais que sintetizam de maneira admirável a necessidade da Fé Católica para agradar a Deus, entre as quais há uma bonita relação de paralelismo que faz com que, uma vez que as tenhamos aprendido (talvez, numa catequese infantil), delas não nos esqueçamos mais. Uma: não pode ter Deus por Pai no Céu quem não tem a Igreja por Mãe na Terra, de São Cipriano de Cartago (De Ecclesiae Catholicae unitate, 6). A outra: quem não tem a Virgem Maria por Mãe, não tem Deus por Pai, de (certamente entre outros) S. Louis de Montfort (Tratado da Verdadeira Devoção, 30).

A Virgem Mãe de Deus e a Igreja, longe das quais não é possível encontrar a Nosso Senhor Jesus Cristo! A Igreja Católica e a Santíssima Virgem, cuja maternidade é essencial àqueles que se pretendam filhos de Deus neste mundo e no vindouro! As frases podem soar um pouco politicamente incorretas nesta época de caricata tolerância religiosa em que vivemos (como se “tolerância” fosse sinônimo de dizer “está tudo muito bem e qualquer coisa é a mesma coisa”); não obstante, são profundamente verdadeiras e atravessam os séculos com o mesmo vigor original – uma vez que obtêm a sua força do sagrado Depositum Fidei, que não muda ao sabor dos ventos de opiniões de cada momento histórico.

Quem quer ser filho de Deus tem que ser filho da Igreja, quem quer ser filho de Deus precisa ser filho da Virgem Maria: é o que dizem os santos de todos os tempos. Trata-se, perceba-se, de uma forma indireta de repetir o dogma – mil-vezes odiado! – de que fora da Igreja não há salvação. É a mesma coisa: dizer que é preciso ser filho da Igreja e filho da Virgem Santíssima é o perfeito equivalente (*) de dizer que é necessário ser Católico Apostólico Romano. Hoje parece ser um pecado imperdoável repetir que fora da Igreja Católica não é possível encontrar salvação. Contudo, parece que o mundo ainda se permite ouvir que é mister ser filho da Igreja e da Virgem Maria.

[(*) A primeira parte – filho da Igreja – exclui, sem sombra de dúvidas, todos os não-cristãos. A Igreja, mesmo em sentido lato, é uma instituição cristã por essência e sequer se concebe usar o mesmo termo para se referir às (eventuais) estruturas institucionais de religiões outras que o Cristianismo. A segunda parte – filho de Maria – exclui, inequivocamente, os protestantes, ao menos a imensíssima maior parte dos protestantes que desconhecem a veneração dos santos – e, em particular, o culto de hiperdulia que é devido à Santíssima Virgem Mãe de Deus. Sobram, talvez, expandindo a interpretação, os cismáticos orientais, que perfazem Igrejas Particulares e guardam a veneração devida à SSma Virgem. Este sentido é, parece-me, o único em que talvez seja possível afirmar imperfeita a equivalência entre as duas sentenças e o nulla salus. Mesmo assim, elas abarcam a esmagadora maior parte daquilo a que se refere o dogma – e, portanto, dizê-las é já dizer muito.]

Onde ressoam, ainda hoje, essas expressões [que se diriam] tão anacrônicas?! De que obscuro gueto saem essas pregações [consideradas] tão intolerantes? Não é [somente] na blogosfera ultra-radical ou nas seitas cripto-cismáticas dos saudosistas dos tempos passados. Essas palavras reverberam na Praça de São Pedro e, de lá, para todo o orbe. Quem as pronuncia é o homem que sempre se encontra nas capas dos veículos de imprensa mundo afora. É o Papa Francisco – o Papa mais amado e bajulado pelos inimigos da Igreja de todos os naipes – quem o afirma com todas as letras: é preciso ser filho de Maria! Não existe Cristo sem a Igreja!

Deixemos falar o Papa Francisco (itálicos no original, negritos meus):

E, para além de contemplar a face de Deus, podemos também louvá-Lo e glorificá-Lo como os pastores, que regressaram de Belém com um cântico de agradecimento depois de ter visto o Menino e a sua jovem mãe (cf. Lc 2, 16). Estavam juntos, como juntos estiveram no Calvário, porque Cristo e a sua Mãe são inseparáveis: há entre ambos uma relação estreitíssima, como aliás entre cada filho e sua mãe. A carne de Cristo – que é charneira da nossa salvação (Tertuliano) – foi tecida no ventre de Maria (cf. Sal 139/138, 13). Tal inseparabilidade é significada também pelo facto de Maria, escolhida para ser Mãe do Redentor, ter compartilhado intimamente toda a sua missão, permanecendo junto do Filho até ao fim no calvário.

Maria está assim tão unida a Jesus, porque recebeu d’Ele o conhecimento do coração, o conhecimento da fé, alimentada pela experiência materna e pela união íntima com o seu Filho. A Virgem Santa é a mulher de fé, que deu lugar a Deus no seu coração, nos seus projectos; é a crente capaz de individuar no dom do Filho a chegada daquela «plenitude do tempo» (Gl 4, 4) na qual Deus, escolhendo o caminho humilde da existência humana, entrou pessoalmente no sulco da história da salvação. Por isso, não se pode compreender Jesus sem a sua Mãe.

Igualmente inseparáveis são Cristo e a Igreja, porque a Igreja e Maria caminham sempre juntas, sendo isto exactamente o mistério da mulher na comunidade eclesial, e não se pode compreender a salvação realizada por Jesus sem considerar a maternidade da Igreja. Separar Jesus da Igreja seria querer introduzir uma «dicotomia absurda», como escreveu o Beato Paulo VI (cf. Exort. ap. Evangelii nuntiandi, 16). Não é possível «amar a Cristo, mas sem amar a Igreja, ouvir Cristo mas não a Igreja, ser de Cristo mas fora da Igreja» (Ibid., 16). Na verdade, é precisamente a Igreja, a grande família de Deus, que nos traz Cristo. A nossa fé não é uma doutrina abstracta nem uma filosofia, mas a relação vital e plena com uma pessoa: Jesus Cristo, o Filho unigénito de Deus que Se fez homem, morreu e ressuscitou para nos salvar e que está vivo no meio de nós. Onde podemos encontrá-Lo? Encontramo-Lo na Igreja, na nossa Santa Mãe Igreja hierárquica. É a Igreja que diz hoje: «Eis o Cordeiro de Deus»; é a Igreja que O anuncia; é na Igreja que Jesus continua a realizar os seus gestos de graça que são os sacramentos.

Esta acção e missão da Igreja exprimem a sua maternidade. Na verdade, ela é como uma mãe que guarda Jesus com ternura, e O dá a todos com alegria e generosidade. Nenhuma manifestação de Cristo, nem sequer a mais mística, pode jamais ser separada da carne e do sangue da Igreja, da realidade histórica concreta do Corpo de Cristo. Sem a Igreja, Jesus Cristo acaba por ficar reduzido a uma ideia, a uma moral, a um sentimento. Sem a Igreja, a nossa relação com Cristo ficaria à mercê da nossa imaginação, das nossas interpretações, dos nossos humores.

Papa Francisco, HOMILIA.
in Solenidade de Maria Santíssima Mãe de Deus
1º de janeiro de 2015.

A Igreja Católica é a fiel depositária de um determinado conjunto de verdades imutáveis, as quais tem o mandato divino de anunciar ao mundo como as recebeu de Cristo – sem as aumentar nem as diminuir. Os dogmas não ficam nunca “ultrapassados”, a Doutrina Cristã não “deixa de valer” jamais. E o Papa – qualquer que seja o Papa! – é o guardião da Fé. Não deveria ser estranho que o Vigário de Cristo agisse como Vigário de Cristo. Nestes tempos que correm, no entanto, e como há um evidente empenho em sequestrar o Papa Francisco, é importante registrar e documentar com bastante cuidado: o Papa Francisco é Papa católico. E, por mais que o desejem os anti-clericais, ele não pode ser outra coisa. Não gostam de ouvir o Pontífice Argentino falar? Que ouçam, portanto, o que fala o Papa Francisco! Que o ouçam e, ouvindo-o, se convertam. Pois – Franciscus dixit! – não é possível separar Cristo de Sua Mãe Santíssima. Porque – Bergoglio garante! – não se encontra a Cristo fora da Igreja Católica e Apostólica.

Que a SSma. Virgem, Aquela «que deu uma face humana ao Verbo eterno, para que todos nós O pudéssemos contemplar» (Papa Francisco, id. ibid.), rogue pela Igreja, pelo Papa Francisco e por todos nós. Que Ela, de novo e mais uma vez, nos traga o Seu Divino Filho, diante do qual as Trevas não podem subsistir. Que Ela nos possa sempre valer, em meio às tentações desta vida conturbada. Que nos livre, sempre, das ciladas que o Maligno nos arma nestes dias difíceis em que vivemos.

As imagens religiosas e a intolerância na Facvldade de Direito do Recife

No século XIX, a Facvldade de Direito do Recife foi solenemente consagrada a Nossa Senhora do Bom Conselho, dora em diante tornada a padroeira dos estudantes de direito da referida instituição. A imagem que provavelmente foi legada à Casa na ocasião encontra-se atualmente (e confesso não saber ao certo a partir de quando) como parte do acervo do Museu Franciscano de Arte Sacra.

Em 2007, na comemoração dos 150 anos da supracitada consagração, um grupo de estudantes ofereceu-se para intermediar a doação de uma imagem da Mater Boni Consilii à Casa, a fim de marcar o sesquicentenário. A matéria foi apreciada pelo Conselho Departamental – órgão deliberativo máximo da FDR – que, em sessão realizada aos 04 de dezembro de 2007, aprovou a doação, tomando diversas diligências para a oficialização do gesto.

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Foi designado um professor para supervisionar o processo, pouco tempo depois culminado com a solenidade de doação da imagem, que foi conduzida pelo Cerimonial da Universidade e acompanhada por diversos representantes do corpo docente e discente, pela pró-reitora da UFPE e pelo presidente do Diretório Acadêmico. Passava, desde então, a integrar o patrimônio público da Universidade Federal de Pernambuco.

Cerimônia de entronização da imagem de N. S. do Bom Conselho

A imagem, até a semana passada, ocupava – já há anos – um lugar discreto no hall lateral do edifício, sobre uma mesa, com uma pequena placa indicando as circunstâncias da doação. Não é o lugar que aparece nas fotos acima, mas um bastante similar, do lado oposto.

No último dia 17 de novembro, contudo, segunda feira próxima passada, determinado movimento estudantil atuante na FDR – o Movimento Zoada – adquiriu uma imagem de Iansã (uma divindade afro) e, sem obedecer a nenhuma formalidade administrativa, numa pantomima grotesca da cerimônia acima referida, afastou a imagem de Nossa Senhora do Bom Conselho da mesa onde ela se encontrava para a aposição, ao lado dela, da do orixá. O ato, apresentado como parte da I Semana da Consciência Negra da Faculdade de Direito do Recife, foi interpretado por alguns católicos como provocativo e suscitou vivo debate entre os estudantes.

No dia 20 de novembro, pela manhã, descobriu-se que a imagem de Iansã fora danificada, tendo a sua cabeça quebrada e separada do corpo. O vandalismo provocou viva indignação de toda a comunidade acadêmica e levou a direção a remover todas as imagens do local, até deliberação do próximo Conselho Departamental que está marcado para esta semana.

Os meios de comunicação fizeram verdadeira e macabra festa em torno do cadáver, apresentando o ato como uma vergonhosa manifestação de racismo e intolerância religiosa, com grave prejuízo para a imagem da instituição perante a opinião pública. Para quem vê de fora, fica parecendo que algum membro da Casa, em atitude racista ou de intolerância religiosa, destruiu um símbolo da cultura afro que estava civilizadamente exposto no prédio onde funciona a Facvldade de Direito do Recife.

Eu, na qualidade de discente da Casa e, portanto, de observador interno de toda essa patacoada, sinto-me em condições de apresentar algumas informações a respeito do ocorrido:

1. Para a maior parte das pessoas, católicas ou não católicas, a imagem de Nossa Senhora do Bom Conselho nunca provocou maiores incômodos, sendo interpretada como um objeto decorativo que contava uma parte da história da Facvldade e sobre a qual, portanto, nunca houve necessidade de se suscitar grande polêmica.

2. Também sempre houve, quer no corpo discente, quer no docente, algumas pessoas profundamente incomodadas com a presença da padroeira dos estudantes de Direito do Recife no interior do prédio da Facvldade. Reclamavam contra essa flagrante violação da laicidade constitucional. Ao que consta, já chegaram inclusive a ser enviados requerimentos administrativos pedindo a retirada da imagem, sob este argumento, tendo todos eles sido indeferidos.

3. A razão pela qual a pretensão de remover a imagem da Virgem do Bom Conselho sempre fracassou é bastante óbvia: os que a levantavam eram apenas minoritários descontentes inflamando uma polêmica já pacificada e buscando ressuscitar uma questão já anteriormente decidida. Os símbolos religiosos nos prédios públicos não ferem a laicidade do Estado quando se trata de elementos histórico-culturais: a imagem específica da Virgem do Bom Conselho (e não outra imagem) estava no hall lateral do Palácio não para fazer proselitismo religioso, mas para contar um pedaço da história da Casa.

4. (É esta a razão, inclusive, pela qual não procede, em absoluto, o argumento nonsense de que “se coloca um, então tem que colocar tudo”: há casos em que a função do símbolo religioso em público não é a de representar a religião do povo, e sim a de prestar um tributo à história do país. É por conta de determinadas contingências históricas que os nossos quartéis, por exemplo, guardam ainda imagens da Conceição dos Militares, ou as nossas cédulas de Real ostentam a Marianne revolucionária, ou a cidade de Salvador tem enormes orixás dançando despreocupadamente em público no Dique do Tororó. Tais símbolos, embora conservem o seu caráter religioso, não desempenham função específica de culto, razão pela qual não incorrem na norma constitucional que proíbe ao Estado “estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança” (Art. 19, I, CF). Não tem lógica, portanto, exigir representação isonômica, nos prédios públicos, das religiões do povo brasileiro: prédio público não é lugar para “representar” religião alguma, e os símbolos religiosos lá presentes não estão desempenhando este papel.)

5. É este entendimento o que prevalece na sociedade atual, quando a maior parte das pessoas não se mostra particularmente ofendida em suas crenças íntimas diante de um Crucifixo num tribunal ou de Thêmis na frente do STF. É este o entendimento que prevaleceu no CNJ, quando do julgamento que indeferiu os pedidos para a remoção de crucifixos das dependências do Judiciário. É este o entendimento, por fim, que prevaleceu no Conselho Departamental de 2007 acima referido, que decidiu que a presença de uma imagem de Nossa Senhora do Bom Conselho no prédio da Facvldade de Direito do Recife não violava a laicidade do Estado.

6. É impossível não enxergar relação entre o incômodo que a imagem da santa católica provocava em alguns e o estardalhaço feito recentemente com a doação da imagem de Iansã: primeiro porque as mesmas pessoas que sempre defenderam a retirada da imagem católica foram as mais ardentes defensoras da permanência da da divindade africana; depois porque tudo foi conduzido de forma a acirrar os ânimos religiosos o mais possível; terceiro porque não faltaram membros do corpo discente e docente a falar, em público, coisas como “que a polêmica gerada pode dar frutos positivos e visibilidade à necessidade de se combater os discursos do ódio e da intolerância” – no caso, o discurso católico de que era ofensiva e desrespeitosa a colocação e a permanência da imagem de Iansã ao lado da de Nossa Senhora; por fim, porque agora as duas imagens foram retiradas e a relativa tranquilidade em que se encontra a Casa parece dar indícios de que o verdadeiro objetivo foi atingido: conseguiu-se um fato novo para levar ao Conselho a fim de anular a decisão pelo órgão tomada em 2007 e, no final das contas, alcançar o direito mesquinho de ostentar a intolerante Mesa Vazia no lugar onde os últimos anos viram repousar a serena imagem da Virgem do Bom Conselho.

7. Em declaração à mídia local, uma militante do acima referido Movimento Zoada – responsável pela “doação” à brasileira da imagem de Iansã – afirmou quanto segue:

Ainda em entrevista ao LeiaJá, a integrante do Zoada, Brisa Lira, afirmou que boa parte dos participantes não são adeptos ao candomblé. A própria estudante se diz ateia e garantiu que colocar a Iansã na Faculdade foi “apenas um ato político”. “Meu sentimento em relação ao acontecido é de total intolerância política”, completou Brisa.

8. Ou seja, a colocação da imagem de Iansã, além de não seguir as exigências legais a que se submeteram os estudantes que, em 2007, doaram a imagem de Nossa Senhora do Bom Conselho, ainda foi feita sem nenhuma motivação religiosa sincera: tratou-se tão somente da utilização política de um símbolo sagrado – de uma religião da qual os responsáveis pelo ato não são adeptos – para atacar uma situação que eles, contrariamente ao brasileiro médio, ao Conselho Nacional de Justiça e ao Conselho Deliberativo do CCJ/UFPE, consideravam injusta. É um escândalo que essa artimanha incivilizada prevaleça e, por conta dela, os derrotados em todas as esferas legais consigam reverter, ad baculum, uma decisão administrativa já há anos definitiva!

9. Last but not least, cabe perguntar quem foi que quebrou a imagem da Iansã. Como nenhuma investigação sobre o assunto foi concluída, a autoria do ato de vandalismo é, até o presente momento, desconhecida. Sendo desconhecido o autor, com ainda mais razão são desconhecidas as intenções que o motivaram a fazer o que fez. Não é possível, portanto, falar que a decapitação da imagem africana tenha sido um ato de intolerância! Com os elementos dos quais dispomos atualmente, pode ter sido qualquer coisa: tanto pode ter sido um acidente quanto uma manifestação preternatural de um Xangô furioso com a utilização desrespeitosa da imagem de sua esposa, tanto pode ter sido um cristão revoltado com a profanação da imagem da Virgem do Bom Conselho quanto um membro de algum movimento estudantil de esquerda que vislumbrou na polêmica uma oportunidade de ouro para conseguir enfim retirar da FDR a imagem de Nossa Senhora do Bom Conselho – e de quebra ainda culpando os católicos.

É esta a triste situação atual: um mal-estar generalizado, um profundo desrespeito à religião católica e ao Candomblé, uma sórdida capitalização político-ideológica de um ato de vandalismo cujas reais motivações ninguém sabe, e um anteparo vazio no hall da FDR. Esperemos o desenrolar dos próximos acontecimentos. Veremos se o Conselho vai respeitar a decisão tomada em 2007 ou vai abaixar a cabeça subserviente diante da truculência dos iconoclastas. Vejamos se ele vai se impôr contra essa terrível falta de caráter na última semana realizada… ou se vai se deixar ser zoado.

Sobre o assunto, ler também (no Facebook):

Vou tentar explicar que da melhor forma que consigo

Vamos falar de igualdade de tratamento?

Já que fui citado…

Em defesa de Iansã.

5ª Campanha Nacional de Consagrações à Santíssima Virgem

Já foi lançada, pelo pessoal do Consagra-te!, a 5ª Campanha Nacional de Consagrações à Virgem Maria. À semelhança do que acontece já há alguns anos, o Deus lo Vult! vem incentivar enfaticamente os seus leitores a conhecerem essa santa consagração e, caso a isso se sintam chamados, a se fazerem generosamente escravos de Nosso Senhor Jesus Cristo por meio das mãos maternais da Santíssima Virgem Maria.

Trata-se de eficacíssima devoção que, como diz o próprio S. Luís de Montfort, é um «segredo» na ordem da graça para alcançar tesouros espirituais maravilhosos «em pouco tempo, suavemente e facilmente» (cf. Tratado, §82). A promessa pode parecer enganosa aos que estão convencidos da importância da ascese lenta e trabalhada para o próprio aperfeiçoamento espiritual; mas a oposição é apenas aparente. Primeiro porque este «segredo» exige o desapego de si mesmo, o que é um dos fins mais evidentes da ascese; segundo porque as suas «suavidade» e «facilidade» são as do seguimento incondicionado de Cristo, cujo jugo é suave e cujo fardo é leve; e terceiro porque é um caminho de vida que nunca está perfeitamente concluído, mas que pressupõe um acúmulo cada vez maior de graças através do serviço quotidiano à Virgem Mãe de Deus. Não se trata, assim, de uma inexistente alternativa à ascese, mas ao contrário: é uma ascese radical, de cuja radicalidade mesma jorram as graças que o coração de Deus reserva aos que se Lhe entregam sem reservas.

É um segredo por causa do qual ousamos também nós repetir as palavras de gratidão da Bem-Aventurada Virgem Maria: «fecit nobis magna qui potens est», fez-nos maravilhas o Todo-Poderoso. E, como temos o dever de distribuir de graça aquilo que de graça recebemos, apraz-nos sair em apaixonada pregação da devoção verdadeira à Santíssima Virgem Mãe de Deus, fonte de tantas e tantas graças que nós próprios, pecadores e limitados, não as podemos esgotar. Nossas almas, por mais inflamadas de amor que se tornem, não passam de pequenas chamas bruxuleantes do fogo que Nosso Senhor quer atear à terra; para que ela arda, urge que sejamos um exército maior do que temos sido até então. Urge que alcancemos mais almas para Deus, a fim de suprir – um pouco que seja! – a nossa própria pequenez na multiplicidade dos nossos irmãos na Fé.

Urge fazer com que a Virgem Maria reine nos corações. Para que o Seu Filho possa reinar nesta terra que é d’Ele.

Convidam-se, portanto, «todos os católicos a se unirem conosco nesta Campanha, fazendo também a sua Consagração Total pelo método de São Luís [de] Montfort ou renovando a sua Consagração, no dia 12 de dezembro de 2014, sexta-feira (Festa de Nossa Senhora de Guadalupe, Padroeira da América Latina); ou, por razões locais, em outra data próxima». Maiores e mais detalhadas informações no já citado site do Consagra-te!, ou através da caixa de comentários ou do email deste blog. Confiemo-nos determinadamente e sem reservas à proteção da Virgem Mãe de Deus; Ela não desampara, jamais, os que a Ela humildemente recorrem. Ela não abandona, nunca, os que generosamente se colocam a Seu serviço.

Lírios do Céu para uma festa de profissão religiosa

Gostaria de registrar este singelo relato que encontrei no Facebook. Está relacionado com o que aconteceu aqui em Pernambuco, em Cimbres, onde Nossa Senhora apareceu no século passado. A história é bem conhecida inclusive na capital; infelizmente, o local exato das aparições parece se encontrar hoje in partibus infidelium, sob o controle arbitrário de um punhado de índios que decidem quem pode entrar nas terras, e até onde, com grave prejuízo para os devotos afeitos a romarias…

O relato não tem associação direta com as aparições; é somente um mimo de Nossa Senhora e, talvez justamente por isso, seja tão tocante em sua simplicidade. Talvez nos atraiam principalmente essas coisas que nos vêm como se não tivessem propósitos maiores, como se fossem puro agrado gratuito – como é gratuito o amor. Lírios para a festa de jubileu, simples assim. Que essa delicadeza dos Céus possa enternecer o nosso coração e inflamar a nossa alma de amor à Virgem Imaculada. Que recorramos a Ela como a uma Mãe que sempre sabe o que é melhor para os Seus filhos. Que essa filial confiança seja a nossa salvação.

A Ir. Adélia, última vidente de Cimbres, faleceu há poucos meses aqui em Recife. Era dia 13 de outubro. Aniversário do Milagre do Sol.

* * *

Fonte: “Nossa Senhora das Graças apareceu em Cimbres”

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O trecho foi retirado do livro “Aqui o céu se encontra com a terra”. Autoria de Ione Maria Paiva. 9ª Edição, pag. 100.

“Nazaré da mata (Pernambuco) marcou muito a vida da Irmã Adélia. Foi lá que comemorou seu Jubileu de Prata de vida religiosa. Era permitido que a família fizesse uma festa. Padre Petronilo e Padre Mário, com quem se dava muito, celebraram a Santa Missa em Ação de Graças. Mas na véspera da festa, para tristeza de todos, não havia flores para enfeitar o altar. Perto da Igreja havia um canteiro de lírios do mato, cor de rosa, muito bonitos, mas que naquela época do ano só tinham folhagem. Mas aconteceu que no dia da festa aquele canteiro amanheceu todo florido. Chamou tanto a atenção de todos que foi batida uma fotografia da Irmã Adélia com o sobrinho Carlos Augusto no meio daquelas flores que , com certeza, foram mandadas por Nossa Senhora como presente seu por aquele dia tão importante e festivo. Eram tantos lírios que deram para ornamentar a igreja, o refeitório, os quartos, enfim toda a casa ficou enfeitada com aquele rosa singelo dos lírios”.

Considerai os lírios dos campos como nascem; não fiam nem tecem: contudo digo-vos, nem Salomão em toda sua glória, jamais se vestiu como um deles. (Lc.12,27).

No alto da Cruz ou aos pés d’Ela

É interessante que ao 14 de setembro siga-se o 15 de setembro; ou, dito de outro modo, para parecer menos simplório, é interessante que logo após a festa de Exaltação da Santa Cruz (dia 14) a Igreja celebre a festa de Nossa Senhora das Dores (dia 15).

Certo, o dia 14 é para celebrarmos o «o glorioso fato da reconquista da Santa Cruz das mãos dos Persas»; não obstante, é-nos impossível não pensar também na Crucificação em si, naquelas palavras de Cristo: «quando eu for levantado da terra, atrairei todos os homens a mim» (Jo XII, 32). Ave Crux, Spes Unica: Salve, ó Cruz, única Esperança! Foi pela Paixão de Cristo que nós fomos salvos, assim aprendemos quando ainda éramos crianças. No entanto, esta verdade é sempre nova, e a cada vez que voltamos o nosso olhar para o Calvário nós entendemos um pouco melhor o que significa a nossa salvação. O tempo passa, e acumulamos pecados sobre pecados em nossas almas; o tempo passa, e temos o péssimo hábito de colecionar ofensas a Deus. Será possível que ainda poderemos ser perdoados, e de novo, e ainda mais uma vez, nós que já recebemos tanto a misericórdia do Altíssimo e, não obstante, temos retribuído a Ele com tanta mesquinhez?

Deus nunca Se cansa de nos perdoar, e olhando para a Sua Cruz temos a obrigação de amá-Lo cada vez mais, pois somos cada vez mais perdoados. A Cruz d’Ele é sempre nova e sempre que a olhamos, Ela se nos aparenta um pouco mais pesada, propter peccata nostra; cada vez que nos colocamos diante de um Crucifixo, constatamos envergonhados que há um pouco mais de sofrimento ali, colocado por nós. Pelos pecados de cada dia, com cuja malícia nós muitas vezes sequer nos importamos. Não sei se Oscar Wilde pensava nisso ao escrever o seu Retrato de Dorian Gray, mas o fato é que todos nós temos um retrato que fica cada vez mais disforme à força de nossas decrepitudes morais: a Crucificação é um pouco mais horrenda a cada dia, por culpa de nós. Se não percebemos a evolução deste sagrado sofrimento, é porque temos olhado com bem pouca atenção para Aquele que transpassamos.

E aos sofrimentos d’Ele sempre estiveram unidos os d’Ela, como bem o sabemos; a Virgem das Dores sempre acompanha a Paixão do Seu Divino Filho, e assim as nossas faltas não ofendem somente a Ele: também machucam o coração desta amabilíssima Mãe. Que, à semelhança do Seu Filho, não conhece limites para nos amar e volve o Seu olhar maternal para nós talvez com tanto mais fervor quanto mais veemência aplicamos em ofender-Lhe. Talvez não suportássemos a fealdade da Crucificação se a Santíssima Virgem não estivesse lá; talvez voltássemos o nosso rosto com horror e caíssemos no desespero, se a serena beleza d’Aquela Senhora não estivesse lá a nos insuflar coragem.

Somos pecadores, e volvendo o nosso olhar do Crucificado para a Virgem das Dores esta verdade nos salta aos olhos com uma aterradora clareza. No entanto, no alto da Cruz ou aos pés d’Ela, se olharmos com atenção, nós não encontramos senão misericórdia. É grande a nossa culpa, sim, e as dores do Gólgota não nos permitem esquecê-la; no entanto, maior é o amor d’Aquele que quis sofrer e morrer por nós quando ainda éramos pecadores. Maior é o amor d’Aquela que entregou o Seu Filho inocente a nós. Nas dores que infligimos a Cristo e à Santíssima Virgem, bem que poderíamos encontrar a nossa perdição; no entanto, se meditarmos compungidos e arrependidos nestes mistérios sagrados, descobriremos jubilosos que é do Calvário que se nos abrem as portas da nossa salvação.

4ª Campanha Nacional de Consagrações à Santíssima Virgem

À semelhança do que já ocorre há alguns anos, o «Consagra-te!» lançou agora a 4ª Campanha Nacional de Consagrações à Virgem Maria. Trata-se, como a maior parte dos meus leitores já deve saber, da «Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem» à qual São Luís de Montfort consagrou o seu Tratado.

Recomendo vivamente que todos ao menos conheçam essa santa devoção. E aos que se sentirem inspirados a fazê-la, eu digo sem medo de errar: sejam generosos em se entregar a Nosso Senhor por meio das mãos imaculadas da SSma. Virgem Maria! Acho que foi Bento XVI quem disse certa feita aos jovens que eles fossem generosos para com Deus, porque Ele não tira nada, ao contrário: dá tudo. O mesmo posso dizer eu com relação à santa escravidão de amor. Se a idéia de entregar completa e irrevogavelmente os próprios méritos à Virgem Santíssima pode parecer assustadora para alguns, eu digo que é ao contrário: é libertador.

Ao contrário do que possa parecer à nossa experiência materialista mais imediata, depositar todas as graças aos pés da Mãe de Deus nos torna muito mais agraciados do que quando as retínhamos para nós. Ou porventura alguém acha que pode vencer a Santíssima Virgem em generosidade? Ou algum filho da Igreja realmente acredita ser capaz de entregar à Virgem Santíssima mais do que Ela própria é capaz de lhe alcançar?

Na lógica do Evangelho, nós temos mais quando mais damos. Isso vale também (e talvez até principalmente) para tesouros espirituais: seremos tanto mais ricos quanto mais entregarmos tudo a Nossa Senhora. Ou poderia ser diferente? Ou algum servo da Rainha dos Anjos poderia ser mais pobre do que antes de dedicar-se integralmente aos serviços d’Ela? É Boa a Senhora de quem nos fazemos escravos! Alguém realmente A conhece tão pouco a ponto de imaginar que Ela seria capaz de deixar os Seus servos na indigência?

Aproveitemos esta oportunidade. Informações detalhadas podem ser encontradas no «Consagra-te!» (não deixem de acessar), incluindo dicas para a organização de grupos de estudo e materiais de apoio (como o próprio Tratado). Como nos outros anos, o dia escolhido para a Consagração é o 08 de Dezembro, solenidade da Imaculada Conceição. Preparemo-nos para este grande dia. Digamos com coragem que somos todos d’Ela, e que tudo o que possuímos é d’Ela. E veja-se se não seremos mais felizes. Veja-se se a nossa vida espiritual não será muito mais rica do que era até então.

Salve, ó Rainha assunta aos Céus!

Se temos dificuldades em perceber os efeitos maléficos do pecado na nossa vida, que o dia de hoje sirva ao menos para deles fornecer-nos um vislumbre. Hoje é o fim terrestre d’Aquela com quem jamais teve parte o pecado; o Seu último ato neste mundo, antes de ser elevada à glória de Deus, foi precisamente a Sua maravilhosa Assunção.

Corpo e Alma elevados a Deus! Se é verdade que temos naturalmente que morrer, não é verdade que a corrupção do túmulo nos estava originalmente assinalada. Sim, a nossa peregrinação terrestre sempre esteve fadada a terminar um dia; mas entre terminá-la na podridão do túmulo ou na glória da Assunção, que diferença gigantesca! Eis aí para que nos serve o pecado: para nos prender à terra quando deveríamos voar para Deus. Eis o salário do pecado, eis o aguilhão da Morte, descortinados à nossa frente n’Aquela que não os sofreu. Se é na doença que se percebe o valor da saúde, é contemplando a Assunção que percebemos com todo o horror a chaga causada em nós pelo pecado.

Salve, ó Virgem Gloriosa, Rainha assunta aos Céus! Salve, esplendor da Criação. Salve, glória da nossa humanidade. Rogai por nós a Deus; para que não nos acostumemos jamais com a miséria do pecado. Para que não desistamos jamais de lutar por uma parcela daquilo que hoje refulge em Vós.

50 anos sem João XXIII

Ontem, dia 03 de junho, foi o aniversário de 50 anos da morte do Papa João XXIII. Embora tenha havido uma celebração no Vaticano onde o Papa Francisco homenageou o seu predecessor, encontrei a notícia primeiro em outro lugar: inesperadamente, topei com um post do Rorate Caeli sobre o assunto. O título: «o “Bondoso Papa João” também foi o “Tradicional Papa João”». A foto abaixo também veio de lá, e mostra o Papa celebrando Missa. «A verdadeira Missa do Concílio», provoca o Rorate Caeli.

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O curto post louva a piedade de João XXIII e remete a uma coletânea de meditações sobre o Santíssimo Rosário compostas pelo Bem-Aventurado. Está em inglês, naturalmente, e no site do Vaticano o melhor que consegui foi esta versão em espanhol, que espero seja de proveito para os leitores do blog. Nestes dias tão turbulentos, rezemos com fervor e confiança o saltério da Virgem Mãe de Deus! Rezemos devotamente o Santo Rosário que, como nos ensina il Papa Buono, foi «elevado à condição de grande oração pública e universal em face das necessidades ordinárias e extraordinárias da Igreja santa, das nações e do mundo inteiro» (Il Religioso Convegno, 13).

Aquela entrega foi a nossa salvação

Ela está sempre conosco. Por mais que às vezes não consigamos perceber a Sua solicitude maternal; por mais que, no meio das atribulações do quotidiano, não tenhamos tempo para lançar-Lhe um olhar de agradecimento e de ternura; por mais que nos seja tão difícil vislumbrá-La por detrás das ave-marias que repetimos mecânica e apressadamente; ainda assim, Ela está sempre conosco. Ela nunca nos abandona.

Nunca nos abandona; pois se não abandonou o Seu Filho Unigênito na Cruz, por qual motivo haveria de abandonar a nós, que padecemos tribulações tão amenas perto d’Aquela terrível que Ela viu Seu Divino Filho sofrer? No Gólgota todos fugiram; e, se lá Ela não fugiu, então não haverá de fugir jamais. Não haverá de nos abandonar, a nós que d’Ela somos tão necessitados. A nós, que Lhe fomos entregues por filhos pelo Seu Filho!

E aquela entrega foi a nossa salvação. Se nós às vezes nos esquecemos de que Cristo no-La deu por Mãe, Ela de Sua parte jamais Se esquece de que Ele Lhe nos deu por filhos. Podemos por vezes esquecer que temos uma Mãe; de que nos tem por filhos, ao contrário, Ela jamais Se esquece. Jamais nos abandona e jamais cessa de velar por nós com zelo maternal; jamais nos deixa de agraciar com mimos e cuidados, a cada dia, a cada instante.

A cada instante, sim, porque a cada instante recebemos incontáveis graças de Deus, ainda que nossa natural ingratidão nos impeça de o perceber. E todas as graças que recebemos d’Ele, vêm-nos através das mãos d’Ela; vêm-nos porque Ela nos ama e nos quer levar para junto do Seu Filho, a fim de reunir na Eternidade toda a Sua família – a enorme Família dos Filhos de Deus que nasceu da Cruz do Calvário. Quando fomos entregues a Ela; quando Lhe fomos consagrados pelo próprio Cristo. E, daquele dia em diante, Ela tem Se preocupado em nos levar a Deus. Em nos conduzir aos Céus. Ela jamais desiste de nós.

Ainda quando não o queremos! De todos os títulos com os quais Ela é ornada, um dos mais comoventes é o de Refugium Peccatorum, o  Refúgio dos Pecadores. Porque o pecado, bem o sabemos, nos afasta de Deus; mas é como se, de certo modo, não nos afastasse d’Ela, é como se não fosse capaz de fazê-La desistir de nós. Quando nós voltamos as costas para Deus, ainda assim A encontramos à nossa frente: como se Ela Se colocasse de modo a não nos deixar afastarmo-nos o bastante. E olhando para o rosto d’Ela nós encontramos a paz. Mesmo pecadores, não temos mais vontade de fugir.

Ela não nos deixa fugir; quando estamos longe de Deus, Ela vem nos visitar. E Ela, mais uma vez, à semelhança do que fez em Judá, traz-nos a Salvação. E não podemos senão repetir maravilhados: «donde me vem a dita de vir a mim a Mãe do meu Senhor?». E podemos sempre repeti-lo, porque Ela sempre nos vem. Porque somos filhos d’Ela, a Ela entregues pelo próprio Senhor: eis a nossa salvação! Somos filhos d’Ela e, embora nem sempre nos portemos como Seus filhos, Ela não deixa jamais de agir para nós como Mãe.

“E que é que Vossemecê me quer?”

Hoje é o dia de Nossa Senhora de Fátima, é o dia em que, há quase cem anos, três pastorinhos portugueses encontravam-se pela primeira vez com aquela Senhora que Se dizia do Céu. A história é-nos por demais conhecida, mas nunca é demais relembrá-la; porque a sua força transcende os anos e as décadas e nos desconcerta ainda nos dias de hoje. Três crianças e uma Senhora vinda do Céu.

“E que é que Vossemecê me quer?” A pergunta, feita em 1917 por uma criança, bem poderia ser repetida por cada um de nós. Ó Senhora, o que é que quereis de mim? Devíamos fazê-la e fazê-la de novo a cada dia, colocando-nos à disposição d’Aquela que o próprio Senhor nos deu por Mãe e que, a despeito de nossa incredulidade e dos nossos pecados, dignou-Se aparecer para nós. Que mistério assombroso é o dessa aparição, o que ela significa na nossa vida? Eis uma pergunta que deveríamos fazer a cada dia! Afinal, foi precisamente isto o que Bento XVI nos disse em Portugal, há exatos três anos, quando celebrou a sua última missa diante da esplanada do Santuário de Fátima: «Iludir-se-ia quem pensasse que a missão profética de Fátima esteja concluída». E nós, que tivemos a imerecida graça de conhecer as maravilhas realizadas em Fátima, o que devemos fazer? O que o Todo-Poderoso espera de nós? O que esta Senhora nos quer?

Fátima, todos sabemos, é a grande resposta à incredulidade de um mundo que, no início do século XX, já começava a virar as costas a Deus. A seqüência de aparições hoje inaugurada culminou, em 13 de outubro de 1917, com o grande milagre do sol, presenciado por milhares de pessoas. Ora, de todos os milagres realizados por Nosso Senhor nos Evangelhos, talvez somente o da Multiplicação dos Pães pode ser comparável a este em número de testemunhas; como é possível que isto não nos signifique nada?

E, naquele dia de outubro de 1917, os incrédulos de todos os naipes foram a Fátima. E voltaram assombrados: nós temos os registros dos que foram testemunhas oculares do «macabro bailado do sol» daquele dia 13 terrível. Está lá:

Resta que os competentes digam de sua justiça sobre o macabro bailado do sol que hoje, em Fátima, fez explodir hossanas dos peitos dos fieis e deixou naturalmente impressionados – ao que me asseguraram sujeitos fidedignos os livres pensadores e outras pessoas sem preocupações de natureza religiosa que acorreram à já agora celebrada charneca.

Mas seria muita impiedade de nossa parte reduzir a mensagem de Fátima àquilo que ela tem de maravilhoso. A Santíssima Virgem não teria descido dos Céus apenas para balançar o Sol sobre as cabeças dos livres-pensadores que, já naquela época, empestavam Portugal. A incredulidade contra a qual se levanta a Virgem de Fátima é também a nossa incredulidade: a nossa desesperança, a nossa dureza de coração.

Dureza de coração, porque pecamos; e, mesmo com todas as mercês que Deus tem nos concedido, parece que temos um prazer mórbido em continuar pecando! Contra esta ofensa horrenda que dedicamos ao Todo-Poderoso, aquela Senhora Terrível nos levanta o tríplice brado de “Penitência!” que o Anjo do Terceiro Segredo dirige a toda a terra. E, contra a desesperança à qual podemos ser conduzidos ao contemplarmos desolados os escombros da Cidade de Deus, a Bondosa Senhora do Céu nos promete que, no final, triunfará o Seu Imaculado Coração.

Aproximamo-nos do Centenário das aparições de Fátima; vai fazer um século! Mas, se voltarmos os nossos olhos para a Cova da Iria com olhar sobrenatural, percebemos que bem poderia ter sido ontem. O mundo não parece estar menos incrédulo do que em 1917, e os pecados então cometidos não parecem mais graves do que estes com os quais ainda hoje ofendemos a Deus. Como é possível que coisas tão extraordinárias nos tenham acontecido e, mesmo assim, estejamos tão parecidos com o que éramos antes…? Voltemo-nos para Fátima, aproximemo-nos humildemente desta Amável Senhora. Perguntemo-Lhe o que Ela deseja de nós. Ouçamos o Seu pedido por penitência que temos sido tão negligentes em atender; e comecemos a fazer a nossa parte para sermos um pouco mais o que Ela nos chama a ser. Talvez assim Deus Se compadeça de nós. Talvez assim Ele nos conceda a graça de contemplarmos o prometido Triunfo do Imaculado Coração de Sua Mãe.