Stultorum infinitus est numerus

Corro o risco de parecer maçante e repetitivo, mas não consigo ficar calado diante do manancial inesgotável de estratosféricas besteiras que leio por aí. Agora foi a vez do sr. Wálter Fanganiello Maierovitch tecer comentários completamente imbecis sobre – ainda – a retirada das excomunhões que pesavam sobre a FSSPX. Não, eu não tenho mais paciência para esse tipo de atitude estúpida.

Este senhor fala na “infâmia que atingiu à comunidade hebraica”. Que infâmia, cara-pálida? As negociações entre a Santa Sé e a FSSPX não têm nada a ver com as posições particulares – quaisquer que sejam elas, pois não vêm ao caso – de Dom Richard Williamson; será que está difícil entender isso? Por que é infamante para a comunidade judaica que a comunidade católica receba um bispo de volta? Por que a Santa Sé deveria ser culpada por declarações de bispos das quais Ela discorda expressamente?!

Passa a impressão de que a “comunidade hebraica” quer governar a Igreja no lugar d’Ela. Primeiro, esperneando por causa da oração pela conversão dos judeus da Sexta-Feira Santa; depois, esperneando por causa do processo de beatificação de Pio XII; agora, esperneando por causa de uma revogação de excomunhão. Ora bolas, as orações da Igreja são para uso interno da Igreja, os santos da Igreja são para veneração interna da Igreja, e as sanções canônicas (ou sua retirada) atingem os membros da Igreja, e portanto nada disso tem nada a ver com a “comunidade hebraica”! Por que diabos os judeus não param de perseguir os católicos e deixam a Igreja seguir o caminho d’Ela? Por que esta sanha doentia de meter o bedelho naquilo que não lhe diz respeito?

Ainda mais porque, no caso concreto, o sr. Maierovitch manifestamente não faz a mínima idéia das coisas que está falando. Nem me refiro às calúnias históricas repetidas contra o Papa Pio XII. Falo de erros grosseiros referentes aos fatos atuais que ele se propõe a comentar. Por exemplo:

Todos os quatro foram ordenados em 1988 pelo falecido e tradicionalista arcebispo Marcel Lefebvre, com o rito da “bula de Pio V”. Ou seja,  em desacordo com as regras estabelecidas pelo Concílio Vaticano II.

Primum, não existe o “rito da bula de Pio V” – o blogueiro ouviu o galo cantar e não sabe onde. Existe o Rito Romano segundo o Missal promulgado por São Pio V – Missal, e não Bula – e existe a Bula Quo Primum Tempore que promulga este Missal. Apesar de ser possível adivinhar o que se quis dizer, “rito da Bula” é uma expressão sem sentido algum. Secundum, o Concílio Vaticano II não proibiu ninguém de celebrar os Sacramentos de acordo com o Missal de São Pio V (até porque não havia outro missal à época da conclusão do Concílio e a Reforma Litúrgica só virá depois…), portanto não havia “desacordo” quanto a isso. Tertium, Dom Lefebvre (e os quatro bispos ordenados) incorreu em excomunhão não por usar o Rito da Ordenação antigo (que estupidez!), e sim por ter ordenado bispos sem mandato pontifício! Teriam sido excomungados ainda que celebrassem segundo os livros litúrgicos em vigor!

E ainda, sr. Maierovitch, o nome é Fraternidade Sacerdotal São Pio X, e não “Pio V” (sic!), como o senhor escreve (A propósito, os lefebvrianos da Fraternidade Pio V…)! Sem contar que “lefebvrianos da Fraternidade” (ainda que estivesse com o nome correto) é um pleonasmo sem razão de ser. Se os lefebvrianos não fossem “da Fraternidade”, seriam de onde? Da Opus Dei? Ainda que seja possível falar, latu sensu, em “lefebvrianos” como sendo os simpatizantes de Dom Lefebvre (e, portanto, não necessariamente ligados juridicamente à FSSPX), estes últimos não são mencionados em momento algum do texto, o que torna a redundância acima simplesmente… redundante.

Pouco adiantou a manifestação do superior dos lefrebvianos, (sic) pois a Fraternidade continua a não aceitar as regras do Concílio Vaticano II e, com isso, adota postura independe (sic) da Igreja e desabonadora do povo hebreu.

Não sei qual é a religião deste senhor; ele se diz filho de pai judeu e mãe cristã. No entanto, a julgar pelo número impressionante de besteiras sobre a Igreja que ele conseguiu escrever em tão poucas linhas, acho razoável imaginar que, católico, ele não seja. É portanto incompreensível o esforço empregado em jogar lama numa atitude do Santo Padre cujas razões o sr. Maierovitch ignora manifestamente e que, aliás, não é da sua conta. Procurar ter informações mínimas sobre um assunto qualquer que se deseje comentar é uma condição essencial para qualquer articulista que deseje ter um mínimo de credibilidade; no entanto, a vida dá a cada dia mais provas de que o número dos estultos é realmente infinito.