Aviso

Viajo hoje, logo após o Regina Caeli vespertino, às Minas Gerais para celebrar a Oitava de Páscoa com alguns caros amigos que, não obstante façam o enorme desfavor de morarem tão-tão-distante, ainda assim são amigos excelentes. Não sei, portanto, como estará o meu acesso à internet de hoje até a próxima segunda-feira. Peço a paciência de todos, pois este blogueiro também é humano.

Uma feliz e santa Páscoa a todos! Alegrai-vos, que Cristo ressuscitou!

A Causa das causas e o Bule Voador

Todo efeito tem uma causa; este é um princípio metafísico tão elementar que chega às raias da auto-evidência, sendo inclusive constatado pelas ciências experimentais. Lavoisier (assassinado pela Revolução Francesa, a propósito) já chegou a postular que, na natureza, nada se perde e nem nada se cria: tudo se transforma.

Qualquer análise rudimentar dos encadeamentos de causa-e-efeito levam a um corolário também bastante óbvio: suprimindo-se a causa, suprime-se o efeito. Ora, se é o fogão aceso a causa do aquecimento da água na chaleira, apagando-se o fogão chega-se inevitavelmente à conclusão de que a água não há de ferver sozinha. Qualquer camponês analfabeto da Idade Média entende perfeitamente este mecanismo óbvio da realidade ao seu redor, e qualquer dona-de-casa, por simplória que porventura seja, sabe muito bem que se o gás do fogão acabar-se ela não conseguirá ferver a água do café.

Se todo efeito tem uma causa (e não se encontra uma única exceção a este princípio metafísico na realidade empírica ao nosso redor), segue-se inevitalmente que é mister haver uma Causa das Causas, é preciso haver Algo que tenha causado o mundo em que vivemos e que nós percebemos pelos nossos sentidos. A esta conclusão já chegaram os filósofos da Antiguidade e, com o advento do Cristianismo, a sentença tomou a sua forma lapidar que é utilizada até os dias de hoje: a esta Causa das Causas, a este Primeiro Princípio, nós chamamos de Deus.

“Ah”, pode objetar algum ateu moderno, “mas se Deus criou todas as coisas, quem foi que criou Deus? Se tudo tem que ter um Criador, porque a mesma lógica não se aplica a Deus?”. A esta pergunta (profundamente pueril) pode-se responder da seguinte simples forma: se Deus foi criado por Algo, então Deus não é Deus e este Algo que criou Deus é que é Deus. E, se este Algo foi criado por algum “Outro Algo”, então o Algo primeiro não é Deus e Deus é, na verdade, o “Outro Algo”. E assim sucessivamente: o princípio permanece integralmente válido independente de quantos “Algos” sejam colocados no encadeamento das causas. No entanto, devido ao princípio conhecido por “navalha de Ockham”, não faz sentido multiplicar desnecessariamente o número de explicações para os fenômenos. Basta que haja uma Causa das Causas para explicar a existência do mundo ao nosso redor.

“E por que precisa existir esta Causa das Causas?”, pode insistir o nosso ateu. A resposta é óbvia: se não houvesse uma Causa Primeira, então não haveria efeitos (uma vez que, supressas as causas, suprimem-se os efeitos) e, portanto, não existiria nada. Ora, mas é evidente que as coisas existem: portanto, a única explicação para a existência das coisas é que elas tenham sido causadas por Algo que, por Sua vez, é Não-Causado. Há, portanto, necessariamente uma Causa Incausada. A Ela, nós chamamos de Deus.

“Beleza. Há um Primeiro Princípio. Mas dizer que este Primeiro Princípio é um Deus Pessoal já é extrapolar as conclusões da filosofia” – ainda assim pode insistir o nosso teimoso ateu. Também a isto é fácil responder: é evidente que os efeitos são “da mesma natureza” das suas causas. Assim, o fogo que aquece a panela tem que ser ele próprio quente, a tinta que tinge o portão de vermelho tem que ser ela própria vermelha, et cetera. Também isto é bastante óbvio. Em linguagem filosófica mais específica, nós diríamos que a passagem da potência para o ato dá-se necessariamente por meio de algo que já possui, em ato, a qualidade transmitida: o fogo que aquece precisa ser quente, o gelo que resfria precisa ser frio, a tinta que pinta de vermelho precisa ser vermelha, etc. E a Causa das Causas é também – exatamente por ser Causa das Causas – Ato Puro, i.e., um Ser que possui em ato todas as características.

Ora, há inteligência no mundo: a despeito de alguns questionamentos que nós infelizmente somos obrigados a ouvir, a existência da inteligência (que não pode ser confundida com “todas as pessoas são inteligentes”) é outro dado da realidade facilmente perceptível. E, se há inteligência, também esta precisa de uma Causa, de um Princípio. Na formulação feita por Gilson é possível dizer: como é possível explicar a existência da inteligência no mundo de outro maneira que não através de um Princípio que já inclua, n’Ele próprio, a Inteligência? Ora, não é possível pintar uma casa de vermelho sem tinta vermelha, e não é possível ferver a água do chá sem fogo ou alguma outra coisa que aqueça a água. Se a casa é vermelha, a conclusão de que existe tinta vermelha é imperativa e, se o chá é-nos servido às três da tarde, a conclusão de que existe fogo (ou microondas, ou seja lá o quê) para aquecer a água do chá é totalmente indiscutível. Ora, se existe inteligência no mundo, a conclusão de que o Primeiro Princípio é Inteligente, de que o Ato Puro é também Inteligência, são absolutamente incontestáveis [p.s.: na expressão bíblica, nós dizemos que in principio erat Verbum…]. A Causa das Causas, que nós chamamos de Deus, existe e é inteligente: e isto é a definição mesma de “Deus Pessoal”.

Ora, todo este edifício filosófico foi construído pela humanidade ao longo de séculos para responder a questionamentos que, sem ele, não têm absolutamente nenhuma resposta! Após tudo isso, chega a ser frustrante ver alguém comparar Deus com um bule de chá voador. Ora, pra quê serve o Bule Voador? Ele porventura responde às questões sobre o ser das coisas que encontramos ao nosso redor? Ele traz alguma contribuição para as cadeias de causa-efeito cuja existência (e necessidade) nós conhecemos pela razão? Ele responde a algumas das perguntas relevantes da filosofia como, p.ex., por que existe algo ao invés de nada? Ele tem alguma relevância filosófica, psicológica, sociológica ou antropológica? A resposta é não, não, não e não: o Bule Voador nem de longe tem a mais remota relação com a Causa das causas e, portanto, trata-se de um estratagema pueril para se furtar às perguntas que conduzem o homem a Deus. E ainda vêm os ateus a dizerem que a religião impede as perguntas! Como se pode facilmente constatar, é exatamente o contrário: é a ideologia atéia que, na tentativa de afastar os homens do Primeiro Princípio, busca impedi-los de pensarem sobre as questões que somente no Deus Altíssimo podem encontrar respostas.

[p.s.: na expressão bíblica, nós dizemos que in principio erat Verbum…]

Igreja Católica enaltecida em abertura do Ano Judicial, em Portugal

Senhor Presidente da República, senhor Presidente da Assembléia da República, senhor Ministro da Justiça, no meio deste  panorama – cujas conseqüências não estão ainda totalmente diagnosticadas – quero deixar uma nota final para enaltecer o papel da Igreja Católica, e ilumiadamente realçar a ação altamente meritória que as várias organizações d’Ela pendentes têm realizado um pouco por todo o país, atenuando as conseqüências mais dramáticas da pobreza que têm vindo alastrar. A Ordem dos Advogados é uma entidade laica; e eu próprio, que não sou católico e nem sequer religioso, queremos aqui louvar publicamente a ação humanitária levada a cabo por centenas ou milhares de católicos anônimos que, movidos apenas pelos impulsos mais generosos da sua Fé, ajudam os seus semelhantes a suportar as agruras da miséria que se tem abatido sobre um número crescente de portugueses. Por essa ação é que deixo na pessoa de Vossa Excelência, senhor Cardeal Patriarca de Lisboa, o meu muito obrigado. Tenho dito.

– Dr. Marinho e Pinto
Sessão Solene de Abertura do Ano Judicial.

Minas Gerais: PF, PT, “crime eleitoral” e Igreja Católica

Esta eu li no Voto Católico; alguém tem mais informações sobre o assunto? Ao que parece, quatro sacerdotes foram intimados pela Polícia Federal a prestarem depoimento sobre [seu envolvimento n]a divulgação dos famosos panfletos censurados pelo PT nas eleições de outubro passado. Apenas relembrando alguns fatos:

1. O Partido dos Trabalhadores é aberta e institucionalmente abortista.

2. A sra. Rousseff é declaradamente abortista, como já disse e repetiu diversas vezes.

3. O documento da Regional Sul 1 da CNBB, como pode ser visto, não continha senão fatos públicos e amplamente conhecidos.

4. Durante as eleições, a sra. Rousseff “deu uma de doida” e tentou “desmentir” (!) o “boato” (!!) de que era favorável ao aborto, mentindo escandalosamente durante a campanha eleitoral na maior cara dura.

5. Os panfletos que foram ilegalmente apreendidos em outubro passado eram um documento oficial da Igreja Católica – que, até onde se saiba, tem pleno direito de expôr a Sua Doutrina Moral e Social.

6. Quando as circunstâncias o exigirem, os bispos “têm o grave dever de emitir um juízo moral mesmo em matérias políticas”, como disse o Papa.

É portanto estarrecedor que a GestaPTo esteja ainda empenhada em perseguir membros do clero que não fizeram senão ser fiéis à Igreja que prometeram servir. Rezemos pelos sacerdotes, rezemos pela Pátria.

Domingo

Este é o dia no qual as nossas lágrimas são enxugadas. Este é o dia no qual os sofrimentos que experimentávamos ainda ontem dão lugar ao mais vigoroso júbilo, à alegria tão grande que sequer poderíamos imaginar. Este é o dia em que a vitória de Nosso Senhor mostra-se completa: o último inimigo a ser vencido era a Morte, e este é o dia em que Cristo ressurge dos Infernos vencedor.

Este é o dia em que o Todo-Poderoso zomba e escarnece dos seus inimigos! Onde está, ó Morte, a tua vitória? Onde o teu Aguilhão? A maldade humana não foi capaz de matar a Misericórdia de Deus, e a frieza do túmulo não conseguiu manter preso o Amor pulsante. O Amor tão forte que nem mesmo todos os pecados do mundo foram capazes de soterrar. O Amor Onipotente, que nem os Infernos puderam manter cativo.

Chegou o Domingo! Coroando a nossa Semana Santa, sobrepujando com Amor Divino toda a maldade humana estampada na Cruz da Sexta-Feira. Parecia que tudo chegava ao fim; parecia que, dessa vez, tínhamos realmente estragado tudo. Mas Deus nos supreende sempre. Da Sua Morte na Cruz, Ele faz redenção. Da sepultura fria, Ele faz o Sepulcro Vazio. O nosso pecado Ele cobre com o Seu Perdão e transforma o horrendo Deicídio em fonte de Graça e de Salvação. Porque Ele é Deus Santo, Deus Forte, Deus Imortal.

Começamos a Quinta-Feira no pérfido beijo de Judas e, na Sexta-Feira, os nossos crimes mataram a Cristo na Cruz. Apercebemo-nos da imensidão do nosso pecado quando O matamos e, não fosse a consoladora presença da Virgem que nos foi deixada, cairíamos em desespero no Sábado terrível. Mas n’Ela encontramos a nossa esperança e, com Ela, aguardávamos ansiosos o dia de hoje. E Ele é o Deus Fiel que cumpre sempre as Suas promessas.

Ressuscitou! Nós o devíamos saber, se não fôssemos tão pecadores, se não fosse tão pequena a nossa Fé. Afinal, Ele disse que ressuscitaria… Mas os nossos crimes nos deixaram cegos para as Suas palavras e, no dia de hoje, mal podemos acreditar nos nossos olhos. É por demais incompreensível este Amor de Deus! Nós O rejeitamos, nós O condenamos, nós O crucificamos e O sepultamos. Nós não O quisemos no nosso mundo, nós O expulsamos daqui! E, mesmo assim, Ele voltou. Mesmo após termos feito tudo o que poderíamos para nos livrarmos d’Ele, Ele retornou. E, por absurdo que isto possa parecer, retornou parecendo amar-nos ainda mais.

Retornou Glorioso, Ressuscitado, tendo vencido a Morte e prometendo-nos também a nós esta vitória! Como é possível? Acaso recebem prêmios os nossos pecados, recompensas tão mais maravilhosas quanto maiores forem os nossos crimes? Qual a lógica das atitudes deste Homem que visivelmente não está disposto a desistir de nós, por mais que nós deixemos claro que não O queremos em nossas vidas?

A lógica do amor de Deus ultrapassa todas as lógicas humanas. Para Ele, uma lágrima contrita é capaz de cobrir toda uma multidão de pecados; não foi exatamente isto que Ele fez por nós na Cruz da Sexta-Feira, ao oferecer à Majestade Divina a satisfação devida pelos nossos pecados? Enquanto O matávamos, Ele nos perdoava. E, quando chorávamos a nossa loucura, Ele já nos dava Vida. E hoje, Ressuscitado, veio assegurar-nos de que estará conosco. Todos os dias. Até o Final dos Tempos.

E que importam os sofrimentos deste Vale de Lágrimas diante da perspectiva da Ressurreição? Que nos importam a tribulação, a angústia, a perseguição, a fome, a nudez, o perigo, a espada, se nenhuma dessas coisas é capaz de nos separar do Amor de Cristo? Nós O matamos e, mesmo assim, Ele nos perdoou! O que tivermos de sofrer agora é lucro. As dores que porventura nos venham por conta de nossos pecados são paga pequena por nossas culpas; e ainda, ao final, a Ressurreição e a Vida Eterna! Como não nos rejubilarmos? Como não nos unirmos a toda a Igreja para cantarmos, neste Domingo Glorioso, a vitória de Cristo que é também a nossa Vitória? Sim, O Felix Culpa! Deus não Se deixa vencer e, desafiado pelo nosso pecado, mostrou-Se Magnânimo para além de qualquer razoabilidade. Nossas culpas foram soterradas pelo infinito Amor de Deus! Como não nos alegrarmos? É Páscoa, é Ressurreição. Cristo venceu e, com Ele, também nós vencemos – Aleluia!

E é do fato histórico da Ressurreição que nasce o vigor da Igreja. Ora, estamos falando de um punhado de homens rudes da Galiléia que saíram mundo afora para anunciar a Cristo Ressuscitado. Foram desprezados, zombados, torturados e mortos – e sustentaram a sua história. E esta pequena Igreja foi perseguida e, produzindo mártires aos milhares, continuou crescendo. Sobreviveu à queda de Jerusalém e à queda do Império Romano. Sobreviveu às invasões bárbaras e, cristianizando os responsáveis pelo caos em que foi lançada a Europa no início da Alta Idade Média, construiu a civilização que nós hoje conhecemos. Atravessou os séculos e pode ser encontrada até hoje, no terceiro milênio, quase dois mil anos após os acontecimentos que nós relembramos na Semana Santa. Sustentando a mesma história! Os pescadores ignorantes da Galiléia conquistaram o mundo para Cristo e a pequena Igreja nascida em Jerusalém está hoje espalhada por todo o mundo, contando com milhões e milhões de adeptos. Ora, todo efeito pede uma causa proporcional a ele. Onde está a causa desta maravilhosa fecundidade da Doutrina de Cristo? Onde, em consciência, a poderemos encontrar, se não for no Sepulcro Vazio que nós hoje celebramos? É claro que Cristo ressuscitou verdadeiramente. Sem a Ressurreição a história não faz sentido. Negá-La é negar as evidências.

Unamos, portanto, a nossa voz à voz dos anjos e dos santos todos que cantam a vitória de Nosso Senhor. Alegremo-nos junto à Virgem Santíssima, junto à Rainha dos Céus – que é o título com o qual Ela será louvada ao longo deste Tempo Pascal. Regina Caeli, laetare! Porque Cristo, nossa Páscoa, foi imolado. Porque os nossos pecados foram perdoados. Porque a Glória foi conquistada para nós. Porque Ele ressuscitou verdadeiramente.

Sábado

É sábado. Passamos já pelas lágrimas do Getsêmani e pelo sangue vertido na Cruz do Calvário. Já traímos a Nosso Senhor e já O entregamos à morte; Ele já foi crucificado e está morto, sepultado.

É sábado, e jaz na pedra fria do Sepulcro o Nosso Senhor e Salvador. O Seu Santíssimo Corpo sem vida; a Sua Alma, descida aos Infernos, já deixou esta terra. É sábado, e o mundo parece triste e vazio porque Quem esteve aqui já não mais está.

É sábado, e Deus está morto, e fomos nós que O matamos! A nossa alma encontra-se em profunda tristeza: infelizes de nós! O Sangue inocente do filho de Deus ainda suja as nossas mãos. As imagens terríveis da Crucificação ainda nos assombram, mostrando-nos o nosso pecado em toda a sua fealdade. Desta vez, nós ultrapassamos todos os limites. Desta vez, Ele não vai nos perdoar de novo.

Mas é sábado, e o Deus que Se retirou do mundo não o deixou completamente abandonado, não o entregou totalmente às garras de Satanás. Não quis o Onipotente que o mundo onde Ele nasceu e viveu tornasse a ficar desgraçado outra vez. Deixou no mundo uma Esperança, uma imagem límpida de Si, um espelho fiel da Sua Luz hoje apagada no sepulcro escuro. Deixou-nos uma Esperança!

Nós A vimos ontem, aos pés do madeiro da cruz, com o sagrado corpo de Seu Filho Morto aos braços. Nós A vimos ontem, de pé aos pés da Cruz, sofrendo em silêncio a morte de Cristo. Nós A vimos ontem e, no Seu olhar materno e doloroso, nós enxergamos o perdão.

E, se Ela nos perdoa, Ela que é a Mãe d’Aquele que matamos, então Ele também haverá de nos perdoar! E não há lugar para desesperos porque a Mãe do Filho de Deus olha para nós com compaixão e com amor. É grave – é gravíssimo! – o que Lhe fizemos, mas o amor desta Mulher supera as nossas culpas. Poderá o amor de Deus não fazer o mesmo?

Ele Se foi, mas nos deixou Alguém para que não nos desesperássemos. Para que a consideração do tamanho dos nossos pecados não nos consumisse por completo e não nos matasse. Ele nos deixou a Sua Mãe Santíssima pra que Ela nos perdoasse e, no Seu regaço materno, ousássemos pedir-Lhe perdão por O termos matado.

É sábado, matamos a Deus, mas Ele nos perdoa. E sabemos que Ele nos perdoa porque Ele nos deixou Maria Santíssima – deixou-nos Sua Mãe. Acheguemo-nos a Ela, verdadeiro Refúgio dos Pecadores. No seio d’Ela choremos por nossos crimes. Junto a Ela, esperemos o Senhor.

Sexta-Feira

A igreja vazia, os altares desnudos, a lâmpada do sacrário apagada e, este próprio, aberto e vazio. Nosso Senhor não está – é visível. Foi-nos tirado, por nossas culpas e nossas faltas. Vai ser julgado, condenado e crucificado por meus crimes.

A cerimônia da Paixão é sóbria como convém a um dia como esse. O sacerdote entra em silêncio e prostra-se no chão: singelo gesto para expressar o luto de toda a Igreja porque o Senhor está morto. E Ele está morto porque foi assassinado, e fomos nós que O assassinamos: prostrar-se com o rosto por terra é também sinal de vergonha. De angústia diante da enormidade da nossa malícia, tão grande que foi capaz de matar a Deus.

O Senhor está morto! E nós, agora, não temos mais onde ir. Porque nós estragamos até mesmo a maior das Graças que poderíamos receber dos Céus. Nós crucificamos o Filho de Deus, que viera ao mundo para nós. E, durante o tradicional canto da cerimônia de adoração da Cruz, o Altíssimo nos interpela, queixando-Se e perguntando o que foi que nos fez para que O matássemos. Perguntando o que mais poderia ter feito por nós para que O amássemos. Lançando-nos à face a nossa ingratidão: só na Cruz nós exaltamos Aquele que tanto nos exaltou. Infelizes de nós! Porque retribuímos com a máxima ingratidão a Quem tanto nos amou.

E é essa a Sexta-Feira da Paixão: a festa do amor desprezado, o clímax da nossa ingratidão. A memória do dia mais triste da história da humanidade: quando os homens mataram Deus. O Amor escarrado e humilhado, escarnecido e Crucificado, elevado no Madeiro e, ainda assim, amando…! O beijo que nós damos na cruz na celebração de hoje tem outro sentido, mas é impossível não lembrar de Judas traindo com um beijo o Filho do Homem. Também eu estou naquele beijo, também é minha aquela traição. É esta a hora das trevas e (como lembrava o sacerdote na homilia de hoje) não somos meros espectadores no drama da Sexta-Feira Santa. Somos todos protagonistas na Crucificação de Cristo. São meus pecados que Lhe rasgam a Carne, que Lhe vertem o Sangue, que O pregam na Cruz.

E, na Cruz, humilhado e obediente até a morte, Nosso Senhor entrega o espírito. E está consumado, nós O condenamos, nós O crucificamos, nós O matamos. Não há espaço para Ele em nosso mundo! E as palavras arrependidas do centurião são também nossas, porque refletem também a nossa dor e o nosso desespero quando, mãos cheias de sangue, tomamos consciência do grande crime que acabamos de cometer: Ele era verdadeiramente o Filho de Deus… e O matamos! Infelizes de nós!

Quinta-Feira

Chove. Preparamo-nos para a celebração da Ceia do Senhor, logo mais à noite. Não sei se chovia naquela Quinta-Feira de quase 2000 anos atrás; acho até que não. Mas chuva combina com Quinta-Feira Santa, com Cenáculo e Ceia, com Getsêmani e Traição.

Foi uma noite como esta, de quinta-feira e de lua cheia.. Nosso Senhor desejou ardentemente celebrar a Páscoa com os Seus discípulos. E anunciou que um entre eles O iria trair. Como é possível, Senhor, que alguém possua tanta malícia a ponto de Te entregar nas mãos dos Teus inimigos? Como é possível, Senhor, que um dos Teus amigos seja capaz de vender-Te por tão pouco…?

E é olhando pra mim que eu percebo, envergonhado, como tal é possível. Mais que possível: é real. É na minha própria carne que eu percebo este Mysterium Iniquitatis, esta vergonha enorme, esta malícia descomunal! Como Judas, eu também traio a Nosso Senhor.

Que digo…? Mais que Judas! A traição do apóstolo foi uma única vez; quanto a mim, são incontáveis as vezes que decepcionei a Cristo. O preço de Judas foi trinta moedas: quantas vezes não traí a Nosso Senhor por muito menos. Quantas vezes não O traí por puro prazer…! Infeliz de mim. O Getsêmani é aqui. Aqui, Nosso Senhor sofre, por meus pecados; aqui, eu O traio de novo e de novo.

* * *

Termina a celebração, o Sacrário está vazio, o altar está desnudo. Nosso Senhor foi-nos tirado; está preso, e é por culpa nossa. Sofre, e somos nós que O fazemos sofrer.

E impressiona e espanta o tipo de pessoas pelas quais Nosso Senhor quis sofrer e morrer. Pessoas más, mesquinhas, egoístas; pessoas covardes, amargas, rancorosas. Pecadores, como eu. Como pode um Deus sofrer e morrer por alguém como eu? Eu, que O ofendo tanto e tanto…! Eu quem, por vergonhoso que seja confessar, parece que cada Quaresma encontra igual ou pior.

É por mim que sofre o Filho de Deus nesta noite terrível. É por amor a mim – apesar dos meus muitos pecados – que Ele Se deixa prender e maltratar. É por mim que Ele sofre e morre; e eu não posso fazer nada para Lhe retribuir? E eu não posso nem mesmo parar de ofendê-Lo…?

Nosso Senhor foi-nos tirado! É por nossa culpa, por nossos pecados, por nossas faltas, por nossa malícia, por nossa maldade. Por nós Ele foi entregue. Por nós, Ele está preso. Por nós, Ele está prestes a sofrer e morrer.

Avisos

– O Deus lo Vult! está agora disponível em uma aplicação para celulares Android, graças à gentileza da Maite Tosta que me avisou ontem sobre o serviço e o plugin. É um app bem simples, resumindo-se a um leitor de feeds personalizado; mas é bem útil para acessar rápida e facilmente o conteúdo do blog, de qualquer lugar onde você esteja. Para baixá-lo e testá-lo, utilize o QR-Code da barra lateral (à direita do blog), ou clique aqui. Quaisquer problemas com ele, por favor me avisem.

– Eu deveria ter viajado ontem, mas Recife estava caótica das chuvas. Viajo hoje, Quinta-Feira Santa, para uma cidade do interior de Pernambuco, acompanhando o pessoal da Juventude Missionária. Não estou certo de como será o meu acesso à internet lá e, portanto, é possível que haja alguma descontinuidade no serviço prestado aqui. Em todo caso, retorno no Domingo de Páscoa, se o bom Deus permitir.

– Uma santa Semana Santa a todos, são os desejos sinceros do Deus lo Vult!. Que, acompanhando a Cristo nestes dias de agonia, possamos receber do Altíssimo a graça de, um dia, com Cristo também ressuscitarmos para a Glória. Feliz Páscoa!

As “armas assassinas”… será?

Folha de Pernambuco

A charge ao lado foi publicada na Folha de Pernambuco de hoje. Ilustra uma verdade bastante óbvia e, no entanto, muito obscurecida pela cortina de fumaça desarmamentista que vemos nos nossos dias: armas não matam pessoas. Pessoas matam pessoas e, quando não têm acesso a armas de fogo, fazem-no com qualquer instrumento que lhes caia à mão. Armas são objetos que não têm vontade própria. Podem ser usadas tanto para matar quanto para defender inocentes.

Não consegui encontrar no Youtube, mas me lembrei agora de um desenho (salvo engano) do Pateta que eu gostava de assistir vinte anos atrás. Mostrava “carros bêbados” andando pelas ruas, batendo nas coisas, provocando acidentes; em um certo momento, o desenho mostrava o motorista saindo do carro, e – este sim! – estava embriagado e era o responsável por todas as barbeiragens mostradas anteriormente. “Carros bêbados” eram, na verdade, carros dirigidos por pessoas bêbadas: um ensino perfeitamente correcto, em uma época na qual ainda era possível encontrar boas lições nos desenhos voltados para o público infantil.

Da mesma forma que não existem “carros bêbados”, não existem “armas assassinas”. O que existem são armas empunhadas por assassinos, e isso (infelizmente) sempre vai existir: se não forem armas de fogo serão facas, pedras ou pedaços de pau. Uma arma não faz um assassino; ao contrário, é o assassino que é capaz de transformar em uma arma qualquer coisa que esteja ao seu alcance.

Toda a cortina de fumaça levantada pela campanha do desarmamento consiste, na verdade, em uma grande falsificação da realidade. O alvo desta campanha não são simplesmente as “armas de fogo”, consideradas no geral, e sim um subconjunto bem específico e restrito dessas: são as armas registradas por cidadãos que, após criteriosa avaliação do Estado, mostraram-se física e psicologicamente aptos a possuirem-nas. Que ninguém se engane: quando se fala em “desarmamento”, não se está falando em recolher as armas dos bandidos. Está-se falando em proibir aos civis a posse de armas de fogo, mesmo que estes possuam treinamento e passem incólumes por criteriosa avaliação dos órgãos de fiscalização do Estado.

Eu entendo a preocupação de algumas pessoas: naturalmente, ninguém é imune a erros e crimes passionais são perfeitamente passíveis de serem cometidos por “homens de bem”. Mas os problemas que devem ser atacados são aqueles que existem, e não os “possíveis”. A questão relevante aqui é: existem crimes cometidos por cidadãos autorizados a possuírem armas de fogo em uma proporção que justifique socialmente a supressão do direito de possuir armas para todas as pessoas? Pelas notícias que eu tenho conhecimento, inclino-me fortemente a pensar que a resposta a esta pergunta é negativa. Nem me recordo, aliás, da última vez em que li ou ouvi dizer que alguém com posse de arma a tivesse usado para cometer um crime passional! O que existe – e, agora sim, existe muito – são crimes cometidos por armas ilegais. Estas, sem dúvidas devem ser fiscalizadas; mas isto não tem nada a ver com o desarmamento ideológico que nos querem impôr.

Sobre o mesmo assunto, vale a pena ler também o artigo do delegado Rafael Vitola Brodbeck no “Diário Popular” de Pelotas: “Não foram as armas que mataram no Realengo…” E, de fato, não foram. Como foi dito acima, armas não matam. Armas são mero instrumentos, e nunca agentes. São as pessoas que matam. O Estado faria muito mais pela segurança pública caso se preocupasse com as causas verdadeiras do problema, e não meramente com as instrumentais.