Dalla parte da bambina brasiliana

[Publico tradução (traditora…) do artigo de Dom Rino Fisichella, Arcebispo presidente da Pontifícia Academia para a Vida, publicado na edição de hoje do L’Osservatore Romano, ao qual se refere – entre outras – esta reportagem. Vale salientar que (a) trata-se de um artigo de um jornal, e não de um documento da Santa Sé; (b) trata-se da posição pessoal de um Arcebispo, e não de uma “crítica do Vaticano”; (c) data maxima venia, trata-se de uma excelente situação na qual Sua Excelência bem que poderia ter ficado calado…

A edição de hoje – Anno CXLIX n. 62 (45.105) domenica 15 marzo 2009 – de L’Osservatore Romano pode ser baixada aqui.]

Em defesa da menina brasileira

RINO FISICHELLA *

O debate sobre algumas questões é muitas vezes cerrado e as diferentes perspectivas nem sempre nos permitem considerar o quanto o que está em jogo é verdadeiramente grande. É este o momento no qual se deve guardar o essencial e, por um instante, deixar de lado aquilo que não toca diretamente ao problema. O caso, em sua dramaticidade, é simples. Existe uma menina de apenas nove anos – chamemo-la Carmen – em cujos olhos nós devemos olhar fixamente, sem desviarmos o olhar nem por um instante, para fazê-la entender o quanto nós lhe queremos bem. Carmen, de Recife, no Brasil, foi violentada repetidas vezes pelo jovem padrasto, ficou grávida de dois gêmeos e não terá mais uma vida fácil. A ferida é profunda porque a violência de todo gratuita a destruiu por dentro, o que dificilmente a permitirá no futuro olhar aos outros com amor.

Carmen representa uma história de violência quotidiana e ganhou as páginas dos jornais somente porque o arcebispo de Olinda e Recife apressou-se a declarar a excomunhão para os médicos que a ajudaram a interromper a gravidez. Uma história de violência que, portanto, teria passado despercebida, tanto se está habituado a sofrer todos os dias fatos de uma gravidade inigualável, se não fosse por causa do tumulto e das razões suscitadas pela intervenção do bispo. A violência contra uma mulher, já grave de per si, assume um valor ainda mais lamentável quando é uma menina a sofrê-la, com o agravante da pobreza e da degradação social na qual vive. Não existem palavras adequadas para condenar tais episódios, e os sentimentos que se seguem são com freqüência uma mistura de raiva e de rancor, que só sossegam [assopiscono] quando vêem a justiça realmente realizada, e a pena a ser infligida ao delinqüente, por sua vez, é certo que seja aplicada.

Carmen deveria ser em primeiro lugar defendida, abraçada, acariciada, com doçura para fazê-la sentir que estávamos todos com ela; todos, sem distinção alguma. Antes de pensar na excomunhão era necessário e urgente salvaguardar sua vida inocente e fazê-la retornar a um nível de humanidade do qual nós, homens de Igreja, devemos ser anunciadores e mestres especialistas [esperti]. Assim não foi feito e, portanto, sofre as conseqüências [ne risente] a credibilidade do nosso ensinamento, que aparece aos olhos de tantos como insensível, incompreensível e privado de misericórdia. É verdade, Carmen trazia dentro de si outras vidas inocentes como a sua, também frutos da violência, e foram suprimidas; isto, no entanto, não basta para emitir um julgamento que pesa como um machado.

No caso de Carmen, encontram-se a vida e a morte. Por causa de sua pouquíssima [giovanissima] idade e das condições de saúde precárias, a sua vida estava em sério risco por causa da gravidez. Como agir nestes casos? Decisão difícil para o médico e para a própria lei moral. Escolhas como esta, ainda se com uma casuística diferente, repetem-se todos os dias nas salas de reanimação, e a consciência do médico encontra-se sozinha com ela mesma no ato de ter que decidir o que é melhor a se fazer. Nenhum, entretanto, chega a uma decisão deste gênero com desenvoltura: é injusto e ofensivo até mesmo pensá-lo.

O respeito devido ao profissionalismo do médico é uma regra que deve envolver todos, e não se pode consentir que se faça um juízo negativo, sem primeiro ter considerado o conflito que se criou em seu íntimo. O médico traz consigo a sua história e sua experiência; uma escolha como aquela de precisar salvar uma vida, sabendo que põe em sério risco uma segunda, nunca é vivida com facilidade. Certo, alguns se habituam às situações para, assim, não experimentarem mais as emoções; nestes casos, porém, a escolha de ser médico degrada-se em apenas uma ocupação vivida sem entusiasmo e passivamente. Fazer de todas as plantas um feixe [Fare di tutta un’erba un fascio], no entanto, além de incorreto seria injusto.

Carmen nos propôs um caso moral entre os mais delicados; tratá-lo precipitadamente não redundaria em justiça, nem para com a sua frágil pessoa, nem para com tantos quanto estão envolvidos, de várias maneiras, na sua história. Como todos os casos singulares e concretos, no entanto, merece ser analisado em sua peculiaridade, sem generalizações. A moral católica tem princípios dos quais não pode prescindir, ainda que quisesse. A defesa da vida humana desde a sua concepção é um destes, e se justifica pela sacralidade da existência. Todos os seres humanos, de fato, desde o primeiro instante carregam impressa em si a imagem do Criador, e por isto estamos convencidos de que devemos reconhecer a diginidade e os direitos de todas as pessoas, antes de tudo aqueles da sua intocabilidade e inviolabilidade.

O aborto provocado é sempre condenado como um ato intrinsecamente mau e este ensinamento permanece inalterado em nossos dias, desde os primeiros da Igreja. O Concílio Vaticano II na Gaudium et Spes – documento de grande abertura e compreensão [accortezza] no  tocante ao mundo contemporâneo – usa de maneira inesperada palavras inequívocas e duríssimas contra o aborto direto. A própria colaboração formal constitui uma culpa grave que, quando realizada, traz automaticamente para fora da comunidade cristã [porta automaticamente al di fuori della comunità cristiana]. Tecnicamente, o Código de Direito Canônico usa a expressão latae sententiae para indicar que a excomunhão ocorre justamente no próprio momento no qual o fato acontece.

Não havia necessidade, repetimos, de tanta urgência e publicidade em declarar um fato que atua de maneira automática. Aqueles dos quais se sentem mais a necessidade neste momento são o sinal de um testemunho de proximidade com quem sofre, um ato de misericórdia que, mantendo firme o princípio, é capaz de olhar para além da esfera jurídica e alcançar aquilo que o direito mesmo estabelece como escopo de sua existência: o bem e a salvação de quantos acreditam no amor do Pai e de quantos acolhem o Evangelho de Cristo como as crianças, que Jesus chamava a Si e estreitava entre Seus braços, dizendo que o Reino dos Céus pertence a quem se lhes assemelha.

Carmen, estamos ao teu lado. Dividimos contigo o sofrimento que experimentaste, e gostaríamos de fazer de tudo para restituir-te a dignidade da qual foste privada e o amor do qual tens agora mais necessidade. São outros que merecem a excomunhão e o nosso perdão, não os que te permitiram viver e te ajudaram a recuperar a esperança e a confiança. Não obstante a presença do mal e a maldade de muitos.

* Arcebispo presidente da Pontifícia Academia para a vida.

Entrevistas com Dom José

Dom José concedeu, nos últimos dias, duas entrevistas que ganharam repercussão nacional: uma à Época e outra à Veja. A primeira revista põe como título a frase do Arcebispo: “A excomunhão é automática”; a segunda, traz o título de “não reclamem ao bispo”. As entrevistas – refiro-me à parte do entrevistado – foram muito boas; mais uma vez, contudo, os órgãos da mídia não foram lá muito amigáveis, e o ranço anti-clerical é perceptível por sob as perguntas feitas e a forma como as respostas do Arcebispo foram apresentadas ao leitor.

Têm méritos as entrevistas? Sim, sem dúvidas, e pode-se citar ao menos dois: a própria oportunidade dada a Dom José Cardoso para que ele falasse e se defendesse em veículos de informação que têm alcance nacional; e a ênfase empregada em esclarecer que a excomunhão para quem realiza aborto é latae sententiae, i.e., automática, e por conseguinte independe do Arcebispo (aliás, isto está no título de ambas as entrevistas). Então, não há o que se reclamar das revistas? Ao contrário: há, sim, e muito.

A ÉPOCA insistiu em fazer perguntas maliciosas, virtualmente limitando-se a alfinetar o Arcebispo: questionou o fato do estuprador não ter sido excomungado, indagou se a “interpretação da lei de Deus ao pé da letra” era “compatível com os tempos atuais”, perguntou por que Sua Excelência “afastou tantos padres e párocos na sua gestão”, acusou-o indiretamente [“os seus críticos dizem que o senhor…”] de ser “muito rígido e muito conservador” e falou até mesmo sobre o fechamento do ITER (isto se deu há quase vinte anos!). Quase não houve assunto que, podendo ser usado para sujar a imagem do Arcebispo, não tenha sido trazido à baila nesta entrevista.

Acham que exagero? A mesma revista traz uma matéria chamada “As polêmicas de Dom Dedé”. Não sei quem é “Dom Dedé”, a despeito da revista assegurar ser assim “como é conhecido o arcebispo de Olinda e Recife”, e apesar de eu ser de Recife. Só vejo esta alcunha utilizada na pena dos inimigos do Arcebispo, para se referirem a ele pejorativamente. Mas isso é o de menos: o que deixa patente a má intenção da ÉPOCA na cobertura do caso são as coisas apresentadas pela revista como “polêmicas”. Ora bolas! Fechar o ITER? Extinguir a CPT? Negar comunhão a uma prefeita do PC do B? Afastar um padre TL [depois] amasiado? Oras, isso é exatamente o que se espera de um bispo católico! Dom José é “polêmico” porque insiste em ser católico, no mundo atual que é tão avesso à Religião Verdadeira e tão hostil à Igreja Católica.

A entrevista da VEJA apresenta o mesmíssimo veneno subjacente. A começar pela introdução da entrevista: “Ao longo de 2 000 anos de história, duas forças, ora conflitantes, ora complementares, moldaram a Igreja Católica: a doutrina do amor e o amor pela doutrina. Dom José Cardoso Sobrinho, arcebispo de Olinda e Recife, é sem dúvida um homem da segunda força”. Não sei de qual tratado de História da Igreja foi tirada esta definição besta; desconheço quem seja o autor do pueril jogo de palavras. Mas a apresentação prévia de Dom José como um homem que não segue “a força da doutrina do amor” é já suficiente para produzir no leitor uma natural repulsa, que o entrevistador só faz alimentar ao longo das linhas seguintes.

As perguntas da Veja são capciosas ao extremo! Observe-se a seguinte seqüência: “O que a Igreja e o senhor pessoalmente ofereceram à menina (…)?”; “Foram oferecidos abrigo, sustento material (…)?”; “O senhor esteve com ela alguma vez?”; “O senhor sabe como era a vida da menina dentro da casa onde ocorriam os estupros?”; “Qual é o nome dela?”. E quando, por fim, ninguém sabe responder o nome da menina – vale salientar que o nome dela em momento algum foi divulgado -, o circo está montado, o espetáculo, consumado, e a imagem do Arcebispo, apresentada – mais uma vez – como a de um homem insensível: afinal, ele não sabe nem mesmo o nome dela… ! E a cretinice não pára por aí, porque o entrevistador ainda teve a pachorra de perguntar se Dom José já havia feito sermões contra a pedofilia e contra o estupro! Com o veneno escorrendo desta maneira da boca do entrevistador, não é possível, em consciência, dizer que as entrevistas foram muito boas. Não foram. Foram armadilhas [incompetentes, sim, mas armadilhas] preparadas contra o Arcebispo; estavam desde o princípio enviesadas por um anti-clericalismo mal-disfarçado.

Ao final, resta a presença de espírito de Dom José Cardoso, que soube se aproveitar da má vontade dos entrevistadores para falar bem, e para esclarecer um pouco mais este assunto que foi tão mal-entendido nos últimos dias. E, no final, o desejo de Sua Excelência, por cuja não-realização ele lamenta, é também o lamento meu e – sem dúvidas! – o de tantos quanto acompanharam com angústia este trágico caso e, com lágrimas, o seu triste desfecho:

O senhor tem mais algo a dizer sobre o caso?
Sim, eu lamento não poder ter feito o batizado desses dois bebês. Eu estava planejando uma festa para esse dia, mas não aconteceu.

Obama: financiamento para pesquisas com CTEHs

Em linhas rápidas: Obama liberou na segunda-feira o uso de dinheiro público em pesquisas com células-tronco. Embrionárias, óbvio. Contrariando a política pró-vida de George W. Bush; acabando com a proteção à vida humana que o presidente anterior tinha erguido a duras penas.

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, assinou nesta segunda-feira um decreto suspendendo o veto de seu antecessor, o republicano George W. Bush, ao uso de dinheiro público em pesquisas com células-tronco. Obama prometeu uma “nova fronteira” para a ciência, livre de interferências políticas.

Em agosto de 2001, Bush assinou um decreto que proibia o uso de fundos federais em estudos com células embrionárias.

Deus tenha misericórdia dos Estados Unidos.

Gayzismo e saúde pública

Três notícias sobre o assunto merecem a nossa atenção:

1. A (já antiga) denúncia, do início do ano, de que a prática conhecida como “barebacking” está crescendo no Brasil.

2. A denúncia do Julio Severo de que Projeto de Lei 3960/2008, referente ao Ministério da Pesca e Aquicultura, está servindo, subrepticiamente, à causa gayzista no Brasil.

3. A excelente entrevista com o Cardeal Janis Pujats, arcebispo de Riga (Letônia), na qual Sua Eminência Reverendíssima afirma (entre outras coisas excelentes) que “a perversão sexual não pode ser tolerada na esfera pública”.

O que essas coisas têm a ver umas com as outras? A primeira notícia é uma denúncia de um fato já existente – feita aliás com uma coragem admirável e digna de menção, dada a Ditatura Gay na qual nós praticamente já vivemos – e o destemor de classificá-lo como “caso de saúde pública”. A segunda, é uma denúncia de manobras políticas escusas, imbuídas de ideologia gayzista, que propiciam o surgimento, a manutenção e a multiplicação de fatos como os denunciados na primeira notícia. Por fim, a terceira delas é uma denúncia da ideologia gayzista em si, que motiva as manobras políticas escusas às quais se refere a segunda notícia. Têm tudo a ver, portanto, as três coisas: condicionam-se uma à outra, encaixam-se à semelhança de uma cadeia de causa-efeito, são como que as diversas fases de um único processo cujos produtos finais  não podem ser senão trágicos.

Alguém poderia contra-argumentar, dizendo que o homossexualismo não tem nada a ver com o “barebacking”, visto que nem todos os homossexuais são adeptos desta prática e, igualmente, nem todos os adeptos desta prática são homossexuais – e, assim, todos os encadeamentos que eu estou fazendo aqui não passam de sofismas baratos. Negativo. A ausência de uma relação biunívoca entre os dois conjuntos (dos homossexuais e dos “barebackers”) não muda o fato de que eles são muito afins. Ademais, o foco do problema não é tanto esse; o cerne da questão pode ser sintetizado naquilo que disse o cardeal Pujats em sua entrevista: “não é permitido extirpar o limite entre o bem e o mal, entre o que é permitido e o que é proibido, claramente estabelecido pela Lei divina”.

A promoção do homossexualismo na esfera pública é, de per si, a afirmação de que a Lei Natural não tem importância, e isto é precisamente a destruição dos limites entre o bem e o mal. E a abolição destes limites é, sem dúvidas, causa de incontáveis males para a sociedade: afinal, se está “tudo bem” com o homossexualismo, qual o problema com a promiscuidade, contanto que seja consentida? Qual o problema com as orgias como as narradas (de maneira tão repugnante!) pela reportagem do Jornal do Brasil? Qual o problema com o barebacking? Em uma palavra: se a sociedade esforça-se para demolir o fundamento moral do certo e do errado… como pode ela esperar conter os “casos de saúde pública” que sejam conseqüência direta desta demolição? Não dá para criar o monstro e vir depois lamentar a destruição por ele causada, prometendo ao mesmo tempo acabar com esta e preservar aquele.

Em suma, não adianta simplesmente resolver os casos específicos: é necessário cortar o problema pela raiz. É impossível tolerar as perversões morais e, ao mesmo tempo, desejar resolver os problemas decorrentes desta tolerância: isso não faz o menor sentido. É necessário combater – e não promover! – as depravações; é necessário que a discussão seja feita no nível conceitual, sem sentimentalismos baratos, sem a patrulha da Gaystapo, sem a ditadura do relativismo, sem os preconceitos contra a Igreja. E, de nossa parte – católicos! – é necessário que não nos calemos. “Para debelar as trevas, é necessária a luz”, como disse o Arcebispo de Riga, que disse também: “O fato é que o silêncio foi um erro nos países onde o homossexualismo já obtivera direitos”. Afirmemos corajosamente a Fé Católica e Apostólica, defendamos a Moral da Igreja. E termino com mais uma citação da (excelente!) entrevista concedida por Sua Eminência:

Devemos dizer que a perversão sexual não pode ser tolerada na esfera pública, para que tal desordem não se transforme em um mau exemplo para toda a sociedade. Se alguém tem inclinações para o vício, este deve ser disciplinado e tratado. Não se pode legalizá-lo ou protegê-lo, invocando a noção erroneamente aplicada de direitos humanos. O homossexualismo não é uma orientação sexual, mas uma perversão sexual.

Quatro textos

Quatro textos, ainda não citados aqui, sobre o tsunami que, nos últimos dias, precipitou-se sobre a Igreja Católica na figura do Arcebispo de Olinda e Recife, Dom José Cardoso Sobrinho, que teve a coragem de afirmar bem alto, para todo mundo ouvir, que todos os que cooperam materialmente com o assassinato de crianças no ventre de suas mães incorrem em excomunhão automática [e correlatos]:

1. Heitor de Paola:

Os meus milhões (!) de leitores sabem que não sou católico, mas me identifico com a Igreja em função da minha profissão, pasmem, pois sendo psicanalista deveria atacar as religiões porque segundo Freud, um Mestre na clínica dos distúrbios mentais, mas que também tinha sua empáfia de se meter em tudo, disse que a religião é apenas uma neurose obssessivo-compulsiva coletiva e “provou” que Moisés não era judeu, mas egípcio. Minha identificação com a Igreja é porque também sou considerado um dinossauro por continuar fazendo psicanálise e não esta mixórdia em que se transformou minha Especialidade – com E maiúsculo mesmo e sem aspas – em função da “modernidade”.

2. Olavo de Carvalho:

A presença de um pai é, hoje como sempre, a maior garantia de segurança física para as crianças. Aqueles que removeram esse pai, entregando as crianças à mercê dos amantes de suas mães, são diretamente culpados pela epidemia crescente de violência contra crianças, e são eles mesmos que tiram proveito dela, arrogando-se cada vez mais autoridade para solapar a da família constituída e colocar um número cada vez maior de crianças sob a guarda de assistentes sociais politicamente corretos.

3. William Murat:

A única diferença entre os bebês filhos de um pai normal e os que são filhos de um estuprador, como é o padrasto da menina de Lagoinhas, é que estes últimos não foram amados. Ao invés de um mundo que estivesse alegre com a expectativa de sua vinda, o que tiveram foi uma turba que lhes desejava a morte. Ao invés de roupinhas quando do nascimento, um saco plástico quando do aborto, do “expelimento”.

4. Luiz Mortágua:

Muito mais do que apoiar a “opção” pelo aborto, essa repórter parece defender que tal procedimento deve ser obrigatório em casos como esse. O problema é que no ímpeto cego de defender tal coisa, a repórter se esqueceu até de manter a coerência entre o título e o texto de sua matéria.

Liberdade de uma opção só

A mídia é capaz de fazer coisas fantásticas e inacreditáveis. Hoje, por exemplo, encontrei uma mesma notícia, contada de formas tão escandalosamente diferentes que parecem até duas: Menina de 11 anos dá à luz no RS (Gazeta do Povo) e Burocracia pode ter condenado menina de 11 anos estuprada em Iraí, no RS, a levar gravidez adiante (O Globo).

[Quanto a este último, aliás, comentei en passant aqui há uns dias uma outra matéria do mesmo jornal que, de tão igual à de hoje, pareceu-me até a mesma… fui olhar. A que comentei então é do dia 06 de março, assinada por Cleide Carvalho e Fabiana Parajara; a que comento hoje é do dia 05 de março, assinada pela Cleide Carvalho sozinha, e claramente serviu de base para a redação do texto do dia seguinte.]

Diz a matéria da Gazeta que “[a] menina parece feliz com a maternidade, já pegou o bebê no colo”; perfeito. Existe correspondência entre o corpo da matéria e o seu título. Na matéria d’O Globo, contudo, nada que esteja no corpo da matéria justifica o título, pois naquele é dito claramente que “não houve sequer discussão sobre a possibilidade de a criança ser submetida a um aborto porque não houve pedido por parte dos responsáveis legais”.

Oras, se a menina não queria abortar, se a família da menina não queria abortar, se ninguém em momento algum falou sobre aborto, então onde raios entra a “burocracia” do título da reportagem?! Por que motivo a menina foi “condenada”?! Um semelhante título – que dá a entender ter havido uma batalha judicial (burocraticamente estendida até além do período de gestação da menor) entre os que queriam o aborto da menina e os que não o queriam – para um semelhante caso é totalmente incompreensível.

Ou, se pensarmos com mais cuidado, é bastante compreensível: os abortistas queriam que a menina abortasse. Os que fazem lobby em defesa do assassinato de crianças querem impôr o aborto a todo custo, não importa o que a menor ou os responsáveis por ela desejem. Eles, que defendem o aborto por qualquer motivo ou até mesmo sem motivo algum, simplesmente não conseguem suportar a idéia de que existam pessoas que, tendo “motivos” para abortar, optem por não o fazer. Uma belíssima contradição dos defensores do “direito” de escolha! Na verdade, para esta gente, a única escolha que se tem direito de fazer é aquela que esteja de acordo com a agenda abortista. O resto, é “negligência” dos pais, é “burocracia”, é “desinformação” e tantas coisas mais… Que coisa bonita, não?

OFF: Eu não conhecia Umbert, the Unborn. Excelente!

“Estupro, Aborto e Valores Distorcidos” – por Carlos Ramalhete

[Fonte: Gazeta do Povo]

Estupro, Aborto e Valores Distorcidos

Têm sido espantosas as reações à declaração de dom Cardoso, arcebispo de Olinda e Recife, acerca das excomunhões dos responsáveis pelo aborto das duas crianças geradas no estupro de uma menina de nove anos de idade. O que ele fez foi apenas o seu dever: comunicar ter ocorrido a excomunhão automática dos responsáveis pela morte de duas crianças inocentes. Quem lesse as reações à comunicação, contudo, teria a impressão de que havia uma vida apenas em risco, e esta seria a vida da mãe das crianças. Não é o caso. A vida dela estava, sim, em um certo grau de risco, não maior nem menor que o de muitas mulheres grávidas com alguma complicação. Casos muito piores já chegaram a um final feliz.

Neste caso, contudo, aproveitando-se de uma falsa brecha legal – o fato de o Direito brasileiro não prever punição para o aborto de crianças geradas por estupro ou em caso de risco de vida para a mãe, exatamente como não prevê punição para o furto cometido por um filho contra o pai – grupos de pressão interessados na legalização do aborto apressaram-se, contra a vontade da mãe e de seus responsáveis legais, a matar o quanto antes as crianças que cometeram o crime de terem sido concebidas no transcurso de um repulsivo estupro. Os filhos são punidos com pena de morte pelo crime do pai.

A violência das reações à declaração de dom Cardoso, contudo, mostra claramente o alcance – em alguns setores bastante vocais da classe média urbana – de uma pseudoética apavorante. As crianças mortas simplesmente não entram na equação, não são consideradas. O próprio estupro só é mencionado de passagem. O risco de vida para a mãe é transformado em uma certeza de sua morte. São saudados como heróis salvadores os carniceiros que arrancaram do ventre da mãe duas crianças perfeitamente saudáveis e atiraram os cadáveres em uma cesta de lixo, onde provavelmente estava uma cópia mofada do juramento de Hipócrates que fizeram quando se formaram médicos.

Isto ocorre por ter sido perdida a noção do valor da vida. A vida, em si, para os defensores do aborto, não vale nada. Ao invés dela, o que teria valor seria o resultado final de uma equação que tem como componentes o bem-estar da pessoa e sua utilidade para a sociedade. As crianças abortadas não têm valor para a sociedade, logo podem ser mortas. Mais ainda, não merecem menção. A única criança digna de menção é a mãe, e olhe lá.

Ela mesma, a mãe das crianças abortadas, tem seu sofrimento deixado de lado. Uma menina de nove anos de idade que sofreu a violência de um estupro, provavelmente reiteradas vezes; uma criança ela mesma, vivendo mais que provavelmente em condições miseráveis (sabe-se que sua mãe não sabe ler e escrever, o que serviu bem aos que simplesmente mandaram que apusesse a impressão do polegar aos papéis que, como depois ela veio a saber, eram a sentença de morte de seus netos), foi levada de um lugar para o outro, teve os filhos que ela desejava manter arrancados de seu ventre e mortos, sendo tratada apenas como excelente exemplo de portadora biológica de material a abortar.

É de crer que provavelmente os defensores do aborto teriam de bom grado preferido que ela também tivesse sido abortada: o resultado da equação de utilidade social e bem-estar que usam para valorizar uma vida dificilmente seria alto o suficiente no caso dela para garantir-lhe a sobrevivência.

O estupro, mais ainda, o estupro reiterado e contumaz de uma criança indefesa é um crime asqueroso, que poderia em justiça merecer a pena de morte (não percebi, aliás, em nenhuma das numerosas e estridentes reações pró-aborto à declaração de dom Cardoso, alguém pedindo que fosse estendida ao estuprador a pena de morte que sofreram seus filhos). Quem o comete vê em sua vítima apenas um orifício cercado por forma humana, um receptáculo fraco e indefeso, logo acessível a suas taras. É já uma negação da humanidade da vítima: ela não merece, crê o estuprador, ter direito de opinião sobre o que é feito com seu corpo.

A mesma negação feita pelo estuprador contra sua vítima foi reiterada sobre seus filhos: ela foi estuprada; eles foram mortos. Desumanizada pela primeira vez pelo estuprador, ela o foi novamente, juntamente com seus próprios filhos – a flor de esperança e de vida que poderia ter saído do lodo da violência – pelos que não consideram que a vida tenha, por ser vida humana, algum valor. Agora, esperam eles, esgotado seu valor de propaganda, ela pode rastejar de volta à miséria de seu barraco e deixá-los tocar em paz a campanha pró-aborto.

Carlos Ramalhete é professor e filósofo. carlosgazeta@hsjonline.com

Lula e o aborto

Recebi, hoje, por email, uma notícia do Terra com a chamada “Lula critica Igreja e propõe dia contra a hipocrisia”. Nem li. Não, quando se trata do Presidente da República, do alto de sua sabedoria nossa velha conhecida, eu tinha de ler o que ele tinha dito, com as suas palavras. O discurso deu-se na abertura do Seminário “Mais Mulheres no Poder: Uma Questão da Democracia”, e a íntegra todos podem conferir no site da Presidência. A parte que nos interessa, e aqui reproduzo, é a parte em que o presidente comenta o lamentável caso de aborto aqui em Pernambuco. Pois bem, terminado o exórdio a essa obra de sabedoria suprema… aí vai:

“Recentemente, vocês viram aquele problema da menina de Pernambuco, que engravidou.  Vocês viram? [Há! Viram mesmo? O problema da menina já não mais é ter sido estuprada, mas estar grávida] É mais do que absurdo. Como é que se pode proibir a medicina de cuidar de uma menina que ficou grávida indevidamente? [Olha, eu nunca vi gravidez ser tratada como doença, mas mesmo considerando-a assim, alguém aqui quis impedir os médicos de prestar-lhe assistência? Eu só queria que a medicina tivesse cuidado também dos bebês!]Eu fui questionado porque no Carnaval, eu estava no Carnaval, o Temporão apareceu lá, ele e a equipe de Saúde, distribuindo preservativos. E eu joguei preservativos. Ora, eu não posso, como pai e como presidente da República, fingir que distribuir preservativos é ruim. [Opa! Então quer dizer que o pai agora já não pode mais negar que a distribuição de preservativos é ruim!] Quem sabe o que significa a Aids, quem sabe o que significa a doença, tem mais é que levantar a cabeça e falar: “o governo tem que tratar dessas coisas, sim”. [Opa, aqui eu fico em dúvida se o presidente errou a preposição e quis dizer “tratar essas coisas”, se referindo a AIDS, ou se em algum sentido quase perdido no meio da frase mal construída ele quis dizer que o governo tem de falar disso… Sei lá! O que eu sei é que ninguém no mundo — acho eu, talvez algum lunático seja uma exceção — acha que o governo não deve tratar a AIDS ou tratar da AIDS. O problema é o “como”]

Se perguntarem para mim: “Lula, você, homem, é contra ou a favor do aborto?” Eu falo: como cristão, eu sou contra o aborto – poderia dizer. Agora, como chefe de Estado eu tenho que tratar como uma questão de saúde pública. Não pode ser diferente.” [“Ai, Amara! Jogasse o sabonete, pegou na minha cara!” Mais liso, impossível. Lula, então, tem três pessoas. Eu sempre achei que endeuzavam o presidente, especialmente depois que construíram um parque aqui em Recife em homenagem à Lindu, sua mãe, sendo que ela sequer morou em Recife. O mérito de Lindu é ser mãe de Lula, e o parque lhe é merecido pelos méritos do seu divino excelentíssimo filho! Aqui Lula, homem, cristão e chefe de Estado tem três posições sintomáticas:

Quando perguntam ao homem Lula, o homem Lula responde como cristão, sem antes de terminar fazer a ressalva de que “poderia dizer”. Óbvio, o homem Lula não pode se comprometer com a posição cristã do cristão Lula! Então, o homem Lula diz que o cristão Lula poderia dizer que era contra o aborto. Ok. Mas o presidente Lula — como é da essência do seu gênero, os políticos, ser escorregadio — diz que tem que tratar como uma questão de saúde pública.

Recapitulando: o homem Lula, que nada fala de si mas fala pelos outros, diz que como cristão Lula poderia dizer que é contra o aborto (sabe-se lá o que isso significa “poder dizer ser contra o aborto”), mas como presidente é uma questão de saúde pública. Ora, eu, Erickson, indivíduo uno, sou contra o aborto e também acho que é uma questão de saúde pública… Uma questão de saúde dos bebês, saúde psíquica da mãe que aborta e de a saúde mental da população que parece ser emburrecida a ponto de engolir um absurdo desses!

Não pode ser diferente…

Incrementando o dossiê

Só para não perder o costume:

Nota pública do “Grupo Curumim” – ONG que milita a favor do aborto e exerceu papel crucial na obtenção da autorização dos pais para que a criança de nove anos abortasse – sobre os acontecimentos dos últimos dias.

Médico que realizou aborto é aplaudido em Brasília: o sempre inacreditável oportunismo do Ministro da Saúde, José Temporão, que aproveitou mais uma vez para aludir ao necessário “reconhecimento do aborto como problema de saúde pública”.

Aborto e Excomunhão: católicos envergonhados: no blog do Ricardo Kotscho, incrivelmente movimentado, contendo um bom compêndio das maiores besteiras sobre o assunto que foram proferidas por indignados “católicos” e não-católicos nos últimos dias.

Estupro não é licença automática para o aborto, um raro texto que – ao contrário dos demais citados neste post – merece divulgação pelo que tem de positivo, mostrando como no Código Penal Brasileiro “não exclui a criminogênese e a tipicidade dessas condutas [aborto supostamente “terapêutico” e aborto no caso de estupro], senão apenas exclui a punibilidade que a elas estaria, noutros termos, recomendada juridicamente” – uma distinção importantíssima e que é amplamente ignorada nos nossos dias.

O despertar da Primavera, texto do Pedro Sette Câmara, questionando a existência da excomunhão devido à (possível) ausência das condições necessárias para que ela se configurasse como tal [quanto a isto, caberia alguns comentários que, por falta de tempo, deixo, no entanto, para alguma outra oportunidade].

O presidente Lula – o católico! – critica a Igreja e propõe um “Dia de Luta contra a Hipocrisia”, provavelmente por algum desejo secreto de promover um evento de auto-homenagem do qual ele seria de longe o mais destacado expoente.

Uma carta aberta a Dom José, escrita por Max Wolosker Neto, pérola de uma pessoa que consegue, na mesma carta, afirmar “há muito deixei de ser católico” e “[v]enho por intermédio desta solicitar, também, minha excomunhão”.

Pois é. É melhor ler besteiras do que ser analfabeto…

Mais leituras diversas

Dando uma pausa no meio do turbilhão só para indicar alguns textos:

– Do professor Dr. Ivanaldo Santos, “A legalização da morte sem pena: o discurso do aborto no Brasil”.

Ademais, aceitar o aborto, seja por motivos de ordem pessoal, social, política ou mesmo econômica, significa aceitar um princípio de morte, criando-se um paradoxo incompatível com a defesa da vida. No fundo, os interesses abortistas estão acobertados por posturas ideológicas e, frisamos, contraditórias. Nenhum pró-abortista certamente estará disposto a fazer com ele mesmo o que ele próprio quer fazer com seres humanos ainda não nascidos.

– Da professora Dra. Lenise Garcia, “A definição da sociedade que queremos”.

Nos Estados Unidos, as estatísticas apontam para as mulheres que se submeteram ao aborto provocado:
– 250% mais de necessidade de hospitalização psiquiátrica;
– 138% a mais de quadros depressivos;
– 60% a mais de quadros de estress pós trauma;
– 7 vezes mais tendências suicidas;
– 30 a 50% mais quadros de disfunção sexual;
– 25% exigem acompanhamento psiquiátrico em longo prazo.

– Do Reinaldo José Lopes, “Caça às bruxas”.

Querer desqualificá-los [os evolucionistas religiosos] como cientistas por causa disso [por eles serem religiosos] é, numa palavra, inaceitável. É um tipo de absolutismo ideológico que, de novo, lembra a caça às bruxas, porque a ciência simplesmente não tem um monopólio das interpretações que os seres humanos fazem sobre o sentido da realidade. Insinuar que a ciência é o único árbitro desse tipo de coisa é jogar na lata do lixo, por tabela, outras formas de compreender o mundo que podem ser tão valiosas quanto o método científico, como a literatura, a arte – e, sim, também a teologia.