Papa aceita renúncia de bispo que apoiou Dilma Rousseff

Vi esta manhã no Vatican Information Services que o Santo Padre “[a]ceptó la renuncia del obispo Luiz Carlos Eccel al gobierno pastoral de la diócesis de Caçador (Brasil) en conformidad con el canon 401, párrafo 2 del C.I.C.”. O bispo de Caçador, para quem não se lembra, foi aquele que divulgou uma carta de apoio a sra. Dilma Rousseff.

Teve a pachorra de divulgar esta carta um dia depois do Papa ter dito à Regional Nordeste 5 da CNBB que os bispos devem emitir juízos morais também sobre situações políticas concretas, sempre que “os direitos fundamentais da pessoa ou a salvação das almas o exigirem”! A atitude de Sua Excelência foi de zombaria, de escárnio, de deboche; e agora, menos de um mês depois, teve a sua renúncia aceita pelo Santo Padre.

Segundo o site da diocese, a renúncia deu-se para que o bispo pudesse “cuidar de sua saúde”. Tinha 58 anos; 17 a menos do que a idade canônica, na qual todos os bispos são obrigados a pedir renúncia. Em seu lugar, como Administrador Apostólico, foi nomeado Dom João Marchiori, bispo emérito de Lages.

Que Deus dê forças e sabedoria ao Papa Bento XVI. A fim de que continue conduzindo a Igreja como Ela precisa ser conduzida.

Bento XVI e a camisinha I: a “mudança de opinião” da Igreja

Muito já foi dito acerca das declarações do Papa Bento XVI sobre os preservativos. Em particular, recomendo a leitura

1. do trecho do livro causador da polêmica;

2. deste texto do Voto Católico que me parece dar uma boa visão panorâmica sobre o assunto; e

3. destes comentários (parte 1 e parte 2) do rev. Pe. Demétrio sobre o assunto.

Infelizmente, a repercussão desta matéria foi incomparavelmente pior do que tudo o que se podia esperar. Vejo-me obrigado a levantar armas contra duas frentes opostas: por um lado, contra os mundanos que celebram este “avanço” da Igreja e, por outra, contra os católicos dito tradicionalistas que foram céleres em acusar o Papa de ter errado na emissão de uma opinião particular não-infalível.

Começo com os primeiros: é absurda a quantidade de má fé empregada! Ora, qualquer pessoa com um mínimo de conhecimento sobre a Igreja Católica sabe que as entrevistas papais publicadas por terceiros não fazem parte do corpo doutrinário católicos – ou seja, um livro de Peter Seewald não pode, sob nenhuma ótica, ser considerado um documento da Igreja. Portanto, ainda que o Papa estivesse apoiando campanhas de distribuição de preservativos (coisa que ele não está), seria descabido falar em “mudança de posição da Igreja”. A Igreja, como a história já deu incontáveis mostras e como os Seus inimigos não cansam de lamentar, simplesmente não muda. Esta é a segurança que nós, como católicos, possuímos.

Quanto ao que disse exatamente o Papa, ponho aqui uma tradução de um trecho bastante expressivo deste artigo do Catholic World Report:

Se alguém vai assaltar um banco e está decidido a usar uma pistola, melhor seria utilizar uma que não tivesse balas. Isto reduziria as chances de haver feridas mortais. Porém não é tarefa da Igreja ensinar aos potenciais ladrões de bancos como roubar bancos de maneira mais segura, e com certeza não é tarefa da Igreja apoiar programas que lhes proporcionem pistolas sem balas. Não obstante, a intenção de um ladrão de roubar um banco de maneira mais segura para os empregados e os clientes pode indicar um elemento de responsabilidade moral, que poderá ser um passo para uma eventual compreensão da imoralidade do ato de roubar um banco.

O mesmo se pode dizer da utilização do preservativo. O Papa não está falando sobre a sua mera utilização: está apenas enfatizando um aspecto subjetivo de quem o utiliza, que é em si positivo, e que pode servir para a sua eventual mudança de consciência e posterior conversão. Se um garoto de programa usa preservativos para proteger a si e ao seu parceiro de um eventual contágio com o vírus da AIDS, é esta preocupação com a integridade própria e a alheia que o Papa está chamando de positiva. Usar a camisinha é uma forma errada de salvaguardar a própria integridade; mas a intenção de se proteger, a consciência de que existem riscos associados ao uso desenfreado do sexo, é o que existe de positivo (embora, repita-se, os meios empregados estejam equivocados) no exemplo dado pelo Papa. Não significa “prostitutas, usem camisinha!”, mas simplesmente uma constatação: um garoto de programa que mantém a consciência dos limites do sexo, ainda que erre na maneira de “se proteger”, está melhor do que um entusiasta defensor do Barebacking.

A segunda parte deste texto – sobre os católicos dito tradicionalistas – vai ficar para depois.

Os bispos, a CNBB e o Papa

As Conferências Episcopais não fazem parte da hierarquia essencial da Igreja Católica. Elas devem servir apenas como órgãos de assessoria, para facilitar a colaboração entre os bispos. Nunca podem estar acima dos bispos. Isto, aliás, foi dito recentemente até mesmo pelo presidente da CNBB, Dom Geraldo Lyrio Rocha, quando da polêmica envolvendo Dom Luiz Gonzaga Bergonzini e a sua santa denúncia do abortismo do Partido dos Trabalhadores:

“Tenho uma admiração muito grande por Dom Luiz Gonzaga Bergonzini e os seus procedimentos estão dentro daquilo que a Igreja espera. Ele tem o direito e até o dever de, de acordo com sua consciência, orientar seus fiéis do modo que julga mais eficaz mais conveniente. Ele está no exercício de seus direitos como bispo diocesano de Guarulhos e cada instância fala só para o âmbito de sua competência, tanto que ele não se dirigiu à nação brasileira. Este procedimento está absolutamente dentro da normalidade no modo como as coisas da Igreja se encaminham”, afirmou o presidente da CNBB.

“Acima do bispo no governo da Igreja só existe uma autoridade: o papa”, destacou.

Ao contrário do que pensa o brasileiro médio, acima dos bispos está somente o Papa, e não as Conferências Episcopais. A CNBB não está acima dos bispos. Ela, portanto, não fala em nome de todos os bispos (e nem muito menos em nome de uma inexistente “Igreja Brasileira”), não pode impôr absolutamente nada a nenhuma das dioceses do Brasil, nem é uma instância intermediária entre estas e a Santa Sé.

Essas coisas voltaram a ser ditas na última segunda-feira, mas agora na voz do Papa Bento XVI. Em discurso aos bispos da Regional Centro-Oeste, o Vigário de Cristo foi incisivo:

Assim sendo, a Conferência Episcopal promove a união de esforços e de intenções dos Bispos, tornando-se um instrumento para que possam compartilhar as suas fatigas; deve, porém, evitar de colocar-se como uma realidade paralela ou substitutiva do ministério de cada um dos Bispos, ou seja, não mudando a sua relação com a respectiva Igreja particular e com o Colégio Episcopal, nem constituindo um intermediário entre o Bispo e a Sé de Pedro.

[…]

Ao mesmo tempo, é necessário lembrar que os assessores e as estruturas da Conferência Episcopal existem para o serviço aos Bispos, não para substituí-los. Trata-se, em definitiva, de buscar que a Conferência Episcopal, com seus organismos, funcione sempre mais como órgão propulsor da solicitude pastoral dos Bispos, cuja preocupação primária deve ser a salvação das almas, que é, aliás, a missão fundamental da Igreja.

É claro que o Papa está preocupado com a situação da Igreja no Brasil; e é claro que esta situação é calamitosa. Por exemplo, para a próxima Campanha da Fraternidade, a CNBB escolheu um hino abertamente herético, onde diz que a maior obra de Deus foi a Terra, e não o homem (créditos ao Frei Cleiton). É claro que as coisas estão fora dos eixos já há bastante tempo, e precisam ser reorganizadas. Bendito seja Deus pelo Papa Bento XVI, que olha pelo Brasil. Que a Virgem Aparecida Se compadeça desta Terra de Santa Cruz.

Escândalo em Maringá – Missa “pré-balada”!

Eu demorei a acreditar no vídeo abaixo, que vi no Fratres in Unum. Na verdade, acho que até agora eu não acredito totalmente; contudo é difícil arranjar um motivo plausível para não lhe dar crédito!

A reportagem tem realmente cara de reportagem. As músicas, são músicas comumente tocadas em Missa mesmo. O padre está realmente paramentado como a média dos sacerdotes se paramenta para celebrar a Missa. Mas as cenas exibidas são surreais.

“Missa pré-balada”? Procissão de entrada do Lecionário feita por um garoto de skate? Danças, gelo seco e globos de luzes giratórios? Banda de rock? E ainda têm a coragem de dizer que tudo isso é feito “[r]espeitando o Sagrado e todo o rito litúrgico”? Quem são as autoridades responsáveis por esta profanação?

É bastante óbvio para qualquer pessoa normal que a Missa não pode se parecer com uma balada. De quem foi esta idéia estúpida? Vamos então fazer a “missa pré-cinema”, com salas escuras e namorados abraçadinhos? A “missa pré-futebol”, com os fiéis divididos em dois times jogando contra si? Se a balada pode, como é que fica quem não gosta de balada?

Lamentável. E, depois, reclamam que as igrejas estão vazias… é óbvio que estão. Afinal, se a missa for uma imitação mal-feita de uma balada, por que razão as pessoas trocariam a balada original por uma sua versão cover? Há alguns meses, o Papa Bento XVI lembrou que a melhor catequese é a Eucaristia bem celebrada. Por qual insondável motivo isto é difícil de entender?

Enquanto isso, judeus pedem retirada de oração por conversão da Liturgia da Páscoa. Os inimigos da Igreja atacam o Sagrado por todos os lados, por dentro e por fora. Urge opôr resistência a estas terríveis ondas de profanação litúrgica. Porque, enquanto a Liturgia não for restabelecida em todo o seu esplendor, a batalha contra o mundo não poderá ser vencida.

Verbum Domini – Bento XVI

O Papa Bento XVI publicou hoje a Exortação Pós-Sinodal Verbum Domini, dois anos após a conclusão do Sínodo dos Bispos sobre a palavra de Deus ocorrido em 2008. São mais de duzentas páginas “sobre a palavra de Deus na vida e na missão da Igreja”. Para acessarem-na, cliquem aqui.

Ainda não li o texto. Apenas destaco um trecho, que colhi de um rápido passar de olhos sobre o documento:

A este respeito, São Boaventura afirma que, sem a fé, não há chave de acesso ao texto sagrado: « Esta é o conhecimento de Jesus Cristo, do qual têm origem, como de uma fonte, a segurança e a inteligência de toda a Sagrada Escritura. Por isso é impossível que alguém possa entrar para a conhecer, se antes não tiver a fé infusa de Cristo que é lanterna, porta e também fundamento de toda a Escritura ». E São Tomás de Aquino, mencionando Santo Agostinho, insiste vigorosamente: « A letra do Evangelho também mata, se faltar a graça interior da fé que cura ».

Isto permite-nos assinalar um critério fundamental da hermenêutica bíblica: o lugar originário da interpretação da Escritura é a vida da Igreja. Esta afirmação não indica a referência eclesial como um critério extrínseco ao qual se devem submeter os exegetas, mas é uma exigência da própria realidade das Escrituras e do modo como se formaram ao longo do tempo.

Verbum Domini, 29.

Curtas

Al Qaeda ameaça Vaticano e declara cristãos “alvos tangíveis” onde quer que estejam. “Conforme recolhe a imprensa internacional, o EII [Estado Islâmico do Iraque] difundiu um comunicado em um conhecido site usado por grupos radicais, no qual exige ao Vaticano que se desvincule dos católicos coptos do Egito para não ser alvo dos ataques do Qaeda”.

A notícia lembra também que, no domingo anterior [31 de outubro], “ao menos 58 pessoas –incluindo dois sacerdotes católicos, numerosas mulheres e crianças- morreram na Catedral de Sayida An Nayá em Bagdá em um ataque terrorista e posterior operação para libertar as dezenas de fiéis retidos no templo enquanto se celebrava uma Missa”. Um amigo mostrou-me este vídeo com fotos do resultado do ataque. As imagens são fortes, cuidado. Não entendo árabe e não sei o que as pessoas estão comentando no vídeo; mas sei o que é uma igreja destruída, pessoas feridas e padres mortos – e isto o vídeo mostra para quem fala qualquer idioma.

Que as almas dos mártires possam, junto a Deus, clamar pelo fim desta iniqüidade.

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Enem cria desconforto com pergunta ideológica sobre “homofobia”. A pergunta:

“Pecado nefando” era expressão correntemente utilizada pelos inquisidores para a sodomia. Nefandus: o que não pode ser dito. A Assembleia de clérigos reunida em Salvador, em 1707, considerou a sodomia “tão péssimo e horrendo crime”, tão contrário à lei da natureza, que “era indigno de ser nomeado” e, por isso mesmo, nefando.

O número de homossexuais assassinados no Brasil bateu o recorde histórico em 2009. De acordo com o Relatório Anual de Assassinato de Homossexuais (LGBT – Lésbicas, Gays, Bissexuais e Travestis), nesse ano foram registrados 195 mortos por motivação homofóbica no País. A homofobia é a rejeição e menosprezo à orientação sexual do outro e, muitas vezes, expressa-se sob a forma de comportamentos violentos. Os textos indicam que as condenações públicas, perseguições e assassinatos de homossexuais no país estão associadas

A) à baixa representatividade política de grupos organizados que defendem os direitos de cidadania dos homossexuais.
B) à falência da democracia no país, que torna impeditiva a divulgação de estatísticas relacionadas à violência contra homossexuais.
C) à Constituição de 1988, que exclui do tecido social os homossexuais, além de impedi-los de exercer seus direitos políticos.
D) a um passado histórico marcado pela demonização do corpo e por formas recorrentes de tabus e intolerância.
E) a uma política eugênica desenvolvida pelo Estado, justificada a partir dos posicionamentos de correntes filosófico-científicas.

O caderno de provas do primeiro dia está disponível aqui. O site “Vestibular Brasil Escola” comentou a questão aqui. Segundo ele, a alternativa correcta é a letra “D”. E justifica:

Fortemente influenciado pelos valores cristãos, o passado colonial brasileiro assistiu a uma constante exclusão de pessoas, e grupos, que não seguissem tais preceitos, como cristãos novos e sodomitas. Através das visitações da Inquisição, tais personagens foram denunciados como desagregadores da sociedade colonial, contribuindo-se para a criação de tabus e preconceitos sociais que se perpetuaram dentro da história brasileira. O machismo e a homofobia atuais acabam sendo reflexo desta herança histórica.

Esta questão avalia algum conhecimento relevante? Ou trata-se, tão-somente, de doutrinação ideológica gayzista e anti-cristã? Nada surpreendentemente, este lixo vem do nosso Ministério da Educação. E andam preocupados com Monteiro Lobato

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Milionário britânico muda de sexo, se arrepende e muda de sexo de novo. “Nascido Sam Hashimi, o homem de negócios, divorciado e pai de dois filhos, mudou de sexo em 1997 e passou a se chamar Samantha Kane. […] Mas, em 2004, depois de sete anos vivendo como mulher, ele descobriu que tinha cometido um ‘terrível engano’, abalado pelo fim de um casamento de 12 anos e pelo afastamento dos filhos. Ele concluiu que havia enjoado da vida que levava como mulher e que, no fundo, queria continuar sendo homem”.

Eis o retrato da decadência dos nossos tempos: o sujeito acaba com o seu casamento e destrói sua família porque quer “virar” (!) Samantha, demora sete anos para perceber este “terível engano” e, ao final das contas, a sua conclusão é que… ele “havia enjoado” de ser mulher!

Tempos terríveis. Que Deus nos perdoe.

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Os sinais sutis do governo anticlerical de Zapatero ao Papa Bento XVI.

No sábado, a “Guarda Civil, por ordem do delegado do Governo de Madri, decidiu fechar sine die a entrada dos fiéis à Eucaristia diária que os monges celebram no Valle de los Caídos. Estes, em sinal de protesto, celebrarão uma missa a céu aberto na entrada do recinto, no domingo, às onze da manhã. O fechamento da uma basílica sob jurisdição pontifícia ocorre, assim, enquanto o Papa está em território espanhol, o que aumenta a gravidade da ofensa”, informou o sítio Religión em Liberdad.

Já o presidente do governo, José Luis Rodríguez Zapatero, preferiu simplesmente fazer uma visita surpresa ao Afeganistão a ter de assistir as celebrações religiosas do Sumo Pontífice. Apareceu apenas para se despedir de Bento XVI, num breve encontro no aeroporto de Barcelona. Zapatero, que enfrenta uma grande queda de popularidade entre os espanhóis, já em 2006 adotou a mesma postura, distanciando-se do Papa enquanto líder religioso, prestando deferência apenas ao chefe de Estado.

Eis a terra que, um dia, foi católica… triste país, que desonra desta maneira a memória de tantos santos que outrora concedeu à Igreja de Deus. Que Santa Teresa d’Ávila, São João da Cruz, São João de Deus e tantos outros intercedam pela Espanha.

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O discurso vigarista da canalha que lucra ao jogar o Brasil contra o Brasil. Ou: Os “fascistas do bem” estão assanhados! É longo, mas leiam – vale a pena. Sobre o caso da Mayara e o seu preconceito contra os nordestinos. O Reinaldo diz o mesmo que eu já disse aqui outras vezes, sobre a importância de se manter uma proporcionalidade entre o delito cometido e a pena sofrida. Mas também analisa o caso com muito mais detalhes.

É espantoso! É assustador. Ele próprio [o pai da Mayara] expõe a sua vida privada e a da garota, como se a condição de “filha fora do casamento” tornasse menores seus vínculos com a  jovem, tomada, no contexto, como agente de um desequilíbrio familiar. Ironicamente, sua empresa se chama “Supermercado do Papai”. O supermercado é do papai! O papai revela ainda que a relação com a filha não é boa; não quer que as opiniões dela sejam confundidas com as da família — talvez quisesse dizer “a verdadeira família”.

[…]

A coisa agora segue no ritmo do horror, do pega-pra-capar. Já que ela foi estúpida o bastante para escrever aquilo, pode ter a imagem estampada na capa de um jornal da Bahia como “a paulista”. Já que escreveu aquilo, pode ser demonizada pelo pai, que a trata como uma bastarda, agente de dissabores familiares e ovelha desgarrada, que não reproduz os valores da família — ele, na verdade, tem “raiva” de gente assim. Já que escreveu aquilo, ela não terá direito a um julgamento justo. Afinal, os nossos irmãos nordestinos merecem um desagravo — nem que seja o linchamento.

O laicismo, empecilho ao bem comum

“Todas as criaturas devem louvar a Deus. Ora, o Estado é uma criatura; logo, o Estado deve louvar a Deus”. O silogismo já me foi apresentado algumas vezes, embora eu não saiba afirmar com certeza de quem é sua autoria. Independente desta, no entanto, é forçoso concordar com a clareza do raciocínio. A maior e a menor estão adequadamente dispostas e relacionadas e, portanto, a conclusão se impera. Sim, o Estado deve louvar a Deus.

De que maneira deve o Estado louvar a Deus? O Estado Confessional é a primeira forma de concretização deste dever que nos vem à mente. Eu próprio, no entanto, tenho dúvidas sobre se esta é a única forma de fazer com que o Estado louve ao Todo-Poderoso como deve louvar. Ora, imagino que esteja fora de discussão que, se o Estado é uma criatura, não o é da mesma maneira que o próprio homem é uma criatura. Os seres racionais – o homem, os anjos – louvam a Deus com a sua inteligência e a sua vontade. Os animais, vegetais e seres inanimados louvam a Deus cumprindo com aquilo que a Divina Providência estabeleceu que eles realizassem: as abelhas construindo colmeias, as aves, ninhos, as plantas crescendo e dando flores ou frutos, os astros movendo-se lentamente no céu. Em uma palavra: cada criatura louva a Deus fazendo aquilo que lhe é próprio, aquilo que compete à sua natureza.

E qual a natureza do Estado? Não sei se Santo Tomás de Aquino o fala expressamente. Sei, contudo, que o Aquinate fala sobre a lei humana e, retomando Santo Isidoro, sentencia: “A lei deve ser honesta, justa, possível segundo a natureza e os costumes do país, proporcional aos lugares e aos tempos, necessária, útil. Deve também ser clara, para que não haja enganos escondidos em sua obscuridade. Deve estar direcionada não para o proveito privado, e sim para a utilidade comum dos cidadãos” (Summa, I-IIae, q.95, a.3). Julgo oportuno ficarmos com estes conceitos, que são mais genéricos. O homem é um ser político por natureza, como dizia Aristóteles, mas isso não implica necessariamente na existência dos Estados no sentido que o termo possui hoje em dia. É necessário haver, sim, a comunidade política que possibilite a vida em sociedade. Mas não é necessário que esta comunidade política seja o Estado.

Ora, se o objetivo da comunidade política – das leis humanas – é, em resumo, ordenar a vida em sociedade tendo em vista o bem comum dos indivíduos, segue-se ser esta a natureza do Estado. Este, portanto, não precisa adoptar expressamente o Catolicismo Romano como Religião Oficial para que louve a Deus (o que não significa que ele não possa adoptá-lo, mas aí é outra discussão). Cumprindo o Estado com os seus objetivos e esforçando-se por atingir os fins para os quais existe, Deus está sendo louvado por meio dele.

Os objetivos do Estado, no entanto, estão intimamente relacionados ao bem dos seus cidadãos. E estes, ao contrário do Estado, são seres dotados de personalidade, de inteligência e de vontade e, portanto, precisam louvar a Deus com tudo o que possuem – o que, para eles, significa aderir visivelmente à Igreja fundada por Deus, a Católica Apostólica Romana. O Estado não tem, portanto, o direito de dificultar aos seus súditos o ingresso na Religião verdadeira e a sua prática ao longo da vida. Ao contrário: já que tem por obrigação servir ao bem comum objetivo e, para os homens, o bem é serem católicos, o Estado deve colaborar com a Igreja para facilitar-Lhe a missão evangelizadora. Sem isso, o Estado não está cumprindo com as suas atribuições.

O Laicismo é, portanto, um grande mal. Um mal que dificulta aos homens (quando não os priva completamente de) terem acesso às realidades sobrenaturais, que são parte integrante de sua natureza e conditio sine quae non para que se possa falar em “bem” para eles. E assim, portanto, o Laicismo é um atentado contra o próprio Estado, contra a sua própria razão de ser, na medida que o impede de prover integralmente o bem de seus súditos. Foi isso que o Papa falou na Espanha. É isso que o mundo precisa entender.

O discurso do Papa-Rei na chegada à Espanha

O Papa chega à Espanha. Na cerimônia de boas vindas no Aeroporto de Santiago de Compostela, Bento XVI refere-se a si próprio como “o Sucessor de Pedro”. E fala que esta sua viagem apostólica tem por objetivo confirmar na Fé os seus irmãos.

Enche de esperança ver o Papa falar – e agir – desta maneira. É uma demonstração pública de que se tem consciência da própria missão no mundo. É um recado dado aos covardes que, cada vez mais, querem relegar a Religião a um completo subjetivismo, ao território das opiniões pessoais. O Papa é o Sucessor de Pedro, e põe-se a caminho para confirmar a Fé dos irmãos.

No início do mês passado, Sua Santidade voltou a usar a Tiara Papal em seu brasão pontifício. Embora no site da Santa Sé o brasão de Bento XVI ainda esteja desatualizado, não é possível deixar de perceber a importância deste gesto. Não vai ser possível deter o Retorno do Papa Rei.

O curioso é que foi justamente Bento XVI o primeiro papa a não usar a tiara no brasão pontifício, substituindo-a por uma mitra. O fato causou perplexidade à época: o Papa estava “[a]bandonando uma tradição de nove séculos”! Não sei por qual motivo Bento XVI adotou um brasão sem a tiara, em 2005. Mas, às vezes, fico a pensar se não foi exatamente para preparar o impacto do retorno triunfal da Coroa Pontifícia em 2010. Porque simplesmente manter a tiara teria pouco ou nenhum significado. Restabelecê-la, ao contrário, coloca-a no centro das atenções e passa uma clara mensagem sobre as intenções de Sua Santidade: o Papa é Rei.

Volto à Espanha. O Papa-Rei, o “Sucessor de Pedro” que sai em peregrinação para confirmar a Fé dos seus irmãos, fala sobre a Fé e a vida pública. Retoma corajosamente o discurso de João Paulo II, “que desde Compostela exhortó al viejo Continente a dar nueva pujanza a sus raíces cristianas”. E sentencia (tradução livre):

Também eu quero convidar a Espanha e a Europa a edificar seu presente e projetar seu futuro a partir da verdade autêntica sobre o homem. A partir da liberdade que respeita esta verdade e nunca a machuca. E a partir da justiça para todos, começando pelos mais pobres e desvalidos. Uma Espanha e uma Europa não apenas preocupadas com as necessidades materiais dos homens, mas também com as [necessidades] morais e as sociais, com as espirituais e as religiosas; porque todas elas são exigências genuínas do homem inteiro, e só assim se trabalha eficaz, íntegra e fecundamente por seu bem.

Que o mundo possa ouvir a voz de Pedro, para que assim seja salvo.

Comentários políticos – de fora da cidade

Escrevo nas mesmas condições de ontem; mas não queria deixar de fazer algumas considerações que, aqui em retiro, e após apagarem-se as chamas da euforia (e da decepção) provocadas pelo resultado das eleições de domingo, vieram-me à mente.

Na verdade, nós vencemos. Porque vencemos as batalhas mais importantes, e aquela que perdemos foi precisamente a que tem menor relevância, porque era a única que não constitui novidade alguma no cenário político oficial.

É muito fácil explicar a vitória da sra. Rousseff nas urnas. Entre tantos outros motivos, podem-se destacar os seguintes:

1. A gigantesca (e ilegal, mas esse “detalhe” não interessa à petralhada) mobilização da máquina do Estado em favor da candidata petista, inclusive com o senhor presidente do Brasil abandonando as suas atribuições de Chefe de Estado para virar – palavras dele – “um cabo eleitoral da Dilma”, dizendo até mesmo que os que votassem na sra. Rousseff estariam votando também “um pouquinho” nele.

2. A grande farsa dos institutos de pesquisa, que passaram os últimos meses anunciando a vitória da Dilma em um país onde a população vota maciçamente como se estivesse apostando em uma corrida de cavalos e, caso vote – “aposte” – no candidato que perder a eleição, estará “perdendo o voto”.

3. A completa ausência de uma oposição que não seja composta em sua maior parte (ou, pelo menos, em sua parte reponsável pela tomada de decisões a nível estratégico) por companheiros dos criminosos que ora se encontram no poder e que, desde antes da campanha eleitoral ter início até, literalmente, a véspera do pleito, empenhou-se em assegurar a vitória da candidata do Governo.

4. O conservadorismo do povo brasileiro que, na análise do Carlos Ramalhete em lista de email, está paradoxalmente sendo empregado em favor da Revolução, uma vez que oferece natural resistência a mudanças políticas e, assim, favorece a perpetuação no poder da quadrilha que, hoje, lá já se encontra.

A vitória da sra. Rousseff, assim, apresenta-se como nenhuma novidade, nada de novo sob o sol. As novidades introduzidas foram exatamente aquelas sobre as quais já falei aqui e que, estas sim, ganhamos todas. Tiramos as questões morais do “submundo da política” para trazê-las às manchetes dos jornais. Comprovamos o enorme poder das novas mídias de comunicação. Revelamos o racha na Igreja no Brasil, forçando os lobos em pele de cordeiro (ou de pastor) a uivarem em público, arrancando-lhes assim as máscaras. Obtivemos apoio pontifical à luta que travávamos no Brasil há anos. Estas foram as nossas vitórias, estes são os nossos troféus dos quais devemos nos orgulhar, são os nossos trunfos que, doravante, poderemos e devemos utilizar.

Houve quem falasse em fazer as pazes, em depôr as armas agora que as eleições terminaram. Às vezes, eu fico impressionado com a capacidade dos meus leitores não entenderem nada. Nunca se tratou de uma querela político-partidária, o problema nunca esteve circunscrito às eleições. Trata-se da usurpação do governo brasileiro por uma cambada de criminosos que têm a intenção manifesta de transformar o Brasil (aliás, a América Latina como um todo) em uma versão aggiornata da antiga União Soviética, em um projeto que inclusive está já em estágio avançado de realização. Não começou com a eleição da sra. Rousseff e não estaria derrotado caso o sr. Serra tivesse saído vitorioso.

O combate sempre esteve além, muito além, das questiúnculas partidárias. E, portanto, é lógico que não terminou domingo passado. Há ainda muita coisa por ser feita, e é preciso fazê-las, aconteça o que acontecer.

Declaração de voto

Isto significa também que em determinadas ocasiões, os pastores devem mesmo lembrar a todos os cidadãos o direito, que é também um dever, de usar livremente o próprio voto para a promoção do bem comum (cf. GS, 75).
– Bento XVI

Como eu já tive a oportunidade de dizer outras vezes aqui, estas eleições estão sendo um momento histórico para o Brasil. Pela primeira vez, os temas morais inegociáveis – como o aborto – foram trazido à luz do dia e discutidos publicamente. Pela primeira vez, a máscara de bom-mocismo do Partido dos Trabalhadores foi arrancada publicamente, pondo a descoberto a face assassina e totalitária do partido que, infelizmente, hoje se encontra no governo desta Terra de Santa Cruz. Pela primeira vez, corajosos membros do clero levantaram a sua voz claramente contra o projeto imoral e anti-cristão do PT, cumprindo com o seu “grave dever” de orientar os fiéis católicos sobre as questões políticas prementes com relação às quais estes, por tanto tempo, foram mantidos em ignorância. Pela primeira vez, os maus católicos colocaram as garras de fora e mostraram que cerram fileiras com os inimigos da Igreja, ao invés de cerrá-las com Cristo.

E, pela primeira vez, Bento XVI falou. As palavras do Vigário de Cristo foram claras, e dirigidas especificamente para o Brasil. É importante defender as raízes cristãs desta Terra de Santa Cruz. É importante oferecer resistência pública – sem temer qualquer impopularidade! – às ameaças à vida humana, mormente a mais indefesa. É dever dos bispos católicos orientarem os seus fiéis neste sentido, também em questões políticas concretas, sempre que temas como a defesa do aborto estiverem contemplados entre as propostas dos candidatos e partidos. E é importante exercer o próprio voto para a promoção do bem comum.

Nós já ganhamos muita coisa nestas eleições. A oposição ao PT – a verdadeira, não estou falando dos bananas do PSDB – saiu fortalecida, e o Partido percebeu que existem pessoas dispostas a resistirem às suas iniqüidades. Os temas morais vieram à luz do dia, e a sanha abortista do PT foi posta a descoberto; a tal ponto que a sra. Rousseff precisou mentir descarada e repetidamente em público para tentar estancar a sangria das suas intenções de voto. E a Igreja no Brasil – graças a Deus! – dividiu-se, deixando manifesto que há bispos servindo a Deus e, outros, servindo a interesses partidários. E o Papa tomou claro partido em favor dos primeiros.

Já ganhamos muita coisa, repito. Mas o momento é histórico, e há ainda um outro feito histórico a ser realizado, para coroar estas eleições presidenciais. Há a necessidade de derrotar nas urnas a candidata petista. Há necessidade de consolidar a “Operação Dilma, não!”, de modo público, de forma material, da maneira como eles entendem. Para fechar com chave de ouro o momento que estamos vivendo.

Não é, absolutamente, pelo governo do PSDB. Todos sabemos que o José Serra é um candidato que não merece o voto católico – isto, não está em discussão. Mas importa ir às urnas no próximo dia 31, não porque o Serra o mereça, mas porque o momento assim o exige.

Para mostrar aos criminosos que se apossaram do Brasil que, nesta Terra de Santa Cruz, ainda há filhos seus que não fogem à luta. E isto precisa ser feito também da única maneira que eles entendem: nas urnas. Para calar a boca de toda a petralhada que, ao longo dos últimos anos (e de modo violentíssimo nos últimos meses), debochou e escarneceu dos homens de bem deste nosso Brasil. Para atender ao pedido do Papa Bento XVI, que chamou os católicos brasileiros a exercerem o seu voto visando à promoção do bem comum.

Para vencermos esta batalha da Contra-Revolução, que sem dúvidas não se resume à derrota da candidata petista mas tem, nela, um marco de inegável importância. O processo foi iniciado, e importa ganharmos terreno tanto quanto for possível e tão rápido quanto pudermos, porque temos muita coisa ainda por fazer.

Para vir em defesa de Dom Luiz Bergonzini e os bispos da CNBB Sul 1 – e de tantos outros prelados! – que tiveram a coragem de se expôr para pedir aos católicos e a todos os homens de bem que não apóiem com o seu voto a corja que hoje se encontra no Governo. Eles foram perseguidos e debochados, foram escarnecidos e inclusive acionados judicialmente, sofreram pressão da sociedade, dos católicos e dos próprios irmãos no episcopado. Importa mostrar que estamos ao lado deles também contribuindo para que se materializem, nas urnas, os frutos dos seus pedidos.

Não me arrependo de não ter escrito esta declaração de voto antes. Lamento, sim, não ter podido fazê-la antes. Mas as circunstâncias mudaram… Próximo domingo, eu vou votar no Serra. Faço-o constrangido, inclusive contra a minha vontade particular, mais para atender a uma necessidade imperiosa do atual momento político brasileiro do que para qualquer outra coisa. Sinceramente, eu – e imagino que todos os brasileiros insatisfeitos com o PT e com a sra. Rousseff – esperávamos, do embate entre Satanás e Belzebu, que a ex-terrorista do PT saísse derrotada. Torcíamos por isso interiormente, mas sem querer tomar partido, para não termos envolvimento com a canalhice. Hoje posso dizer que, se é assim, importa votarmos positivamente naquele que, para além de qualquer discussão, apresenta-se como a única alternativa à perpetuação do PT no poder – coisa que nenhum de nós queremos. Neste momento, importam os votos individuais. Importa comparecer às urnas e oferecer algumas lágrimas ao Altíssimo pressionando duas teclas na Urna Eletrônica – eu bem sei como este sacrifício é doloroso! Mas importa fazê-lo.

O momento é tão propício que é impossível não o enxergar. Próximo domingo, dia das eleições, comemoramos o Dia de Cristo Rei no calendário tradicional. Quando Pio XI instituiu esta festa, em 1925, quis lembrar aos católicos o reinado de Cristo também nas sociedades: quis recordar, e testemunhar publicamente, que Nosso Senhor é Rei também das realidades temporais. No dia de Cristo Rei, hoje, no Brasil, somos chamados a ir às urnas não em defesa de um (inexistente, nas atuais situações) projeto político cristão, mas para atacar e destruir um projeto político que é clarissimamente anti-cristão. No dia de Cristo Rei, finquemos esta importante bandeira demarcando o avanço dos novos cruzados, dos que amam verdadeiramente a sua Pátria e não suportam mais vê-La escarnecida pela quadrilha que hoje se encontra no Governo. Façamos a nossa parte para termos uma data histórica ad perpetuam rei memoriam: façamos com que o dia de Cristo Rei em 2010 entre na história como o dia em que o PT foi expulso do governo desta Terra de Santa Cruz.

Não sei qual vai ser o resultado do pleito. Mas sei que, aconteça o que acontecer, que Deus nos ajude – vamos precisar. Do socorro d’Ele precisamos, e a Ele elevamos as nossas súplicas e preces. E a Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, recomendamo-nos com tudo o que temos, com toda a nossa indigência e a nossa radical incapacidade de fazermos mais o que quer que seja. Que Ela possa ajudar o povo brasileiro de quem é Rainha e Padroeira. Nossa Senhora Aparecida, salvai o Brasil!