Esclarecimentos dos Templários

Cumprindo uma questão de justiça: a Orden Soberana y Militar del Temple de Jerusalen anunciou que não tem nada a ver com o processo contra o Papa Bento XVI que foi noticiado aqui na terça-feira. De acordo com a notícia, estes templários disseram que

la citada asociación [a Orden Soberana del Temple de Cristo] es “un grupo marginal al que muchos relacionan con la tristemente famosa secta de la Orden del Templo Solar”.

Pelo que eu entendi, então, são duas associações que se dizem “herdeiras” dos Templários:

  1. a Orden Soberana del Temple de Cristo; e
  2. a Orden Soberana y Militar del Temple de Jerusalen.

A primeira foi a responsável pelo processo e, a segunda, a que está do lado do Papa:

La Orden del Temple muestra su apoyo a Su Santidad el Papa ante el ataque de grupos sectarios que falsamente se autodenominan templarios.

Confesso que não conheço nem uma e nem a outra, a não ser pelas notícias dos últimos dias, de modo que me abstenho de tecer comentários mais aprofundados e fica aqui somente o registro do protesto da Orden del Temple [a segunda].

Processo contra o Papa

Tem gente que adora aparecer…

No cabe apelación ni recurso contra una sentencia o un decreto del Romano Pontífice (CIC, 333 §3).

Em caso de leis conflitantes promulgadas pelos dois poderes [civil e eclesiástico], a lei civil prevalece (Erro 42 condenado pelo Syllabus – tradução livre).

No entanto, os “herdeiros” dos Templários exigem a reabilitação da Ordem, em processo contra o Papa Bento XVI! A ação – que não foi aceita em primeira instância – está, atualmente, com um recurso de apelação a ser julgado no dia primeiro de outubro, segundo o comunicado oficial dos seus autores.

Aliás, para quem não conhece estes sujeitos (eu não conhecia), os malucos da Orden Soberana del Temple de Cristo chegam ao cúmulo de afirmar, em uma nota a todos os meios de comunicação de agosto de 2008, que

[l]a Orden Soberana del Temple de Cristo profesa al Vicario de Cristo fraternal deferencia y respeto en la medida que éste escuche la voz de los Soldados de Cristo.

Ou seja: primeiro, eles confessam que o papa é o Vigário de Cristo. Depois, dizem que professam a ele “deferência e respeito”, mas somente na medida em que o Papa escutar a voz dos “Soldados de Cristo”, isto é, deles próprios! Uma tremenda bobagem, um completo nonsense, uma verdadeira loucura. Por que tem tanta gente que insiste em deixar armado o picadeiro para qualquer um fazer a palhaçada que lhe der na telha?

Jornada Mundial da Juventude 2008


[foto: Catholic Diocese of Sale]

Começou, desde a última terça-feira, a XXIII edição da Jornada Mundial da Juventude. O evento, que reúne (como o nome diz) jovens católicos do mundo inteiro com o Papa, aconteceu pela primeira vez em 1986, sendo um legado do papa João Paulo II.

O site oficial do evento é o http://www.wyd2008.org/; em português, a cobertura está sendo feita pelo http://jmjbrasil.com.br/. Neste último, aliás, há uma excelente cobertura de vídeos com atualizações constantes.

Para quem quiser acompanhar o evento, os sites acima – além, claro, do site da Santa Sé – são parada obrigatória. Não esperem para saber da Jornada pela mídia brasileira; vocês não vão saber.

Indulgência plenária, só quem recebe são os peregrinos; mas quem fica aqui longe também pode lucrar indulgência parcial, bastando para isso apenas elevar «ao menos com ânimo contrito suas orações a Deus Espírito Santo, para que impulsione os jovens à caridade e lhes dê força para anunciar o Evangelho com sua própria vida». Garantindo, então, a indulgência parcial (oração pessoal):

“Deus Espírito Santo, que transformastes os homens rudes da Galiléia em Apóstolos da Igreja após revestir-lhes com o Vosso Poder em Pentecostes, fazei com que os jovens católicos, de maneira especial os que estão unidos, em espírito ou em peregrinação, ao Santo Padre o Papa Bento XVI nesta XXIII Jornada Mundial da Juventude, sejam de tal maneira abrasados pela Vossa caridade que, à semelhança dos Doze Apóstolos, anunciem com a própria vida o Evangelho da Salvação. Por Cristo, Senhor Nosso, amém”.

Hoje, houve um encontro ecumênico na Cripta da Catedral de Sydney. Do discurso do Santo Padre:

Este sacramento [o Batismo], que é a porta de ingresso na Igreja e o «vínculo de unidade» para quantos renasceram por ele (cf. Unitatis redintegratio, 22), é consequentemente o ponto de partida de todo o movimento ecuménico. Mas não é o destino final. O caminho do Ecumenismo visa em definitivo chegar à celebração comum da Eucaristia (cf. Ut unum sint, 23-24.45), que Cristo confiou aos seus Apóstolos como o sacramento por excelência da unidade da Igreja.

Viva o Papa!

Por que o Papa defende a Tradição?

Artigo publicado na FOLHA (aqui para assinantes e aqui de segunda mão): “Bento XVI resgata tradicionalismo”. A reportagem contém boas informações, mas também algumas besteiras que ameaçam confundir os fiéis quanto à situação atual que atravessa a Igreja. Passo a fazer alguns ligeiros comentários.

[E]m 30 de junho de 1988, o bispo francês Marcel Lefebvre (…) consagrou quatro bispos (…). Ao mesmo tempo, um decreto fulminante de Roma excomungava Lefebvre (morto em 1991) e aqueles novos bispos.

Está errado. Primeiro, porque a Ecclesia Dei não é um “decreto”, e sim um “motu proprio”. Segundo, porque o motu proprio não excomunga Lefebvre (a excomunhão é latae sententiae, segundo o Direito Canônico); apenas declara que ele incorreu em excomunhão automática quando sagrou os bispos sem mandato apostólico.

Seminários da Fraternidade Santa Pio 10 (…)

Mon Dieu! Ninguém revisa as traduções da Folha? O nome da Fraternidade é São Pio X!

Tipicamente europeu, esse modelo de igreja autoritária, antiecumênica e antimoderna, dominada pela figura do santo padre encarregado do sagrado, foi exportado.

O que a reportagem chama de “autoritária” é a Igreja onde o Papa detém a Suprema Autoridade de Governo e de Ensino; “antiecumênica”, é a Igreja que afirma não haver salvação fora d’Ela; “antimoderna”, é a Igreja que se recusa a ser antropocêntrica e permanece teocêntrica. Em suma: é a Igreja Católica de sempre.

Vítima de um jogo interminável de disputas, Bento se viu pressionado a anular as excomunhões de junho de 1988.

Do jeito que o negócio está escrito, dá a entender que o Papa já levantou a excomunhão de Lefebvre! E isso  – a menos que o repórter saiba o que o Papa fez antes que o Vaticano divulgue – não aconteceu.

Em todas as religiões, a liturgia é a expressão de uma fé. Ela não pode ser dissociada da doutrina. Acontece que a direção foi determinada há mais de 40 anos, no concílio Vaticano 2º, mantido por Paulo 6º e João Paulo 2º.

Este é o ponto mais interessante da história toda. É verdade que a Liturgia expressa a Fé e que, portanto, segundo o velho adágio católico, lex orandi, lex credendi: a norma da oração é a norma da Fé. Mas acontece que a Fé da Igreja é, por definição, imutável; de modo que a Liturgia – na essência – também o é. Assim sendo, a Reforma Litúrgica do século XX, não obstante as opiniões de rad-trads e de modernistas, não modificou a Fé da Igreja.

A reportagem, todavia, diz o contrário. Diz que o Vaticano II determinou uma direção para a Igreja, e esta direção – dá a entender o texto – é oposta àquilo que a Igreja sempre ensinou. O texto é adepto da tese segundo a qual o Vaticano II criou uma nova igreja; tese já incontáveis vezes repudiada por Roma.

Hoje, reina em Roma um neoconservadorismo incentivado não tanto pelo papa quanto por grupos que nunca renunciaram à igreja autoritária do passado. A reintegração dos cismáticos corre o risco de ser efetuada ao preço de uma erosão das conquistas dos últimos 40 anos. Seria o triunfo póstumo de Lefebvre.

Vejam a acusação insidiosa: o Papa defende a Tradição não porque ele é o Papa e tem como dever guardar a Tradição, mas… por estar sendo “incentivado” pelos cismáticos da FSSPX! Bento XVI seria um “traidor” da Igreja, mancomunado com cismáticos! A idéia é completamente esdrúxula, mas ameaça encontrar quem a ouça – afinal, hoje em dia, tem tanta gente que engole cada besteira…

A Reforma Litúrgica não modificou a Fé da Igreja – é uma impossibilidade teológica. “Retornar à Igreja pré-conciliar” é uma expressão destituída de significado, pois não se pode retornar a uma coisa que não foi nunca abandonada. A Igreja é a Igreja; pode-se retornar ao latim, pode-se retornar ao báculo com cruz grega, pode-se retornar aos genuflexórios na hora da comunhão, pode-se retornar às vestes papais; mas nem vestes papais, nem genuflexório, nem báculo com cruz grega, nem latim são a Igreja! Se estas coisas ajudam a fazer a Fé da Igreja – a Fé imutável – mais conhecida neste mundo, então que sejam largamente utilizadas! É isto que o Papa está fazendo. O que não podemos é permitir que os cismáticos, só por conservarem algumas coisas da Igreja que abandonaram, “levem os louros” e “assumam a responsabilidade” por estas coisas das quais a Igreja sempre pôde dispôr da maneira que Lhe aprouvesse, posto que, por direito, a Ela – e somente a Ela – pertencem.

De Joelhos!

Recebi, via email, uma notícia dizendo: “Bento XVI restaura a comunhão de joelhos”.

O mesmo – ou seja, haver um genuflexório para as pessoas receberem ajoelhadas a comunhão do Sumo Pontífice – já havia acontecido na Missa de Corpus Christi, em 22 de maio último.

Nesta mesma celebração, Sua Santidade disse na Homilia:

Ajoelhar-se diante da Eucaristia é profissão de liberdade: quem se inclina a Jesus não pode e não deve prostrar-se diante de nenhum poder terreno, por mais forte que seja.
[SS Bento XVI, Homilia de Corpus Christi – 22 de maio de 2008]

E, que pedagogia excelente do Santo Padre, dando um exemplo prático, na hora da Comunhão, daquilo que ele havia falado pouco antes, na Homilia! Que maneira enfática de se passar um ensinamento, fazendo as atitudes seguirem-se às palavras. Olhemos para Pedro: ele não só nos aponta o caminho, como ainda caminha à nossa frente. Sigamo-lo! Até os pés da Cruz. De joelhos!

A rigor, o título da notícia do “Diário de Natal” está impreciso; o Papa não “restaurou” a comunhão de joelhos no sentido de ter emitido uma norma segundo a qual as paróquias deveriam adotar essa prática. O Papa “apenas” deu a comunhão diretamente na boca dos comungantes, que estavam ajoelhados num genuflexório para receber a Nosso Senhor.

“Apenas…”? Já é a segunda vez que Bento XVI procede desta forma! Não sei qual a origem daquele ditado que diz que “as palavras convencem, mas os exemplos arrastam”. Mas espero que os exemplos do Santo Padre, que acompanham as suas palavras, possam arrastar milhares de almas a se prostrarem diante de Cristo Nosso Senhor.

Longa vida ao Papa!