Hereges, Cismáticos e Concílios Ecumênicos

Motivado por alguns comentários surgidos em outro post no qual eu falava sobre um convite feito a uma cantora protestante, por um grupo carismático [que, repito, não tenho certeza se se trata de um grupo da Renovação Carismática Católica],  para que participasse de um “culto de louvor e adoração” , trago aqui algumas considerações sobre a presença de não-católicos nos Concílios Ecumênicos ao longo da história da Igreja. Vou fazer algumas citações do livro do pe. Ralph Wiltgen, “O Reno se lança no Tibre”, disponível em língua portuguesa pela Permanência.

Os Concílios Ecumênicos sempre foram vistos como oportunidades de fazer com que os cristãos que se houvessem desviado da Fé retornassem ao seio da Igreja. Por isso, a presença de não-católicos às sessões conciliares sempre foi (ao menos) desejada por todos os Papas e Padres Conciliares, inclusive com o envio de convites expressos às igrejas separadas para que mandassem delegações aos Concílios. No Concílio de Trento, por exemplo, a Enciclopédia Católica nos diz que foram emitidos até mesmo salvo-condutos para garantir a segurança dos protestantes que desejassem participar do Concílio. Uma tradução de um decreto neste sentido está disponível no Veritatis (não vou citar na íntegra, mas recomendo vivamente a leitura):

O Sacrossanto, Ecumênico e Geral Concílio de Trento, reunido legitimamente no Espírito Santo, e presidido pelos mesmos Legados e Núncios da Santa Sé Apostólica, insistindo no salvo-conduto concedido na penúltima Sessão, amplia suas prerrogativas nos termos que se seguem:

A todos em geral faz fé que pelo teor das presentes cláusulas, dá e concede plenamente a todos e a cada um dos Sacerdotes, Eleitores, Príncipes, Duques, Marqueses, Condes, Barões, Nobres, Militares, Cidadãos e a quaisquer outras pessoas de qualquer estado, condição ou qualidade, que sejam da Nação e Província da Alemanha e das cidades e outros lugares da mesma, assim como a todas as demais pessoas eclesiásticas e seculares em especial da revelação de augusta, os que, ou as que viriam com eles a este Concílio Geral de Trento, ou serão enviados ou se colocarão a caminho, ou que até o presente tenham vindo sob qualquer nome que lhes sejam dados, ou lhes sejam especificados, fé pública e plena e verdadeira segurança que chamam salvo-conduto, para vir livremente a esta cidade de Trento e permanecer nela, ficar, habitar, propor e falar de comum acordo com o mesmo Concílio, tratar de quaisquer negócios, examinar, discutir e representar sem nenhuma punição tudo o que quiserem e quaisquer dos artigos, tanto por escrito como por palavra, divulgá-los, e em caso necessário, declará-los, confirmá-los e compará-los com a Sagrada Escritura, com as palavras dos santos Padres e com sentenças e razões, e de responder também, se for necessário, as objeções do Concílio Geral e disputar cristãmente com as pessoas que o concílio indique ou conferenciar caritativamente sem nenhum obstáculo (…).

[…]

E este mesmo salvo-conduto e seguros devem durar e subsistir desde o início e por todo o tempo que o Concílio e seus componentes os recebam sob seu amparo e defesa, e até que sejam conduzidos a Trento e por todo o tempo que se mantenham nesta cidade, e também, depois de ter passado vinte dias desde que tenham suficiente audiência, quando eles pretendam retirar-se, ou o Concílio, depois de os ter escutado, os intime para que se retirem, os fará conduzir com o favor de Deus, longe de toda a fraude e dolo, até que o lugar que cada um escolha e tenha por seguro.

Aliás, é bom frisar que a publicação de alguns decretos que estava marcada para esta sessão foi adiada em atenção ao pedido dos protestantes que ainda não haviam chegado:

[T]endo além disso acreditado que viriam a este Sacrossanto Concílio os que se chamam Protestantes, (…) e como no entanto, não chegaram até o presente momento, e como tenham suplicado em seu nome, a este Santo Concílio que se espere até a próxima Sessão a publicação que deveria ser feita hoje, confirmando que certamente viriam sem falta, (…) transferiu à Sessão seguinte, para trazer à luz e publicar os pontos acima mencionados, no dia da festa de São José, que será em 19 de março, com aqueles que não somente tenham tempo e lugar bastante para vir, mas também para trazer propostas antes do dia marcado.

Pois bem. O pe. Ralph, no livro citado acima, diz o seguinte no capítulo sobre os observadores-delegados e convidados ao Concílio Vaticano II:

Em 8 de setembro de 1868, quinze meses antes da abertura do primeiro Concílio do Vaticano, Pio IX dirigiu a todos os patriarcas e bispos da Igreja Ortodoxa uma Carta Apostólica convidando-os a pôr fim ao estado de separação. Se o aceitassem, teriam no Concílio os mesmos direitos de todos os outros bispos, uma vez que a Igreja Católica considera válida sua sagração. Se não, eles teriam, como no Concílio de Florença em 1439, a possibilidade de tomar parte nas Comissões conciliares compostas de bispos e teólogos católicos, para discutir os assuntos do Concílio. Mas o texto da carta foi considerado ofensivo pelos patriarcas e bispos.

[Wiltgen, Ralph M., “O Reno se lança no Tibre: o Concílio Desconhecido”, p. 124. Ed. Permanência, Niterói, RJ, 2007]

Recapitulando: o Concílio de Trento convidou protestantes, e ainda lhes concedeu um salvo-conduto para que transitassem com segurança por terras católicas. O Papa Pio IX convidou ortodoxos para o Concílio Vaticano I, garantindo-lhes a possibilidade de tomar parte nas Comissões conciliares e discutir os assuntos do Concílio. O mesmo aconteceu no Concílio de Florença. Portanto, a presença de hereges e cismáticos nos Concílios Ecumênicos – ou, ao menos, o convite feito por Roma, dado que eles nem sempre aceitaram – sempre existiu na história da Igreja.

Com qual objetivo? O de convertê-los a Fé Verdadeira, é óbvio. O de discutir francamente com eles, mostrando-lhes a Verdade Católica e o erro no qual eles incorrem ao se separarem da Igreja de Jesus Cristo. O de permiti-los acompanhar de perto os trabalhos conciliares, a fim de que se impregnem da Doutrina Católica e possam, quiçá, ser tocados pela graça de Deus e abjurarem os seus erros. A presença de hereges e cismáticos, portanto, em Concílios Ecumênicos, não deveria escandalizar ninguém.

No Concílio Vaticano II foi feito o mesmo convite. Hereges e cismáticos participaram das sessões conciliares. Participaram, no entanto, como hereges e cismáticos – ou como “irmãos separados”, na linguagem conciliar -, podendo assistir às sessões, podendo (talvez) discutir nas comissões (como no Vaticano I e no Concílio de Florença), mas sem direito a voto, óbvio, porque não fazem parte da Igreja. Aliás, não sei nem mesmo se eles tinham direito a fazer intervenções nas Aulas Conciliares.

Ao Vaticano II fizeram-se presente diversas delegações de não-católicos. Para que isso fosse possível, ajudou o clima mundial à época da convocação do Concílio Ecumênico; permito-me citar de novo o pe. Ralph, porque ele traz uma informação muito interessante sobre este assunto (grifos meus):

O clima religioso do mundo na época de João XXIII era bem diferente do clima dos tempos de Pio IX. Desde então, o movimento ecumênico em favor da unidade dos cristãos tinha se implantado solidamente em todas as comunidades cristãs.

Numerosos fatores haviam contribuído para a expansão deste movimento verdadeiramente providencial. O primeiro era a investigação bíblica que tinha aproximado eruditos católicos, protestantes, anglicanos e ortodoxos. O segundo era a existência do Conselho Ecumênico das Igrejas, fundado precisamente para promover a união dos cristãos em todos os domínios possíveis, e que em menos de trinta anos tinha visto sua composição ultrapassar 214 igrejas-membros de pleno direito e 8 membros associados – igrejas protestantes, anglicanas, ortodoxas e velho-católicas. Enfim, a ameaça neo-pagã do nazismo na Europa durante a II Guerra Mundial tinha unido, na defesa da religião, católicos e cristãos de todas as denominações, o que explica que o movimento ecumênico tenha primeiro se manifestado na Alemanha, na França e nos Países Baixos. Entre os chefes mais ativos do ecumenismo católico figuravam jesuítas e dominicanos.

Os primeiros sucessos alcançados nesses três países receberam novo alento quando o Santo Ofício publicou, em 20 de dezembro de 1949, sua longa “Instrução sobre o movimento ecumênico”. Esta “instrução” convidava insistentemente os bispos do mundo inteiro “não somente a vigiar com cuidado e diligência todas as atividades deste movimento, mas também promovê-las e dirigi-las prudentemente, para que aqueles que estão em busca da verdade e da verdadeira Igreja possam ser ajudados, e para que os fiéis fossem prevenidos contra os perigos que corriam tão facilmente ao promoverem tais atividades”.

[op. cit., pp 124-125]

Havia, portanto, uma instrução do Santo Ofício, pré-conciliar (de 1949, 13 anos antes de se iniciar o Vaticano II), convidando os bispos a promover e dirigir as atividades ecumênicas. Com qual objetivo? Obviamente, com o objetivo de fazer com que o movimento desse frutos verdadeiros e, ao invés de proporcionar um falso irenismo, fosse um instrumento eficaz para ajudar os hereges e cismáticos a encontrarem na única Igreja de Nosso Senhor a unidade que eles estavam buscando. Não vejo, portanto, justificativas para que o Vaticano II seja condenado por coisas que, antes dele, já faziam parte da Igreja, como o convite a hereges e cismáticos para que aprendam a Doutrina Católica nos Concílios Ecumênicos ou a promoção do ecumenismo para que ele sirva como meio de regresso dos sarmentos secos à Igreja de Nosso Senhor. Aos que diferenciam o “ecumenismo conciliar” do ecumenismo do Santo Ofício em 1949, precisariam provar as suas acusações de modo inequívoco. O mesmo vale aos que diferenciam a participação de protestantes e ortodoxos no Vaticano II daquela à qual hereges e cismáticos sempre foram convidados ao longo da história da Igreja.

Concluamos: os membros de outras religiões não estiveram no Concílio Vaticano II como “palpiteiros” para dizer como “deveria” ser a Doutrina Católica, pois esta é imutável e a Igreja o sabe muito bem. Foram, repito, os prelados católicos que votaram os documentos, não os observadores ortodoxos e protestantes. Estes, aliás, se é que chegaram a discutir nas comissões os assuntos do Concílio – coisa que eu não sei se aconteceu -, não fizeram nada diferente daquilo que Pio IX já havia proposto e, antes dele, o Concílio de Florença. Não existe nenhum motivo para se rasgar as vestes quanto a isso.

Não estou dizendo com isso que tudo está muito lindo e perfeito, e que os católicos hoje em dia vivem, via de regra, a mais pura expressão da Doutrina Católica, porque é claro que não vivem. É preciso fazer muita coisa, tanto para tentar descobrir o porquê do Concílio ter sido tão tremendamente distorcido, quanto para tentar propôr caminhos a serem seguidos pelos católicos; mas esse artigo já vai muito longo e eu vou deixar isso para uma outra oportunidade. Acredito que valha a pena, para finalizar, citar a intervenção feita às vésperas do fechamento do Concílio pelo chefe da delegação anglicana numa cerimônia realizada na Basílica de São Paulo Fora dos Muros para promover a unidade dos cristãos:

O Rev. Moorman, chefe da delegação anglicana, dirigiu-se ao Papa em nome dos observadores-delegados e dos convidados, cujo número atingira 103 componentes durante a quarta sessão. “Nenhuma vez sequer durante estes quatro anos”, disse, “sentimos que nossa presença incomodasse fosse a quem fosse. Ao contrário, sempre nos pareceu que ela havia contribuído, em vários aspectos, para o êxito do Concílio e da grande tarefa de reforma que ele empreendeu”. E acrescentou: “Nós acreditamos que passou o tempo do medo recíproco, do exclusivismo rígido, da suficiência arrogante. A estrada da unidade por certo será longa e difícil, mas Vossa Santidade sentirá talvez o conforto de saber que, pelo fato de nossa presença aqui na qualidade de observadores, terá a companhia de uma centena de homens (…) [reticências no original], que pelo mundo afora se esforçarão por levar às Igrejas alguma coisa do espírito de amizade e tolerância de que foram testemunhas em São Pedro. Nossa missão de observadores não terminou. Eu me refiro, caríssimo e santíssimo Padre, ao que vós pensais de nós, como amigos – como mensageiros – agora que cada um de nós retoma a própria estrada.

[op. cit., p. 285]

As besteiras teológicas proferidas pelo reverendo Moorman diante do Papa são da lavra dele, e não do Concílio. As mesmíssimas bobagens irenistas, aliás, multiplicam-se amiúde nos nossos dias, e é importante que elas sejam corrigidas. Seria ingenuidade – o próprio anglicano reconhece – achar que a unidade dos cristãos seria alcançada de outra maneira que não por uma estrada “longa e difícil”. O Vaticano II não se propôs a isso, e é aquele que falou ao Papa em nome dos observadores-delegados ao fim do Concílio que o atesta. Vale ainda destacar que o herege tem consciência de que o seu papel no Concílio é o de observador. E eu, particularmente, fico feliz em ver um herege anglicano chamando o Papa de “Vossa Santidade” e de “Santíssimo Padre”…

Publicado por

Jorge Ferraz (admin)

Católico Apostólico Romano, por graça de Deus e clemência da Virgem Santíssima; pecador miserável, a despeito dos muitos favores recebidos do Alto; filho de Deus e da Santa Madre Igreja, com desejo sincero de consumir a vida para a maior glória de Deus.

39 comentários em “Hereges, Cismáticos e Concílios Ecumênicos”

  1. Oh… que desespero.. hein.. meu caro papista??? è isso aí…. Quem não pertence à $eita romana é “herege”,”cismático” etc. Entendo sua ira. Vossa $eita está decaindo… Ela nunca foiu a foi a Igreja de Cristo.
    A maior autoridade é Bíblia e não o papa.. Meu caro herege romano. Se o $anto papa te mandar acabar com a biblia, você obedecerá cegamente.

  2. Protestante: pode-se discordar do Jorge em muitas coisa, mas NUNCA de ser incoerente com a sua fé… nisso eu o admiro deveras!

  3. “Tendo além disso acreditado que viriam a este Sacrossanto Concílio os que se chamam Protestantes…”

    Essa frase acima não é prova nenhuma de ser um convite. Eu não acredito. Never! Never!

    Para tentar barrar o avanço do protestantismo, após a Reforma Protestante, o Papa Paulo III convocou um concílio de Trento, portanto ele foi convocado num contexto de contra-reforma.

    Portanto fica impossível convite e participação de hereges protestantes.

    E quanto ao comentário do protestante acima…

    “Quanto à Sagrada Escritura a ao púlpito, é dos Papistas
    que os tomamos; sem os Papistas que saberíamos nós?”
    (Lutero Ed. de Wirt, 1551, t. IV, p.2276; citado P.Leonel Franca, op. cit, pág. 157)

  4. DFLD,

    Bom, se não foi convite, então o quê? Os protestantes foram por sua própria conta ao Concílio sem serem convidados e o Papa lhes concedeu salvo-conduto para tanto?

    E quanto a Pio IX e ao Concílio de Florença?

    Entenda, caríssimo: o convite e a participação dos hereges protestantes é para se discutir com eles e, assim, eles verem a Doutrina Católica em Seu esplendor, abandonarem os seus erros e abraçarem de novo a Fé verdadeira!

    Num contexto de Contra-Reforma faz total sentido convidar os hereges, para que os pontos em litígio sejam debatidos na presença de toda a Igreja e os erros dos que abandonaram a Igreja de Cristo sejam postos em evidência diante de toda a assembléia conciliar.

    Abraços,
    Jorge

  5. “Se o $anto papa te mandar acabar com a biblia, você obedecerá cegamente.”

    Gostei da frase, nobre colega.

  6. Pra finalizar minha participação, eu não acredito!

    E sendo verdadeiro aonde vamos parar? A continuar assim, num próximo concílio serão convidados Obama, Ozama, Chavez, Lula, Boffe, Malafaia, Macedo etc etc

  7. Prezado Jorge: Salve Maria.

    Parabéns pelo site! Gostaria que o senhor comentasse sobre a participacao de protestantes na comissao que elaborou o Novus Ordo. No sou contra o Concilio Vaticano II, porém isso é um assunto que muito me preocupa.

    Em Cristo e Maria.

  8. E o que se discutiu com os hereges e cismáticos no CV II?

    O que se impôs aos “irmãos separados”?

  9. Achei uma resposta que confirma o que Jorge escreveu, mas a conclusão tem mais lógica. Estou de acordo com esta resposta.

    “Se o Papa convidou protestantes, foi para convertê-los à Fé católica, e não para dar pitacos nas discussões (como foi no Vaticano II). O Papa Pio IX fez de modo semelhante no Vaticano I, convidando protestantes e cismáticos ao Concílio, mas para convertê-los.

    A diferença entre esses concílios e o Vaticano II é que esse último foi ecumênico no sentido estritamente maçônico (todas as religiões são boas), sem precisar conversão à verdadeira Fé.”

    The end!

  10. Caros,

    o que se discutiu com os hereges e cismáticos no CV II?

    Não sei, talvez nada, talvez eles tenham apenas assistido ao Concílio e a Doutrina Católica lhe tenha sido ensinada.

    A diferença entre esses concílios e o Vaticano II é que esse último foi ecumênico no sentido estritamente maçônico (todas as religiões são boas), sem precisar conversão à verdadeira Fé.”

    Esta acusação precisa ser provada de modo inequívoco, e não tomada como um apriori para condenar o Concílio por coisas que outros concílios antes dele fizeram.

    Abraços,
    Jorge

  11. DFLD:

    “E sendo verdadeiro aonde vamos parar? A continuar assim, num próximo concílio serão convidados Obama, Ozama, Chavez, Lula, Boffe, Malafaia, Macedo etc etc”

    E daí? SE eles aceitarem participar (e dialogar) com a Igreja Católica, quel é o mal? Acho que o pior seria não convidarem, né?

  12. Jorge,

    A diferença é que, nos concílios precedentes, os hereges eram convidados para debates teológicos e apologéticos, a fim de convertê-los (e, em desdobramento , a seus fiéis sectários) ao verdadeiro depósito da Fé. (E por sacerdotes bem instruídos e preparados espiritualmente, importante relembrar!, não por fiéis jogados a um “anúncio” carismático e irracional que, além incompleto, errado e/ou de baixíssima eficácia, ainda os submete à tese e malícia do inimigo mais preparado.) No CVII, eles, hereges e cismáticos, se teriam querido, não precisaram nem votar! Tinham seus ingênuos ou maliciosos representantes que embutiam novidades e ambigüidades nos esquemas para facilitar-lhes a aprovação, e para antes mesmo do encerramento deste concílio colocá-los à prática da verdadeira intenção. Só para rapidamente ilustrar: de quem teria partido a sugestão do [inovador e ambíguo] termo “subsist”? O então cardeal Ratzinger, há poucos anos, com enorme esforço tentou salvar a letra, alegadamente mal entendida, que ele próprio, quatro décadas antes, encarregou-se de dar vazão. Com a licença do trocadilho, mesmo após a “Dominus Jesus”, restou irreparado e confirmado o “vestígio conciliar” dos “elementos de santificação”, adiando-nos a esperançosa e definitiva reparação com o ensinamento perene acerca do “elemento católico-doutrinal” dos “vestígios de Igreja”. E não dá nem para dizer que esse não é o magistério oficial da autoridade eclesiástica. Embora numa matiz mais suave, assim é como essa última interpreta o texto conciliar da qual, no caso concreto, foi seu próprio autor. O que penso acontecer é que, de um texto falível e já com forte odor de falho só no que diz respeito à ambigüidade numa matéria já tão farta e claramente ensinada antes, sem que o negasse ou corrijisse, não se poderia mesmo extrair absoluta e infalível interpretação. No máximo, a reparação de um abuso mais grosseiro (para desgosto do cardeal Kasper), restando, portanto, algum comprometimento da inteira verdade e/ou resíduo de confusão.

    Quanto ao muito pertinente e procedente questionamento do Roberto, gostaria de ajudá-lo colocando à disposição, dele e dos demais leitores, um link para [mais] um artigo [dentre tantos] que tão resumidamente e extraordinariamente compila valiosas informações e evidências do protestantizado e protestantizante Novus Ordo Missae:

    http://www.permanencia.org.br/Respondeo/missanova1.htm

    A Sacrosanctum Concilium, principalmente (mas não somente) por sua permissividade (a partir da qual se estendeu depois universalmente aquilo que caso-a-caso, e por verdadeira, passageira e/ou gritante necessidade, Roma ainda permitia), preparou as bombas-relógio litúrgicas que estariam por ser “fabricadas” e “detonadas” (nas palavras do cardeal Ratzinger, mons. Gamber e Michael Davies) na reforma de Bugnini e nas décadas subseqüentes.

    O artigo também bem e sucintamente rebate a falácia comumente praticada aos argumentos daqueles que criticam o Novus Ordo Missae (sua instrução e as coisas que o cercam), querendo-lhes extrapolar o raciocínio de que estariam assim a afirmar também, consequente e temerariamente, ser a Missa Nova inválida ou herética — afirmação essa última que, por sua vez, sujeitaria seu autor ao suposto anátema do magistério de Pio VI. Já até fui vítima disso, aqui, nesse mesmo blog!

    https://www.deuslovult.org//2009/04/03/40-anos/#comments

    Apesar de que, semelhantemente ao que acometeu a Lutero pouco tempo depois de suas estripulias, quantos mais números não foram (e ainda são!) os padres que, em adotando heresias, não as fizeram valer com grande e mais facilidade na Nova Missa (e vice-versa)! E quão mais frequentes não devem ser, derradeira e desgraçadamente, as Missas inválidas por forma, matéria ou intenção em sede do Novo Missal?!

    Abraços,

    Antonio

  13. Caro Gustavo,

    O artigo ao qual chamei a atenção de todos no comentário anterior dá uma pequena amostra do que se “impôs” aos protestantes depois do concílio, e de quão “ruim”, para eles (aferível por seus próprios comentários e contribuições), teria sido o produto dessa “imposição”.

    Não é de se estranhar, pois, de um concílio precedido até mesmo de um acerto com comunistas para que não se condenasse sua doutrina.

    Cordialmente,

    Antonio

  14. Caríssimo Antonio,

    Tu estás certo em uma porção de coisas. Concordo integralmente que os debates teológicos e apologéticos entre católicos e protestantes [= “ecumenismo”] precisam ser feitos por pessoas preparadas, doutas e convictas da sua fé, e não pelos fiéis mal-formados dos nossos dias, havendo neste último caso um gravíssimo risco de dano à Fé que, salvo melhor juízo, configura pecado mortal por parte de quem expõe as ovelhas à voracidade dos lobos. É também verdade que a Dominus Iesus não entra no mérito dos vestigiae ecclesiae [= “elementa ecclesiae”], e é verdade que a Liturgia Católica sofreu duros golpes no pós-concílio.

    No entanto, os pontos aqui são:

    a) sempre foi praxis da Igreja convidar hereges e cismáticos para os Concílios Ecumênicos, e o Vaticano II de maneira alguma “inovou” neste quesito, sendo as críticas a ele feitas por causa disso absolutamente injustificadas;

    b) aos que dizem que o convite do Vaticano II foi diferente dos convites precedentes, é necessário provar isso de maneira inequívoca, e não ficar usando de petições de princípio para condenar o Vaticano II “porque ele é condenável” ou raciocínios análogos. P. ex., é necessário que se mostre o texto do convite feito aos hereges e cismáticos na década de 60, e é necessário que nele conste promessas como “venham ensinar-nos doutrina”, “venham dar pitacos na Doutrina Católica” ou análogos, porque o fato dos hereges e cismáticos não se converterem após o Concílio é algo perfeitamente natural e previsto [dado que nem todos os protestantes se converteram após Trento, e nem todos os cismáticos se converteram após o Concílio de Florença, etc]. “Intuito de converter os hereges no Concílio” é diferente de “conversão efetiva ao fim do Concílio”, e acho absurdamente leviano que as supostas intenções não-expressas dos papas e dos padres Conciliares sejam utilizadas para se rechaçar um Concílio Legítimo (!) por pessoas que, até onde me consta, não sondam os rins e os corações.

    Sobre o Novus Ordo Missae, depois escrevo alguma coisa sobre ele.

    Abraços,
    Jorge

  15. Prezado Jorge, salve Maria.

    Que bom que leu o excelente livro “O Reno se lança no Tibre”. Realmente, esta obra é obrigatória para quem quer participar do debate “Vaticano II”.
    Gostaria que você fizesse um comentário, ainda que breve, sobre as manobras modernistas que obtiveram êxito durante o Vaticano II (mostradas pelo livro) e que demonstram claramente que foram os liberais quem fizeram, e venceram, o concílio.
    Sobre a questão do convite aos protestantes feitos para participarem de concílios ecumênicos no passado, é mais do que óbvio que o Vaticano II não fez este mesmo convite da mesma maneira que os feitos anteriormente, sendo que anteriormente era realmente para convertê-los, e por isso eles eram chamados. Mas como não se convertiam então ao final os documentos promulgados não deixavam dúvidas que eles estavam fora da Igreja, que eram hereges, que sem a fé católica iriam para o inferno, etc…
    Já no Vaticano II terminado o concílio os hereges e cismáticos foram elevados a categoria de legítimos irmãos no Senhor, possuidores de virtudes teologais, em comunhão conosco, possuidores em suas almas da graça santificante, pessoas essas cuja religião protestante, antes caminho de perdição, passou a ser meio de salvação.
    Realmente, é impossível dizer que eles foram convidados da mesma forma que antigamente.
    Obrigado pela atenção,
    Sandro de Pontes

  16. Sandro,

    Quando puder, faço sim uma resenha d’O Reno se lança no Tibre. É realmente uma leitura muito interessante a se fazer.

    Quanto ao “mais que óbvio que o Vaticano II não fez este mesmo convite da mesma maneira que os feitos anteriormente”, negativo. Não há nada “óbvio” aqui. Insisto: a diferença substancial entre os convites precisa ser demonstrada de maneira inequívoca, ao invés de se ficar apelando para supostas intenções dos padres conciliares.

    Por exemplo, quanto a “ao final os documentos promulgados [nos Concílios anteriores] não deixavam dúvidas que eles estavam fora da Igreja, que eram hereges, que sem a fé católica iriam para o inferno, etc”, o Vaticano II ao final diz exatamente isso:

    Pelo que, não se poderiam salvar aqueles que, não ignorando ter sido a Igreja católica fundada por Deus, por meio de Jesus Cristo, como necessária, contudo, ou não querem entrar nela ou nela não querem perseverar.

    Lumen Gentium, 14

    E os protestantes não “saíram” do Concílio com absolutamente nada que eles não já tivessem. Não tenho tempo de detalhar cada um dos pontos que tu trouxeste mas, por exemplo, quanto a “legítimos irmãos no Senhor”, os legitimamente batizados são indelevelmente marcados como filhos de Deus e, portanto, como “irmãos no Senhor” sim, porque a heresia não apaga o caráter indelével batismal [ou apaga?]. Aliás, esta herética e blasfema expressão é… de Santo Agostinho doutor da Igreja! Confira S. Agostinho, In Ps. 32, Enarr. II, 29: PL 36, 299:

    Illi ergo non agnoscendo baptismum nostrum, negant nos esse fratres: nos autem non repetendo ipsorum, sed agnoscendo nostrum, dicimus eis: Fratres nostris estis.

    Interessante, não?

    Abraços,
    Jorge

  17. Prezado Jorge, salve Maria.

    Com relação aLumem Gentium 14, lembrei-me daquela passagem da Pascendi que diz que os modernistas escrevem em um ponto aquilo que a Igreja ensina e em outros pontos aquilo que a Igreja condena. Afinal, não fosse estas passagens ortodoxas que o Vaticano II apresenta seria muito mais fácil combatê-lo, concorda? Mas é justamente este o problema deste concílio: ensinar aquilo que a Igreja sempre ensinou misturado com o que ela sempre condenou.
    E quando é para justificar os textos errôneos do Vaticano II, vale a pena até mesmo citar Santo Agostinho, não é mesmo? Pois se é verdade que EM UM PRIMEIRO MOMENTO aqueles legitimamente batizados recebem o selo indelével em suas almas, é verdade também que ao aderir as heresias eles acabam perdendo a salvação, pois perdem a graça santificante e caso não se arrependam vão para o inferno. Esta é a mais elementar doutrina católica, e é claro que o Vaticano II não se aprofundou sobre isso. Ao contrário, escamoteou este ensinamento tão claro ao dizer que os protestantes desenvolvem VERDADEIRAMENTE a vida da graça em suas “comunidades”.
    E eu poderia lhe citar várias passagens de Santo Agostinho condenando a liberdade religiosa, o ecumenismo, etc…
    Abraços,

    Sandro de Pontes

  18. Sandro,

    É claro que os protestantes vão para o inferno caso permaneçam aferrados a suas heresias, e o Vaticano II, como já mostrei, diz exatamente isso.

    O “texto errôneo” do Vaticano II em litígio é ipsissima verba Augustini, como citei. Agora é óbvio que Santo Agostinho não o entende no sentido modernista. Nem tampouco o Vaticano II.

    Abraços,
    Jorge

  19. Prezado Jorge, salve Maria.

    Já debatemos muito no passado e não tenciono recolocar ad infinitum os mesmos argumentos propostos outrora no calor de lutas passadas.

    De qualquer maneira, não posso me furtar de dizer-lhe que a afirmação continda no número 14 da LG acaba por contradizer, em absoluto, os ensinamentos da Unitatis Redintegratio, que sem fazer nenhuma distinção entre os que erram de boa fé e os pertinazes acaba por generalizar e afirmar que os protestantes batizados “não tem culpa do pecado da separação”, sendo nossos “irmãos em Cristo”, imbuidos na “fé no batismo (que fé?), etc, etc…
    Ora, se como diz a Lumem Gentiun aqueles que conhecem a fé católica e não aderem a ela não podem se salvar, como deixar de fazer tal distinção, absolutamente indispensável, exatamente no documento que aborda diretamente a relação dos católicos com hereges e cismáticos?
    Qualquer pessoa que leia a Unitatis Redintegratio aprende, porque é isso que o texto diz, que genericamente os protestantes estão no bom caminho da salvação pela fé no batismo que comungam conosco, que eles são nossos irmãos por causa do batismo, que eles estão em comunhão conosco (embora imperfeita), que eles desenvolvem em suas “comunidades” realmente a vida da graça e que, pasme, as suas seitas são utilizadas pelo Espírito Santo como caminhos de salvação (portanto, há salvação fora da Igreja Católica, por dedução).
    Mas se se parte da premissa ensinada na Lumen Gentium número 14, todo o texto da Unitatis Redintegratio teria que ser refeito, e se esta afirmação estivesse contida nele, muitas das afirmações feitas ali não poderiam estar porque não se sustentam. Afinal, somente podem se salvar os protestantes de boa fé, que erram sem culpa e que tentam cumprir a vontade de Deus, salvando-se apesar do protestantismo, e não pelo protestantismo, como a UR diz.
    Como conciliar os ensinamentos da UR com esta passagem da Lumem Gentium?
    Abraços,
    Sandro de Pontes

  20. Veja isso.

    Uma pessoa me ensinou de forma categórica o seguinte:

    Nos outros concílios existiam hereges sim, porém eles ficavam sempre calados,

    muito diferente do CVII.

    Mas para a minha surpresa não era isso o que acontecia.

    Hum, a pergunta que fica é a seguinte:

    Essa pessoa não sabe direito do assunto ou trabalhou com as palavras para defender

    o seu argumento?

    Da maneira que for, ela ensinou errado.

  21. Prezado jorge, salve Maria.

    Você escreveu:

    “(…) O “texto errôneo” do Vaticano II em litígio é ipsissima verba Augustini, como citei”.

    A questão aqui é o contexto em que Santo Agostinho ensina que a meu ver não é o mesmo contexto utilizado pelo Vaticano II. O primeiro fala sobre o primeiro momento do batismo, que se mantêm para as almas protestantes que não atingiram a idade da razão e para aqueles em ignorância invencível, não prevalecendo nos pertinazes. O contexto do Vaticano II é outro: os batizados protestantes nascidos nas seitas protestantes são nossos irmãos. É isso.
    Abraços,
    Sandro

  22. Caríssimo Jorge,

    “A questão aqui é o contexto em que Santo Agostinho ensina que a meu ver não é o mesmo contexto utilizado pelo Vaticano II. O primeiro fala sobre o primeiro momento do batismo, que se mantêm para as almas protestantes que não atingiram a idade da razão e para aqueles em ignorância invencível, não prevalecendo nos pertinazes. O contexto do Vaticano II é outro: os batizados protestantes nascidos nas seitas protestantes são nossos irmãos. É isso.”
    Abraços,
    Sandro
    O sr. Sandro está certo.(neste parágrafo pelo menos)
    Contra fatos não há argumentos.

    Abraços em Cristo.

  23. Prezado Jorge, salve Maria.

    Para provar que o contexto é outro, diferente do que diz Santo Agostinho, no ensinamento proposto pela Unitatis Redintegratio, coloquemos um pequeno trecho do referido documento:

    “(…) OS QUE NASCEM HOJE EM TAIS COMUNIDADES, e que vivem a fé em Cristo, NÃO PODEM SER ACUSADOS DE PECADO DE DIVISÃO, e a Igreja Católica envolve-os de respeito fraternal e de caridade. Com efeito, aqueles que crêem em Cristo e que receberam validamente o batismo, encontram-se numa certa comunhão, se bem que imperfeita, com a Igreja Católica. SEGURAMENTE, DIVERGÊNCIAS VÁRIAS ENTRE ELES E A IGREJA CATÓLICA SOBRE QUESTÕES DOUTRINAIS, por vezes disciplinares, ou sobre a estrutura da Igreja, constituem numerosos obstáculos, por vezes muito graves, à comunhão eclesial. O MOVIMENTO ECUMÊNICO TENDE A ULTRAPASSÁ-LOS. Não obstante, justificados pela fé recebida no batismo, INCORPORADOS EM CRISTO, usam A JUSTO TÍTULO O NOME DE CRISTÃOS, e os filhos da Igreja Católica reconhecem-nos com razão como irmãos no Senhor”.

    Portanto, mais do que prezado Jorge, o documento conciliar é claro ao dizer que são nossos irmãos “os que nascem hoje em tais comunidades”, porque estes tais “não podem ser acusados de pecado de divisão”. Afirmação temerária esta, exatamente porque “permanecendo exteriormente em dissidência, nada indica que não aderem à divisão dos seus predecessores, a aparência levando sobretudo a crer o contrário. Presumir a boa fé não é aqui possível [89], conforme lembra Pio IX: «É necessário admitir de fé que, fora da Igreja Apostólica Romana, ninguém pode ser salvo. […] No entanto é preciso reconhecer, por outro lado, com certeza, que aqueles que estão em relação à verdadeira religião numa ignorância invencível, não têm falta diante do Senhor. Agora, na verdade, quem irá, NA SUA PRESUNÇÃO, ATÉ MARCAR AS FRONTEIRAS DESSA IGNORÂNCIA?» [90]” (01).

    Desta forma, ninguém pode, em são consciência, dizer que os nascidos nas seitas hoje não têm culpa da separação. Deus sabe se eles têm culpa ou não. E a UR vai dizer também que seguramente existem “divergências várias entre eles (os hereges protestantes) e a igreja católica sobre questões doutrinais” e que os problemas surgidos a partir destas divergências “o movimento ecumênico tende a ultrapassá-los”.
    Ou seja, a perspectiva do documento é bastante clara, ele não faz a distinção entre alguém em ignorância invencível para alguém pertinaz: coloca tudo no mesmo balaio e vai dizer que inclusive aqueles que divergem publicamente da Igreja Católica estão, tempo presente, “incorporados em Cristo” e que por isso eles recebem, via de regra, “o nome de Cristãos”. Mas é isso que a Igreja ensina? Não é, prezado Jorge e eu lhe colocarei abaixo algumas poucas passagens que somente podem demonstrar o quanto a Unitatis Redintegratio se afastou da doutrina católica. Sobre esta questão do batismo dos protestantes, coloco-lhe uma passagem que parece solucionar definitivamente este enigma. Leia:

    “Ela [a Igreja] professa que a unidade do corpo da Igreja tem tal poder, que os sacramentos da Igreja NÃO TEM UTILIDADE em vista da salvação senão para aqueles que nela permanecem” (Concílio de Florença, Bula Cantate Domino, para os jacobitas, DzH 1351)”.

    Então, como é que fica o batismo dos “nascidos nestas comunidades”? quem é que sabe se eles tem ou não culpa do pecado da separação? E Santo Agostinho:

    “Não é nada vosso [o batismo], o que é vosso é que tendes sentimentos maus e práticas sacrílegas, e que tivestes a impiedade de vos separardes de nós” (Santo Agostinho, De baptismo contra donatistas, liv. 1, cap. 14, nº 22).

    E também Santo Agostinho, condenando o ecumenismo conciliar:

    “Em muitos pontos eles estão comigo, somente em alguns não estão comigo; mas por causa destes certos pontos nos quais se separam de mim, não lhes serve de nada estarem comigo em tudo o resto» (Santo Agostinho, In Ps. 54, § 19, citado por Leão XIII, Satis cognitum, ASS 28, 1895-1896, p. 724. Ensinamentos Pontifícios de Solesmes, A Igreja, vol. 1, nº 578”.

    E Leão XIII:

    “Aquele que, mesmo sobre um só ponto, recusa o seu assentimento às verdades divinamente reveladas, realmente abdica completamente da fé, pois recusa submeter-se a Deus que é a soberana Verdade e o motivo próprio de fé”. [Leão XIII, Encic. Satis cognitum, 29/6/1896, ASS 28, 1895-1896, p. 722. Ensinamentos Pontifícios de Solesmes, A Igreja, vol. 1 nº 573.

    Portanto, protestantes não tem fé. E também Leão XIII:

    “Quem crer e for batizado será salvo. Por esta palavra de Nosso Senhor, todos reconhecemos a necessidade, além da unidade de fé e de propósito, de uma «comunidade […] de meios adequados ao propósito» [85] para constituir a unidade da Igreja: os sacramentos”.

    Logo, fica claro que se em um primeiro momento os protestantes batizados recebem o selo de cristão, em um segundo o perdem e o batismo de nada lhes serve. Eles não são nossos irmãos e nem podem usufruir dos benefícios do batismo. São os cristãos temerários…

    Abraços,

    Sandro de Pontes

  24. Jorge, o texto a seguir está neste endereço:

    http://intribulationepatientes.wordpress.com/2009/06/08/o-concilio-e-o-protestantismo-parte-1/#comments

    Quero colocar aqui a respostas do senhor Márcio;

    Prezado Márcio, parabéns por suas pesquisas e sua divulgação apologética.Os convites para participar de orações conjuntas e cultos protestantes ( com efeitos especiais emotivos ) fazem um morticínio nas fileiras católicas, enfraquecidas pela própria ignorância de leigos, religiosos e clero. Gostaria de contribuir com este texto:

    Porque o Êxodo em massa ao Protestantismo?

    http://www.fatima.org/port/crusader/cr87/cr87pg58.asp

    Por John Vennari

    Quando o Papa Bento XVI veio ao Brasil em Maio passado (2007), havia notícias em todo o mundo de que um dos problemas mais críticos que ele deveria abordar na América do Sul era o do êxodo em massa dos Católicos para diversas formas de Protestantismo.
    Na época, os jornais reportaram:
    1) Os ministros Protestantes superavam na proporção de 2 para 1 os padres Católicos;
    2) A Igreja esperava de 300 a 400 mil pessoas para a Missa ao ar livre do Papa Bento no Santuário de Aparecida, mas somente 150 mil compareceram;
    3) Por volta do mesmo horário, os Protestantes faziam seu evento anual “Marcha para Jesus”, ao qual compareceram 1.5 milhões de pessoas;
    Creio que foi o Cardeal Hume, da Sagrada Congregação do Clero, que disse que na América do Sul havia uma hemorragia de Católicos para o Protestantismo.
    O que desejo fazer esta manhã é abordar o que acredito serem algumas das razões deste êxodo em massa estar acontecendo, como também, com todo respeito, dar algumas recomendações do que pode ser feito sobre isso.
    Com relação às razões: vou listar três razões, mas não necessariamente em ordem cronológica.
    A primeira razão:
    Temos que reconhecer que a América do Sul tem sido alvo do Protestantismo desde os anos 50. O Padre John Harden, um teólogo Jesuíta americano, conta que em 1957, participava de um encontro do Conselho Mundial de Igrejas, em um cargo oficial para o Vaticano. Nessa reunião, as lideranças do Conselho Mundial de Igrejas incitavam os missionários Protestantes a focar agressivamente a América do Sul com uma campanha de proselitismo a fim de aumentar as conversões. O CMI estava ciente de que a América do Sul era predominantemente Católica, e o objetivo do CMI era romper a força da Igreja Católica na América Latina.
    A segunda razão:
    O Sr. Nelson Rockfeller, o multi-milionário globalista e humanista, publicou uma reportagem sobre a América Latina em 1969/1970. Nessa reportagem Rockfeller diz que na América Latina a Igreja Católica NÃO era uma aliada dos Estados Unidos – e que “nós” deveríamos portanto promover várias seitas Evangélicas não-Católicas na América Latina.
    E acreditem; Rockfeller foi capaz de fornecer enormes quantias de fundos para espalhar o Protestantismo na América Latina.
    Portanto, essas duas informações indicam que a América Latina foi alvo de uma campanha agressiva, organizada e rica do proselitismo Protestante para enfraquecer a Igreja Católica; e para afastar almas da verdadeira Fé.

    E isso nos leva à terceira razão:
    Temos que reconhecer que essa campanha não poderia ter sido bem sucedida se a Igreja Católica na América do Sul opusesse forte resistência; se o clero e os laicos tivessem simplesmente desenrolado a bandeira da Igreja e travado sua própria campanha, corajosa, de contra-reforma.
    Mas algo aconteceu que impediu que muitos de nossos Clérigos influentes abandonassem o conceito de Igreja militante; que muitos de nossos Clérigos tivessem vergonha de se engajarem em atividades de contra-reforma. E o mais significativo evento que efetivamente matou a verdadeira militância Católica, que matou as atividades contra-reforma, e que deixou a Igreja aberta aos saques do Protestantismo foi o Vaticano II e o novo espírito do ecumenismo.
    Este novo espírito de colaboração ecumênica com o Protestantismo efetivamente esmagou as trincheiras de proteção Católica contra os erros do Protestantismo, e os erros do naturalismo. Esse novo espírito também acabou com os pronunciamentos dos Anáthemas. Não queremos condenações, mas sim, queremos simplesmente promover os aspectos positivos da Fé.
    Na verdade isso é contrário ao espírito do Próprio Cristo. Sabemos, ao ler o Evangelho, que Nosso Senhor não fez só um ou outro: Ele fez ambos: Ele pronunciou a verdade e a bondade da Fé Católica. Ele disse aos seus apóstolos: “Vão em frente e preguem a todas as nações, batizando-as em Nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo”. Mas ele também ameaçou os excomungados: Aquele que acreditar e for batizado será salvo; aquele que não crer será condenado”.

  25. Continuando…

    O falecido Dr. Romano Amerio, grande teólogo do Vaticano II, que era admirado pelo Papa Bento XVI, disse o seguinte a respeito do novo espírito de não condenação dos erros:
    “O estabelecimento do princípio da misericórdia em contrapartida ao da severidade, ignora o fato de que na mente da Igreja, a condenação dos erros é em si própria um ato de misericórdia, uma vez que, apontando os erros, aqueles que os estão cometendo são corrigidos e outros serão impedidos de caírem neles”.
    Agora, o novo espírito ecumênico teve um efeito danoso na catequese Católica. Desde a época do Conselho, era considerado ofensivo aos Protestantes ensinar que a Igreja Católica é a única e verdadeira Igreja. Como resultado, uma das primeiras coisas que desapareceu do treinamento de nossos jovens Católicos, foi a sólida apologética Católica de que só a Igreja Católica é a única e verdadeira Igreja estabelecida por Nosso Senhor.
    E, como resultado, temos agora duas gerações completas de Católicos a quem – de maneira geral – não foram ensinadas esta verdade. E atrevo-me a dizer: temos agora duas gerações completas de seminaristas a quem não foram ensinadas esta verdade.
    E, com sua permissão, eu falo com experiência. Nasci em 1958. Estudei 13 anos em escola Católica – ou seja; jardim da infância, primário e colegial. Estava na escola durante o Vaticano II e as reformas subseqüentes. Nunca ouvi falar em Apologéticas Católicas até os 22 anos de idade.
    Na escola nunca recebi ensinamentos que a Igreja Católica é a única e verdadeira Igreja de Jesus Cristo.
    E lamento dizer que, se tivesse acreditado no que me foi ensinado em 12 anos de escola Católica, já teria perdido minha fé há muito tempo. Foi-nos ensinado um evangelho mais social: um evangelho suave e efeminado, sem dentes nem espinha dorsal.
    Conheci a minha fé primeiramente através de livros antigos que meus pais tinham em casa, e depois através de intensas pesquisas e estudos.
    Portanto, com o novo espírito ecumênico que foi lançado pelo Conselho, muitos Clérigos não mais se opuseram ao Protestantismo, não mais ensinaram que a Igreja Católica era a única e verdadeira Igreja estabelecida por Nosso Senhor. E, convenhamos, sem essa educação e treinamento firmes, os laicos foram abandonados sem as defesas que precisavam para resistir ao agressivo avanço do Protestantismo.
    Uma Vibrante Campanha de Contra-Reforma
    Agora, como recomendação do que pode ser feito, acredito que o que necessitamos desesperadamente é de uma forte campanha de ensinamentos Católicos aos laicos, que reitere a verdade de maneira descompromissada, de que a Igreja Católica é a única e verdadeira Igreja estabelecida por Cristo, e que um Católico que abandona a fé Católica para seguir uma seita Protestante não salvará sua alma. O Católico que abandona o Catolicismo pelo Protestantismo poderá – de maneira objetiva – cair sob os solenes anátemas do Concílio de Trento.
    Aderir ao Protestantismo é abandonar o Sacramento da Confissão.
    O Concílio de Trento prega infalivelmente: “Se alguém disser que a Penitência na Igreja Católica não é um sacramento verdadeiro e correto, instituído por Cristo Nosso Senhor para reconciliar os fiéis com Deus, todas as vezes que caem em pecado após o batismo, que ele seja excomungado”.
    Aderir ao Protestantismo é abandonar a crença na Presença Real de Nosso Senhor nos Santos Sacramentos.
    O Concílio de Trento prega infalivelmente: “Se alguém negar que no Sacramento da Sagrada Eucaristia estão contidos verdadeiramente, realmente e substancialmente, o corpo e o sangue junto com a alma e divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo, e consequentemente o Cristo completo; mas disser que Ele está presente somente como um sinal, ou figura, ou virtude, que ele seja excomungado.

    Aderir ao Protestantismo é abandonar a crença no Sagrado Sacrifício da Missa
    O Concílio de Trento prega infalivelmente: “Se alguém disser que o sacrifício da missa é somente um sacrifício para louvar ou dar graças; ou que é uma mera comemoração do sacrifício consumado na cruz, mas não um sacrifício
    Conciliatório; ou que somente a pessoa que o recebe o aproveita; e que não deve ser oferecido aos vivos e aos mortos pelos seus pecados, penas, satisfações, e outras necessidades; que ele seja excomungado.
    Como disse, o Católico que abandona o Catolicismo pelo Protestantismo não pode evitar – de maneira objetiva – de cair sob os solenes anátemas do Concílio de Trento. Ele não salvará sua alma.
    Esta é a realidade de nossa Fé Católica que deve ser ensinada, não de maneira abrupta ou beligerante, mas ensinada firme e amorosamente – sempre mostrando às pessoas o grande amor de Deus em Seu sofrimento e morte na Cruz por nós; e Seu amor em criar uma Igreja e Seu amor em dar-nos sete sacramentos. A operação da graça não muda, e as experimentadas e verdadeiras apologéticas Católicas podem ainda fazer milagres pela salvação das almas.
    Portanto, quero revisar alguns pontos das apologéticas Católicas normais. As considerações que aqui faço podem ser úteis para os seus.
    Quero deixar claro que nessas apologéticas, estamos falando sobre posições, e não sobre pessoas. Estamos olhando a posição Católica versus a posição Protestante. Tenho certeza que todos nós conhecemos Protestantes que são modelos de virtude natural, e tenho certeza que todos conhecemos Católicos que não vivem de acordo com as normas de bondade e justiça que nossa Fé requer. Mas pessoas não contam nas Apologéticas, somente as posições.
    E começaremos olhando para o princípio fundamental Protestante “Somente a Bíblia”.

  26. Continuando…

    Bíblia: A Única Regra da Fé?
    O Protestante acredita estar em solo firme, pois diz que acredita e aceita a Bíblia e somente a Bíblia, como única regra da Fé.
    Esta é a doutrina central Protestante da Sola Scriptura – a Bíblia sozinha é a única regra de Fé. É a Bíblia e somente a Bíblia que é o Pilar e Suporte da verdade.
    Portanto a primeira pergunta a fazer é: quão estável é este suporte Protestante? O Protestante está realmente em terra firme quando diz que a Bíblia sozinha é a única regra de Fé?
    Há um conhecido convertido ao Catolicismo nos Estados Unidos chamado Scott Hahn – um ministro Protestante que tornou-se Católico. Parte de sua história de conversão nos dá boas respostas a esta questão (Eu pessoalmente gostaria que o Dr.Hahn tivesse se tornado um pouco mais tradicional após sua conversão, mas isso não diminui a força da história)
    Dr. Hahn foi ministro Presbiteriano, que, em seus dias de seminarista, era veementemente anti-Católico. Subsequentemente, como ministro, fez um tremendo estudo das Escrituras, pois queria que seus sermões fossem impregnados das Escrituras.
    Mas, quanto mais ele estudava as Escrituras, mais ele percebia que as verdades nas quais os Católicos acreditavam, particularmente manifestadas nos ensinamentos dos antigos Pais da Igreja – São Jerônimo, São Basílio, Santo Agostinho – eram firmemente enraizadas nas Sagradas Escrituras. Esses Pais da Igreja eram Católicos. Cada um deles celebrava o Santo Sacrifício da Missa!
    Não vou contar toda sua história, mas quero ressaltar um evento crucial que foi decisivo para sua conversão. Foi algo que ocorreu enquanto ele lecionava.
    Lá estava ele, um Ministro Presbiteriano – um Professor Presbiteriano – ensinando a jovens adultos.
    E um dos mais inteligentes alunos da classe perguntou, “Dr. Hahn, o senhor sabe a maneira como nós Presbiterianos acreditamos que somente a Bíblia é a única regra da fé Cristã, e nós seguimos a Bíblia e somente a Bíblia – e não a Bíblia e a Tradição?”
    Hahn disse “sim”
    O aluno disse, “Bem, e em que lugar da Bíblia isso é dito?”
    Hahn respondeu, “Que pergunta mais estúpida!”
    Assim que falou isso Hahn disse a si mesmo, “Você nunca falou assim com um aluno antes. Você nunca respondeu a um aluno insultando-o.”
    Mas a razão pela qual Hahn respondeu daquela maneira foi porque ele sabia que não tinha uma resposta.
    Hahn disse, “Bem, em Timóteo 2o., 3:16”
    Mas o estudante retrucou, “Não, Timóteo 2º., 3:16 diz ‘Toda Escritura, inspirada por Deus, deve ser aproveitada para ensinar, para reprovar, para corrigir, em instrução, em justiça’. Diz que as Escrituras são úteis! Não diz que só devamos acreditar na Bíblia!”

    Então Hahn disse, “Bem, veja o que Nosso Senhor diz sobre a Tradição em Mateus 15”.
    Mais uma vez o aluno respondeu, “Bem, nada! Nosso Senhor não estava condenando toda Tradição, mas Ele estava condenando a tradição corrupta dos Fariseus”.
    Então, após mais algumas tentativas frustradas de citar as Escrituras, Hahn anunciou que a aula chegara ao final e que poderiam continuar na próxima semana.
    Agora, Dr. Hahn percebeu que não havia respondido à pergunta do aluno. E o aluno sabia que sua pergunta não tinha sido respondida.
    Hahn foi para casa suando frio aquela noite e pensava, “Qual é a resposta para aquela pergunta?”
    Ao chegar em casa telefonou para aqueles que considerava serem os maiores estudiosos Protestantes das escrituras nos Estados Unidos. E perguntou-lhes: “Pode ser que eu tenha dormido durante esta parte do meu treinamento no seminário, mas: vocês sabem a maneira como nós Protestantes acreditamos somente na Bíblia, e não nas Escrituras e Tradições – Onde na Bíblia isso é citado?”
    E cada um desses estudiosos Protestantes disse: “Que pergunta mais estúpida!”
    Então cada um desses professores invocou os mesmos versículos que Hahn tinha invocado: “Bem, há Timóteo 2º., 3:16” Ao que Hahn respondia como seu aluno, “Não esse versículo só diz que as Escrituras são úteis, e não que sejam a única regra de Fé”.

  27. Continuando…

    Cada um dos professores também disse, “Ora, existem as palavras de Nosso Senhor em Mateus 15”.
    E Hahn retorquiu, “Não, Nosso Senhor não estava condenando toda a tradição, mas somente a tradição corrupta dos Fariseus.” E disse mais, “São Paulo nos instruiu em Tessalonicences 2º., 2:14 para resistirmos e “mantermos as tradições que aprendemos, seja por palavras, ou por nossas epístolas” (Thes. 2, 2:14).
    E esses grandes sábios, esses mais eminentes teólogos Protestantes ficaram sem resposta.
    Foi aí que Scott Hahn percebeu que o princípio central, fundamental do Protestantismo – somente a Bíblia – não é Bíblico!
    Esta é uma tremenda contradição, e uma das razões pelas quais nunca poderia ser um Protestante. O Protestantismo alega que a base de seu sistema de crença é somente a Bíblia, mas o princípio de “Somente a Bíblia” é um princípio não bíblico; é um princípio que não é encontrado em nenhum lugar da Bíblia.
    Sem Base na História
    Em segundo lugar, o princípio de que “somente a Bíblia como única regra de Fé”, não pode ser um verdadeiro princípio do Cristianismo pois não tem base na história do Cristianismo.
    Como os primeiros cristãos aprenderam sua Fé?
    Como a Fé era comunicada a eles?
    Como foi que Nosso Senhor pediu aos Apóstolos para comunicarem a Fé, as verdades que devem ser acreditadas para a salvação?
    Ele ordenou: “vão em frente e ensinem todas as nações, batizando-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”. Ele disse a Pedro, “Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei minha Igreja” (Mat. 16:18). E São Paulo ensinou claramente que é a Igreja que é o pilar e o mastro principal da verdade (Tim. 1, 3:16).

    Nosso Senhor deu a Pedro a autoridade, e incumbiu os Apóstolos a pregar em Seu nome. “Como meu Pai me enviou eu também vos envio”. (João 20:21).
    Nosso Senhor não escreveu livros. Tampouco disse aos seus Apóstolos: “Sentem-se e escrevam Bíblias e as espalhem sobre a terra, e que cada homem leia sua bíblia e julgue por si mesmo”, o que é a essência do Protestantismo – cada indivíduo lê a Bíblia e decide para si quais são as verdades do Cristianismo. Não! Como disse, Nosso Senhor fundou uma Igreja para pregar em Seu Nome: “Aquele que os escutam, é a Mim que está escutando, aquele que os rejeitam é a Mim que rejeitam” (Lucas 10:16). “E aquele que não ouvir a Igreja, seja considerado pagão e pecador público”. (Mat: 18:17)
    A Igreja e a Fé existiam antes do Novo Testamento. Somente cinco dos doze Apóstolos escreveu algo! A Igreja estava ensinando, administrando sacramentos, os Apóstolos estavam perdoando pecados, a Igreja fazia mártires de sete a dez anos antes que uma só letra fosse escrita num pergaminho.
    A Igreja estava espalhada por todo o Império Romano antes que uma só palavra do Novo Testamento fosse escrita. Tínhamos santos e mártires Católicos antes de termos Evangelhos e Epístolas.
    O primeiro Evangelho foi escrito por São Mateus, cerca de sete anos após Nosso Senhor ter deixado este mundo. O próximo foi o Evangelho de Marcos, escrito 10 anos após Cristo ter subido aos céus. O Evangelho de São Lucas foi escrito 25 anos após a Ascenção de Nosso Senhor, e o Evangelho de João foi escrito 63 anos após Nosso Senhor ter deixado esta terra. O Apocalipse foi escrito 65 anos após a Ascenção de Nosso Senhor. E tudo isso foi escrito, como reitera o Papa Leão XIII, sob a Divina Inspiração.
    Sendo assim, como é que os primeiros Cristãos se tornaram Cristãos e salvaram suas almas? Lendo a Bíblia? Não, pois não havia o Novo Testamento.

    Vimos que o Novo Testamento nem havia sido terminado 65 anos após Nosso Senhor Ascender ao Céu.
    Mas isto não é tudo.
    Por mais de trezentos anos, a Igreja não tinha todos os livros da Bíblia compilados em um só livro.
    E isto nos leva diretamente à questão da Autoridade.
    Pois se você me der um livro – chamado A Bíblia. E você me disser que tudo naquele livro é a infalível palavra de Deus, a primeira coisa que vou perguntar é, “Quem disse isso?”
    “Quem disse isso?”
    Os livros não se escrevem sozinhos. Livros de múltiplos autores não se compilam sozinhos em um grande livro, e depois se auto-proclamam terem sido escritos pela palavra de Deus.
    Não! Alguém, ou algum núcleo social, a quem Deus outorgou a autoridade de ensinar; de ensinar em Seu Nome; de ensinar infalivelmente, que pode me dizer isso. Somente uma autoridade como essa pode me dizer que esse livro é a palavra infalível de Deus.
    E foi a Igreja Católica, no Concílio de Cartago em 397 DC, através da orientação do Espírito Santo, que determinou de uma vez por todas, qual era o Cânone do Novo Testamento; que decidiu que livros foram divinamente inspirados e quais não foram.
    Vocês se lembram que existiam vários outros “Evangelhos” e “Epístolas” em circulação; alguns escritos por homens bons e santos, mas que não foram palavras inspiradas por Deus (por exemplo, as Epístolas de São Clemente). Outros foram simples fabricações; como os chamados Evangelho de Pilatos ou o Evangelho de Nicodemos.
    E foi a Igreja Católica que decidiu quais livros foram inspirados divinamente e quais não foram. Foi a Igreja Católica que juntou o Novo Testamento, agregou-o ao Velho Testamento, e entregou a Bíblia ao mundo. Foi a Igreja Católica que produziu a Bíblia, não foi a Bíblia que produziu a Igreja.
    Portanto, como disse, o princípio Protestante de “Somente a Bíblia” não tem base na história. A religião Católica é a única religião que pode responder à pergunta “Quem disse isso?” – ou seja “quem disse que a Bíblia é a palavra escrita de Deus?”
    E apareceu Gutenberg!
    Mas o problema não pára aí. Pois se é necessário que eu leia a Bíblia para ser salvo, se a fé vem somente ao lermos a Bíblia, então a fé só vem pela intervenção da palavra impressa, que só foi inventada em meados do século 15 por Johannes Gutenberg.
    Antes disso, todos os livros eram copiados manualmente. Era uma tarefa laboriosa, demorada e dispendiosa. Não era possível dar uma cópia da Bíblia a cada Católico, nem mesmo a cada família Católica.

  28. Continuando…

    Somente tivemos Bíblias distribuídas amplamente há pouco mais de 400 anos. Então o que acontecia com os milhões de Cristãos que viveram antes disso, que viveram toda a sua vida sem nunca terem visto uma Bíblia ou um texto impresso do Novo Testamento?
    Então, a teoria de “Somente a Bíblia” – ou seja, de que seguindo só a Bíblia como caminho da salvação – pressupõe que a Bíblia deveria ter estado disponível a todos os homens desde a fundação do Cristianismo. Bem, já vimos que esse não foi o caso. Vimos que os livros do Novo Testamento foram escritos 65 anos após Nosso Senhor ter deixado a terra. E vimos que o Mundo Cristão não teve uma Bíblia completa e compilada antes de 397 DC; e que nem estavam disponíveis para distribuição em massa até meados do século 15. Portanto, o princípio “Somente a Bíblia” não tem base na história.
    Conflitos com a Razão
    Finalmente, o princípio de Somente a Bíblia é contrário à razão. Pois se você me der um livro e me falar que tudo o que é escrito nesse livro é a Palavra de Deus, e que devo lê-lo e acreditar Somente na Bíblia para a salvação, a primeira coisa que vou dizer-lhe é “Ótimo, então deixe-me em paz. Me dê essa Bíblia e eu decido qual é o verdadeiro sentido das Escrituras”.
    Esse é essencialmente o sistema Protestante. Se você for a uma congregação Luterana, você estará vendo só a interpretação particular de Martinho Lutero sobre a Bíblia.
    E se for a uma congregação Metodista, você estará vendo a interpretação particular da Bíblia por um indivíduo chamado John Wesley.
    E se for a uma congregação Presbiteriana, você verá só a interpretação particular de John Knox, o fundador desse grupo.
    E se você for membro de uma denominação Protestante, não há razão para que se levante e diga ao pregador; ”Irmão, eu acredito que não fales a verdade. Sua interpretação está errada! Eu encontrei o significado correto”.
    E se você for muito zeloso e eloquente suficiente, e determinado, você poderá começar a pregar, e você poderá começar sua própria congregação Protestante – pois foi assim que todas elas começaram.
    E percebemos que isso é consequencia da interpretação particular da Bíblia. Pois, de acordo com o sistema Protestante – que todo homem que lê a Bíblia e chega a sua própria interpretação – a conclusão lógica disso é que poderiam haver tantas religiões Protestantes tanto quanto forem os indivíduos. Para eles não há uma igreja estabelecida por Cristo para ensinar em Seu nome! Não existe uma autoridade estabelecida por Deus para dizer-me que talvez eu tenha cometido um erro!
    Esta é uma das razões pelas quais eu nunca poderia ter sido um Protestante. Vejo que o princípio de “Somente a Bíblia” é contrário ao das Escrituras, não tem base histórica e é contrário à razão: pois termina em milhares de interpretações conflitantes das Escrituras, e é contrário ao que Nosso Senhor estabeleceu para o que seria Sua Igreja.
    A Bíblia Me Tornou Católico!
    Um dos muitos Protestantes que finalmente descobriram esta verdade foi um homem chamado Paul Whitcomb.
    Paul Whitcomb era um ministro Protestante cujos intensos estudos das Sagradas Escrituras o fizeram aceitar a Igreja Católica como a única verdadeira Igreja edificada na Bíblia. Isso é explicado em um folheto já esgotado chamado A Bíblia me Tornou um Católico.

    O Sr. Whitcomb estudou as Escrituras através do método “interpretação por correlação”.
    O método funciona da seguinte maneira. Ele focava em determinada frase das Escrituras, como por exemplo “Filho de Deus”, e procurava nas Escrituras cada vez que aquela frase era usada, a fim de encontrar a verdade Bíblica do significado daquela frase.
    Quando usou esta interpretação por correlação para a palavra “Igreja”, foi levado a uma descoberta inesperada (resumida aqui em quatro pontos).
    1) Sua primeira descoberta, disse, foi de que a “Igreja” na Bíblia era definida como “um corpo” – e não somente um corpo humano, mas um Corpo Divino – o Corpo Místico do Próprio Cristo.
    “Ele é também a Cabeça daquele corpo que é a Igreja”(Colossenses, 1:18)
    “Ora, vocês são o corpo de Cristo e membros dele cada qual por sua parte” (Coríntios I, 12:27)
    “Pois somos membros do seu corpo” (Efésios, 5:30)
    2) O Sr. Whitcomb também descobriu que esta Igreja não era um corpo desmembrado, mas sim um corpo unificado.
    “Haverá um só rebanho e um só pastor” (João, 10:16)
    “Eu lhes dei a Glória que me destes, para que eles sejam um, assim como nós somos um” (João 17:22).
    “Há um só corpo e um só espírito, como também uma só esperança… um só Senhor, uma só Fé, um só Batismo” (Efésios 4:4-5).
    O Sr. Whitcomb percebeu claramente que este corpo – a Igreja – era constituído como único: único em membros, único em crença, único em adoração, e único em governança.
    3) Então ele percebeu que esta Igreja deve ser uma Igreja de ensinamentos. E não apenas isso, mas uma Igreja de ensinamentos infalíveis:
    “De Deus recebi todo o poder no céu e na terra. Portanto vão e façam de todos os povos discípulos meus, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo e ensinando-os a observar o que eu ordenei” (Mateus 28:18-20).

    4) Percebeu que Nosso Senhor pedia a divina proteção para aquela autoridade que ensinava:
    “Eu lhes disse estas coisas enquanto permaneço com vocês. Mas o Peráclito, o Espírito Santo, que o Pai vai enviar-lhes em Meu nome, ele lhes ensinará todas as coisas e lhes recordará tudo o que eu lhes disse. Quando vier o Peráclito, que eu lhes enviarei da parte do Pai, ele dará testemunho de mim, porque desde o princípio estão comigo” (João 14:25-26 – 15:26-27)
    Leu também em Timóteo 1 3:15
    “Enquanto lhe escrevo isso …que você saiba como se comportar na casa de Deus, que é a Igreja do Deus vivo, coluna e baluarte da verdade”
    “Após ler tudo isso, ele notou, “ Eu estava perturbado pela descoberta dessa verdade Bíblica … pois [como Protestante] não era membro de uma Igreja que ensina, muito menos de uma Igreja que ensina a verdade infalível”.
    Pois essa “igreja” nem existe no sistema Protestante.

  29. Continuandoi…

    O Sr. Whitcomb continua:
    “A Igreja da qual eu era membro, como todas as outras igrejas Protestantes, ao contrário mantinha que a Bíblia é a única distribuidora e garantia da verdade divinamente autorizada, que se alguém será salvo ele deverá aprender através da Bíblia o que deve fazer para ser salvo. De acordo com a crença Protestante, a única responsabilidade da Igreja é garantir aos “salvos”, aqueles que professam Cristo como Senhor e Salvador, um lugar onde possam se reunir na ‘comunhão da oração’”.
    “Isso apesar do fato de que nos primeiros quatrocentos anos não havia uma bíblia Cristã publicada;
    “Apesar do fato de que nos próximos mil anos até a invenção da imprensa escrita, havia pouquíssimas Bíblias;
    “Isso apesar do fato de que aqueles que fizeram da Bíblia sua única regra de Fé inventaram centenas de regras de fé conflitantes;
    “Isso apesar do fato de que a própria Bíblia afirma que muitos que a interpretam privadamente (II Pedro 3:16) a interpretarão erroneamente”.
    Para encurtar a história, O Sr. Whitcomb explicou que a única “Igreja” que se encaixava na descrição de “Igreja” encontrada na Bíblia, era a Igreja Católica. (Ele também percebeu que a Bíblia não diz tudo, como João 21:25 nos diz “há muitas outras coisas que Jesus fez e que, se fossem escritas uma por uma, creio que nem o mundo inteiro poderia conter os livros que seriam escritos”)
    Foi a Igreja Católica, segura em sua infalível autoridade outorgada por Nosso Senhor que nos deu a Bíblia, e é somente pela autoridade da Igreja Católica que sabemos com certeza que a Bíblia é a verdadeira palavra de Deus. Foi por isso que Santo Agostinho, no século quarto falou: “Eu não acreditaria nos Evangelhos, caso a autoridade da Igreja Católica não me movesse a fazê-lo”
    Isso é somente um resumo desses tópicos. Não tive tempo de desenvolver para vocês as bases bíblicas de rezar para os anjos e santos, pela devoção de Nossa Mãe Bendita, e outros aspectos da doutrina Católica. Mas desejo reiterar que uma sólida contra – reforma apologética é mais importante do que nunca.
    Não imitem os Protestantes!
    Também acho necessário a fim de parar o fluxo de Católicos ao Protestantismo, é importante que , em nossos esforços, não imitemos o Protestantismo ou os maneirismos Protestantes, mas sim, imitemos os santos.

    E o santo em particular que estou pensando é um Santo que passou um tempo na América Latina, Santo Antonio Maria Claret, ex Arcebispo de Santiago, Cuba, reconhecido por seus milagres e leitura de almas.
    Quero contar-lhes uma pequena lição que ele deu a um padre, e ocorreu em Madrid, antes do santo ir a Cuba.
    Um padre chamado Dom Hermenegildo, na Espanha, era conhecido por suas eloqüentes pregações, e um dia ele pregou um sermão brilhante e inflamado. Santo Antonio Maria Claret assitiu ao sermão.
    Don Hermenegildo recebeu muitos elogios por seu sermão, mas o Arcebispo Claret não o cumprimentou, mas se retirou silenciosamente.
    Esse fato perturbou muito Dom Hermenegildo, e na manhã seguinte visitou Santo Antonio Maria Claret.
    Dom Hermenegildo disse ao Arcebispo Claret, “Perdoe-me, Vossa Excelência, por perturbá-lo com esta visita inoportuna. Gostaria de aliviar meu coração com o senhor. Não consegui dormir a noite toda. Diga-me Arcebispo, meu sermão de ontem não o agradou? Seu silêncio foi como um aviso e uma reprovação para mim!”
    Antonio Maria Claret, com a caridade de um santo, queria consolá-lo e encorajá-lo, mas também queria dar-lhe um aviso importante.
    O Santo respondeu, “Diga-me, Dom Hermenegildo, você nunca pregou sobre a salvação da alma ou sobre o terrível infortúnio dos condenados?
    “Não, Vossa Excelência, nunca preguei sobre esses assuntos”.
    “Já pregou sobre a morte, o julgamento, sobre o inferno, sobre a necessidade da conversão, de se evitar o pecado e fazer penitência?”

    “Também nunca preguei diretamente sobre esses assuntos”
    “Então meu amigo, vou lhe falar com toda sinceridade, como você pediu. Seu sermão não me agradou, e tampouco posso aprovar o procedimento daqueles que em seus sermões omitem essas grandes verdades do Cristianismo e só tocam nesses assuntos como obrigação mas não para salvar almas. Não acho tais sermões nem agradáveis e nem aprovados por Nosso Senhor, Jesus Cristo.”.
    Dom Hermenegildo ouviu e permaneceu calado, mas logo a população de Madrid notou uma mudança radical em seu famoso pregador. Anteriormente as pessoas aplaudiam a eloqüência de Dom Hermenegildo, mas agora choravam em pio arrependimento durante seus sermões.
    Quanto a Santo Antonio Maria Claret, ele foi a Cuba em 1850, onde permaneceu por somente seis anos. Em pouco tempo ele restaurou, material e espiritualmente, a abatida Arquidiocese de Santiago. Mais que dobrou o número de paróquias: restabeleceu o seminário diocesano, de onde nenhum padre havia sido ordenado em 30 anos; levantou a moral e o zelo do clero bem como seu salário; também ajudou a formação de várias comunidades religiosas, que antes haviam sido reprimidas ou proibidas por lei.

  30. Final.

    Tenho certeza que poderíamos aprender muito mais através do cuidadoso estudo de sua vida e aplicar à presente situação.
    Para terminar, acredito que uma sólida apologética de contra reforma, fidelidade à Mensagem de Nossa Senhora de Fátima, e uma aplicação da piedade e zelo missionário dos santos – como Santo Antonio Maria Claret – terá grande efeito na evangelização das pessoas e no retorno da America Latina à Fé Católica.

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