O que fazer com as ambigüidades do Vaticano II?

Alguém me pergunta (na verdade, simplesmente anuncia em tom triunfal):

Essa vai para os conservadores populares:

Walter Kasper admite aquilo que todos os católicos verdadeiros já sabiam:

O documentos do Vaticano II foram de propósitos escritos de forma ambígua!

Refere-se a este texto: Cardeal Kasper admite ambigüidade intencional nos textos do Concílio Vaticano II. A declaração do purpurado é a seguinte (grifos do Fratres):

Em muitos lugares, [os Padres Conciliares] tiveram que encontrar fórmulas de concessões, em que, frequentemente, as posições da maioria estão localizadas imediatamente próximas àquelas da minoria, projetadas para limitá-las. Assim, os textos conciliares em si têm um enorme potencial de conflito, sendo uma porta aberta à recepção seletiva em uma ou outra direção.” (Cardeal Walter Kasper, L’Osservatore Romano, 12 de abril de 2013)

O que dizer?

De minha parte, eu só posso constatar que esta “confissão” veio com cinqüenta anos de atraso e apenas repetiu o que todo mundo já sabia. É claro que os textos do Concílio Vaticano II “têm um enorme potencial de conflito” e é claro que isso foi proposital; achavam o quê, que foi “por acaso”? Parafraseando Dawkins, pensavam que fora obra de The Blind Papermaker?

Dizer que há “fórmulas de concessões” nos textos do Vaticano II equivale a dizer que há sol ao meio dia, é o mesmo que descobrir a pólvora. É sério que precisávamos das declarações do Kasper para perceber esta obviedade? Se não houvesse possibilidade de interpretar equivocadamente os textos do Concílio, por qual absurda razão, por exemplo, a Lumen Gentium precisaria de uma “Nota explicativa prévia”, conhecida de qualquer pessoa que já tenha alguma vez na vida folheado o documento?

Aquela história do “a gente fala de maneira diplomática aqui e depois do Concílio tira as conclusões que nos forem convenientes” não é anedota, é fato documentado. Um papel com essas confissões bem pouco honestas caiu nas mãos de Paulo VI durante o Concílio, que então percebeu estar sendo enganado e chorou amargamente. Mais uma vez, isso não é conhecimento esotérico e nem segredo de estado conhecido apenas dos “católicos verdadeiros” (sic), isso é um dado jornalístico: o The Rhine Flows into the Tiber é um livro de 1967!

Ninguém jamais negou ou desconheceu aquilo que o Kasper disse ao Osservatore: o que negamos, e visceralmente, é que isso justifique a sedição contra a Igreja de Cristo. É claro que os textos do Vaticano II se prestam a diversas interpretações, e é exatamente por isso que ninguém – nem os progressistas e nem os rad-trads – pode prescindir do Magistério vivo da Igreja para lhes precisar o sentido correto!

A assistência do Espírito Santo não garante o esplendor da mais perfeita e conveniente expressão latina lapidar. A única coisa que Ele garante é que a Igreja não vai ensinar heresias – o que, aplicado ao Vaticano II, significa simplesmente que todo e qualquer texto do Concílio é passível de interpretação ortodoxa. Somente isso. Não significa que não há interpretações heréticas, não significa que a ortodoxia está sempre expressa da melhor maneira possível e não significa nem mesmo que, dado um excerto, a interpretação ortodoxa é a mais imediata. A única garantia que temos é a de que ela existe. C’est fini.

Ontem o Papa Francisco falou sobre o Vaticano II. Muitos acharam que ele fez uma crítica aos rad-trads, interpretação que é bastante aceitável. Mas eu penso que a verdadeira crítica é mais profunda, é ao modernismo estéril que, há mais de um século, vem envenenando a Igreja de Deus. As palavras do Santo Padre foram as seguintes:

Mas depois de 50 anos, fizemos tudo o que o Espírito Santo nos disse no Concílio? Não. Comemoramos este aniversário, erguemos um monumento, mas desde que não incomode. Nós não queremos mudar, e o pior: alguns querem voltar atrás. Isto é ser teimoso, significa querer domesticar o Espírito Santo; ser tolo, de coração lento”.

Ora, qualquer pessoa há de convir que os últimos cinqüenta anos foram o palco das maiores aberrações doutrinárias, litúrgicas, morais e pastorais que já envergonharam a Igreja de Cristo ao longo dos seus dois mil anos de história! Se o Papa, tendo isso diante dos olhos, diz que nós não fizemos “tudo o que o Espírito Santo nos disse no Concílio”, então só pode ser porque o Concílio não disse nenhuma dessas barbaridades que muitos passaram as últimas décadas realizando. Fosse diferente, o Papa teria afirmado com alegria que na maior parte dos lugares se fez, sim, a vontade do Espírito Santo de Deus. Mas ele não o fez. A declaração dele é sombria, mais até do que qualquer outra de Ratzinger sobre o assunto da qual eu me recorde agora; este pelo menos costumava destacar os bons frutos que haviam sido postos em prática, quando o Papa Francisco nem isso faz.

E, na verdade, “voltar atrás” sempre foi exatamente a maior característica dos taumaturgos que, desde a década de 60, assombram os pobres católicos com o famigerado “espírito do Concílio”. Ora, a “chance” histórica do modernismo foi justamente entre o final do século XIX e o início do XX: a janela de oportunidade dessa heresia era quando ela ainda não fora condenada pela Igreja. São Pio X, graças a Deus, fulminou-a na Pascendi (sabiam que esta encíclica está traduzida para o português no site do Vaticano? Nunca pararam para pensar que deve haver alguma razão para isso?) – e, de lá para cá, os modernistas são todos velhos que perderam o bonde da história e estão empenhados na utopia de fazer o relógio voltar para trás, transportando-os de volta ao tempo em que era pelo menos canonicamente lícito pregar as falsas doutrinas que a Igreja condenou sob Giuseppe Sarto. Em matéria eclesiástica, voltar atrás é desprezar as definições da Igreja, é insistir em discutir questões que já foram encerradas, é aferrar-se ao erro e se recusar a ouvir o Espírito Santo Paráclito, o Spiritus Veritatis que convence o homem do que é justo e verdadeiro.

Concluamos. Quem acompanha as palavras do Papa Francisco percebe que ele não é muito de falar sobre o Vaticano II. A curiosidade, creio, não permite maiores extrapolações. A meu ver, isso significa simplesmente que o Papa não o idolatra e nem o despreza, não sente necessidade nem de tudo justificar à luz dele e nem de evitá-lo como a uma moléstia contagiosa. O Santo Padre, afinal, sabe que a mensagem da Igreja é a mensagem do Evangelho, e é a esta verdade tão antiga e tão nova que – aí sim! – devem se referir todos os textos magisteriais, de S. Pio X ou de Paulo VI, do Vaticano II ou do Concílio de Florença. Independente de em que ânimo tenham sido escritos. Independente das traições que porventura tenha sofrido a Esposa de Cristo, uma certeza nós temos conosco para sempre: contra Ela não prevalecerão as portas do Inferno. E a força dessas palavras é maior do que todo o poder de Satanás; conhecendo-as, nós não temos o direito de tratar com suspeita a Igreja Santa de Deus.

Publicado por

Jorge Ferraz (admin)

Católico Apostólico Romano, por graça de Deus e clemência da Virgem Santíssima; pecador miserável, a despeito dos muitos favores recebidos do Alto; filho de Deus e da Santa Madre Igreja, com desejo sincero de consumir a vida para a maior glória de Deus.

33 comentários em “O que fazer com as ambigüidades do Vaticano II?”

  1. Jorge,

    Eu discordo quando você diz que o modernismo teve sua chance antes de S. Pio X fulminá-lo na Pascendi. Que ele fulminou, disso não tenho dúvidas. Mas essa heresia do inferno já nasceu fulminada, já nasceu condenada às profundezas do inferno, e já era sinônimo de apostasia, mesmo antes da condenação por S.Pio X. Não é à toa que ele disse ser o modernismo a “síntese de todas as heresias” e “a destruição não só da religião católica, mas de toda religião”.

    Abraços

    Rui

  2. Os tradicionalistas sonham em restaurar uma igreja que naõ existe mais.Sonho impossível.

  3. Rui, sim, eu concordo. Empreguei impropriamente a expressão, querendo me referir à aparência humana e não à possibilidade teológica, como se dissesse, p.ex., que a chance de Satanás derrotar Nosso Senhor foi antes do Sacrifício da Cruz.

  4. Jorge,

    “. São Pio X, graças a Deus, fulminou-a na Pascendi (sabiam que esta encíclica está traduzida para o português no site do Vaticano? Nunca pararam para pensar que deve haver alguma razão para isso?) – ”

    Nunca pensei nisso e nem consigo imaginar agora a razão da tradução. A que motivo você atribui?

  5. Lampedusa,

    https://www.deuslovult.org//2011/11/01/o-valor-das-entrelinhas/

    «Há, portanto, esforços da Santa Sé no sentido de tornar acessíveis aos católicos documentos do início do século XX que, até bem pouco tempo atrás, não estavam disponíveis (ao menos não em todos os principais idiomas). E, se isto está sendo feito, é porque estes documentos permanecem válidos, são importantes e devem ser conhecidos. Esta é uma excelente resposta aos que diziam ter a Igreja mudado a Sua Doutrina. É uma ótima forma de afirmar a continuidade do ensinamento da Igreja».

    Abraços,
    Jorge

  6. Francisco dixit:

    Mas depois de 50 anos, fizemos tudo o que o Espírito Santo nos disse no Concílio? Não. Comemoramos este aniversário, erguemos um monumento, mas desde que não incomode. Nós não queremos mudar, e o pior: alguns querem voltar atrás. Isto é ser teimoso, significa querer domesticar o Espírito Santo; ser tolo, de coração lento.

    O que não implica necessariamente isto:

    Ora, qualquer pessoa há de convir que os últimos cinqüenta anos foram o palco das maiores aberrações doutrinárias, litúrgicas, morais e pastorais que já envergonharam a Igreja de Cristo ao longo dos seus dois mil anos de história! Se o Papa, tendo isso diante dos olhos, diz que nós não fizemos “tudo o que o Espírito Santo nos disse no Concílio”, então só pode ser porque o Concílio não disse nenhuma dessas barbaridades que muitos passaram as últimas décadas realizando.

    Francisco pode bem estar dizendo que “as maiores aberrações doutrinárias, litúrgicas, morais e pastorais que já envergonharam a Igreja de Cristo ao longo dos seus dois mil anos de história” não são o bastante, não são tudo o que o Concílio pediu.

    Sua interpretação pode ser benevolente, mas deixa de ser arbitrária.

  7. Francisco pode bem estar dizendo que “as maiores aberrações doutrinárias, litúrgicas, morais e pastorais que já envergonharam a Igreja de Cristo ao longo dos seus dois mil anos de história” não são o bastante, não são tudo o que o Concílio pediu.

    Bom, considerando que nenhum modernista sério – de esquerda ou de direita – propugna semelhante tese e esposá-la colocaria o Papa no nível de um Leonardo Boff da vida, penso que tal hipótese carece da mais elementar verossimilhança e, portanto, pode ser descartada sem escrúpulos por qualquer pessoa que queira manter o seu apreço à realidade acima da caricatura ideológica dos que se deleitam com o “quanto pior, melhor”.

    – Jorge

  8. É claro que os textos do Vaticano II se prestam a diversas interpretações, e é exatamente por isso que ninguém – nem os progressistas e nem os rad-trads – pode prescindir do Magistério vivo da Igreja para lhes precisar o sentido correto!

    Dá pra sintetizar que é por isso que eu acompanho este blog! Contra a Igreja não prevalecerão as portas do Inferno.

  9. Louvor a Deus! Ok… Aceitando tudo o que você escreveu, usando só um pouquinho de lógica, podemos dizer que a ambiguidade do CVII (e consequentemente o CVII), é algo parcialmente ruim, já que o mal precisa de apenas uma brecha, e o CVII escancara os portões (e chama pra entrar!). E algo pode ser assim: mais ou menos bom? Água e óleo se misturam no CVII? Ambiguidade e SÃ doutrina? E sim, eu concordo com você: A Igreja não erra! Então, quem errou? Convenhamos que as contradições não acontecem só depois de interpretações distorcidas… Eu não sou uma combatente ferrenha do CVII, perceba… Porque eu gostaria de discutir sobre isso, esgotar as possibilidades. Mas, é realmente difícil ficar em paz com o CVII, sem se perturbar sobre a doutrina ensinada até então, e vice versa. Há tempos eu tento ficar em paz com o Vaticano II, mas ainda não aconteceu. Enfim, me parece que algo não se encaixa… POR CARIDADE, me corrija se eu estiver errada!! Não vim até o seu blogue para te interrogar, nem te difamar ou te atacar, já que eu sempre acho ridículo cristãos se atacando nos comentários, sem um pingo de caridade ou respeito. Então a você, todo o meu respeito, e sou toda ouvidos (já que perguntei).Perguntei com a intenção de ser verdadeiramente respondida e não de te interrogar. Espero que você possa me responder no mesmo espírito de caridade com que eu perguntei. Um abraço! Deus o abençoe.

  10. “Na verdade, eles [os tradicionalistas] sonham em restaurar uma igreja que nunca existiu, esse é o ponto.” Você poderia me explicar o que você quis dizer com “uma igreja que nunca existiu”? Então, o que é que os tradicionalistas querem? (Para essa pergunta, valem as mesmas considerações feitas no comentário anterior). Um abraço!

  11. Sedição contra idéias que já foram condenadas pela Igreja não significa “sedição contra a Igreja de Cristo”. A Igreja de Cristo é antiecumênica, condena a heresia da colegialidade e definiu muito bem nos cânones de Trento e nos documentos do século XIX e início do século XX como deve ser entendida a liberdade, a autoridade do Papa sobre todos os batizados, inclusive hereges e apóstatas, a relação da Igreja com os Estados e com as religiões falsas. O que os “rad-trads” fazem é apenas tentar lembrar, inclusive aos papas intelectualmente confusos dos nossos tempos, que essas verdades não podem ser negadas.

    O problema dos rad-oficialistas, como o autor deste blog, é que não reconhecem, por princípio, que o papa não é uma espécie de robô do Espírito Santo, e que ele pode também fazer mal uso do livre-arbítrio que possui, tomando atitudes escandalosas e sustentando opiniões equivocadas(vide o caso de João XXII, que chegou a se autocondenar, por causa de suas opiniões sobre a visão beatífica).

    O Papa também pode escolher ser infiel à Tradição da Igreja. E quando isso ocorre, ele está errado, e a oposição, respeitosa, é legítima. Isso não significa sedição contra a Igreja de Cristo, visto que a Igreja de Cristo não é só o papa do momento. A fidelidade do cristão é ao papado, e não somente, cegamente, ao papa atual.

  12. Jorge e demais amigos, salve Maria.

    A Igreja sempre condenou a tática dos hereges de procurar introduzir erros sob aparência de verdade através de fórmulas ambíguas. Foi o que ensinou o Papa Pio VI ao condenar o Sínodo de Pistoia:

    “Eles [os Papas nossos predecessores, os Bispos, e certos Concílios Gerais] conheciam bem a arte maliciosa própria dos inovadores, os quais, temendo ofender os ouvidos dos católicos, se esforçam por encobrir sob fraudulentos jogos de palavras os laços das suas astúcias, afim de que o erro, escondido entre sentido e sentido (São Leão Magno., Carta 129 da edição Baller), se insinue mais facilmente nos espíritos e aconteça que — alterada a verdade da sentença por meio de um curtíssimo acréscimo ou variante — o testemunho que devia dar a salvação, em conseqüência de uma sutil modificação, conduza à morte.

    Se esta indesejável e falaz maneira de dissertar é viciosa em qualquer manifestação oratória, DE NENHUM MODO DEVE SER PRATICADO NUM SÍNODO, cujo primeiro mérito deve consistir no adotar no ensino uma EXPRESSÃO DE TAL MODO CLARA E LÍMPIDA QUE NÃO DEIXE ESPAÇO AO PERIGO DE CONTROVÉRSIAS. Porém, se no falar se engana, não se pode admitir aquela subdola defesa que se costuma aduzir e pela qual, quando tenha sido dita alguma expressão dura demais, se se encontra a mesma explicada mais claramente em outra passagem, ou ainda corrigida, como se esta desenfreada licença de afirmar e de negar a bel prazer, que sempre foi uma fraudulenta astúcia dos inovadores como cobertura do erro, não tivesse que valer antes para denunciar o erro mais do que para justificá-lo: como se às pessoas particularmente despreparadas a afrontar casualmente esta ou aquela parte de um Sínodo exposto a todos em língua vulgar estivessem sempre presentes as outras passagens a contrapor, e que ao confrontá-las cada um dispusesse de tal preparo a reconduzi-las sozinho, a tal ponto de evitar qualquer perigo de engano que eles difundem erroneamente.

    É DANOSÍSSIMA esta habilidade de insinuar o erro que Nosso Predecessor Celestino (São Celestino, Carta 13, n. 2, in Coust) descobriu nas cartas do Bispo Nestório de Constantinopla e condenou com duríssimo apelo. O impostor, descoberto, repreendido e alcançado por tais cartas, com o seu incoerente multilóquio envolvia o verdadeiro com o obscuro e, confundindo de novo uma coisa com outra, confessava aquilo que havia negado ou se esforçava em negar aquilo que tinha confessado.

    Contra tais INSÍDIAS, apesar de tudo renovadas em toda época, não foi colocada obra melhor em ação do que aquela de expor as sentenças que sob o véu da ambigüidade envolvem uma perigosa discrepância de sentidos, assinalando o perverso significado sob o qual se acha o erro que a Doutrina Católica condena” (Pio VI, Bula Auctorem Fidei, de 29 de Agosto de 1794. Os destaques são nossos)”.

    O Vaticano II é a maior tragédia da história da Igreja. Este concílio é obra de Satanás, operado pelos seus instrumentos humanos.

    Deus, agora que ao que tudo indica caminhamos para o final, dará luzes especiais para que todos os que de coração puro constatem isso.

    Sandro de Pontes

  13. Fernando,

    (vide o caso de João XXII, que chegou a se autocondenar, por causa de suas opiniões sobre a visão beatífica)

    Fala de que episódio?

  14. Parabéns pelo texto, muito lúcido. Os rad-trad estão mais paranóicos que o normal depois da eleição do Papa Francisco, é preciso textos de bom senso como este para que mais pessoas não caiam nos erros que eles pregam por aí. Fique com Deus, que Nossa Senhora guarde vosso apostolado.

  15. Penso que o CVII ainda carece de uma análise isenta e desapaixonada.Posições extremas não esclarecem e ainda confundem o que já é confuso para a maioria.Um debate sério, com vistas à edificação e não simplesmente à críticas, seja a favor ou contra , seria bem vindo. Parabéns pelo texto.

  16. Fernando:

    Louvor a Deus! Ok… Aceitando tudo o que [Jorge Ferraz] você escreveu, usando só um pouquinho de lógica, podemos dizer que a ambiguidade do CVII (e consequentemente o CVII), é algo parcialmente ruim, já que o mal precisa de apenas uma brecha, e o CVII escancara os portões (e chama pra entrar!). E algo pode ser assim: mais ou menos bom? Água e óleo se misturam no CVII?

    Seguindo essa sua “lógica”, poderíamos dizer que a Criação é algo parcialmente ruim, por que o que não falta nela é brecha para a ação do Mal. Você está julgando com uma fé (crença, como queira; que tal e tal coisa é algo parcialmente ruim ou não é), e nesse momento não se trata de “lógica”. É meramente uma valoração, que pode (ou não) estar na verdade objetiva.

  17. Salve Maria!

    Fernanda, você não precisa “ficar em paz com o Vaticano II” (seja lá o que isso signifique), basta-lhe – e a todos nós – estar em paz com a Igreja, na legítima e necessária submissão ao Romano Pontifíce que é “absolutamente necessária para a salvação de toda criatura” (Bonifácio VIII, “Unam Sanctam”).

    Sim, é claro que as contradições só aconteceram depois das interpretações distorcidas, pois antes não havia o que se pudesse chamar de “contradição”. Todo o problema é que o Vaticano II é “mítico”, no sentido mais próprio do termo: coisa que não é real, mas que é dotado de força simbólica que forçosamente se deve admitir. Bento XVI foi muito feliz quando opôs o «Concílio dos Padres [Conciliares]» ao «Concílio da Mídia»: foi esse último que, embora artificialmente fabricado, ganhou vida própria nas décadas subseqüentes e é constantemente invocado para justificar os maiores disparates.

    Fernando, entre “oposição respeitosa” e a má vontade apriorística com a qual os rad-trads não têm pejo de condenar publicamente o Santo Padre vai uma diferença enorme. E se é verdade que qualquer pessoa – mesmo um Papa – pode ser “infiel à Tradição da Igreja”, que o mesmo se possa dizer de um Concílio Ecumênico legítimo é tese (no mínimo!) extremamente controversa, que a prudência manda não abraçar conquanto seja possível encontrar outras explicações para os fatos que geram perplexidade.

    Sandro, com relação à Auctorem Fidei, subscrevo o que já disse o Joathas (grifos meu):

    A condenação de Pio VI, na Auctorem Fidei, é a condenação da ambigüidade enquanto que esta porta um possível sentido herético. (…) [V]eja-se os termos em que Pio VI, na mesma bula Auctorem Fidei, condena certas teses jansenistas ambíguas: “se tal proposição ‘x’ é entendida de modo ‘y’, é herética”. Ou seja, condenou-se a interpretação herética, e não a ambigüidade enquanto tal, como se tivesse dito: “em qualquer caso, tal afirmação, por ser ambígua, é herética”. Na hipótese – a ser provada (…) – de que houvesse textos verdadeiramente ambíguos no CVII – textos dos quais não se pudesse afirmar, com toda segurança, o sentido ortodoxo, no contexto dos documentos conciliares – essa bula serviria para a defesa do Concílio, na medida em que é exemplo da possibilidade de condenar tão somente um eventual sentido herético de um texto, e não o texto enquanto tal.

    Abraços,
    Jorge Ferraz

  18. ERRATA:

    “[…], mas NÃO deixa de ser arbitrária.

    Insisto:

    Ora, qualquer pessoa há de convir que os últimos cinqüenta anos foram o palco das maiores aberrações doutrinárias, litúrgicas, morais e pastorais que já envergonharam a Igreja de Cristo ao longo dos seus dois mil anos de história! Se o Papa, tendo isso diante dos olhos, diz que nós não fizemos “tudo o que o Espírito Santo nos disse no Concílio”, então só pode ser porque o Concílio não disse nenhuma dessas barbaridades que muitos passaram as últimas décadas realizando.

    Acrescento:

    1) http://tradiciondigital.es/wp-content/uploads/2013/03/bergoglio-arrodillado-ante-protestante-por-bendici%C3%B3n.jpg

    2) http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=oUNhP3J1ecI

    3) http://www.youtube.com/watch?v=3RJK0yULkCY

    4) http://pt.euronews.com/2013/03/28/inedito-lava-pes-de-um-papa-inclui-duas-mulheres/

  19. “condenou-se a interpretação herética, e não a ambigüidade enquanto tal”

    Theological Censures: Doctrinal judgments by which the Church stigmatizes certain teachings detrimental to faith or morals.

    (2) Ambigua (ambiguous), captiosa (captious), male sonans (evil-sounding), piarum aurium offensiva (offensive to pious ears), etc.

    A proposition is ambiguous when it is worded so as to present two or more senses, one of which is objectionable; captious when acceptable words are made to express objectionable thoughts; evil-sounding when improper words are used to express otherwise acceptable truths; offensive when verbal expression is such as rightly to shock the Catholic sense and delicacy of faith.

    http://www.newadvent.org/cathen/03532a.htm

  20. “qualquer pessoa – mesmo um Papa – pode ser ‘infiel à Tradição da Igreja'”
    Há que se distinguir a esfera dos pronunciamentos comuns do Papa da esfera dos pronunciamentos infalíveis.É evidente que a respeito da segunda o Papa não pode ser infiel porque tem auxílio do Espirito Santo…Mas e quanto à primeira?

    “que o mesmo se possa dizer de um Concílio Ecumênico legítimo é tese (no mínimo!) extremamente controversa”
    Acho que não preciso fazer as célebres citações admitindo que o CVII é um concílio pastoral que não definiu nada extraordinariamente, ou seja, não é infalível.Lógica básica: se não é infalível então é falível – terceiro excluído – controverso? pelo contrário, é óbvio.

    “Ou seja, condenou-se a interpretação herética, e não a ambigüidade enquanto tal, como se tivesse dito: ‘em qualquer caso, tal afirmação, por ser ambígua, é herética'”
    Acho que ninguém com a mínima noção interpretaria dessa forma, ambiguidade ser uma heresia, já que heresia é a negação de uma verdade revelada ou de um dogma.Mas o autor do comentário foi falacioso ao considerar somente a heresia como algo condenável, já que heresia é só uma das gradações de censura como eu demonstrei em meu outro comentário e entre essas censuras está a ambiguidade.

  21. SABEMOS QUE A IGREJA ESTAVA INFILTRADA DE MAÇONS, COMUNISTAS E PRITESTANTES…
    LEMBRAM-SE DO CARDEAL BUGNINI, BENELLI, DO BISPO DE KIEV ETC?
    A montagem de textos ambíguos seria para a Igreja se converter em Torre de Babel, parecendo com os deputados que montam leis ambiguas para se beneficiarem em caso de eles fraudarem e darem um “jeitinho” nas brechas da lei!
    Isso nada mais ou menos a meu ver seria decorrente das infiltrações de maçons, comunistas e protestantes na Igreja, aproveitando-se de apoio de pessoas supostamente membros da alta hiererquia, sendo o joio que entra clandestinamente na calada da noite e que contamina todo o campo.
    A Teologia da Libertação querendo socilizar a doutrina da Igreja, os RCCs pentecostalistas e tantos movimentos estranhos surgidos internamente, agindo paralelamente e tantos outros reivindicando isso e aquilo seriam a fórmula ideal que os inimigos de Deus e da Igreja – satanicamente – encontraram como ideal para serem as pestes virulentas que assolariam a Igreja Vaticano II adiante, e o acusando disso ou daquilo.
    E na intenção de ela tornar-se uma babel doutrinaria…
    Bem ao estilo das relativistas $eita$ protestantes onde cada um faz o que quer com a bíblia e se idolatra, ou doutras semelhantes, hoje em dia fundadas por hora!…

  22. MUITA GENTE “BOA” QUE ATRIBUÍA AO VATICANO II TODOS OS ERROS PRESENTES NA IGREJA ATUAL DEVERIAM RETRATAREM-SE DA MESMA FORMA COMO O INJUSTAMENTE DENUNCIARAM, como na net!
    AÇÕES DE DESINFORMADOS E IGNORANTES CATÓLICOS!
    OU ENTÃO DETRATORES DE PRIMEIRA LINHA!
    Isso mesmo; houve e espero que desapareçam, uma ENXURRADA de falsas denuncias contra o Vaticano II, de pessoas e não poucas que o insultavam, intitulando-o de CISMÁTICO, HERÉTICO E ATÉ SATÂNICO.
    E agora, hem, quando vem a público o Cardeal Kasper e confirma o que sabíamos de antemão de altos hierárquicoas tramando em seu interior contra ela, tudo isso em especial desde a década de 30 por ordem pessoal de Stálin e seus sucessores marxistas, e o mantendo até hoje.
    Isso já foi materia até de jornais americanos das ostensivas presenças de estranhos em seu interior montando farsas para a denegrir.
    Aqui no Brasil temos o PT parceiro da esquerdista Teologia(?) da Libertação, um antro comunista a serviço dos marxistas e seus bolcheviques ex sacerdotes como um dos subfrutos das soturnas estranhas presenças na Igreja, camufladamente, ambos fabricando ideologia marxista sob forma de doutrina católica para enganarem os incautos, como na velha e manjada farsa de “opção preferencial pelo pobres”, sim, mas escolhidos para os fazer de mercadoria para se manterem no poder, dentro dos esquemas comunistas de manipularem pessoas sem instrução, pois sabem que pessoas lúcidas e inteligentes não os aceitam.
    Um bando de seres humanos a serviço de SATANÁS!

  23. Leonardo,

    infalível.Lógica básica: se não é infalível então é falível – terceiro excluído – controverso?

    Sim, controverso. Se você não percebeu isso ainda, então é porque acabou de chegar no meio da confusão dos últimos anos.

    Mas o autor do comentário foi falacioso ao considerar somente a heresia como algo condenável, já que heresia é só uma das gradações de censura como eu demonstrei em meu outro comentário e entre essas censuras está a ambiguidade.

    O que tem minimamente uma coisa a ver com a outra? Os graus de censura teológica são «[d]octrinal judgments by which the Church stigmatizes certain teachings». “The Church”, capisci?, e não qualquer um.

    Devaneios à parte, o fato inconteste é que a Auctorem Fidei condena interpretações heréticas sem condenar a sentença ambígua (*), o que é um óbvio e sólido precedente para a nossa praxis de condenar as interpretações heréticas do Vaticano II, e não o Concílio em si.

    Não existe excomunhão automática para sententia male sonans e ninguém está desobrigado de obedecer à Igreja por achar privadamente que algo que Ela diz é “ofensivo aos ouvidos pios” (!). Aliás, já que você nos concedeu licença dialética para distribuir censuras teológicas, a mim parece que tal tese é claramente subversiva hierarchiæ.

    Abraços,
    Jorge

    (*) Veja-se, p.ex., a diferença entre as seguintes condenações (pp. 15-16):

    I. La proposicion que dice, que en estos ultimos siglos se ha esparcido un general obscurecimiento sobre las verdades de mas grave momento que pertenecen a la Religion, y son labase de la fe y de la moral de la doctrina de Jesu Christo.

    Heretica.

    III. Ademas la [proposicion] que establece que el Romano Pontifice es cabeza ministerial.

    Entendida de tal modo que el Pontifice Romano no reciba de Christo en la persona de San Pedro, sino de la Iglesia, la potestad del ministerio, la qual tiene en la Iglesia universal como sucesor de Pedro, verdadero Vicario de Christo, y Cabeza de toda la Iglesia.

    Heretica.

    A primeira é simplesmente condenada, sem mais. A segunda, ao invés de ser condenada em si mesma, recebe uma condenação secundum quid, sob um certo aspecto: só é herética “entendida de tal modo que, etc.”. Ora, é óbvio que se trata de uma expressão com mais de um sentido (posto que, senão, não poderia ser entendida de modo herético) e, mesmo assim, não recebeu de Pio VI nem a censura teológica de “haeretica” e nem a de “ambigua”. Portanto, pode perfeitamente ser empregada em seu sentido ortodoxo

    Isso demonstra precisamente o que dissemos antes: esta Bula serve na verdade «para a defesa do Concílio, na medida em que é exemplo da possibilidade de condenar tão somente um eventual sentido herético de um texto, e não o texto enquanto tal». A possibilidade (que nunca negamos) de se condenar um texto ambíguo não serve para impugnar a priori os textos do Vaticano II (que jamais receberam censura teológica alguma da Igreja), e nem tampouco para proibir o emprego de uma expressão ambígua em sentido ortodoxo (como, repetimos, acreditamos ser o caso das passagens controversas do Vaticano II).

  24. O homem é incapaz de comunicar sempre com perfeição, ou exatidão, mas quando ele comunica, o que ele quer comunicar ou é verdadeiro ou é falso, independentemente de se está colocando-o com mais ou menos precisão.

    O Juiz não nos cobra o que não podemos entregar.

  25. Diz o proprietário do blog:

    Isso demonstra precisamente o que dissemos antes: esta Bula serve na verdade «para a defesa do Concílio, na medida em que é exemplo da possibilidade de condenar tão somente um eventual sentido herético de um texto, e não o texto enquanto tal». A possibilidade (que nunca negamos) de se condenar um texto ambíguo não serve para impugnar a priori os textos do Vaticano II (que jamais receberam censura teológica alguma da Igreja), e nem tampouco para proibir o emprego de uma expressão ambígua em sentido ortodoxo (como, repetimos, acreditamos ser o caso das passagens controversas do Vaticano II).

    Pergunto:

    1) É impressão nossa o autor sugere ser possível que um dia a Igreja poderá vir a condenar o Vaticano II?

    2) Não foi o Sínodo de Pistóia condenado também por, simplesmente, não ter usado o termo transubstanciação ao tratar da Eucaristia?

    3) Dignitatis Humanae não é ambígua e diz o exato oposto de Quanta Cura, de Pio IX.

  26. Ao anônimo,

    1) Há quarenta anos a Igreja vem condenando sentidos heréticos de textos do Vaticano II, e penso que isso vai continuar assim. Se for para fazermos especulações teológicas, embora seja da mais alta improbabilidade, penso que, em princípio, nada obsta que Ela um dia condene por ambigüidade certas passagens conciliares, coisa que a Igreja aliás pode fazer para qualquer expressão do mundo, do homoousios niceno ao omnino esse de necessitate salutis de Bonifácio VIII, para citar dois exemplos clássicos de ambigüidade em textos do Magistério hoje incontroversos. Mesmo nesta eventualidade, contudo, duas coisas permanecem obviamente válidas: 1. a Doutrina significada pelo sentido ortodoxo do texto ambíguo é verdadeira; e 2. ninguém está proibido (muito menos retroativamente!) de empregar o termo ambíguo no sentido ortodoxo, bastando que tome os devidos cuidados para afastar a interpretação heterodoxa.

    2) De acordo com a Enciclopédia Católica, não. Mas ainda que tivesse sido, seria obviamente uma extrapolação esdrúxula deduzir disso que, a partir daí e para todo o sempre, qualquer texto sobre a Eucaristia que não contivesse a palavra “transubstanciação” fosse ab initio condenado, semi-herético, inválido ou coisa do tipo.

    3) Não, não diz.

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