Se houver verdadeira demonstração de que a Terra circunda o Sol, então é preciso reinterpretar as Escrituras

Alguém comentou aqui no blog:

Sou catequista, mas nunca engoli a história da criação do Mundo e do homem… mas finalmente o Papa se pronunciou (Que alívio).

Por for, fale-me à respeito…

Papa Francisco diz que Big Bang e Teoria da Evolução não são incompatíveis com cristianismo – Catholicus

http://catholicus.org.br/papa-francisco-diz-que-big-bang-e-teoria-da-evolucao-nao-sao-incompativeis-com-cristianismo/

A Igreja Católica é uma sociedade visível fundada por Nosso Senhor Jesus Cristo para guardar e transmitir as verdades necessárias à salvação de toda criatura humana. O escopo d’Ela é, portanto, restrito e não ilimitado. Necessário aos homens para que se salvem é saberem em quê devem crer e como devem agir; por isso a Igreja é Mestra Infalível em Fé e Moral, mas não em ciências naturais.

Não cabe portanto propriamente à Igreja pronunciar-se sobre o “Big Bang” ou sobre a “Teoria da Evolução”: estas coisas estão em princípio fora da Sua esfera de competência. No entanto, como a realidade é uma só e como a Revelação contém uma série de afirmações a respeito do mundo (e.g. que houve uma Criação, que o homem cometeu um Pecado Original, que Nosso Senhor «padeceu sob Pôncio Pilatos» etc.), torna-se por vezes necessário aparar algumas arestas que eventualmente surjam de outras alegações feitas pelas ciências seculares — como a cosmologia, a biologia evolutiva ou a história.

De antemão é preciso dizer que o núcleo essencial de afirmações da Doutrina Católica a respeito destes temas é mínimo. Não é necessário que o sol gire em torno da terra, que estejamos atualmente em 5.777 anno mundi ou que Deus tenha criado direta, específica e separadamente cada raça de cachorro que existe na face da terra, por exemplo. Esses detalhes (conquanto, reconheça-se, provavelmente não tenham sido sempre assim considerados por muitos cristãos) são periféricos e meramente acidentais na história da Salvação: ou seja, eles tanto podem ser assim como de diversas outras maneiras sem que isso altere fundamentalmente a natureza humana ou a necessidade do Evangelho.

Hoje nós certamente vemos isso com mais clareza do que no passado; no entanto, esta consciência sempre esteve presente na Igreja. Cite-se, por todos, a afirmação do inquisidor de Galileu, São Roberto Belarmino, ao comentar sobre a hipótese heliocêntrica:

Digo que se houvesse uma verdadeira demonstração de que o Sol está no centro do mundo e a Terra no terceiro céu, e que o Sol não circunda a terra, mas a Terra circunda o Sol, então seria preciso ir com muita consideração em explicar as Escrituras que parecem contrárias, e antes dizer que não as entendemos do que dizer que é falso o que se demonstra (Carta a Antonio Foscarini, escrita durante o processo de Galileu).

Se houver verdadeira demonstração de que a Terra circunda o Sol então é preciso reinterpretar as Escrituras: penso que se deve conceder ousadamente ao princípio aplicação universal. É preciso ser generoso e conceder autonomia para que os distintos ramos das ciências humanas cheguem às suas próprias conclusões acerca dos seus objetos próprios de estudo: porque se houver verdadeira demonstração de qualquer coisa da natureza então é possível coaduná-la com a Doutrina Católica, porque um mesmo Deus é o autor dos dois livros e, sendo perfeitíssimo, não pode enganar-Se e nem nos enganar.

Sim, a razão humana está sujeita a falhas e, portanto, as afirmações da ciência podem estar simplesmente erradas. Rejeitá-las liminarmente, no entanto, somente porque elas pareçam contradizer algum aspecto do Catolicismo é indolência intelectual: a razão iluminada pela Fé é sem dúvidas capaz de soluções mais elaboradas. Além do mais, há aqui um risco muito mais grave: pior, muito pior do que rejeitar um avanço científico legítimo por não conseguir assimilá-lo coerentemente no interior de uma cosmovisão católica é repudiar a Doutrina Católica por julgá-la incompatível com o que “a Ciência diz” — e esta limitação da inteligência já levou muitos homens à perdição, é um verdadeiro obstáculo à Fé que qualquer apostolado que se pretenda eficaz precisa esforçar-se por eliminar.

Para ajudar os ignorantes a não caírem em tão funesto erro, assim, é importante mostrar como muitas coisas — mesmo as mais estapafúrdias e improváveis do mundo — poderiam ser compatíveis com o Catolicismo, ainda que não sejam efetivamente verdadeiras. É preciso seguir o exemplo de Santo Tomás. Uma vez o perguntaram se era verdade que os nomes de todos os Bem-Aventurados estariam escritos em um pergaminho no céu; o frade, com a sua peculiar genialidade, respondeu que não achava que fosse assim, mas ao mesmo tempo não havia problema em acreditar nisso (cf. o capítulo 5.2 da biografia de Santo Tomás escrita por Chesterton).

E não haver problema em acreditar que um dia vai existir um manuscrito quilométrico flutuando na troposfera significa exatamente isto: esta hipótese, por extravagante que seja, é compatível com a alegação católica de que Cristo há-de vir no fim dos tempos «para julgar os vivos e os mortos». E se isso é compatível com a Fé, quantas outras coisas não o poderiam ser igualmente?

Humanos evoluindo de animais? Universo criado a partir de uma explosão? Seres extraterrestres? Ora, o que são todas essas hipóteses perto do heliocentrismo copernicano ou do pergaminho adejante tomista? Se um inquisidor não se furtou a conciliar a hipótese de Galileu com a autoridade das Escrituras e se um frade medieval postulou a incolumidade do Catolicismo mesmo diante de um velino que cobrisse todo o céu, por que não haveríamos nós de também envidar esforços para mostrar a compatibilidade da Fé Católica com as hipóteses — por extravagantes que sejam! — aventadas por nossos contemporâneos?

A Igreja, em regra, não pode fazer afirmações sobre o mundo natural dotadas de um maior grau de certeza do que aquele alcançável pela razão humana. A autoridade d’Ela é espiritual. O que a Igreja pode — e o que todos os católicos podemos — é compatibilizar os dados da razão (não apenas os reais como também os meramente possíveis) com os da Fé. É nesta clave que devem ser enquadradas todas as questões referentes às interações entre religião e ciência que, hoje, são alardeadas com uma beligerância totalmente descabida — e que arrastam tantos à apostasia desnecessariamente.

Em tempo: o Big Bang jamais foi incompatível com o Cristianismo. Afinal de contas, quem primeiro concebeu a sua hipótese foi, precisamente, um padre católico.

E ainda, desde Pio XI Pio XII que «o magistério da Igreja não proíbe que nas investigações e disputas entre homens doutos de ambos os campos se trate da doutrina do evolucionismo, que busca a origem do corpo humano em matéria viva preexistente» (Humani Generis, 37).

Publicado por

Jorge Ferraz (admin)

Católico Apostólico Romano, por graça de Deus e clemência da Virgem Santíssima; pecador miserável, a despeito dos muitos favores recebidos do Alto; filho de Deus e da Santa Madre Igreja, com desejo sincero de consumir a vida para a maior glória de Deus.

29 comentários em “Se houver verdadeira demonstração de que a Terra circunda o Sol, então é preciso reinterpretar as Escrituras”

  1. Ao contrário do catequista citado, eu nunca “engoli” a teoria evolucionista. Entre acreditar no criacionismo e acreditar na lenda do evolucionismo, eu fico com a primeira. Pelo menos é filosofica e teologicamente mais bonita.

  2. Sem dúvida é possível haver uma teoria de evolução compatível com o Catolicismo. Mas a teoria da evolução aceite pela maioria dos cientistas é incompatível com a Tradição Católica em vários aspectos.

    Como escreveu Pio XII (e não Pio XI), é possível hipotetizar que o corpo humano talvez tenha origem em matéria animal pré-existente. De fato, é irrelevante se Deus, para criar o homem, usou terra e água ou ossos e carne de um animal pré-existente.

    No entanto, a teoria da evolução não se restringe apenas ao corpo humano. Seria simples demais se fosse só isso. A teoria da evolução inclui não apenas o corpo mas também a psiquê humana. Para os evolucionistas, não apenas nosso corpo evoluiu e continua evoluindo mas também nossa mente evoluiu e continuará evoluindo.

    Ora, por outro lado, de acordo com a ortodoxia católica, Adão e seus descendentes imediatos já eram homens perfeitos, tão inteligentes quanto nós somos e sempre seremos. Não há, no catolicismo, possibilidade de evolução intelectual. A natureza humana é uma só desde Adão até o último dos homens.?

    A aceitação a-crítica da teoria da evolução por parte dos católicos acaba por transformar em mero mito os primeiros capítulos do Gênese. Adão e Eva deixam de ser personagens históricas que realmente existiram num passado geologicamente não tão remoto assim e passam a ser figuras mitológicas supostamente tendo vivido milhões de anos atrás. A tentação da serpente, o Lapso, a expulsão do Jardim tornam-se apenas mitos originários com significado simbólico.

    Ora, se Cristo é o segundo Adão e o primeiro Adão não passa de mito, então…

    Não é difícil ver onde isso vai dar.

  3. JB

    “Para os evolucionistas, não apenas nosso corpo evoluiu e continua evoluindo mas também nossa mente evoluiu e continuará evoluindo.”

    Em que sentido você entende que esses evolucionistas afirmam essa evolução da mente?

    A incompatibilidade entre a teoria da evolução e a fé se dá quando os cientistas extrapolam o seu objeto e fazem afirmações que fogem do escopo da ciência e dizem, como afirmava Bento XVI, que “o espírito é um mero bolor da matéria”. Porém, quando fazem isso, já não o fazem enquanto cientistas, mas ideólogos ou, vá lá, “filósofos”.

  4. Há, também, algumas hipóteses científicas, absolutamente indemonstráveis (que beiram um ‘ato de fé’), que contrariam a Revelação, como a hipótese poligenista.

  5. Muitos católicos iludem-se achando que a teoria da evolução trata apenas da aparência física do homem.

    Contudo, para os evolucionistas, as características psicológicas, comportamentais e intelectuais do homem estão tão sujeitas à seleção natural e à evolução quanto os seus atributos físicos. Ambos, atributos físicos e psíquicos, co-evoluem.

    Nem há como ser diferente. É impossível haver um animal fisicamente semelhante a um homem mas com a mente de um macaco, assim como é impossível haver um ser inteligente, isto é, capaz de raciocínio abstrato, com o corpo de um animal irracional.

    Quanto ao poligenismo, esse é dado como garantido pelos evolucionistas. Não há nenhum evolucionista que sustente o monogenismo de Adão e Eva.

    O monogenismo é insustentável cientificamente e precisa de apoio da Revelação. Biologicamente, é impossível que apenas um homem e uma mulher expliquem toda a variedade genética encontrada nos seres humanos de hoje. Aliás, logo de cara, Eva é uma impossibilidade científica.

  6. Muitos católicos, ingenuamente, confundem teoria da evolução com evolucionismo.

    Não, o monogenismo não é cientificamente insustentável. Não se pode confundir com “hipóteses mais ou menos aceitas”. Se o fosse, teríamos de, novamente, recorrer à ‘doutrina’ de São Belarmino: “Se houver verdadeira demonstração de que a Terra circunda o Sol, então é preciso reinterpretar as Escrituras”, só que, em vez de ‘a Terra que circunda o Sol’, leria-se ‘a origem humana é poligênica’!

  7. “Biologicamente, é impossível que apenas um homem e uma mulher expliquem toda a variedade genética encontrada nos seres humanos de hoje. Aliás, logo de cara, Eva é uma impossibilidade científica.”

    Apesar das fontes abaixo serem não-acadêmicas, podem servir como um primeiro contato da impossibilidade, ao menos no status quo atual da genética, de se descartar o monogenismo. O que, nem de longe, significam, tais pesquisas, que o monogenismo é algo evidente ou mesmo provável. Apenas possível.

    Esse artigo é muito interessante, atual e abrangente.

    http://blog.quadrante.com.br/adao-cromossomo-y-e-eva-mitocondrial/

    E esse traz alguns dados um pouco mais atuais quanto à datação.

    http://super.abril.com.br/ciencia/as-filhas-de-eva/

  8. Como já disse, é possível que exista uma teoria da evolução que seja compatível com o catolicismo. Mas a teoria científica, amplamente aceita e divulgada, que normalmente atende pelo nome de “teoria da evolução” é – felizmente – incompatível com o catolicismo em vários pontos.

    A teoria da evolução amplamente aceita pela comunidade científica pressupõe o poligenismo. Se alguém não aceita o poligenismo, então não se aceita um dos pontos mais importantes da teoria da evolução pois, de acordo com essa teoria, são populações que evoluem e não indivíduos isoladamente.

    Compreendo a boa intenção de quem quer achar explicações científicas para os mistérios de nossa religião. Mas, se pensarmos melhor, veremos que, quanto mais explicações científicas forem encontradas, mais enfraquecido fica o mistério.

    Se a teoria da evolução é capaz de explicar, fazendo uso apenas de argumentos naturais e de leis biológicas, o surgimento de Adão e da psique humana, o papel de Deus fica um tanto reduzido, não?

  9. JB

    Você leu o artigo inteiro da Quadrante? Creio que tira quase todas essas suas dúvidas. Sim, a maior parte dos cientistas creem que a origem é poligenista. Mas, ao mesmo tempo, esses mesmos cientistas, quando sérios, admitem que a hipótese monogenista é possível e ‘cabe’ na teoria da evolução em seu status quo atual.
    É o mesmo que ocorre com alguns dos cosmólogos atuais. Aceitam o Big Bang, mas creem no tal Universo estacionário – que é impossível de demonstrar e que nega a fé cristã. Mas, quando fazem isso, já não o fazem como cientistas, mas como ideólogos.

    “Se a teoria da evolução é capaz de explicar, fazendo uso apenas de argumentos naturais e de leis biológicas, o surgimento de Adão e da psique humana, o papel de Deus fica um tanto reduzido, não?”

    Parece-me bem o contrário! Magnifica-o e retira de Deus o ‘papel mágico’ e ressalta o poder da ratio divina!

  10. Lampedusa,

    O que o artigo da Quadrante faz é mostrar que talvez um dia surja uma outra teoria da evolução que seja compatível com o catolicismo.

    Como já disse, e o artigo confirma, aquilo que normalmente se entende por “teoria da evolução” é incompatível com o catolicismo, entre outros motivos, por pressupor o poligenismo.

    Analogamente, acredito um dia ser possível uma política de planejamento familiar católica. Contudo, aquilo que normalmente se entende por “política de planejamento familiar” não é catolicamente aceitável.

    >Parece-me bem o contrário! Magnifica-o e retira de Deus o ‘papel mágico’ e ressalta o poder da >ratio divina!

    Bem, talvez seja você. A evidência empírica mostra uma diminuição, e não magnificação, na crença em Deus desde que Darwin publicou seu livro até os dias de hoje.

    Se há sempre uma explicação natural, Deus se torna cada vez menos presente no mundo. Deus vira um relojoeiro que deu mola em sua criação e depois ausenta-se. É o deísmo dos iluministas.

    Imagine o efeito que produziria uma explicação científica e natural para os milagres associados à vida de Nosso Senhor.

  11. Mas penso que o poligenismo nem sequer é o maior problema da teoria da evolução, em sua versão mais divulgada e aceite.

    Creio que o maior problema esteja no gradualismo.

    De acordo com a tradição católica, Adão foi criado num instante e no mesmo instante foi estabelecido um intransponível abismo ontológico entre ele, e apenas ele, e os demais animais criados. Ainda de acordo com a ortodoxia católica, Adão era homem completo desde o instante de sua criação. Ele já possuia suas faculdades intelectivas tão desenvolvidas quanto as nossas, talvez mais até.

    Ora, como a teoria da evolução vê o homem como apenas mais uma espécie de animal, ela não dá conta desse abismo.

    De acordo com a teoria da evolução, não houve um momento da criação do homem, o que houve foram milhares de gerações sucessivas que lenta e imperceptivelmente conduziram do Homo erectus (um animal irracional?) ao Homo sapiens, com o curioso ramo colateral do Homo neandertalensis (homem como nós?), ao longo de um período de vários milhões de anos.

    Veja que a evolução não parou no surgimento dos primeiros homens. De acordo com a teoria da evolução, mesmo pertencendo à mesma espécie que nós, os primeiros homens não eram ainda tão “inteligentes” quanto nós. A evolução continua e os “homens” do futuro serão diferentes de nós como nós somos diferentes dos homens de Cro-Magnon. E, dado tempo suficiente, uns 200 ou 500 mil anos, outras espécies de homens mais evoluídos poderão ainda surgir.

    Ora, tudo isso é incompatível com o Catolicismo. Perceba que, de acordo com o catolicismo, há até uma involução de Adão para nós. Adão era homem perfeito. Nós, seus descendentes, fomos afetados drasticamente pela Queda e somos menos perfeitos. Com a teoria da evolução, dá-se exatamente o contrário, sendo os homens atuais “mais perfeitos”, isto é, mais racionais, que os homens de Neaderthal, Cro-Magnon etc.

  12. Sei bem que existem teorias que visam compatibilizar alguma forma de evolução biológica com o Cristianismo. É o caso do chamado “Desenho Inteligente”, da “Evolução Teísta”, e talvez de alguma outra mais. Não tenho nada contra essas teorias e faço votos para que progridam.

    Mas nenhuma delas é aceita pela comunidade científica internacional como objeto válido de consideração. Nenhuma delas é ensinada ordinariamente em escolas e muito menos em universidades.

    Penso que quem acredita no Desenho Inteligente ou na Evolução Teísta deveria dizê-lo claramente. É mais efetivo que dizer que acredita na compatibilidade entre a teoria da evolução e a fé Cristã.

  13. JB,

    “Como já disse, e o artigo confirma, aquilo que normalmente se entende por “teoria da evolução” é incompatível com o catolicismo, entre outros motivos, por pressupor o poligenismo.”

    Não, o artigo não diz que a teoria da evolução pressupõe o poligenismo. Apenas que tal acepção é a mais comum entre os cientistas. Veja:

    ‘Tanto é assim, que muitos renomados poligenistas, entre os quais o próprio Ayala, admitem a possibilidade de um cenário diferente: “Teoricamente é possível que uma espécie descenda de uma só fêmea gestante” (La Vanguardia, 7-V-2001). O fato é que a Biologia atual considera possível a história de Adão e Eva (“o mito”, como se costuma dizer nos círculos poligenistas), isto é, a do casal que funda uma espécie. Isso na verdade já foi demonstrado em outras espécies.’

    ou

    ‘Do ponto de vista científico, não se pode negar a priori – e nem tampouco afirmar – que toda a humanidade descenda de um único casal, e que posteriormente (há 150.000 ou 200.000 anos atrás) já houvesse em solo africano vários milhares de descendentes (“Evas mitocondriais”) desse primeiro casal.’

    ——————————————————————————————-

    “Se há sempre uma explicação natural, Deus se torna cada vez menos presente no mundo. Deus vira um relojoeiro que deu mola em sua criação e depois ausenta-se. ”

    Que eu saiba, a fé nos exige aceitar a criação do Universo por Deus a partir do nada, a criação do homem diretamente por Deus , a revelação do AT e na Encarnação de Jesus Cristo. Além, é lógico, na participatio do ser criado no Ser de Deus. Não exige que creiamos na criação direta de Deus ( sem mediação de causas segundas) para cada espécie de mamíferos, aves ou répteis que já passaram pela Terra.

  14. “Creio que o maior problema esteja no gradualismo.

    De acordo com a tradição católica, Adão foi criado num instante e no mesmo instante foi estabelecido um intransponível abismo ontológico entre ele, e apenas ele, e os demais animais criados.”

    Não vejo como esse gradualismo se contrapõe à criação de Adão! O que a fé nos exige é que a alma racional foi infundida diretamente por Deus na matéria pré-existente (se no barro do Éden ou num animal qualquer é irrelevante). Não vejo nenhum problema admitir que a matéria ‘viva’ foi evoluindo até que atingisse um ‘estágio’ que tivesse adequadamente disposta para a recepção\\infusão da alma intelectiva, essa sim criada diretamente por Deus.

    “Veja que a evolução não parou no surgimento dos primeiros homens. De acordo com a teoria da evolução, mesmo pertencendo à mesma espécie que nós, os primeiros homens não eram ainda tão “inteligentes” quanto nós.”

    Veja, se aceito a definição de Boécio (adotada por Tomás) para pessoa, na qual o homem está inserido [SUBSTÂNCIA INDIVIDUAL DE NATUREZA RACIONAL e, no caso do homem, CORPÓREA], forçosamente tenho de admitir que toda e qualquer ‘evolução’ (mudança, seja de que tipo for, inclusive cerebral) que a ciência possa demonstrar na espécie humana é meramente acidental! Mesmo que se demonstre que a nossa massa encefálica está aumentado ou que tenhamos adquirido mais capacidade de retenção de conhecimentos, etc, ainda assim seria tão somente acidental e não contraria a nossa natureza\essência que é onde residem as afirmações da fé.

    E.T.: também não me parece nada científico a teoria do Design Inteligente

  15. > Não vejo como esse gradualismo se contrapõe à criação de Adão!

    Você parece acreditar que os hominídeos pré-humanos poderiam ir evoluindo, isto é, ficando mais eretos, menos musculosos, menos peludos, mais habilidosos, usando ferramentas, cozinhando alimentos, em suma, ficando progressivamente mais humanos, até que um dia Deus infundiria a alma racional num filhote de talvez Homo erectus que passaria então a ser um Homo sapiens.

    Isso é chamado de evolução teísta. Contraria frontalmente a teoria da evolução pois implica num propósito na evolução dos hominídeos e, como você sabe, a teoria da evolução afirma que as mudanças ocorridas são aleatórias.

    E isso sem falar na escala temporal. Afirmar que Adão e Eva são personagens históricos mas que viveram a 200 mil anos atrás é, como diria São Tomás, lançar a fé ao escárnio dos ímpios. É preferível interpretar Adão e Eva de modo simbólico.

    > forçosamente tenho de admitir que toda e qualquer ‘evolução’ (mudança, seja de que tipo for, >inclusive cerebral) que a ciência possa demonstrar na espécie humana é meramente acidental!

    Mas isso vale em ambas as direções! Se a diferença intelectual detectada pela ciência entre “Adão” e nós é meramente acidental, a diferença intelectual detectada entre “Adão” e os pré-humanos que o antecederam também o será, visto que não saltos na evolução, apenas graduação.

    Você parece considerar que a infusão da alma não tem consequências práticas observáveis, sem mudanças físicas e nem comportamentais. Você parece reduzir a infusão da alma intelectiva a uma proposição teológica inverificável objetivamente.

    Mas é pelos acidentes que se conhece a essência. Se a alma racional não implicasse em alterações nos acidentes, esses sim observáveis, seria impossível separar um animal racional de um irracional.

    >E.T.: também não me parece nada científico a teoria do Design Inteligente

    Mas o nascimento e a ressurreição de Cristo também não têm suporte científico e nem por isso deixamos de crer neles. Por que não simplesmente aceitar que a criação do homem por Deus é inexplicável cientificamente?

  16. JB

    “Você parece acreditar que os hominídeos pré-humanos poderiam ir evoluindo, isto é, ficando mais eretos, menos musculosos, menos peludos, mais habilidosos, usando ferramentas, cozinhando alimentos, em suma, ficando progressivamente mais humanos,”

    Não, não é isso que eu acredito. É evidente que há um salto ontológico no ser pré e pós infusão da alma. Antes havia um animal irracional e exclusivamente movido por instintos e, imediatamente após a infusão, um ser racional e livre. Nos dizeres ratzingerianos, um ser relacional, capaz de se relacionar com o Outro. E isso não é fruto de uma mutação material, mas de uma ação divina (infusão da alma racional).

    “Afirmar que Adão e Eva são personagens históricos mas que viveram a 200 mil anos atrás é, como diria São Tomás, lançar a fé ao escárnio dos ímpios. É preferível interpretar Adão e Eva de modo simbólico.”

    Entendo que ‘entregar a fé ao escárnio dos ímpios’ é negar as evidências empíricas. Seria insistir no geocentrismo e negar a interpretação das Escrituras de acordo com seus estilos e propósitos.

    “Você parece considerar que a infusão da alma não tem consequências práticas observáveis, sem mudanças físicas e nem comportamentais.”

    Comportamentais, obviamente que sim! Físicas não necessariamente.

  17. Lampedusa,

    >É evidente que há um salto ontológico no ser pré e pós infusão da alma.

    Se há um salto ontológico, então as mudanças graduais, tanto físicas quanto psíquicas, postuladas pela teoria da evolução não se aplicam ao homem.

    >Nos dizeres ratzingerianos, um ser relacional, capaz de se relacionar com o Outro.

    Mas não é só isso. A infusão da alma racional possibilita a linguagem, o fabrico de ferramentas, o uso do fogo, da arte, o enterro dos mortos e tudo o mais que nos faz distintamente humano e que é objetivamente observável.

    >Entendo que ‘entregar a fé ao escárnio dos ímpios’ é negar as evidências empíricas.

    Quais evidências empíricas? A que é impossível uma virgem conceber? A que é impossível os mortos voltarem à vida? A de que é impossível criar uma mulher a partir de uma costela (de homem ainda por cima)?

    Se a criação do homem é um evento sobrenatural, a teoria da evolução, por mais válida que seja para plantas e animais irracionais, simplesmente não se aplica ao homem. O escárnio dos infiéis nasce de nossas tentativas patéticas de buscar respaldo científico para fatos que estão, e estarão até o fim dos dias, envolvidos em mistério. É como procurar evidências sedimentológicas para o Dilúvio ou indícios de uma ataque nuclear nas margens do Mar Morto (onde ficavam Sodoma e Gomorra).

    >Comportamentais, obviamente que sim! Físicas não necessariamente.

    Isso evidentemente vai contra tudo o que se sabe sobre biologia e evolução já que comportamento e aparência física estão intimamente associados. E nem preciso dizer que um Adão peludo, prognato, de andar curvado, comunicando-se por grunhidos é completamente contrário à tradição católica.

    Parece-me que, no esforço de conciliar a teoria da evolução com o catolicismo, você acabou por afastar-se de ambos.

  18. “Sou catequista, mas nunca engoli a história da criação do Mundo e do homem… mas finalmente o Papa se pronunciou”…
    Não há necessidade de engolir; Jesus nunca, jamais impôs sua doutrina a ninguém, apenas convidou os que se interessassem!
    Pareceria que você seria catequista de uma dessas seitas relativistas protestantes modelos das esquinas, sem magisterio definido, onde o “catequista” catequiza – com redundancia – à moda da casa!.
    Até que enfim apareceu um papa – os outros ensinariam o erro ou ocultariam a verdade e esse enfim, como um deus, revelou a realidade! Kibon.
    Sabe com que v está se parecendo? Com D Charles Scicluna bispo de Malta, que disse: “Quem quiser o que Jesus der d’Ele, deve pedir ao papa Francisco, não ao que esteve antes dele ou a algum dos que vieram antes daquele, senão a esse papa atual”.

  19. errata no último trecho: “Quem quiser descobrir o que Jesus quer d’Ele…

  20. JB

    “Se há um salto ontológico, então as mudanças graduais, tanto físicas quanto psíquicas, postuladas pela teoria da evolução não se aplicam ao homem.”

    Não, evidente que não! O salto ontológico é a infusão da alma. Nada tem a ver com a matéria! E a teoria da evolução nada tem a dizer sobre isso.

    “Quais evidências empíricas? A que é impossível uma virgem conceber? A que é impossível os mortos voltarem à vida? A de que é impossível criar uma mulher a partir de uma costela (de homem ainda por cima)?”

    Nada disso é impossível. Porém, trata-se de verificar o que de fato ocorreu no plano material. A Terra ser o centro do Universo e o Sol girar em torno dela também não é impossível para Deus. Também não é impossível para Deus ter criado o mundo em 144 horas. O que é patético é adotar a postura de avestruz diante das conclusões ou hipóteses científicas e não verificar e estudar sua compatibilização ou não com a Revelação. Não foi assim nunca a postura da Igreja e dos cristãos ao longo dos séculos!

    “E nem preciso dizer que um Adão peludo, prognato, de andar curvado, comunicando-se por grunhidos é completamente contrário à tradição católica.”

    Se você estiver se referindo à tradição da arte católica, sim, concordo!

    “Parece-me que, no esforço de conciliar a teoria da evolução com o catolicismo, você acabou por afastar-se de ambos.”

    Vamos, por favor, nos ater aos argumentos e não apelar para o ‘ad hominem’, caríssimo!

  21. Percebi, agora, que uma mensagem que havia enviado antes ficou retida . Reenvio-a, em parte, agora.

    JB,

    “Como já disse, e o artigo confirma, aquilo que normalmente se entende por “teoria da evolução” é incompatível com o catolicismo, entre outros motivos, por pressupor o poligenismo.”

    Não, o artigo não diz que a teoria da evolução pressupõe o poligenismo. Apenas que tal acepção é a mais comum entre os cientistas. Veja esses trechos do artigo:

    ‘Tanto é assim, que muitos renomados poligenistas, entre os quais o próprio Ayala, admitem a possibilidade de um cenário diferente: “Teoricamente é possível que uma espécie descenda de uma só fêmea gestante” (La Vanguardia, 7-V-2001). O fato é que a Biologia atual considera possível a história de Adão e Eva (“o mito”, como se costuma dizer nos círculos poligenistas), isto é, a do casal que funda uma espécie. Isso na verdade já foi demonstrado em outras espécies.’

    ou

    ‘Do ponto de vista científico, não se pode negar a priori – e nem tampouco afirmar – que toda a humanidade descenda de um único casal, e que posteriormente (há 150.000 ou 200.000 anos atrás) já houvesse em solo africano vários milhares de descendentes (“Evas mitocondriais”) desse primeiro casal.’

  22. >Não, evidente que não! O salto ontológico é a infusão da alma. Nada tem a ver com a matéria! E >a teoria da evolução nada tem a dizer sobre isso.

    Meu caro, O que você propõe é que a infusão da alma humana não gerou nenhuma mudança externamente detectável no ser que a recebeu. Como eu já disse antes, você reduziu a infusão da alma a uma proposição teológica sem consequências externamente verificáveis, o que é, na minha opinião, um erro.

    Um animal irracional que recebesse uma alma racional passaria a comportar-se de maneira humana, isto é, a comunicar-se, a usar ferramentas, a cozinhar seus alimentos, a cobrir sua nudez, a realizar obras de arte etc. pois esses são atos próprios de um animal racional.

    Ora, tais ferramentas, tais vestuários, tais obras de arte estão parcialmente preservados em sedimentos e cavernas. Eles são objeto de estudo dos paleontólogos e é com base neles que se propõe uma evolução gradual do intelecto humano, o que contraria a doutrina católica.

    >Nada disso é impossível.

    Aquelas são claramente impossibilidades naturais para as quais não há explicação científica.

    >Porém, trata-se de verificar o que de fato ocorreu no plano material.

    E como nós temos certeza de que Cristo realmente ressuscitou e subiu aos céus? Ou a ressurreição e ascensão de Nosso Senhor não se deram no plano material?

    >Se você estiver se referindo à tradição da arte católica, sim, concordo!

    Acho que você não está lendo meus argumentos.

    Entenda que, para a Tradição Católica, Adão era intelectualmente superior a nós. Volto a dizer, a Tradição Católica, não apenas a arte, vê Adão como homem perfeito, tanto que Cristo é chamado de “segundo Adão” por São Paulo. Não é por acaso que Cristo foi crucificado no local onde, segundo a tradição, Adão foi enterrado (e por isso se chama Gólgota ou Calvário). Não vejo como considerar um ser hirsuto, prognato, semi-ereto, que expressava-se por grunhidos como um homem perfeito.

    >Vamos, por favor, nos ater aos argumentos e não apelar para o ‘ad hominem’, caríssimo!

    Não quis ofendê-lo e espero não tê-lo feito. E nem estou dizendo que sua hipótese seja absurda ou implausível. Acho até que é uma boa hipótese. Mas o fato permanece: a hipótese híbrida que você defende não está de acordo nem com a teoria da evolução nem com a ortodoxia católica.

  23. Lampedusa,

    A teoria da evolução é incompatível com o monogenismo pelo simples fato de que a teoria da evolução lida com populações e não com indivíduos. E, evidentemente, nem tudo o que é observado na natureza está de acordo com a teoria da evolução. Ela é uma teoria com um altíssimo poder explicativo, mas mesmo seus defensores concordam que ela não explica absolutamente tudo.

    Mas vamos às citações.

    Francisco Ayala, que é um cientista renomado (e ex-frade dominicano) disse que “Teoricamente é possível que uma espécie descenda de uma só fêmea gestante”. Veja que ele fala numa suposição e nem sequer específica que se trata de mulheres, da espécie humana. No próprio artigo, Ayala também diz que “as mulheres das quais supostamente descendemos eram em número não inferior a mil e nem superior a cinco mil”.

    A frase seguinte (“O fato é que a Biologia atual considera possível a história de Adão e Eva”) não é do Ayala. É do autor do artigo, Octavio Rico. A outra frase que você cita (“‘Do ponto de vista científico, não se pode negar a priori – e nem tampouco afirmar – que toda a humanidade descenda de um único casal”) também é do autor Octavio Rico.

    Esse artigo foi originalmente escrito em 2001 e só traduzido pela Quadrante em 2016. Suas afirmações são francamente exageradas. Estou para ver um livro de biologia ou artigo publicado na Nature dizer o mesmo e olhe que já se passaram bons 16 anos.

    Em 2010, o Prof. Octavio Rico deu uma palestra na qual parece ter dito:

    “El neodarwinismo, que es la teoría más aceptada en la actualidad, no es la explicación global y definitiva de la evolución. Hay otras explicaciones, aunque igualmente incompletas.”

    http://www.valldaura.org/index.php/pares/activitats-formatives/146-qcreacion-y-evolucionq-octavio-rico-en-vent-de-mestral?showall=&start=4

  24. Caro JB,

    Mais tarde tento trazer alguns outros textos que moldaram minhas convicções acerca desse tema. Por ora, deixo o último parágrafo do capítulo sobre evolução no livro “Dogma e Anúncio”, de J. Ratzinger, em que afirma (inclusive com luzes sobre seu questionamento acerca do aspecto ou aptidões do ‘homem perfeito’ ) :

    “A partir daqui, poder-se-á estabelecer uma verdadeira diagnose sobre o modo da humanização: A ARGILA SE TORNOU HOMEM NO MOMENTO EM QUE UM SER, PELA PRIMEIRA VEZ, EMBORA DO MODO MAIS IMPERFEITO, PODE FORMAR O PENSAMENTO DE DEUS. O PRIMEIRO TU QUE – POR MAIS BALBUCIANTE QUE TENHA SIDO – FOI DITO A DEUS POR BOCA HUMANA DESIGNA O MOMENTO NO QUAL O ESPÍRITO SURGIU NO MUNDO. Assim foi transposto o Rubicão da humanização, pois não é o uso de armas ou do fogo, nem novos métodos de crueldade ou de aproveitamento das coisas que constituem o homem, mas sim sua capacidade de se relacionar imediatamente com Deus. É isso o que diz a doutrina da criação especial do homem; nisso é que está o centro da fé na criação como tal. Nisso também está a razão por que o momento da humanização absolutamente não pode ser fixado pela paleontologia: A HUMANIZAÇÃO É O SURGIMENTO DO ESPÍRITO, que não se pode cavar com a pá. A teoria da evolução não elimina a fé; tampouco a confirma. Mas ela a provoca a que entenda mais profundamente a si mesma, ajudando assim ao homem a entender-se a si mesmo e a tornar-se mais e mais aquilo que é: O SER QUE DEVE DIZER ETERNAMENTE TU A DEUS. ”

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    É interessante também essa citação num brevíssimo texto do biólogo Kenneth Miller, da Univ. Georgetow, que diz:

    “Consider these words from George Gaylord Simpson, widely recognized as one of the principal architects of the neo-Darwinian synthesis: “The process [of evolution] is wholly natural in its operation. This natural process achieves the aspect of purpose without the intervention of a purposer; and it has produced a vast plan without the concurrent action of a planner. It may be that the initiation of the process and the physical laws under which it functions had a purpose and that this mechanistic way of achieving a plan is the instrument of a Planner – of this still deeper problem the scientist, as scientist, cannot speak.”

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    Por fim, esse documento da Comissão Teológica Internacional, da Santa Sé, principalmente nos pontos 67 a 70, é bastante esclarecedor.

    http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/cti_documents/rc_con_cfaith_doc_20040723_communion-stewardship_po.html

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    Há um outro, do cardeal Avery Dulles, que tem tradução de um leitor do Deus lo Vult ( Zabot), que também é extremamente interessante.

  25. Como já disse, a animação foi reduzida a uma proposição teológica, inverificável por um observador externo. Adão, o mais perfeito dos homens, segundo apenas a Cristo, transformou-se num Homo erectus peludo, de caninos grandes e afiados, que apenas balbuciava. Eva, em vez de ter sido miraculosamente formada da costela de Adão, era apenas mais outra primata peluda.

    Pode ser assim que Bento XVI, como doutor privado, e você pensam. Ótimo. Mas isso continua não estando de acordo com a Tradição Católica. É só ler alguns dos artigos das questões 91 a 94 da parte I da Summa de São Tomás.

  26. Excelente artigo. Muito bom. Alguns trechos merecem destaque especial.

    “A maioria da comunidade científica parece ser ferozmente oposta à qualquer teoria que poderia trazer Deus ativamente para dentro do processo da evolução (…). Cristãos darwinistas correm o risco de conceder demais aos seus colegas ateus. Eles podem estar excessivamente inclinados em garantir que todo o processo de surgimento aconteça sem envolvimento de qualquer entidade superior. Teólogos devem perguntar se é aceitável banir Deus de Sua criação desta maneira.”

    Embora não exclua a evolução teísta nem o design inteligente, o Cardeal Dulles afirma ser pessoalmente inclinado à seguinte posição:

    “De acordo com a visão teleológica, o impulso da evolução e seu avanço em graus maiores de ser dependem da presença dinâmica de Deus na sua criação. Muitos adeptos desta escola diriam que a transição da existência físico-química para vida biológica, e as demais transições para vida animal e humana, requer uma dose adicional da energia criativa divina.”

    O Cardeal Dulles escreve ainda:

    “Apesar de poder ser difícil para o cientista detectar o ponto no qual o corpo em evolução passa de antropóide para humano, seria absurdo para um animal bruto – digamos, um chimpanzé – possuir um corpo perfeitamente idêntico ao humano.”

    Supõe-se, portanto, que a animação deve ter implicado em algo mais que um simples balbucio.

    Em tom de aprovação, o Cardeal cita:

    “Phillip E. Johnson, um líder no movimento de Design Inteligente, acusou os cristãos darwinistas de cair em um deísmo atualizado, exilando Deus “para a área sombria anterior ao Big Big” onde ele “não deve fazer nada que possa causar problemas entre teístas e naturalistas científicos”.”

  27. Lampedusa,

    Esse outro artigo é muito bom também, bem escrito e bem informativo. Agradeço-lhe. Sim, todo o artigo é bom, especialmente a parte 3.

    Contudo, o artigo é bastante problemático do ponto de vista católico pois, entre outros, flerta com o poligenismo e parece dar apoio à hipótese de que Homo habilis, Homo erectus e Homo sapiens são uma única espécie, o que colocaria a origem do homem em 2 milhões de anos atrás.

    Esse artigo parece encaixar-se exatamente na advertência do Cardeal Dulles:

    “excessivamente inclinados em garantir que todo o processo de surgimento aconteça sem envolvimento de qualquer entidade superior.”

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