Madre Joanna Angélica de Jesus, Mártir da Fé

Esta é uma das histórias que eu ouvi em Salvador. Madre Joana Angélica, morta ao tentar impedir que soldados profanassem o Convento da Lapa. Até o momento, considerada heroína da Independência; mas é também, e principalmente, mártir da Fé.

“Só passareis por cima do meu cadáver!”, disse aos soldados que tentavam invadir o convento, abrindo os braços e colocando-se defronte à porta. Foi então violentamente atacada a golpes de baioneta. Conforme nos contaram no convento, ainda conseguiu arrastar-se até a Capela e morreu diante do Santíssimo. As irmãs que estavam no convento conseguiram fugir pelos fundos. Soror Angélica de Jesus entregara a própria vida, mas protegera as suas religiosas. E todo mártir da Fé merece a honra dos altares.

As fotos abaixo foram tiradas por mim mesmo, quando visitei o Convento da Lapa. As reportagens transcritas a seguir foram publicadas no “Jornal do Clube Excelsior”, ano 13, nº 140, edição de fevereiro de 2011, às páginas 6 e 7. O jornal foi-me gentilmente cedido pela secretaria do convento, a quem agradeço.

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JOANA ANGÉLICA, HEROÍNA OU MÁRTIR?

Por Zélia Vianna

De modo geral, os títulos de herói e de mártir são aplicados de maneira indiscriminada como se o significado fosse o mesmo. A palavra herói vem do latim “heros” e aponta para uma pessoa de coragem e determinação, dotada de ideais e sentimentos nobres como fraternidade, solidariedade e justiça. Para os gregos, que cultivavam os feitos épicos de seus heróis, como Ulisses e Aquiles, por exemplo, o herói era um semideus, isto é, alguém que ocupava uma posição entre o humano e o divino. A palavra martírio vem do grego e significa “testemunha”.

O Dicionário Aurélio estabelece uma diferença entre as duas palavras. Herói é o “homem extraordinário por seus feitos guerreiros, seu valor e sua magnanimidade”, e mártir é a pessoa que “sofreu tormentos, torturas ou a morte por sustentar a fé cristã”. Logo, embora haja valores coincidentes, não pode[m] ser enquadrado numa mesma definição aquele que, movido por ideais sociais, políticos e patrióticos, morre defendendo a autonomia e a liberdade de um segmento da população ou de seu país, e aquele que morre porque não aceita abrir mão de suas convicções religiosas.

Herói é o protagonista de um episódio dramático, alguém que, quando movido por um ideal, é capaz de transcender a sua condição humana e atingir um alto grau de coragem, força de vontade e determinação. Mártir é alguém que, através de palavras e ações, testemunha com sua vida aquilo que é e aquilo em que crê. Para a fé cristã, mártir é alguém que prefere morrer a renunciar à sua fé, que entrega a própria vida em defesa da verdade [em] que acredita e que deseja preservar.

Segundo os teólogos, três são as condições para que haja martírio:

[1.] Que se sofra verdadeiramente a morte corporal – Logo, aqueles que sofreram tormentos por amor a Deus e foram perseguidos por causa do Evangelho, mas não até à morte, não são considerados mártires no sentido exato da palavra [estes, são chamados confessores – J.F.].

[2.] Que a morte seja infligida por ódio à verdade cristã – A Igreja considera que houve martírio quando a morte tem como causa a profissão de fé no Deus de Jesus Cristo. Não é necessário, porém, que o perseguidor expresse o seu ódio. Basta que este seja seu verdadeiro motivo, mesmo que ele declare um outro, como fez Nero que, para matar os cristãos, acusou-os de haver incendiado a cidade de Roma. Para a Igreja, martírio não é apenas a morte em conseqüência da explícita profissão de Fé, mas também a morte advinda da prática dessas virtudes. Como exemplo lembramos São João Nepomuceno, que teve os ossos desconjuntados e os membros dilacerados por não ceder às pressões de Venceslau, rei da Boêmia, que queria obrigá-lo a contar o que a rainha lhe dizia em confissão, e São João Fisher, que foi decapitado por ordem do rei da Inglaterra.

[3.] Que a morte seja aceita voluntariamente – A Igreja só considera martírio a morte em que a entrega voluntária da própria vida supera a vontade e o gesto de conservá-la.

À luz dessas reflexões, uma pergunta paira no ar: Joana Angélica é uma heroína da Pátria ou uma mártir da fé?

Sóror Joana Angélica era uma freira da Congregação das Irmãs Concepcionistas. Em 1822, quando o brigadeiro Luís Madeira de Melo veio para Salvador comandar a Província, ela era abadessa do Convento da Lapa. A vinda do brigadeiro português revoltou os soldados brasileiros e a cidade virou um campo de batalha. Certo dia, soldados e marinheiros portugueses, embriagados de álcool e de ódio, a título de perseguir supostos revoltosos, invadiram o Convento da Lapa. A fim de preservar a integridade das monjas, Sóror Joana Angélica ordenou que elas fugissem pelo quintal. Os soldados enfurecidos derrubaram o portão de ferro e Joana Angélica colocou-se entre eles e o segundo portão que dá acesso à clausura onde o Santíssimo Sacramento está exposto. Na tentativa de impedir com seu corpo a entrada dos soldados, ela abriu os braços e exclamou: “Para trás, bandidos. Respeitem a casa de Deus. Recuai, só penetrareis nesta Casa por sobre o meu cadáver”. Foi então assassinada com golpes de baioneta e, ao pé do altar, esvaiu-se em sangue. Era o dia 20 de fevereiro de 1822.

Trinta anos separam as datas da morte de duas conhecidas figuras brasileiras: Tiradentes e Joana Angélica. Reverenciar Tiradentes como um herói da Pátria é motivo de orgulho e dever de todos os brasileiros. Mas, será que negar a Joana Angélica o título de mártir não é diminuir a grandeza da sua profissão de fé no Deus de Jesus Cristo?

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INAUGURAÇÃO DO MAUSOLÉU DE JOANA ANGÉLICA:
UM ACONTECIMENTO DE FÉ

No próximo dia 18 de fevereiro [18 de fevereiro p.p. – J.F.], às 18h, na Igreja da Lapa, será inaugurado o mausoléu onde estão depositados os restos mortais de Madre Joana Angélica de Jesus e suas irmãs da Ordem da Imaculada Conceição, sepultadas no Convento da Lapa entre 1744 e 1912. O ato será marcado por uma celebração Eucarística presidida por Dom Geraldo Majella Agnelo, seguida da bênção do mausoléu, com transmissão ao vivo pela Rádio Excelsior da Bahia.

A construção do mausoléu foi motivada pelo desejo expresso em vida ao Padre Aderbal Galvão pela Irmã Terezinha do Menino Jesus, Abadessa do Mosteiro da Lapa no período de 1972 a 2000 (alternado), com a finalidade de resgatar a verdade histórica sobre a morte de Joana Angélica e honrar a sua memória como mártir da fé.

Os fatos históricos comprovam que nenhum brasileiro envolvido nas lutas de resistência pela consolidação da Independência do Brasil encontrava-se no interior do Convento da Lapa, fato alegado pelas tropas portuguesas para justificar a invasão ao Convento no dia 20 de fevereiro de 1822.

Foi, portanto, não em defesa de patriotas brasileiros, mas em defesa das monjas a ela confiadas e do Santíssimo Sacramento exposto na Clausura, ou seja, em nome da fé cristã, que Joana Angélica abriu os braços e tentou impedir com o próprio corpo a entrada na Clausura de soldados portugueses. Com o martírio, seu sangue juntou-se ao de muitos brasileiros que, em diversos locais do território baiano, entregaram suas vidas pela liberdade da nossa terra

Por uma questão de justiça, Joana Angélica merece não somente o título de heroína que lhe é dado pela sociedade civil, mas também de mártir da fé, por entregar a própria vida em defesa da doutrina e dos valores cristãos.

O projeto do mausoléu, previamente aprovado por Dom Geraldo Majella e pela Abadessa do Mosteiro da Lapa, Madre Lindinalva de Maria, é da autoria do artista plástico Márcio Azevedo e foi construído na parte central do segundo salão da nave da Igreja da Lapa. Era nesse local, conhecido no passado como “coro de baixo”, onde eram sepultadas as monjas falecidas no Convento. No início do século XX os restos mortais das monjas foram removidos para a câmara existente sob a escada de acesso ao Coro, de onde foram recentemente trasladados para o mausoléu.

Toda Família Excelsior Vida está convidada para a solenidade. Venha, divulgue, traga seus amigos para este acontecimento de nossa fé.

Ó Pátria amada, idolatrada, salve, salve!

Nosso Brasil… triste Brasil! Triste Ilha de Vera Cruz, gigante colosso acorrentado qual Gulliver em Lilliput… o que frustra mais – diz uma velha frase de efeito – não é tanto o impossível, mas o possível não realizado. E, em contrapartida, o mais degradante não é o ataque certeiro bem-conduzido, e sim a punhalada pelas costas… nosso Brasil, traído, reduzido à insignificância, humilhado e escarnecido pelos seus inimigos! Quem poderia imaginar que esta Nação gigante poderia chegar a tão baixo…?

No vídeo acima, os militares entoam o Hino Nacional. E não titubeiam; rufam os canhões e explodem os obuses, permanecem intrépidos. No meio do bombardeio, no meio da tempestade. O povo brasileiro é um povo corajoso…? O que comemoramos no dia de hoje? Afinal, o que é independência – é meramente uma palavra que possa justificar a covardia institucionalizada? Independência é a possibilidade de se resfolegar na lama, humilhando-se e capitulando diante dos adversários? Afinal de contas, o hino nacional hoje tantas vezes entoado – “mas se ergues da justiça a clava forte / verás que um filho teu não foge à luta / nem teme, quem te adora a própria morte” – é letra morta? Uma mera formalidade, resquícios de um passado alheio ao nosso presente, no qual somos já incapazes de nos reconhecer?

Se o Hino Nacional fosse composto nos dias de hoje, poderíamos escrevê-lo sem corar de vergonha com a flagrante mentira? E, ainda – podemos cantá-lo hoje, sem que o rubor suba-nos à face? Algum dia, este hino já foi cantado com orgulho – vejam os soldados brasileiros em solo inimigo. O som dos bombardeios não foi capaz de abafar o brado das tropas brasileiras: ó Pátria amada, idolatrada, salve, salve! E que vergonha é essa que, hoje, o hino esteja completamente destituído do seu conteúdo, qual cadáver sem vida, qual porta de madeira imponente toda carcomida de cupins! Como poderemos olhar nos olhos do povo brasileiro que cumpriu a sua quota de heroísmo? Ser-nos-á possível fitá-los sem baixar os olhos de vergonha?

Povo brasileiro, povo católico! Se o amor à pátria é importante e inegociável, quão mais importante não é o amor à Religião, à Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo, à nossa Mãe? E que vergonha é esta que uma grande nação católica possa abrir mão de tudo e se entregar passivamente diante dos inimigos de Nosso Senhor? Como poderemos olhar para Cristo in die iudicii e dizer-Lhe que fomos tão pusilânimes? Que escondemos sob o alqueire a luz da Fé que Ele nos comunicou? Como olhar-Lhe nos olhos e dizer-Lhe que lançamos fora as nossas espadas e, covardemente, permitimos que toda sorte de desgraças crescessem exuberantes no campo que Ele nos deu por cuidado? Que os lobos dispersaram o rebanho, que o joio sufocou o trigo, que as pragas e as aves devastaram a plantação… volto à frase de efeito acima evocada. Acaso estamos falando de alguma tarefa impossível… ?

Acaso é impossível que uma Nação faça valer os seus anseios? Acaso é alguma coisa de extremamente difícil que um colosso sacuda o pó e levante-se com a força que tem por natureza (gigante pela própria natureza / és belo, és forte, impávido colosso / e o teu futuro espelha essa grandeza) para construir um futuro digno de si? Nação católica! Vergonha que vivamos como se não tivéssemos Fé. Vergonha que o Estado Brasileiro não guarde semelhança com o seu povo! Vergonha que o povo não se importe com a sua Pátria! Vergonha que esvaziemos de significado o Hino Nacional, e o entoemos hipocritamente, com a mesma negligência com a qual entregamos o Brasil aos seus inimigos! Vergonha, que pareça não haver aurora no horizonte, não haver luz no fim do túnel, não haver esperança à qual se aferrar.

Para os montes levanto os olhos: de onde me virá socorro? O meu socorro virá do Senhor, criador do céu e da terra (Sl 120, 1-2). Levantai-vos, brasileiros, recobrai o ânimo, católicos. O filho não foi criado para a lavagem dos porcos, a Terra de Santa Cruz não veio à existência para ser repasto de chacais. Neste 07 de setembro, dia da Pátria, rezemos pela Pátria Amada. A fim de que ela desperte. A fim de que ela possa, dos filhos deste solo, ser Mãe gentil. A fim de que possamos entoar de cabeça erguida o Hino Nacional. E o nosso Brasil amado faça valer a sua história, e a Santa Cruz que um dia nomeou esta terra possa ser levantada bem alto pelo nosso povo brasileiro. Nossa Senhora da Conceição Aparecida, padroeira do Brasil, rogai por nós!