“Hierarquia dentro do Matrimônio” – prof. Carlos Ramalhete

[Em complemento ao post anterior do Deus lo Vult!, permito-me reproduzir na íntegra um email enviado pelo Carlos Ramalhete à lista Tradição Católica no início do mês passado. Achei que ele já estava disponível em algum lugar da net e ia somente linká-lo ao final do post passado; procurando, no entanto, não o encontrei. O texto é bem longo, mas é precioso. Recomendo enfaticamente a sua leitura atenciosa.

Fiz questão de mantê-lo tal e qual foi enviado, com os exemplos pessoais que foram lá citados, por considerá-los muito úteis e extremamente didáticos. Apenas fiz ligeiras correções tipográficas.

Fonte: Tradição Católica e Contra-Revolução.]

Pax Christi!

>Não concebo, e outros comigo como já falarei, que no matrimónio um
>seja superior e outro inferior, como ocorre numa hierarquia.

Creio que esteja havendo um grave engano sobre o que signifique hierarquia.

Isto não é incomum, devido à perversão do termo pela modernidade, e que é provavelmente o que faz com que ele seja evitado, a não ser em algumas raras ocasiões em que há alguma analogia com as hierarquias modernas (por exemplo, ao tratar de hierarquia eclesiática, caso em que a confusão leva a coisas como a tentativa americana de responsabilizar o Papa por crimes cometidos por um padre, como se o padre fosse um subordinado hierárquico ***no sentido moderno*** do Papa).

Vamos então ver algumas das diferenças:

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Chefe da Família. Rainha do Lar.

Estão muito produtivas as discussões sobre o papel da mulher no Matrimônio católico, que foram motivadas por um meu comentário a um ponto do discurso do presidente Lula aqui em Recife. O assunto – a lista Tradição Católica que o diga… – tem uma impressionante capacidade de acirrar ânimos e melindrar susceptibilidades. Sobre ele, vale tecer alguns comentários.

Dentro do Matrimônio, a cada um dos cônjuges competem papéis distintos e complementares. Quer agrade, quer desagrade. Isto não é uma convenção social e nem uma construção histórica; isto está inscrito na própria natureza do consórcio matrimonial, da forma como foi querido e instituído por Deus. Portanto, esposo e esposa não são peças idênticas de uma máquina, perfeitamente intercambiáveis entre si sem nenhum prejuízo da harmonia do todo. Ele é esposo, ela é esposa. Ele é pai, ela é mãe. Ele é chefe da família, ela é rainha do lar.

Isto, no entanto, não pode ser entendido com a estreiteza intelectual das feministas. É óbvio que a mulher não está “proibida” de sair de casa, desde que isso não a faça descuidar do seu papel insubstituível de manter a ordem e a harmonia no lar da família. E é óbvio que a vocação a (vá lá, usemos corajosamente a palavra que tem uma carga tão pejorativa nos dias de hoje, explicando-a melhor adiante) dona de casa – vocação de toda mulher casada, diga-se de passagem – não tem nada de degradante, de simplória ou de digna de compaixão. Ao contrário: tem muito é de santidade e de heroísmo.

Não me lancem pedras, ainda. Ser dona de casa não tem nada a ver com ser inculta, ou com precisar passar a vida entre o fogão e o tanque de roupas, ou com tantas outras imagens ainda mais ofensivas que encontramos algures, mas que eu não vou reproduzir aqui. Uma mulher casada pode optar por ser médica ou executiva, por ser jornalista ou advogada, por ser professora ou pesquisadora. O que ela não pode é optar por ser dona de casa – i.e., por ser a responsável pela ordem doméstica -, porque isso não é opção, é precisamente o papel que lhe compete dentro do Matrimônio, e do qual ela não pode abdicar.

Vê-se muito extremismo sobre este assunto. Por exemplo, há quem ache um absurdo que a menina seja educada para os serviços domésticos porque precisa trabalhar para não ser “vagabunda”, e há quem diga que mulher não pode estudar porque tem é a obrigação de cuidar da casa. E vê-se muita da estreiteza intelectual sobre a qual falei acima. Sim, a menina precisa ser educada para ser dona de casa, e a mulher casada precisa sê-lo de fato. Sim, a menina (e a moça, e a mulher, solteira ou casada) pode(m) estudar, e a moça e a mulher (a casada inclusive) podem trabalhar. Quem vê contradição entre as duas coisas é porque não encarou ainda a realidade sem as lentes ideológicas infelizmente tão comuns nos dias de hoje.