Feliz espera!, por Claudemir Júnior

Publico, com um pouco de atraso, o bonito texto que o caríssimo Claudemir escreveu por ocasião do meu casamento, pelo qual já o agradeci particularmente mas faço questão de repetir, aqui em público, meu muito obrigado. Foi publicado, durante a minha viagem de Lua de Mel, pelo Wagner Moura, a quem também agradeço; li-o ainda em viagem e, desde já, pude tornar aqueles momentos mais agradáveis com a beleza das palavras dos amigos. Como não sei se todos o leram, fica aqui o registro. Nossos mais sinceros agradecimentos a todos.

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Feliz espera!

por Claudemir Júnior

Adriana atrasou. Aliás, noivas sempre atrasam e não é de hoje. Mas, desta vez, o fato corriqueiro me fez refletir um pouco. O Matrimônio, afinal, gira em torno da espera. E esperar, não raro, consiste em mantermo-nos firmes em nossos propósitos mesmo depois de passada a hora que havíamos estabelecido por nossa própria conta.

Tudo no tempo certo. Primeiro espera-se pelo Chamado, pela Vocatio – sem a qual ninguém deveria ousar embarcar nesta aventura, sob pena de colocar em sério risco a própria Salvação Eterna. É o Senhor quem chama e, sabemos todos, mais felizes seremos quanto mais nos assemelharmos àquilo de Ele quer que sejamos.

Em seguida, espera-se pelo outro, por aquele ao lado de quem se vai realizar a própria vocação. Uma vez que os dois se encontram – a si mesmos e um ao outro -, espera-se o momento certo de colocar em prática aquilo que o Altíssimo determinou. Chegada a data, espera-se a hora marcada. Chegada a hora, espera-se a noiva diante do Altar do Senhor.

Sacramentada a união, esperam-se os frutos do amor fértil; esperam-se as surpresas que a Providência reserva aos que resolveram embarcar na aventura do amor conjugal; esperam-se as forças do alto para suportar e, quiçá, superar os diversos obstáculos que surgirão pelo caminho; e espera-se, por fim, o termo ao qual conduz toda vocação bem vivida: a Bem-Aventurança Eterna, onde Nosso Senhor nos espera.

Eu esperei. Desta vez, não foram apenas os nubentes que esperaram ansiosos por este último sábado, 29 de setembro de 2012. Eu também esperei muito por este dia. O dia mais importante, até o presente momento, na vida dos meus amigos Adriana e Jorge, o dia da realização da vocação dos dois.

Esperei por este momento por ter tido, por graça de Deus, a honra de ter presenciado ao longo de muitos anos alguns dos grandes passos e transformações na vida deste meu grande amigo. Mas, faltava algo. Eu não conhecia ao certo a vocação de Jorge, mas, em oração, pedia à Virgem Santíssima que não o deixasse esperar por muito mais tempo por esta fundamental decisão.

E Ela não tardou em atender as minhas – e não só minhas, certamente – preces, pois, eis que, de forma inesperada, surge aquela que Deus escolheu para ser com Jorge uma só carne, aquela que o Altíssimo reservou dentre tantas outras para mudar de forma drástica a vida dele, aquela que o Senhor de nossas vidas escolheu para ser o auxílio e a companhia constante na conversão diária do meu amigo.

Adriana veio e mudou tudo. Aquele a quem, em brincadeiras, eu costumava alcunhar de “avocacionado” agora tinha uma vocação muito clara. Jorge estava resoluto desde o princípio, mas eu demorei a me dar conta de que, agora, realmente Nosso Senhor havia decretado no tempo aquilo que já havia decretado desde toda a eternidade: a salvação da alma do meu amigo deveria passar pelo doce e árduo caminho do Santo Matrimônio.

E, nos dizeres de Chesterton, “o casamento é um duelo mortal que nenhum homem honrado deve rejeitar”. E meu amigo é um homem honrado, e jamais declinaria um duelo mortal ao qual fora por Deus chamado!

Eu chorei. Emocionei-me neste casamento como jamais havia me emocionado em qualquer outro. Não que eu já não tenha honrosamente presenciado as núpcias de outros grandes amigos, mas, desta vez era diferente. Desta vez estava para acontecer diante do altar algo que muito esperei. Desta vez Jorge era o noivo! Quem esperava?! E um noivo sorridente. Brilho no olhar e a felicidade estampada em seu rosto, mormente quando avistou, de longe, a bela noiva adentrar a Igreja.

A espera acabou. Adriana, enfim, apareceu. Jorge sorriu com ainda mais vigor. Ela, emocionada, seguiu ao encontro de seu escolhido. Ambos, de braços dados, subiram ao altar d’Aquele que os havia convocado, o altar do Deus que é a Alegria a nossa juventude! Depositaram ali mesmo as suas vidas, entregando-as um ao outro. Deram o consentimento sacramental diante de Deus e dos homens.

Enfim, casados! Parabéns, amigos! Sejam santos! Que Jorge possa na vida de Adriana ser aquilo que Cristo é para a Igreja. Que ele saiba amá-la e conduzi-la à Glória Eterna, apresentando-a sem ruga nem mancha, mas santa e irrepreensível diante do Altíssimo (cf. Ef 5, 27).

Que Adriana possa retribuir amando-o e respeitando-o, cumprindo dignamente o seu papel de esposa e mãe, tal qual a Virgem Santíssima na Sagrada Família de Nazaré. Enfim, que “animados pela força do Evangelho sejam, entre todos, verdadeiras testemunhas de Cristo; sejam eles fecundos em filhos, pais de comprovada virtude, e possam ver os filhos de seus filhos; e que após uma vida longa e feliz, alcancem o reino do céu e o convívio dos santos” (cf. Benção Nupcial). Assim seja!

Batismo na Forma Extraordinária

Há quinze dias, foi publicado um texto no Salvem a Liturgia! que eu – mea culpa! – deixei passar batido. Vejam lá.

Trata-se de um Batismo na Forma Extraordinária do Rito Romano, ocorrido aqui em Recife em outubro do ano passado. A pequena filha de Deus é a Ana Catarina Castro de Melo Pacheco, filha de Pacheco e Poliana (sobre cujo casamento inclusive escrevi aqui à época). O texto é da autoria do José Claudemir, e as fotos foram tiradas lá.

Há inclusive uma preciosa descrição de alguns aspectos do Rito do Batismo na Forma Extraordinária, cuja leitura eu recomendo. E aproveito para reiterar os meus votos de que Deus abençoe esta família amiga.

O casamento do meu melhor amigo

Ontem (na verdade hoje, porque acabei de chegar da recepção), Pacheco e Poli uniram-se em Matrimônio, diante da Igreja de Deus. Com certeza, existem alguns dos meus leitores que não sabe quem são Pacheco e Poliana; não faz muita diferença. São amigos meus, que se casaram no sábado 08 de novembro, e basta; escrevo, porque estive na cerimônia, e chorei quando a noiva entrou na igreja.

Por que chorei? Oras, porque não era simplesmente “a noiva”. Era Poli. Era uma amiga minha, que estava casando, iniciando a grande aventura da formação de uma família, deixando o lar paterno para se aventurar no “mundo dos casados” junto com um amigo meu, desatracando o barco da própria vida e disposta sinceramente a fazê-lo navegar pelas águas mais profundas da resposta generosa à vocação matrimonial. Nunca me senti “tão próximo” assim de um casamento, porque nunca dois amigos meus tão próximos assim haviam tomado esta tão séria decisão de se unirem em Matrimônio.

Já fui a várias festas de quinze anos, nas quais – de acordo com as antigas tradições – a debutante era então apresentada à sociedade como sendo já adulta, capaz de seguir a própria vida e apta a arcar com as próprias responsabilidades. Hoje sei que não são lá muita coisa. Nada se compara a um casamento; ver a noiva entrando na igreja, dando os passos sem dúvidas mais importantes da vida dela – os passos que vão traçar definitivamente os caminhos que ela pode seguir de agora em diante – em direção ao noivo que a espera no altar… a cena, eu já havia visto mil vezes, mas nada se compara a colocar dois amigos seus nestes papéis genéricos de “o noivo” e “a noiva”. Já não são figuras distantes que repetem o mesmo ritual de séculos; são amigos seus que você conhece, recebendo-se mutuamente por esposo e esposa, e isso faz toda a diferença.

Quando eu era pequeno, eu não percebia o drama de um Matrimônio; ele sempre se me afigurou como sendo uma decisão madura, tomada por “pessoas grandes” que têm plena convicção daquilo que querem e podem facilmente realizar aquilo que se propõem a fazer. Hoje [talvez pela primeira vez na vida] eu vi as coisas sob uma nova ótica, porque foram dois amigos que se casaram. Eles não são “pessoas grandes”, são amigos da minha idade, sujeitos às mesmas dúvidas e limitações que eu, deslumbrados como eu com o futuro de uma vida que se descortina diante de seus olhos; poder-se-ia até dizer “começando a viver”. E decidindo começar a viver juntos.

É muito bonito ver duas pessoas decidirem começar a viver juntas. Antes, a imagem que eu tinha – até inconscientemente – de um casamento era a de pessoas que já sabiam o que era viver, em cujas vidas a única mudança seria “fazer as mesmas coisas” (que já faziam antes) em conjunto, ao invés de sozinhas. Hoje, eu vi que não tem nada a ver com isso e, ao contrário, o Matrimônio é uma grande aventura: não são pessoas que vão fazer “as mesmas coisas” de uma maneira somente acidentalmente nova, são pessoas que vão fazer todas as coisas de uma maneira nova. Não é simplesmente uma fase da vida adulta, é a fase da vida adulta (que, outra, eles não tiveram) decidida em comum acordo. Decidiram viver juntos a única vida que eles têm para viver! Talvez eu seja meio insensível mas, para mim, essas coisas só são perceptíveis quando nos tocam diretamente: quando são duas pessoas próximas a você que decidem se casar.

Uma decisão de uma vida, que não tem volta, tomada por jovens que vão começar a viver uma vida completamente diferente do que viviam até então: eis o que eu enxerguei nos passos de Poli adentrando a igreja, com rosto choroso. Ela era a noiva e não podia chorar muito; então chorava eu em quem, embora padrinho, ninguém prestava muita atenção. Passos chorosos, mas corajosos; tíbios e, ao mesmo tempo, decididos. Pacheco a esperava, sem dúvidas nervoso, mas também resoluto. Recebeu-a por legítima esposa, e ela a ele, e agora são uma só carne a quem Deus uniu.

A quem Deus uniu! O Senhor – e isso talvez seja uma das partes mais bonitas da história toda, que eu percebia entre uma lágrima e outra que teimava em descer – vem em auxílio daqueles que invocam o Seu Santo Nome com humildade. Deus é Aquele que “alegra a minha juventude” – que lhe dá forças e lhe faz viver melhor. Não posso deixar de ver a ação de Deus neste Matrimônio, e poderia sem dúvidas me arriscar a dizer que, não fosse ela, não haveria sequer Matrimônio. Os dois não casariam, se não fosse por terem ouvido o chamado do Altíssimo. Os dois não se entregariam mutuamente diante da Igreja, se não fosse a íntima convicção de estarem respondendo a uma vocação divina. São jovens, são inexperientes, têm dúvidas, têm medos, têm anseios, mas têm Deus – e Ele supera todo o resto.

Os passos que Poli dava em direção a Pacheco, eram também em direção ao Altar – em direção a Deus. O Matrimônio é uma vocação, e a decisão do casamento é também – e principalmente – uma decisão de se fazer a vontade de Deus. Mesmo que se seja jovem; mesmo que não se tenha lá muita certeza de como serão resolvidos todos os pormenores da vida conjugal. Deus chama, e importa ir em direção a Ele.

Estão casados! Parabéns, Pacheco e Poli! Que o Espírito Santo esteja sempre presente nesta família. Que o Deus Onipotente possa cuidar de vós, e que São José seja exemplo para o marido, e a Virgem Maria seja exemplo para a esposa, e que esta nova família que hoje se iniciou possa em tudo imitar Aquela Família de Nazaré. E que, aproveitando todas as graças que terão na vida matrimonial, possam ambos os meus amigos crescerem em santidade a cada dia, a fim de chegarem – juntos, permita-o Deus! – à Bem-Aventurança Eterna um dia, por terem vivido bem esta vida que, hoje, diante da Igreja e na presença dos amigos, começaram a viver.