“A lógica da decadência” – D. Nuno Brás

[Recebi de um leitor do além-mar este artigo – publicado no semanário do Patriarcado de Lisboa – escrito por S.E.R. Dom Nuno Brás, bispo auxiliar de Lisboa. Lê-lo foi um alento; foi como se eu me deparasse de novo com aquela promessa da Virgem Santíssima em Fátima, dizendo que em Portugal sempre se conservaria o dogma da Fé. Corajoso artigo, que reproduzo integralmente, pedindo à Virgem SSma. que possa velar pelo ministério de Dom Nuno Brás; e que Ela faça também com que o Senhor da messe mande mais servos – bons e fiéis servos, como precisamos! – para cuidar da Sua grei.]

A lógica da decadência

Não gosto de ser “profeta da desgraça” mas, infelizmente, creio que nem é preciso ser profeta. Basta, simplesmente, darmo-nos conta da realidade. No mundo ocidental, vivemos numa clara “lógica da decadência”. Em todos os âmbitos e de há vários anos a esta parte.

Na economia, a “ciência das ciências” sem a qual parece que ninguém pode sobreviver, o que importa são os números, as estatísticas, e particularmente o crescimento da riqueza. De tempos-a-tempos vem uma crise, uns quantos declaram falência, outros passam por momentos mais difíceis, mas como, depois, o mecanismo se reajusta por si mesmo, tudo parece acabar bem, como num qualquer romance cor-de-rosa. Só nos esquecemos dos dramas humanos que, entretanto, foram vividos, e daqueles outros criados pela nova situação.

Na vida social, impôs-se o “politicamente correcto” ditado pelos telejornais e respectivos comentadores. Basta que cada um viva de acordo com os padrões estéticos (muito mais importantes hoje que os valores éticos), tenha dinheiro suficiente, gaste bastante em roupa e produtos tecnológicos, e possa viver como egoisticamente lhe apetece. Deixámos de ser uma sociedade, para sermos um conjunto de indivíduos que vivem ao lado uns dos outros, na esperança que ninguém retire ao outro o sossego que lhe é devido. E o direito passou a tutelar esse modo de viver. A família deixou de ter qualquer valor. Tanto dá que possa ou não ser o berço da vida. A lei só tem que defender o egoísta e aquilo que lhe apetece no momento.

Aliás, há muito que a vida humana deixou, efectivamente, de contar. Somos capazes de defender com tenacidade a vida das baleias, dos golfinhos e das plantas raras ou em vias de extinção; mas só em Portugal o Estado patrocinou cerca de 80.000 abortos (80.000 portugueses que foram mortos com a cobertura da lei e das instituições, sem terem cometido qualquer crime), mesmo que, depois, se mostre preocupado com a crescente diminuição da população portuguesa. Não tardará a que surjam opiniões nacionais a defender, como aconteceu numa recente revista britânica, que é perfeitamente legítimo matar recém-nascidos que não se integrem nos padrões decididos pela sociedade.

A própria fé não raras vezes é olhada como sendo demasiado exigente. Por isso, cada um faz os “descontos” que lhe apraz – cada crente (infelizmente, mesmo alguns sacerdotes) acha que a deve viver de uma forma mais suave (leia-se: menos exigente), até para que não o chamem de “fundamentalista” (pecado mortal numa sociedade em decadência e onde tudo vale), e as suas incapacidades, pecados e falta de coragem se vejam pretensamente justificados aos olhos de Deus.

E poderíamos continuar… Mas recuso-me a ser profeta da desgraça. Até porque é neste mundo, que se encaminha a passos largos para a decadência, que Deus nos enviou a proclamar com ousadia a Boa Nova do Evangelho. E essa propõe a todos uma vida nova, “radicalmente nova” – ou seja, nova de raiz, não a partir do homem mas de Deus. Ou melhor, a partir de Jesus de Nazaré.

D. Nuno Brás

Ecoterrorismo; aborto no corpo docente da PUC-SP

São dois assuntos distintos.

1. “A Frente de Libertação da Terra (FLT), assumiu um ataque incendiário contra oito veículos Land Rover de uma concessionária que comercializa o modelo em São Paulo”. Os sujeitos são ecologistas que, por algum motivo absurdo, acham que queimar carros é uma boa maneira de salvar o planeta. Segundo o comunicado por eles emitido (mesmo link acima):

O alvo foi escolhido pelo simples fato da Land Rover ser uma das marcas líderes na construção, venda e incentivo à compra e utilização de SUV’s. Automóveis altamente poluentes e danosos ao meio-ambiente.

A efetivação do ato se deu através de coquetéis molotovs lançados em direção aos carros, uma maneira simples, barata e eficiente de destruição. O gasto com o material foi de 10 reais, aproximadamente.

Nós não ficaremos parados assistindo a destruição do planeta e suas espécies de braços cruzados. Da mesma maneira que esses carros queimaram, outros carros, casas, caminhões e estabelecimentos que/de quem danificam e exploram a terra e os animais, também queimarão.

Já está mais do que na hora dos pilares de nossa civilização virem abaixo. Esta ação foi feita em nome de todos que foram presos em nome da libertação total.

Nós estamos com vocês!

Interessante notar que o “politicamente correto” está mostrando as suas garras e deixando cair a máscara que escondia a intolerância e o fanatismo. Cabe perguntar: quem são os fanáticos intolerantes mesmo?

2. “Aborto: “carnificina”, desigualdade e as eleições”. O texto é da pena do senhor “Leonardo Sakamoto[, que] é jornalista e doutor em Ciência Política (…) e, hoje, ministra aulas na pós-graduação da PUC-SP”, conforme se pode ler no seu blog. Depois das críticas ao José Serra por conta da (segundo o Sakamoto) posição contrária ao aborto do candidato tucano, o professor da PUC dispara a pérola nua e crua: “[a] discussão não é quando começa a vida, mas as mulheres que estão morrendo nesse processo”.

Ou seja, pouco importa que crianças inocentes estejam sendo assassinadas – a única preocupação é quanto às mulheres que, porventura, morrem durante o ato homicida. Se elas puderem assassinar os próprios filhos em segurança, está tudo muito bem. Analogamente, então, qualquer um poderia advogar pelo “descriminalização do furto” argumentando que a discussão não é sobre o direito à propriedade, mas sobre os ladrões que estão morrendo quando tentam assaltar em condições precárias. Quem acha que isto é um absurdo irracional, deve achar o mesmo em relação ao “argumento” do Sakamoto acima reproduzido.

E ainda:

Se o candidato não quisesse defender publicamente o direito da mulher ao seu próprio corpo, defendesse a questão como saúde pública.

Nem saúde pública, nem direito ao próprio corpo. O aborto deve ser entendido como aquilo que é: o assassinato direto de um ser humano inocente. E, como tal, deve ser encarado. Porque é fora de discussão que o direito à vida tenha precedência sobre o (inventado) “direito ao próprio corpo” ou o (falsificado) “problema de saúde pública”.