Tapetes de Corpus Christi

Não me lembro se já falei aqui dos tapetes de Corpus Christi. São um traço da piedade popular e do sentimento religioso do povo do qual eu gosto particularmente. Até onde me conste, eles não são objeto dos livros litúrgicos; também não sei como eles são feitos nos diversos lugares do mundo (o link acima, a propósito, fala um pouco sobre isso).

Eu nunca fiz tapetes de Corpus Christi, mas sempre os admirei. Figuras belíssimas, coloridas, piedosas, desenhadas trabalhosamente no chão, com o único fito de serem destruídas quando da passagem da procissão do Corpo de Deus. Um exemplo que deixa transparecer a noção de que Deus é Senhor de todas as coisas, e que mesmo as “obras de arte” que fazemos nada valem diante da Sua majestosa presença. Um exemplo de que o melhor que nós fazemos pode – e deve! – ser oferecido ao Altíssimo sem que reservemos nada para nós próprios. Os tapetes dão trabalho, e são efêmeros – duram somente até a procissão. Deus é mais importante.

Certa feita, há alguns anos, uma amiga relatou-me algo interessante acontecido no dia de Corpus Christi. Foz do Iguaçu, se a memória não me trai. O povo havia preparado, na véspera ou pela manhã (não lembro bem), enormes e bonitos tapetes nas ruas da cidade. Antes da procissão, contudo, choveu, e a chuva desmanchou o trabalho dos fiéis antes que a Santíssima Eucaristia passasse. Quando o padre chegou, as pessoas, vendo os tapetes destruídos pela chuva e não admitindo que o Rei dos Reis e Senhor dos Senhores pudesse passar, na Sua Festa, sobre desenhos estragados, tiraram as próprias vestes – camisas, casacos – e as jogaram ao chão, para que Deus passasse. Bendita chuva! O testemunho espontâneo do povo foi ainda mais bonito do que todo o trabalho feito antecipadamente. As intempéries da natureza não são capazes de impedir o povo fiel de manifestar o seu amor e a sua devoção a Nosso Senhor Eucarístico.

Porque é Deus que passa – e, disso, o povo simples tem absoluta convicção. As pessoas aprendem isso também vendo as procissões de Corpus Christi, e os tapetes preparados com dedicação apenas para serem consumidos pela passagem do padre que leva a Eucaristia. Não deveria ser assim também a nossa vida? Ornada de virtudes e preparada com esmero, com o único fito de louvar ao Onipotente – consumindo-nos neste processo? Hoje é a festa do Corpo de Deus! Que a Virgem Santíssima nos ensine a fazermos da nossa vida um tapete enfeitado apenas para a passagem do Rei.