Soneto da Imaculada Conceição

Fonte: LEPANTO.

En passant, S. Luís de Montfort refere-se a um fato parecido no seu Tratado da Verdadeira Devoção (n. 42; aqui completo em espanhol). Ao ler, achei que fosse o mesmo episódio; no entanto, este relatado em Lepanto ocorreu em 1823, com dois sacerdotes dominicanos; o lembrado por São Luís, ocorreu com o próprio São Domingos. Depois vou tentar encontrar algo sobre esta história da qual o santo fala.

* * *

Sou verdadeira mãe de um Deus que é filho,
E sou sua filha, ainda ao ser-lhe mãe;
Ele de eterno existe e é meu filho,
E eu nasci no tempo e sou sua mãe.

Ele é meu Criador e é meu filho,
E eu sou sua criatura e sua mãe;
Foi divinal prodígio ser meu filho
Um Deus eterno e ter a mim por mãe.

O ser da mãe é quase o ser do filho,
Visto que o filho deu o ser à mãe
E foi a mãe que deu o ser ao filho;

Se, pois, do filho teve o ser a mãe,
Ou há de se dizer manchado o filho
Ou se dirá Imaculada a mãe.

Carta de Dom Bosco aos jovens

Fonte: Administração Apostólica São João Maria Vianney

CARTA DE SÃO JOÃO BOSCO À JUVENTUDE

O demônio tem normalmente duas artimanhas principais para afastar da virtude os jovens. A primeira consiste em persuadi-los de que o serviço de Deus exige uma vida triste sem nenhum divertimento nem prazer. Mas isto não é verdade, meus caros jovens. Eu vou lhes indicar um plano de vida cristã que poderá mantê-los alegres e contentes, fazendo-os conhecer ao mesmo tempo quais são os verdadeiros divertimentos e os verdadeiros prazeres, para que vocês possam exclamar com o santo profeta Davi: “Sirvamos ao Senhor na santa alegria”.

A segunda artimanha do demônio consiste em fazê-los conceber uma falsa esperança duma longa vida que permite converter-se na velhice ou na hora da morte. Prestem atenção, meus caros jovens, muitos se deixaram prender por esta mentira. Quem nos garante que chegaremos à velhice? Se se tratasse de fazer um pacto com a morte e de esperar até então… Mas a vida e a morte estão entre as mãos de Deus que dispõe de tudo a seu bel-prazer.

E mesmo se Deus lhes concedesse uma longa vida, escutai, entretanto, sua advertência: “O caminho do homem começa na juventude, ele o segue na velhice até a morte”. Ou seja, se, jovens, começamos uma vida exemplar, seremos exemplares na idade adulta, nossa morte será santa e nos fará entrar na felicidade eterna.

Se, pelo contrário, os vícios começam a nos dominar desde a juventude, é muito provável que eles nos manterão em escravidão toda a nossa vida até a morte, triste prelúdio de uma eternidade terrível.

Para que esta infelicidade não lhes aconteça, eu lhes apresento um método de vida alegre e fácil, mas que lhes bastará para se tornarem a consolação de seus pais, a honra da pátria de vocês, bons cidadãos da terra, em seguida felizes habitantes do céu…

Meus caros jovens, eu os amo de todo o meu coração e basta-me que vocês sejam jovens para que eu os ame extraordinariamente. Eu lhes garanto que vocês encontrarão livros que lhes foram dirigidos por pessoas mais virtuosas e mais sábias que eu em muitos pontos, mas dificilmente vocês poderão encontrar algum que os ame mais que eu em Jesus Cristo e deseja mais a felicidade de vocês.

Conservem no coração o tesouro da virtude, porque possuindo-o, vocês têm tudo, mas se o perderem, vocês se tornarão os homens mais infelizes do mundo. Que o Senhor esteja sempre com vocês e que Ele lhes conceda seguir os simples conselhos presentes, para que vocês possam aumentar a glória de Deus e obter a salvação da alma, fim supremo para o qual fomos criados. Que o Céu lhes dê longos anos de vida feliz e que o santo temor de Deus seja sempre a grande riqueza que os cumule de bens celestes aqui e por toda a eternidade.

Vivam contentes e que o Senhor esteja com vocês. Seu muito afeiçoado em Jesus Cristo.

João Bosco
Sacerdote.

Sobre a pureza – Santa Teresa dos Andes

[recebido por email]

Orientações de Nossa Senhora para a pureza a Santa Teresa de los Andes

Estou na meditação. Nosso Senhor me disse que meditasse sobre a pureza da Virgem. Ela, sem dizer-me nada, começou a falar. Eu não conheci a sua voz e perguntei se era Jesus. Ela me respondeu que Nosso Senhor estava dentro de minha alma, porém que Ela me falava.

Disse-me que escrevesse o que me dizia acerca da pureza.

Ser pura no pensamento: quer dizer, que rechaçasse todo pensamento que não fosse de Deus, para que assim vivesse constantemente em sua presença. Para isso devia procurar não ter afeto a nenhuma criatura.

Ser pura em meus desejos, de tal modo que só desejasse ser a cada dia mais de Deus; desejasse sua glória, ser santa e fazer minhas obras com perfeição. Para isto, não desejar nem honra nem louvores, mas desprezo, humilhação, pois assim agradava a Deus. Não desejar nem comodidades nem qualquer coisa que deleitasse meus sentidos. Não desejar nem comer nem dormir senão para servir melhor a Deus.

Ser pura em minhas obras. Abster-me de tudo o que possa manchar-me, do que não seja admitido por Deus, que quer minha santificação; fazê-las por Deus o melhor que possa, não para que me vissem as criaturas. Evitar toda palavra que não seja dita por Deus, por sua glória. Que em minhas conversas sempre colocasse Deus. Que não olhasse nada sem necessidade, mas para contemplar a Deus em suas obras. Que imaginasse que Deus me olhava sempre. Que me abstivesse daquilo que me agradava. Se tinha de comer, n[ã]o sentir prazer nisso, mas oferecê-lo a Deus, porque me era necessário para servi-lo melhor. Que mortificasse o tato não tocando sem necessidade em mim mesma nem em outra pessoa qualquer. Em uma palavra, que todo meu espírito estivesse submerso em Deus de tal maneira que me esquecesse inteiramente de meu corpo. A Virgem havia vivido assim desde que nasceu; porém lhe havia sido mais fácil, pois sempre esteve cheia da graça. Que fizesse tudo o que fosse de minha parte para imitá-la; pois assim Deus se uniria intimamente a mim. Que rezasse para consegui-lo. Assim refletiria a Deus em minha alma.

Diário 51.
(Diário e Cartas de Santa Teresa de los Andes, frei Patrício Sciadini, ocd. Página 114)

Os apóstolos dos últimos tempos

2. Os apóstolos dos últimos tempos

55. Deus quer, finalmente, que sua Mãe Santíssima seja agora mais conhecida, mais amada, mais honrada, como jamais o foi. E isto acontecerá, sem dúvida, se os predestinados puserem em uso, com o auxílio do Espírito Santo, a prática interior e perfeita que lhes indico a seguir. E, se a observarem com fidelidade, verão, então, claramente, quan[t]o lho permite a fé, esta bela estrela do mar, e chegarão a bom porto, tendo vencido as tempestades e os piratas. Conhecerão as grandezas desta soberana e se consagrarão inteiramente a seu serviço, como súditos e escravos de amor. Experimentarão suas doçuras e bondades maternais e amá-la-ão ternamente como seus filhos [queridos]. Conhecerão as misericórdias de que ela é cheia e a necessidade que têm de seu auxílio, e hão de recorrer a ela em todas as circunstâncias como à sua querida advogada e medianeira junto de Jesus Cristo. Reconhecerão que ela é o meio mais seguro, mais fácil, mais rápido e mais perfeito de chegar a Jesus Cristo, e se lhe entregarão de corpo e alma, sem restrições, para assim também pertencerem a Jesus Cristo.

56. Mas quem serão esses servidores, esses escravos e filhos de Maria?

Serão ministros do Senhor ardendo em chamas abrasadoras, que lançarão por toda parte o fogo do divino amor.

Serão “sicut sagittae in manu potentis” (Sl 126, 4) – flechas agudas nas mãos de Maria toda-poderosa, pronta a traspassar seus inimigos.

Serão filhos de Levi, bem purificados no fogo das grandes tribulações, e bem colados a Deus, que levarão o ouro do amor no coração, o incenso da oração no espírito, e a mirra da mortificação no corpo e que serão em toda parte para os pobres e pequenos o bom odor de Jesus Cristo, e para os grandes, os ricos e os orgulhosos do mundo, um odor repugnante de morte.

57. Serão nuvens trovejantes esvoaçando pelo ar ao menor sopro do Espírito Santo, que, sem apegar-se a coisa alguma nem admirar-se de nada, nem preocupar-se, derramarão a chuva da palavra de Deus e da vida eterna. Trovejarão contra o pecado, e lançarão brados contra o mundo, fustigarão o demônio e seus asseclas, e, para a vida ou para a morte, traspassarão lado a lado, com a espada de dois gumes da palavra de Deus (cf. Ef 6, 17), todos aqueles a quem forem enviados da parte do Altíssimo.

58. Serão verdadeiros apóstolos dos últimos tempos, e o Senhor das virtudes lhes dará a palavra e a força para fazer maravilhas e alcançar vitórias gloriosas sobre seus inimigos; dormirão sem outro nem prata, e, o que é melhor, sem preocupações, no meio dos outros padres, eclesiásticos e clérigos, “inter medio cleros” (Sl 67, 14) e, no entanto, possuirão as asas prateadas da pomba, para voar, com a pura intenção da glória de Deus e da salvação das almas, aonde os chamar o Espírito Santo, deixando após si, nos lugares em pregarem, o ouro da caridade que é o cumprimento da lei (Rom 13, 10).

59. Sabemos, enfim, que serão verdadeiros discípulos de Jesus Cristo, andando nas pegadas de sua pobreza e humildade, do desprezo do mundo e caridade, ensinando o caminho estreito de Deus na pura verdade, conforme o santo Evangelho, e não pelas máximas do mundo, sem se preocupar nem fazer acepção de pessoa alguma, sem poupar, escutar ou temer nenhum mortal, por poderoso que seja. Terão na boca a espada de dois gumes da palavra de Deus; em seus ombros ostentarão o estandarte ensangüentado da cruz, na [mão] direita, o crucifixo, na esquerda o rosário, no coração os nomes sagrados de Jesus e Maria, e, em toda a sua conduta, a modéstia e a mortificação de Jesus Cristo.

Eis os grandes homens que hão de vir, suscitados por Maria, em obediência às ordens do Altíssimo, para que o seu império se estenda sobre o império dos ímpios, dos idólatras e dos maometanos. Quando e como acontecerá?… Só Deus o sabe!… Quanto a nós, cumpre calar-nos, orar, suspirar e esperar: Exspectans exspectavi (Sl 39, 2).

[S. Luís Maria de Montfort, “Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem”, Vozes, 2007 – trechos em colchetes de Edições Montfortinas, 2001]

Respeito pela Missa – Sto. Afonso de Ligório

III
Respeito e devoção com que se deve celebrar

Em segundo lugar, é necessário que o sacerdote celebre a missa com respeito e devoção. Sabe-se que o uso do manípulo foi introduzido, para que o padre enxugasse as lágrimas; porque outrora tais sentimentos de devoção experimentavam os sacerdotes, ao celebrarem, que não faziam senão chorar.

Já dissemos que o padre ao altar é o representante do próprio Jesus Cristo, como escreveu S. Cipriano. É nesta qualidade que diz: Hoc est corpus meum; hic est calix sanguinis mei. Mas, ó Céu! Que lágrimas, que lágrimas de sangue se deveriam chorar, quando se pensa no modo como a máxima parte dos padres celebram a missa! Causa pena, digamo-lo, ver o desprezo com que Jesus Cristo é tratado por tantos padres, até religiosos, e pertencentes a Ordens reformadas! Ao ver-se a negligência com que esses padres de ordinário dizem a missa, bem se lhes poderia fazer a censura que Clemente de Alexandria dirigia aos sacerdotes pagãos: que faziam do Céu um teatro, e de Deus o objeto da sua comédia. E que direi? Uma comédia! Ó, se eles tivessem um papel a representar no teatro, que cuidado empregariam! Ao contrário, que fazem eles ao altar? Truncam palavras, fazem genuflexões que mais parecem atos de desprezo e faltas de respeito; traçam bênçãos que não se sabe o que são; esboçam gestos ridículos; falam às rubricas, antecipando cerimônias e misturando-lhes palavras. E no entanto a verdade é que essas rubricas todas são de preceito, por isso que S. Pio V, na bula que pôs à frente do missal, manda districte, in virtute sanctae obedientiae, que a missa seja celebrada segundo as rubricas do missal. Donde resulta que quem transgride as rubricas não pode eximir-se de pecado, que será grave desde que a matéria o seja.

Tudo isso procede do desejo de chegar de pressa ao fim da missa. Celebram- na como se a igreja estivesse a desabar, ou como se os bandidos se avizinhasse e não restasse tempo para a fuga.

Eis um padre que, depois de ter dado horas inteiras a uma vida inútil, ou a negócios mundanos, lá vai a celebrar a missa todo apressado!

Começa com precipitação, prossegue do mesmo modo; chega à Consagração, toma Jesus Cristo nas suas mãos, e comunga-o com tanta irreverência como se ali só houvesse um bocado de pão! Seria necessário que tais padres sempre tivessem ao seu lado alguém, para lhes dizer o que um dia o venerável João de Ávila, chegando-se ao altar em que celebrava um desses, lhe disse: “Por piedade tratai-o melhor, que é o filho dum pai respeitável”.

Queria o Senhor que os sacerdotes da Lei antiga tremessem de santo respeito ao aproximarem-se do santuário. E um sacerdote da Lei nova, achando-se ao altar, em presença do próprio Jesus Cristo, a falar-lhe, a toma-lo nas suas mãos, a oferecê-lo a Deus-Pai, a alimentar-se dele, — mostra-se tão irreverente! Na Lei antiga, ameaçou o Senhor com muitas maldições os sacerdotes que fossem negligentes nas cerimônias desses sacrifícios, que eram apenas uma mera figura do nosso: Se cerrares os ouvidos à voz do Senhor teu Deus, que te manda guardar as cerimônias, virão sobre ti todas estas maldições… Serás maldito na cidade e maldito nos campos. Dizia Sta. Teresa: “Pela mínima cerimônia da Igreja, daria eu mil vezes a minha vida”. E o padre as despreza! Ensina o Pe. Suarez que a omissão de qualquer cerimônia, na missa, não pode escusar-se de pecado. Muitos doutores ajuntam que uma negligência notável nas cerimônias pode chegar a pecado mortal.

Na nossa Teologia moral demonstramos, com a autoridade de muitos doutores, que o que celebra em menos de um quarto de hora não pode escusar-se de falta grave, e isto por duas razões: primeira, por causa da irreverência contra o sacrifício, resultante da sua precipitação; segunda, por causa do escândalo que dá ao povo.

Quanto ao respeito devido ao divino sacrifício, já citamos o que diz o Concílio de Trento: que a missa deve ser celebrada com a máxima devoção possível. E ajunta que a falta de respeito, mesmo exterior, constitui uma irreverência, que de algum modo chega a ser impiedade. Assim como as cerimônias, quando são bem feitas, infundem e significam respeito; também quando são mal executadas denotam irreverência que, em matéria grave, é um pecado mortal. Deve-se notar além disto que, para nas cerimônias haver o testemunho de respeito, que convém a um tão grande sacrifício, não basta fazê-las; porque uma pessoa qualquer poderia ter a língua assaz desembaraçada e os movimentos bastante livres para expedir tudo isso em menos de um quarto de hora; mas é preciso que sempre sejam feitas com a gravidade conveniente, que pertence também intrinsecamente ao respeito que se deve ter pela missa.

Por outro lado, celebrar a missa em tão pouco tempo é falta grave, em razão do escândalo que se dá aos fiéis que assistem a ela. Sobre este ponto, é necessário considerar ainda o que noutro lugar diz o Concílio de Trento: que as cerimônias da missa foram instituídas pela Igreja, para inspirar aos fiéis uma alta idéia deste augusto sacrifício, e toda a veneração devida aos divinos mistérios que encerra. Ora, quando estas cerimônias são feitas muito à pressa, nenhuma veneração inculcam ao povo, antes lhe fazem perder o respeito que merece um mistério tão santo. Observa Pedro de Blois que os padres que celebram com pouco respeito, dão ocasião a que os fiéis façam pouco caso do Santíssimo Sacramento. Não se pode dar um tal escândalo sem se incorrer em pecado mortal. Também o Concílio de Tours, em 1583, mandou que os sacerdotes fossem bem instruídos nas cerimônias da missa, para não destruírem a devoção no coração das suas ovelhas, em vez de as levarem à veneração pelos ministérios sagrados.

Celebrando sem devoção, — como querem esses padres obter de Deus graças, sendo certo que ao oferecerem o santo sacrifício, o ofendam e, quanto deles depende, mais o desonram do que o honram? O padre que não acreditasse no Sacramento do altar, sem dúvida ofenderia a Deus; mas quanto mais o ofende o que nele crê e não só lhe recusa o respeito que lhe é devido, senão que ainda é causa de que outros, à vista da sua conduta, lhe percam igualmente o respeito? Os judeus a princípio respeitaram Jesus Cristo, mas, quando o viram desprezado pelos sacerdotes, perderam então a alta idéia que tinham dele, e acabaram por gritar com os sacerdotes: Tolle, tolle, crucifige eum! Do mesmo modo, para não sairmos do nosso assunto, os seculares que hoje vêem os padres a celebrar com tanta irreverência, perdem toda a estima e veneração por este divino mistério.

Uma missa, celebrada com recolhimento, inspira devoção aos assistentes; pelo contrário, faz-lhes perder a devoção e quase a fé também, quando celebrada sem piedade. Eis um fato passado em Roma e que me foi contado por um religioso de todo o crédito. Tinha um herege resolvido renunciar aos seus erros; mas, tendo visto celebrar a missa sem devoção, foi ter com o papa e disse-lhe que não queria abjurar, porque estava persuadido de que nem os padres nem o papa tinha na Igreja católica uma fé verdadeira: “Se eu fosse papa, dizia ele, e soubesse que um padre celebrava a missa com tão pouco respeito, mandava-o queimar vivo; ao ver porém que os padres dizem assim a missa e não são castigados, persuado-me de que nem o próprio papa acredita nela”. Dito isto, retirou-se, e não consentiu que lhe falassem mais em abjuração.

Mas objetam certos padres que os leigos se queixam, quando a missa se prolonga. — O quê! Então, lhes respondo eu de pronto, a pouca devoção dos seculares há de ser a regra do respeito devido ao santo sacrifício! Ouçam mais: se os padres celebrassem a missa com o devido respeito e gravidade, os seculares se compenetrariam da veneração a prestar a tão grande mistério, e não lamentariam a meia hora que lhe devessem consagrar. Como porém, de ordinário, a missa é tão breve e nenhuma devoção inspira, os seculares à imitação dos padres, assistem a ela sem devoção, e com pouca fé; quando vêem que ela dura mais de um quarto de hora, aborrecem-se e queixam-se, em razão do mau hábito contraído. Assim, os mesmos que sem dificuldade passam muitas horas a uma mesa de jogo, ou numa praça pública, desperdiçando o tempo, não podem sem tédio gastar uma meia hora a ouvir missa! A causa de tudo isso são os padres: É convosco que falo, ó sacerdotes, que desonrais o meu nome e dizeis: Como desonramos nós o vosso nome? Nisso que dizeis: A mesa do Senhor é de pouca importância. O pouco que os padres se importam do respeito devido à missa, faz que também os outros a desprezem.

Pobres padres! Ao saber que um sacerdote acabava de morrer após a sua primeira missa, o venerável João de Ávila exclamou: “Ó que terrível conta esse padre tem de prestar a Deus, por essa primeira missa!” À vista disso, que se deverá dizer dos padres que, no decurso de trinta ou quarenta anos, cada dia deram ao altar o escândalo de que vimos falando! E, repito, — como poderão tais padres tornar o Senhor propício e obter graças da sua misericórdia, celebrando a missa de modo antes a ultrajá-lo que a honrá-lo? Todos os crimes são expiados pelo sacrifício, diz o papa Júlio, mas por que oferenda se há de reparar a ofensa feita ao Senhor, se é na mesma oblação do sacrifício que se peca? Pobres padres! E pobres bispos que permitem a tais padres celebrarem! Segundo o decreto do Concílio de Trento, são os bispos obrigados a impedir as missas celebradas com irreverência. Notem-se estas expressões: Prohibere curent ac teneantur; significam elas que os bispos estão obrigados a suspender os que celebram sem respeito conveniente; e esta obrigação tanto abrange os sacerdotes regulares como os outros, visto que os bispos a esse respeito são constituídos pelo Concílio legados apostólicos, e por isso obrigados a vigiar pelas missas que se dizem nas suas dioceses.

E nós, padres, irmãos meus, cuidemos de nos corrigir: se no passado temos celebrado o santo sacrifício com pouca devoção e respeito, atalhemos ao mal, ao menos daqui para o futuro. Antes de celebrar, pensemos no que vamos fazer: é a ação maior e mais santa que um homem pode realizar. Demais, que grande bem é uma missa celebrada com devoção, grande bem para o celebrante, e para os ouvintes! — Eis como João Herolt, de sobrenome o Discípulo, fala aos que assistem à missa: Quando fazeis a vossa oração na igreja, na presença de Deus, mais seguramente ela é ouvida… porque todo o sacerdote está obrigado a orar pelos assistentes em cada missa. Ora, se a oração dum secular, quando feita em união com a do celebrante, é mais prontamente ouvida de Deus, quanto mais ainda a do próprio sacerdote, se celebra com devoção! Um padre que oferece todos os dias o santo sacrifício com alguma devoção, há de receber sempre de Deus novas luzes e novas forças. Jesus Cristo o instruirá, o consolará, o animará cada vez mais, e lhe concederá as graças que deseja.

É sobretudo depois da consagração que o padre pode estar seguro de conseguir do Senhor todas as graças que pede. O venerável Pe. Antônio Colelis dizia: “Quando celebro e tenho o meu Jesus nas minhas mãos, consigo dele quanto quero”. O celebrante obtém o que quer para si e para os que assistem à missa. Lê-se na Vida de S. Pedro de Alcântara que as missas fervorosas que celebrava produziam mais fruto, que todos os sermões dos pregadores da província em que estava. Quer o Concílio de Rodez que os padres pronunciem as palavras e façam as cerimônias com uma devoção, que dê testemunho da sua fé e amor para com Jesus Cristo, presente no altar. A compostura exterior, diz S. Boaventura, manifesta as disposições interiores do celebrante. Recorde-se aqui de passagem o que ordenou Inocêncio III: Nós ordenamos também que os oratórios, os vasos, corporais e alfaias sagradas se conservem em perfeita limpeza; porque é de todo o ponto contrário ao bom senso abandonar as coisas santas a uma imundícia, que não se sofria nem mesmo nas coisas profanas. Ai! Tinha o papa toda a razão para assim falar, porque se encontram padres que não se envergonham de celebrar com corporais, sanguíneos e cálices, de que não quereriam servir-se à sua mesa.

[Santo Afonso de Ligório, “A Selva”, para ordenandos e sacerdotes; download em .pdf aqui]

Da eternidade do Inferno

CONSIDERAÇÃO XXVII

Da eternidade do inferno

Et ibunt hi in supplicium aeternum.
E estes irão para o suplício eterno (Mt 25,46).

PONTO I

Se o inferno não fosse eterno, não seria inferno. A pena que dura pouco, não é grande pena. Se a um doente se rompe um abcesso ou queima uma ferida, não deixará de sentir dor vivíssima; como, porém, esta dor passa em breve não se pode considerá-la como tormento grave. Seria, porém, grande suplício, se a intervenção cirúrgica perdurasse semanas ou meses. Quando a dor é intensa, ainda que seja breve, torna-se insuportável. E não apenas as dores, até os prazeres e as diversões, prolongando-se em demasia, um teatro, um concerto, continuando, sem interrupção, durante muitas horas, causaria tédio insofrível. E se durassem um mês, um ano? Que será, pois, no inferno, onde não é música, nem teatro que sempre se ouve, nem leve dor que se padece, nem ligeira ferida ou superficial queimadura de ferro candente que atormenta, mas o conjunto de todos os males, de todas as dores não em tempo limitado, mas por toda a eternidade? (Ap 20,10).

Esta eternidade é de fé; não é simples opinião, mas sim verdade revelada por Deus em muitos lugares da Sagrada Escritura. “Apartaivos de mim, malditos, para o fogo eterno. — E irão estes ao suplício eterno. — Pagarão a pena de eterna perdição. Todos serão assolados pelo fogo” (Mt 25,41.46; 2Ts 1,8; Mc 9,48). Assim como o sal conserva o alimento, o fogo do inferno não só atormenta os condenados, mas, ao mesmo tempo, tem a propriedade do sal, conservando-lhes a vida. “Ali o fogo consome de tal modo — disse São Bernardo — que conserva sempre”.

Insensato seria aquele que, para desfrutar um dia de divertimentos, quisesse condenar-se a uma prisão de vinte ou trinta anos num calabouço! Se o inferno durasse, não cem anos, mas apenas dois ou três, já seria loucura incompreensível que por um instante de prazer nos condenássemos a esses dois ou três anos de tormento gravíssimo. Mas não se trata de trinta nem de cem, nem de mil, nem de cem mil anos, trata-se de sofrer para sempre penas terríveis, dores sem fim, males incalculáveis sem alívio algum. Portanto, os santos gemiam e tremiam com razão, enquanto subsistia, com a vida neste mundo, o perigo de se condenarem. O bem-aventurado Isaías, posto que passasse os dias no deserto entre jejuns e penitências, exclamava: “Infeliz de mim, que ainda não estou livre das chamas infernais”.

AFETOS E SÚPLICAS

Se me tivésseis lançado no inferno, meu Deus, como tantas vezes mereci, e depois me tirásseis de lá em virtude da vossa grande misericórdia, quanto vos seria agradecido e que vida santa procuraria eu levar!… E agora que, com clemência ainda maior, me tendes preservado da condenação eterna, que direi, Senhor? Tornarei a vos ofender e provocar a vossa ira a fim de que me condeneis àquele cárcere dos réprobos, onde tantos ardem por culpas menores que as minhas? Ah, meu Redentor, é o que fiz na vida passada! Em vez de empregar o tempo que me destes para chorar meus pecados, abusei dele para vos ofender. Agradeço à vossa infinita bondade o ter-me aturado tanto tempo. Se não fosse infinita, como houvera tolerado meus delitos? Agradecido, por me terdes esperado com tanta paciência até agora; agradecido, pela luz com que me iluminais, a fim de que reconheça minha demência e o mal que cometi, ofendendo-vos com meus pecados. Detesto-os, meu Jesus, e de todo o coração me arrependo. Perdoai-me, pela vossa sagrada paixão e morte; assisti-me com vossa graça para que jamais torne a ofender-vos. Devo temer, com razão, que, em caso de cometer novo pecado mortal, me abandonareis. Senhor, ponde diante de meus olhos esse temor justo, sempre que o demônio me provocar a ofender-Vos. Amo-vos, meu Deus, e não quero perder-vos. Ajudai-me com vossa divina graça.

Auxiliai-me também, Virgem Santíssima; fazei que sempre me valha de vós nas minhas tentações, a fim de que nunca mais perca o meu Deus. Ó Maria, vós sois a minha esperança.

[Santo Afonso de Ligório, “Preparação para a morte”, pp. 84-85. Baixe a íntegra em .pdf aqui]

In Assumptione Beatæ Mariæ Virginis


[Arquivo pessoal – Madrid]

5. Que opróprio não se apresenta para a condição humana o túmulo com a sua podridão! Jesus, isento deste opróprio universal, também dele isentou a Santa Virgem, porque a carne de Jesus é a de Maria.

7. Se Maria foi tão justamente ornada durante toda a sua vida com graças, mais abundantemente do que todas as outras pessoas, após a sua morte, a intensidade dessas graças haveria de diminuir? Por certo que não. Pois se a morte de todos os santos é preciosa (Sl 115, 15), a de Maria, certamente, é mais preciosa ainda. Ela, que pôde ser chamada Mãe de Deus e que o foi de fato.

8. Era justo ficar isenta da corrupção aquela que fora inundada com tantas graças. Deveria viver, toda inteira, aquela que gerou a Vida perfeita e completa de todos os humanos.

Que ela esteja com aquele a quem trouxe no seio: que esteja junto àquele que pôs no mundo, a quem aqueceu e nutriu. Maria, a mãe de Deus, a ama de Deus, o reino de Deus, a imitadora de Deus.

[Tratactus De Assumptione B. Mariae Virginis 5.7.8. Escrito atribuído.
in “Santo Agostinho – a Virgem Maria – Cem textos marianos com comentários”
Ed. Paulus
São Paulo, 2002
]

A necessidade da oração – S. Francisco de Sales

A necessidade da oração

1. A oração, fazendo o nosso espírito penetrar na plena luz da divindade e expondo a nossa vontade abertamente aos ardores do amor divino, é o meio mais eficaz de dissipar as trevas de erros e ignorância que obscurecem a nossa mente e de purificar o nosso coração de todos os seus afetos desordenados. É ela a água da graça, que lava a nossa alma de suas iniqüidades, alivia os nossos corações, opressos pela sede das paixões, e nutre as primeiras raízes que a virtude vai lançando, que são os bons desejos.

2. Mas o que muito em particular te aconselho é a oração de espírito e de coração e, sobretudo, a que se ocupa da vida e paixão de Nosso Senhor: contemplando-o, sempre de novo, pela meditação assídua, tua alma há de por fim encher-se dele e tu conformarás a tua vida interior e exterior com a sua. Ele é a luz do mundo: é nele, por ele e para ele que devemos ser iluminados. Ele é a árvore misteriosa do desejo de que fala a Esposa dos Cantares. É a seus pés que temos que ir respirar este ar suavíssimo, quando o nosso coração se vai afrouxando pelo espírito do século. Ele é a cisterna de Jacó, essa nascente de água viva e pura; a ela cumpre chegarmo-nos muitas vezes, para lavar nossa alma de suas manchas. Os meninos, como é sabido, ouvem continuamente as suas mães falarem e, esforçando-se por balbuciar com elas, aprendem a falar a mesma língua; deste modo nós, unindo-nos com Nosso Senhor, pela meditação, e notando as suas palavras e ações, os seus sentimentos e inclinações, aprenderemos por fim, com a sua graça, a falar com ele, a agir com ele, a julgar como ele e amar como ele. A Ele é preciso prendermo-nos, Filotéia, e crê-me que não podemos ir a Deus, o Pai, senão por esta porta que é Jesus Cristo, como ele mesmo nos disse. O vidro dum espelho não pode deter a nossa vista, se não for aplicado a um corpo sólido, como o chumbo e o estanho; de modo análogo, jamais nos seria possível contemplar a divindade nesta vida mortal, se não se unisse à nossa humanidade em Jesus Cristo, cuja vida, paixão e morte constituem para as meditações o objeto mais proporcionado a nossas luzes, mais agradável ao nosso coração e mais útil ao melhoramento de nossos costumes.

O divino Salvador chamou-se a si mesmo o pão descido do céu, por muitas razões, entre as quais podemos aduzir a seguinte: assim como se come o pão com toda sorte de alimento, assim devemos tomar o espírito de Jesus Cristo na meditação, e ele, nutrindo-nos, influirá em todas as nossas ações. Por isso, muitos autores repartiram em diversos pontos de meditação o que sabemos de sua vida e paixão. Entre esses autores aconselho-te especialmente S. Boaventura, Bellintani, Bruno, Capiglia, Granada e La Puente.

3. Emprega neste exercício uma hora por dia, antes do jantar, ou de manhã, se for possível, antes que percas as boas disposições e tranqüilidade de espírito que dá o repouso da noite. Mas não prolongues mais este tempo, a não ser que o teu pai espiritual o tenha fixado expressamente.

4. Se te for possível fazer este exercício com maior tranqüilidade numa igreja, parece-me ainda melhor, porque, a meu ver, nem pai, nem mãe, nem marido, nem mulher, nem pessoa alguma terá direito de disputar-te esta hora de devoção; ao contrário, em casa não podes contar com toda ela nem com tanta liberdade, em razão da dependência em que aí te achas.

5. Começa a tua oração, seja mental, seja vocal, sempre pondo-te na presença de Deus; nunca neglicencies esta prática e verás em pouco tempo os seus resultados.

6. Se em mim confias, hás de recitar o Pater Noster, Ave Maria e o Credo em latim; não omitirás, no entanto, de aprender estas orações também em tua língua materna, para que lhe entendas o sentido. Deste modo, conformando-te ao uso da Igreja pela língua da religião, compreenderás outrossim o sentido admirável destas orações e lhes saborearás a suavidade. Convém recitá-las com a máxima atenção ao seu sentido e excitando os afetos correspondentes. Não te deixes levar pela pressa infundada de fazer muitas orações, mas cuida de rezar com devoção; um só Pater, rezado com piedade e recolhimento, vale mais que muitos recitados precipitadamente.

7. O Rosário é um modo utilíssimo de rezar, supondo que se saiba recitá-lo bem. Para que tu o saibas, lê um desses livrinhos de oração que contém o método de rezá-lo. Muito recomendável é também recitar as ladainhas de Nossa Senhora e dos santos, como outras orações que se acham em manuais aprovados devidamente; mas tudo isso fica dito sob a condição de que, se tens o dom da oração mental, lhe dês o tempo principal e o melhor. Deves notar que, se depois de o fazeres, por causa de muitas ocupações ou por outro motivo, não te sobre tempo disponível para as tuas orações vocais, absolutamente não te deves inquietar; é bastante rezares antes ou depois da meditação simplesmente a oração dominical, a saudação angélica e o Símbolo dos Apóstolos.

8. Se, ao recitares uma oração vocal, te sentires atraída à oração mental, muito longe de reprimires esta inclinação, deves deixar-te levar suavemente e não te perturbes por não acabar todas as orações que te tens proposto. A oração do espírito e do coração é muito mais agradável a Deus e salutar à alma do que a oração dos lábios. Está bem de ver que a esta regra hás de excetuar o ofício divino e aquelas orações que estás obrigada a recitar.

9. Deves repelir tudo que te poderia impedir este santo exercício pela manhã; mas, se tuas múltiplas ocupações ou outras razões legítimas te roubam este tempo, procura fazer a meditação de tarde, à hora mais distante possível da refeição, quer para evitar a sonolência, quer para não fazer mal à saúde. E, se prevês que em todo o dia não acharás tempo para a oração, cumpre reparares esta perda, suprindo-a por essas elevações freqüentes de espírito e coração a Deus, às quais chamamos jaculatórias, por uma leitura espiritual, por algum ato de penitência, que impede as conseqüências daquela perda, e propõe-lhe firmemente fazer a tua oração no dia seguinte.

[São Francisco de Sales,
“Filotéia”
Parte II – Capítulo I
Vozes
Petrópolis, 2008
]

Santa Clara de Assis


[FONTE: Wikipedia]

Hoje é dia de Santa Clara de Assis. Contemporânea de São Francisco, com ele compartilha uma história de vida parecida: nobreza no berço, pobreza no chamado de Deus. E Ele a fez santa. Que as suas palavras sejam exemplo de vida para nós:

Contempla, nobre rainha, o teu Esposo. Sendo o mais belo dos filhos dos homens (cf. Sl 44, 3), transformou-se, para tua salvação, no mais desprezível dos mortais. Morreu na Cruz, no meio dos maiores sofrimentos, golpeado e vezes sem conta açoitado em todo o corpo. Olha, medita e contempla e que o teu coração se inflame na sua imitação.

Se Com Ele sofreres,
com Ele reinarás;
se com Ele chorares,
com Ele exultarás;
se com Ele morreres na Cruz da tribulação,
com Ele habitarás na glória dos santos (Rm 8, 17),
na mansão celeste,
e teu nome será gravado
no livro de vida
e para sempre glorificado entre os homens (Ap 3, 5).
Em vez das honras terrenas e transitórias terás
para todo o sempre a glória do Reino celeste, participarás
dos bens eternos em troca de bens perecíveis e
viverás uma felicidade sem fim.
[Santa Clara de Assis, “Cartas”, in Fontes  Franciscanas II]

Santa Clara,
rogai por nós!

Sobre o sofrimento – São Máximo

41. Quase todos os pecados se produzem pelo prazer, ao passo que a sua destruição se dá pelo sofrimento e aflição – voluntários ou involuntários – através da penitência ou de uma prova que sobrevém disposta pela Providência. Se nós nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos com certeza julgados. Mas, quando nós somos julgados, somos castigados pelo Senhor, para não sermos condenados com este mundo [1Cor 11, 31-32].

42. Quando te vem inesperadamente a tentação, não acuse aquele mediante o qual te vem, mas busca a causa pela qual te vem, e encontra a correção; porque tanto por meio daquele como por meio de outros terias de beber totalmente o absinto dos juízos de Deus.

43. Inclinado como és ao mal, não recuses o sofrimento, a fim de que, humilhando mediante este, possas vomitar a tua soberba.

44. Algumas tentações trazem prazer aos homens; outras, aflições; e outras, sofrimentos corporais. Segundo a causa das paixões que se encontra na alma, o médico das almas aplica o remédio mediante os seus juízos.

45. O ataque das tentações levam alguns à destruição dos pecados já cometidos; levam outros à destruição daqueles que se cometem agora; levam outros ao impedimento daqueles que se estão por cometer; exceto as tentações que advêm para a prova, como no caso de Jó.

46. Considerando a cura pelos juízos divinos, suporta o sábio com agradecimento a adversidade que lhe sucede por eles, e não lhe atribui a causa senão aos seus próprios pecados. Em contrapartida, ignorando a sapientíssima providência de Deus, pecando e sendo castigado, tem o néscio a Deus ou aos homens como causa dos seus próprios males.

[São Máximo, o Confessor,
“Segunda centúria sobre a Caridade”, in
“Centúrias sobre a caridade & outros escritos espirituais”
Landy Editora,
São Paulo, 2003]