Concurso Sociedade Católica

O Apostolado Sociedade Católica abriu, no mês passado, o seu I Concurso de Artigos; trata-se de uma iniciativa extremamente louvável que visa estimular a produção intelectual dos católicos brasileiros, ajudando-os a colocarem os dons que possuem a serviço do Papa, da Igreja, de Cristo. Os resultados foram divulgados recentemente, e premiaram cinco corajosos soldados de Cristo. Parabéns aos vencedores, bem como aos demais participantes, que se empenharam em produzir material de qualidade para ser colocado em defesa da Igreja de Nosso Senhor!

Em particular, merece especial menção o artigo que ganhou o segundo lugar no concurso. Nele – infelizmente muito mais sucinto do que nós gostaríamos – o articulista esboça a História do desenvolvimento da ciência ocidental, e o papel peculiar desempenhado pela Igreja neste processo. Recomendo a leitura. Excerto:

Na baixa Idade Média, o método escolástico baseado na quaestio – levantamento de um problema; disputatio – confronto de argumentos; e conclusio – posicionamento do pensador – traria uma verdadeira renovação intelectual já que fomentava a busca de novas interrogações e provas. No século XIII, obras de Aristóteles chegam ao Ocidente através dos árabes. Sua filosofia natural iria influenciar novos pensadores cristãos e assim dar novas perspectivas à ciência medieval. Entre aqueles que promoveram novos estudos científicos, neste sentido, pode-se aludir a Santo Alberto Magno – autoridade em física, geografia, astronomia, dentre outras áreas – que no seu tratado sobre as plantas afirmou: Experimentum solum certificat in talibus (A experimentação é o único guia seguro nessas investigações) (Catholic Encyclopedia).

Os sacerdotes e o poder civil

Pela dignidade e autoridade confiada a meus ministros, retirei-os de qualquer sujeição aos poderes civis. A lei civil não tem poder legal para puni-los; somente o possui aquele que foi posto como senhor e ministro da lei divina.
[Santa Catarina de Sena, “O Diálogo”]

A Santa Inquisição foi instaurada por motivos vários, dentre os quais gostaria de mencionar um: para a punição dos maus religiosos que, por serem homens da Igreja, não podiam ser julgados senão por Ela. Quando na Idade Média os cátaros promoviam desordens e eram apanhados, as autoridades civis, ao verem a tonsura, ficavam “de mãos atadas” e não podiam levá-los aos tribunais civis, pois o distintivo de consagração à Igreja [no caso, a tonsura] concedia-lhes o privilégio do foro eclesiástico.

Assim, era natural que, quando do surgimento do catarismo, os criminosos apanhados que ostentassem sinais de pertencerem ao clero fossem entregues à Igreja Católica para que Ela os julgasse. A expressão “braço secular” designava os poderes civis que executavam as sentenças proferidas pelos tribunais eclesiásticos – aqueles apenas executavam a sentença que era proferida por estes. Como eu disse, há outros aspectos na Santa Inquisição; por enquanto, todavia, gostaria me dedicar à questão dos foros específicos para aqueles que eram membros do clero ou das ordens religiosas.

O Papa Pio IX condenou como um erro a seguinte proposição no Syllabus: “[o] foro eclesiástico para as coisas temporais dos clérigos, quer civis quer criminais, deve ser de todo suprimido, mesmo sem consultar-se a Sé Apostólica, e não obstante as suas reclamações”. Em outras palavras: a autoridade civil – como diz Santa Catarina de Sena – não tem poder para julgar e punir os ministros de Deus. Acredito que este possa até ser concedido pela Igreja, mas sempre como uma concessão, e não como um poder verdadeiro e próprio da autoridade civil.

Talvez uma comparação nos faça entender melhor. O princípio da subsidiariedade nos diz que as coisas devem ser tratadas pela menor instância responsável por elas; somente na medida em que estas instâncias se mostram incapazes de solucionar os problemas é que estes devem ser passados às instâncias superiores. Assim, por exemplo, os problemas internos de uma família se resolvem dentro da família, cabendo a intervenção estatal somente quando a família não é capaz – por qualquer motivo – de os resolver. Isto acontece porque a sociedade é uma instância superior à família (afinal, a sociedade civil é “composta” de pequenas sociedades familiares). Isto, no entanto, não acontece com a Igreja, porque o Estado não é uma instância superior à Igreja (como o é à Família) e, por conseguinte, não tem poder próprio de intervir diretamente nas questões eclesiásticas. A Igreja, como sociedade perfeita que é, tem poder de jurisdição para julgar os Seus membros, e este poder deve ser exercido primordial e preferencialmente por Ela própria. Eis, em linhas gerais, o que justifica a existência do foro eclesiástico (criminal inclusive) para o julgamento dos ministros de Deus.

A Igreja reserva este privilégios aos sacerdotes de Deus Altíssimo porque, pela dignidade intrínseca e ontológica que eles possuem – dignidade que os conforma a Jesus Cristo -, não convém que eles estejam sujeitos a uma autoridade inferior (a autoridade temporal). É degradante para a dignidade sacerdotal e injurioso à Igreja de Nosso Senhor quando um sacerdote é tratado pelos poderes civis como um criminoso comum. O poder temporal – como ensina a Igreja – existe para estar a Seu serviço: “As palavras do Evange[l]ho nos ensinam: esta potência comporta duas espadas, todas as duas estão em poder da Igreja: a espada espiritual e a espada temporal. Mas esta última deve ser usada para a Igreja enquanto que a primeira deve ser usada pela Igreja. O espiritual deve ser manuseado pela mão do padre; o temporal, pela mão dos reis e cavaleiros, com o consenso e segundo a vontade do padre. Uma espada deve estar subordinada à outra espada; a autoridade temporal deve ser submissa à autoridade espiritual” (Papa Bonifácio VIII, Bula Unam Sanctam). Não existe autoridade civil com potestade para constranger a Igreja, nem poder temporal que possa de per si julgar e condenar os sacerdotes do Deus Altíssimo.

Sacerdotes são homens e estão – como todos – sujeitos a falhas, sem dúvida. Podem errar tanto em matéria doutrinal quanto civil ou criminal; em qualquer dos casos, no entanto, é a Igreja que detém verdadeira e propriamente o poder de jurisdição sobre eles. Afirmar a primazia da Igreja no julgamento dos Seus ministros não é de maneira alguma relativizar a gravidade das falhas dos sacerdotes ou fazer pouco caso da Justiça; ao contrário, é defender a dignidade intrínseca do sacerdócio e conferir aos ministro de Deus o tratamento que convém ao que eles são. Chesterton diz que um homem nunca age como um animal: ou age muito melhor do que um, quando se comporta como um homem, ou muito pior, quando, esquecendo-se daquilo que é, pratica atos que são próprios de animais irracionais. O mesmo vale para os sacerdotes: nunca agem como “homens comuns”. Se eles viverem realmente como sacerdotes, serão infinitamente superiores aos demais homens e, se esquecerem a sua dignidade e se comportarem como “qualquer um”, estarão se colocando profundamente abaixo deles. E o mesmo vale para os poderes civis: se estes, à revelia da Igreja, tratam os sacerdotes como se sacerdotes não fossem, estão a ofender o Deus Altíssimo, a zombar da dignidade sacerdotal, e a injuriar a Igreja de Deus.

Os últimos dias de Voltaire – por Rodrigo Pedroso

[O texto abaixo foi-me gentilmente enviado pelo Rodrigo Pedroso, por email. Lembrei-me imediatamente dos últimos dias de vida de um outro grande inimigo da Igreja, Antonio Gramsci, cuja possível conversão às portas da morte foi noticiada recentemente. Já havia lido sobre a conversão de Voltaire; sei que é controversa. No entanto, aqui vale o mesmo que foi dito sobre a conversão de Gramsci: é próprio da Igreja abraçar os penitentes que um dia A perseguiram. Todos os homens – Voltaire inclusive – precisam da Igreja; e certamente Ela esteve de braços abertos a esperá-lo até o último suspiro. Que a Virgem Santíssima, Refúgio dos Pecadores, possa ter-lhe ajudado a levantar-se da lama e voltar para Casa, nem que tenha sido ao último suspiro.]

Voltaire não terminou seus dias como ateu. Terminou-os como um desesperado.

No início de sua longa agonia, Voltaire mandou ao abade Gaultier o seguinte bilhete:

Vous m’aviez promis, Monsieur, de venir pour m’entendre; je vous prie de vouloir bien vous donner la peine de venir le plus tôt que vous pourrez. Signé Voltaire. A Paris, le 26 février 1778.

Dias depois, ele ditou a seu secretário e assinou, perante duas testemunhas (o abade Mignot, seu sobrinho, e o Marquês de Villevielle), a seguinte declaração, que foi registrada nos arquivos de M. Momet, tabelião público em Paris:

Je soussigné declaré qu’étant attaqué depuis quatre jours d’un vomissement de sang, à l’âge de quatre-vingt-quatre ans, et n’ayant pu me traîner à l’église, M. le curé de Saint-Sulpice ayant bien voulu ajouter à ses bonnes ouvres celle de m’envoyer M. Gaultier, prêtre; je me suis confessé à lui; et que si Dieu dispose de moi, je meurs dans la sainte Église catholique où je suis né, espérant de la miséricorde divine, qu’elle daignera pardonner toutes mes fautes; si j’avais jamais scandalisé l’Église, j’en demande pardon à Dieu et à elle, 2 mars 1778. Signé Voltaire, en présence de M. l’abbé Mignot mon neveu, et de M. le marquis de Villevielle mon ami.

Depois de assinada a declaração por Voltaire e pelas duas testemunhas, ele ainda ditou mais essas palavras:

M. l’abbé Gaultier, mon confesseur, m’ayant averti qu’on disait dans un certain mode que je protesterais contre tout ce que je ferais à la mort, je déclare que je n’ai jamais tenu ce propos; et que c’est une ancienne plaisanterie attribuée dès longtemps très faussement à plusieurs savants plus éclairés que moi.

Com o consentimento de Voltaire, o abade Gaultier levou a declaração assinada e registrada em cartório ao vigário de St.-Sulpice e ao arcebispo de Paris, para saber se era retratação suficiente para lhe poder dar a absolvição sacramental. Quando o abade Gaultier retornou com a resposta, foi impedido de aproximar-se do moribundo por seus “amigos”, entre eles D’Alembert e Diderot, que passaram a controlar rigidamente o acesso de qualquer pessoa ao doente.

Duas testemunhas da agonia de Voltaire, seu medico M. Tronchin e o marechal de Richelieu, narram que seus últimos dias foram dolorosos e cheios de desespero. Segundo Tronchin, “les fureurs d’Oreste ne donnent qu’une idée bien faible de celles de Voltaire”. Angustiado pelo remorso, alternativamente invocava e blasfemava o nome de Deus em altos gritos: “Jésus-Christ! Jésus-Christ!”. O marechal de Richelieu narrou sua agonia nas Circonstances de la vie et de la mort de Voltaire e nas Lettres Helviennes.Voltaire morreu no dia 30 de maio de 1778. Seu corpo, vestido com roupas de mulher e disfarçado de inválido, foi levado numa carruagem; ao seu lado, um empregado cuja função era mantê-lo na posição. A essa carruagem eram atrelados seis cavalos, de tal modo que as pessoas pensassem que alguém rico viajava. Outra carruagem a seguia, na qual viajavam o abade Mignot, sobrinho de Voltaire, e outros dois primos seus. Viajaram durante toda a noite, e no dia seguinte chegaram à abadia de Scellières. O abade Mignot apresentou ao prior da abadia a declaração de Voltaire acima referida e a resposta do vigário de St.-Sulpice, considerando-a retratação válida. Foi rezada missa de corpo presente e realizado o sepultamento.

Os “amigos” de Voltaire, todavia, sustentaram desde aquela época, que a declaração por ele assinada e registrada em cartório não era sincera, mas apenas um meio de que ele se valeu para que não se recusasse a seu corpo sepultura em cemitério cristão. Com certeza, talvez saberemos a verdade apenas no dia do Juízo.

Os dados sobre a morte e o sepultamento de Voltaire encontram-se no tomo XII de uma revista francesa da época, Correspondance Littéraire, Philosophique et Critique, que circulou até 1793.

Está na página 87 do tomo XII da revista Correspondence littéraire, philosophique et critique, editada pelos iluministas Barão de Grimm e Diderot.

A declaração começa no finzinho da página, continuando na página seguinte da revista.

O amor à verdade e o ódio à mentira

– Depois disto, portanto, repara se é necessário que, além desta qualidade [sempre apaixonados pelo saber na sua totalidade], haja outra na sua natureza, se [os filósofos] quiserem ser tais como os descrevemos.
– Qual?
– A aversão à mentira e a recusa em admitir voluntariamente a falsidade, seja como for, mas antes odiá-la e pregar a verdade.
– É natural – disse ele.
– Não só é natural, meu amigo, mas é imperioso que uma pessoa que seja por natureza enamorada preze tudo aquilo que se aparentar ou relacionar com a coisa amada.
– Exatamente.
– Ora, poderá encontrar-se algo de mais relacionado com a sabedoria do que a verdade?
– Como poderia ser? – perguntou ele.
– É possível que uma mesma criatura seja ao mesmo tempo amiga da sabedoria e da mentira?
– De modo algum.
[Platão, “A República”, Livro VI (484a-d); Editora Martin Claret, São Paulo, 2006, p. 180]

A verdade e a aversão à verdade vieram ao mundo juntas. Assim que a verdade apareceu, foi olhada como inimiga.
[Tertuliano, “Apologia”, cap. VIII]

O Gênero Humano, após sua miserável queda de Deus, o Criador e Doador dos dons celestes, “pela inveja do demônio,” separou-se em duas partes diferentes e opostas, das quais uma resolutamente luta pela verdade e virtude, e a outra por aquelas coisas que são contrárias à virtude e à verdade. Uma é o reino de Deus na terra, especificamente, a verdadeira Igreja de Jesus Cristo; e aqueles que desejam em seus corações estar unidos a ela, de modo a receber a salvação, devem necessariamente servir a Deus e Seu único Filho com toda a sua mente e com um desejo completo. A outra é o reino de Satanás, em cuja possessão e controle estão todos e quaisquer que sigam o exemplo fatal de seu líder e de nossos primeiros pais, aqueles que se recusam a obedecer à lei divina e eterna, e que têm muitos objetivos próprios em desprezo a Deus, e também muitos objetivos contra Deus.

Este reino dividido Sto. Agostinho penetrantemente discerniu e descreveu ao modo de duas cidades, contrárias em suas leis porque lutando por objetivos contrários; e com sutil brevidade ele expressou a causa eficiente de cada uma nessas palavras: “Dois amores formaram duas cidades: o amor de si mesmo, atingindo até o desprezo de Deus, uma cidade terrena; e o amor de Deus, atingindo até o desprezo de si mesmo, uma cidade celestial” [De civ. Dei, 14, 28 (PL 41, 436)]. Em cada período do tempo uma tem estado em conflito com a outra, com uma variedade e multiplicidade de armas e de batalhas, embora nem sempre com igual ardor e assalto.
[Papa Leão XIII, Humanus Genus, 1-2]

Muitas pessoas não entendem o que é o catolicismo, não entendem o que é a Igreja, não entendem qual o papel que compete aos católicos que são soldados de Cristo na Igreja Militante, não entendem o valor da intransigência nem a dupla perspectiva sobre a qual precisa ser encarado o amor. É de se lamentar que, entre essas pessoas, contem-se não poucos “católicos”, que passam a sua vida sem se esforçar para fazer aquilo que lhes compete fazer ou – pior ainda – perseguindo os católicos que se esforçam para serem menos indignos do nome de “cristãos” que lhes foi dado no seu batismo. Esforcemo-nos um pouco para, à luz da religião cristã, analisarmos melhor cada uma dessas coisas.

O catolicismo é a religião verdadeira com exclusão de todas as outras, é a Sã Doutrina que o próprio Deus legou aos seres humanos, ensinando-lhes tudo o que eles precisavam saber sobre Si para chegarem ao conhecimento de Deus e, por conseguinte, à Salvação. Não se trata, pois, de um fruto da investigação humana, de uma filosofia elaborada pelos maiores gênios da humanidade, mas – ao contrário – da Revelação do próprio Deus que, como é a própria Verdade, não pode enganar-Se e nem nos enganar. O catolicismo é a única religião verdadeira, capaz de religar o homem pecador a Deus infinitamente santo.

A Igreja é a Guardiã infalível destas verdades que – repetimos – foi o próprio Deus que revelou aos seres humanos e, por conseguinte, é isenta de todo erro. A Igreja é instituição divina, é a única obra encontrada neste mundo que foi realizada não por mãos humanas, mas pelo próprio Deus. É uma espécie de milagre permanente, farol seguro a iluminar a História mostrando aos homens de todos os tempos e lugares o único caminho verdadeiro – estreito, como disse Nosso Senhor, mas verdadeiro sem dúvidas, pela Sua própria autoridade divina – que os homens precisam seguir se quiserem conhecer verdadeiramente ao Deus Criador dos Céus e da Terra.

Os católicos são os filhos da Igreja, a quem Deus concedeu a imerecida graça de conhecerem os Seus desígnios e as verdades sobre Ele que Lhe aprouve revelar, e são também os soldados de Cristo, i.e., aqueles a quem compete o singularíssimo papel de guardar a Verdade Revelada e fazê-lA conhecida de todos os homens, pois todos os homens têm necessidade absoluta d’Ela, para serem salvos. Têm portanto este duplo papel todos aqueles que foram chamados à dignidade de filhos de Deus pelo Batismo: o de anunciarem o Evangelho e o de defenderem a Sã Doutrina da Salvação, defenderem a Igreja, defenderem o catolicismo, de  todos os ataques que – desde que o mundo é mundo – os inimigos da Religião Verdadeira dirigem aos filhos de Deus.

A intransigência católica é, portanto, uma espécie de legítima defesa da Verdade ameaçada pelo erro, é a única atitude coerente diante de uma Doutrina que se sabe certa e sem mistura de erro algum, que não foi produzida por homens falíveis mas entregue aos homens pelo próprio Deus infalível. Uma tal Doutrina deve, necessariamente, ser defendida de todos os erros, deve ser guardada com a máxima diligência, cuidando zelosamente para que, n’Ela, não se introduzam elementos falsos nem Lhe sejam retirados verdadeiros. A Verdade é intrinsecamente intrasigente, por uma questão de princípios lógicos os mais elementares, que dizem que duas coisas contraditórias não podem ser ao mesmo tempo verdadeiras. Sabendo-se, pois, que a Doutrina Católica é verdadeira – porque, repetimos, Ela foi-nos entregue pelo próprio Deus que, sendo Ele mesmo a própria Verdade, não pode enganar-Se e nem nos enganar – não se pode admitir, sob nenhuma hipótese, que Ela seja contaminada com doutrinas espúrias de autenticidade duvidosa.

De tudo isto, portanto – e aqui encaixamos todas as citações que foram postas em epígrafe -, segue-se que o amor à Verdade precisa ser encarado também sob o aspecto do ódio à mentira. Não ama verdadeiramente a Deus quem, ao mesmo tempo, é amigo dos inimigos de Deus; não tem verdadeiro amor à Verdade aquele que não A defende dos erros, colocando-A em pé de igualdade com os mais diversos delírios e opiniões. O católico, cristão militante, membro da Igreja de Nosso Senhor, defensor intransigente da Sã Doutrina revelada por Deus, tem uma espada de dois gumes que deve manejar com maestria para cumprir com o seu papel: o amor à Verdade e o ódio à Mentira. O amor à Igreja e o ódio à anti-Igreja. O amor à Cidade de Deus e o ódio à Cidade dos Homens. O amor aos filhos da Mulher e o ódio aos filhos da Serpente.

Eis, pois, postos os princípios que devem nortear a atitude dos católicos em todos os âmbitos de suas vidas. O amor verdadeiro não é um amor “frouxo”, romantizado e incoerente como o pregam não poucas pessoas nos nossos dias. O amor precisa ser verdadeiro, precisa desejar o bem da pessoa amada e detestar tudo o que lhe pode provocar mal. O amor à Verdade exige o ódio à Mentira – um não pode existir verdadeiramente sem o outro. E, considerando tanto quanto foi dito, considerando que a História é um campo dividido ao meio onde combatem entre si os filhos de Deus e os filhos da Serpente – como a Igreja sempre ensinou -, fica evidente o tamanho da responsabilidade que os católicos têm. Devem defender a Deus, trabalhando diligentemente para que o Evangelho da Salvação seja cada vez mais conhecido pelos homens que d’Ele necessitam. Devem arrancar almas à Satanás, brandindo corajosamente os argumentos católicos contra as falácias das almas iludidas pela astúcia do Demônio, a fim de derrotar a insídia diabólica e possibilitar, com a graça de Deus, uma conversão. Devem se pôr na brecha das muralhas da Igreja, defendendo-A valorosamente dos ataques a Ela dirigidos por tantos quanto militam nas hostes do Príncipe das Trevas. Devem, em suma, portarem-se como cristãos autênticos.

Esta luta – em defesa da Verdade, pela (verdadeira) instauração do Reino de Deus sobre a terra – é a mais importante e a mais fundamental de todas as lutas, porque os problemas que afligem o mundo moderno são apenas sintomas do problema de fundo, do problema capital, que é de natureza religiosa. Não tenhamos dúvidas disso: o Evangelho de Nosso Senhor é o único remédio verdadeiro a ser ministrado à humanidade enferma. Acreditemos n’aquilo que disse Platão há mais de dois milênios: “tendo a verdade por corifeu, não creio que se possa dizer que um coro de vícios segue atrás dela. […] Mas que vem atrás dela uma maneira de ser sã e justa” [op. cit., p. 186]. Confessemos com destemor esta verdade evidente, também repetida por Santo Agostinho e lembrada pelo grande Papa Leão XIII:

“Os que dizem que a doutrina de Cristo é contrária ao bem do Estado dêem-nos um exército de soldados tais como os faz a doutrina de Cristo, dêem-nos tais governadores de províncias, tais maridos, tais esposas, tais pais, tais filhos, tais mestres, tais servos, tais reis, tais juízes, tais contribuintes, enfim, e agentes do fisco tais como os quer a doutrina cristã! E então ousem ainda dizer que ela é contrária ao Estado! Muito antes, porém, não hesitem em confessar que ela é uma grande salvaguarda para o Estado quando é seguida” (Epist. 138 (al. 5) ad Marcellinum, cap. II, n. 15).
[Santo Agostinho, apud Leão XIII, Immortale Dei, 27]

Esforcemo-nos, pois, com o auxílio da Virgem Santíssima, Aquela que venceu sozinha todas as heresias do mundo inteiro, para sermos menos indignos das honras que nos foram conferidas por ocasião do nosso Batismo. Elevemos bem alto o estandarte de Cristo Rei, carregando em nossas vidas o Evangelho de Jesus Cristo, sendo testemunho vivo do poder do Crucificado. Militemos com destemor pela Igreja de Nosso Senhor, a fim de que a Verdade triunfe sobre os erros e todos os homens possam conhecer a Verdade que liberta, a Sã Doutrina da Igreja, a Fé Católica e Apostólica, para a maior glória de Deus.

Católicos e “católicos”

Esta eu reproduzo porque chega a ser engraçada; foram as respostas de um sujeito ao email no qual constava a lista dos 63 deputados abortistas que assinaram o requerimento para que o projeto de lei do aborto não fosse definitivamente arquivado. Todos os erros ortográficos, lógicos e teológicos são da responsabilidade do autor das mensagens.

A primeira pérola:

Prezado:  Sou Catolico, mas sou a favor do Divorcio e do Aborto, bem como o direito dos Padres Casarem. A Igreja Catolica, precisa estar perto do povo e de seus clamores. O Aborto é feito no Brasil de forma clandestina, e leva ao risco de vida milhares de mulheres. Com a legalização do aborto, estariamos mais próximo de Deus, poís  evitaria o risco de vida destas mulheres, e acabaria com  esse crime ediondo que é o aborto clandestino. alvaro celeste

E a segunda:

Leia frei beto e leonardo boff, os grandes teologos da igreja catolica,  estas suas posições são do passado,   o povo braseiro, ama, mais o Bispo Edir Macedo, do que  o Papa, porque? Meu amigo de fé catolica, entre para o nosso grupo da Teologia da Libertação, siga, frei Beto e tantos outros, por somente com a TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO  voçê estará ao lado de Deue? Voce já viu algum padre da teologia da libertação metido em pedofilia? Não, agora os padres conservadores estão envolvidos em escandalos, veja nos estados unidos,  os casos de abuso sexual. Viva a Teologia da Libertação o caminho certo da Igreja Catolica, o Caminho de Cristo, o maior Socialista que este mundo já teve,  comparo CRISTO A FIDEL CASTRO,  são homens enviados por Deus para Libertar, eu comungo todos os domingos, e tenho o apoio da maioria dos catolicos, inclusive o Presidente Chaves, Lula, são Cristão e estão ao lado do Povo. Portando amigo Cristo, Chaves, Brizola, Lula, Fidel Castro, estes são os nossos Deuses, estes tem valor, para mim o  Papa ,e esta ultrapassado, na idade da pedra. veja a China que progresso. O Maior Comunista do Mundo era Jesus Cristo. Portanto a minha Igreja Catolica, a do futuro, a dos jovens, a Deus, é a favor do aborto, do divorcio, do socialismo, do casamento dos padres,  e do fim da propriedade privada. Saudações Catolicas Romanas Alvaro Celeste

Sinceramente, eu não consigo entender o que passa pela cabeça de uma pessoa dessas. O que raios essa gente pensa que é “ser católico”? Uma mera expressão destituída de significado objetivo? Uma qualidade que se realiza em todas as pessoas que simplesmente afirmam que o são? Nunca, em lugar nenhum, as pessoas “passaram a ser” o que quer que fosse simplesmente por dizerem que eram!

Um idiota qualquer que dissesse ser presidente da República (à exceção do caso em que o idiota em questão fosse o próprio Lula) no máximo provocaria risos. Um sujeito que dissesse ser torcedor do Sport e fosse com uma camisa do Náutico para o meio da Torcida Jovem num Clássico dos Clássicos provavelmente ia ser linchado. Um indivíduo que se dissesse muçulmano e freqüentasse uma sinagoga tinha grandes chances de ser assassinado. Por que somente com a Igreja Católica as pessoas pensam que podem agir de qualquer maneira, fazer qualquer coisa, defender qualquer bobagem – e continuar se dizendo católicas?

A Igreja não é uma espécie de terra de ninguém onde tanto faz o que as pessoas pensem ou como elas ajam. A Igreja é – entre outras coisas – uma comunhão de Fé. Os católicos, quaisquer que sejam eles, são aquelas pessoas que professam a mesma Fé – a Fé que Deus revelou, que os Apóstolos transmitiram e a Igreja guardou ao longo dos séculos. E isso não é uma “imposição”; é, ao contrário, uma livre adesão que cada católico precisa fazer à Doutrina da Igreja. Falar alguma coisa diferente disso é esvaziar o termo “católico” do seu significado real e roubar à Igreja a prerrogativa de Se definir.

Ninguém é obrigado a ser católico (salvo a obrigação moral que todos os homens têm de buscar a Verdade e, uma vez encontrando-A, abraçá-lA, mas isto é outra história). Mas o mínimo que se exige dos que querem ser católicos é que o sejam de fato, e não somente da boca pra fora. As atitudes de pessoas como a que escreveu as duas mensagens acima são de uma profunda injustiça para com a Igreja e para com os que se esforçam para – ainda que indignamente – segui-lA o melhor possível. Ninguém pode ser forçado a abandonar uma idéia, por mais estúpida que ela seja; portanto, que cada um seja o que quiser ser, mas deixem que sejamos católicos! E que a Virgem Santíssima nos guarde a todos na fidelidade a esta Doutrina, a fim de que possamos exclamar com retidão de consciência todos os dias: esta é a nossa Fé, que da Igreja recebemos, e sinceramente professamos.