Apanhado ligeiro

Pais não revelam sexo de sua criança de dois anos e meio. Na opinião da mãe, “[q]ueremos que Pop cresça com maior liberdade e que não seja forçado a um gênero que o/a moldará”. A criança “usa vestidos e também calças masculinas e seu cabelo muda do estilo feminino para o masculino a cada manhã”. Sinceramente, isso já está ultrapassando todos os limites do ridículo. Sempre me pareceu a coisa mais estúpida do mundo recusar-se a dar educação religiosa para a criança, sob a justificativa de que ela poderia “escolher por si própria” quando crescesse. Parece que eu estava enganado, porque conseguiram fazer uma coisa ainda mais idiota na Suécia. Pobre criança! Será que a mãe dela também vai se recusar a mandá-la à escola para que ela decida sozinha, quando crescer, se quer estudar ou não?

Jovens que matam cão em vídeo confessam crime no RS. Fiquei curioso por saber qual era o crime em que incorria quem matasse um cachorro. Acredito que seja a Lei de Crimes Ambientais (9.605/98). Segundo esta, é crime “[p]raticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados”, e “[a] pena é aumentada de um sexto a um terço, se ocorre morte do animal” (art. 32). A pena? “[D]etenção,  de três meses a um ano, e multa”. Temos, portanto, que os garotos que mataram um cachorro no RS podem ficar presos por até 16 meses, além de pagarem multa (a conjunção é aditiva, e não alternativa). Obviamente, o ato praticado pelos fulanos foi bárbaro e sádico (eles mataram o pobre animal a pauladas, enquanto filmavam), mas gastar tempo e dinheiro com abertura de inquéritos e procedimentos judiciais, que podem culminar em quase um ano e meio de prisão, não é um pouco exagerado para um cachorro morto?

– Mais sobre Honduras: Bispos católicos das Honduras apoiam golpistas (!), na suprema imparcialidade deste jornal eletrônico de Portugal; o avião do presidente deposto, que iria pousar ontem em Tegucigalpa, foi impedido de aterrissar. Uma pessoa morreu nas manifestações. O presidente Lula se diz preocupado com o aumento da violência no país, mas não esconde a sua simpatia – ou, melhor dizendo, o seu apoio entusiasta – ao presidente exilado: “[o]s golpistas têm que entender isso: não é possível aceitarmos mais golpes na América Latina”, “[o governo interino de Honduras] não pode ser reconhecido em hipótese alguma”, e “precisamos procurar uma interlocução, não com os golpistas mas com personalidades [da sociedade]”…

Enfim, um ateísmo com profundidade, artigo da Carta Capital. Onde está esta “profundidade”, é um mistério que me escapa à compreensão; talvez no livro citado pelo articulista, “O Espírito do Ateísmo”, de André Comte-Sponville. Não conheço a obra, mas é importante não confundir o autor com Augusto Comte. Parece ser interessante, porque fala em “espiritualidade atéia” e em “Pentecostes dos ateus, ou o verdadeiro espírito do ateísmo”. Achei engraçado como este “verdadeiro espírito” ateu parece uma caricatura do cristão. Se tiver tempo, ponho uma resenha do livro aqui depois.

Publicado por

Jorge Ferraz (admin)

Católico Apostólico Romano, por graça de Deus e clemência da Virgem Santíssima; pecador miserável, a despeito dos muitos favores recebidos do Alto; filho de Deus e da Santa Madre Igreja, com desejo sincero de consumir a vida para a maior glória de Deus.

27 comentários em “Apanhado ligeiro”

  1. Discordo quanto ao pobre do perro.

    Mal-tratar um animal por puro prazer sádico é claramente um desvio psicológico e, como tal, deve ser punido.

    Note que uma certa crueldade para com animais é comum em meninos e rapazes, mas no caso em questão todos os três eram maiores de idade, o que torna o caso mais preocupante.

    Ainda que se considere esse crime de pequeníssima importância, é preciso levar em conta que a impunidade de pequenos delitos gera a impunidade dos grandes delitos.

    Em se tratando de um animal vadio, o procedimento correto seria “eutaniza-lo” com veneno ou à bala. Nesse caso, a motivação não seria o prazer em causar sofrimento e sim a eliminação de um potencial vetor de doenças.

    Obviamente, contudo, há uma grave incoerência numa sociedade que é tão rigorosa com crimes contra animais mas é tolerante com o aborto.

  2. JB,

    Que maltratar o pobre cachorro “por puro prazer sádico é claramente um desvio psicológico”, eu concordo in totum. Mas, no lugar de “deve ser punido”, eu diria que deve ser tratado. Ainda que houvesse punição estatal – cuja ratio eu não consigo entender muito bem, mas vá lá; concedamos que o sadismo é passível de punição -, detenção me parece de uma desproporção gritante. Ponham-se os meninos para pagar multas ou realizar serviços comunitários.

    E o cerne da questão é, sim, o que tu colocaste: “há uma grave incoerência numa sociedade que é tão rigorosa com crimes contra animais mas é tolerante com o aborto”.

    Abraços,
    Jorge

  3. “Sempre me pareceu a coisa mais estúpida do mundo recusar-se a dar educação religiosa para a criança, sob a justificativa de que ela poderia “escolher por si própria” quando crescesse.”

    Suponho então, caro Jorge, que você apoiaria uma educação religiosa evangélica, muçulmana ou do candomblé para as crianças?

    Abraço.

  4. Mallmal,

    Uma família evangélica, muçulmana ou macumbeira tem obviamente o dever de consciência de educar os seus filhos no protestantismo, no islamismo ou na macumba. Quem se recusa a fazê-lo, é porque não acredita realmente na própria religião.

    Abraços,
    Jorge

  5. Caro Jorge:

    A “ratio” é simples.

    Animais são criaturas de Deus postas a serviço do Homem e como tal devem ser usadas e não abusadas. Torturar um pobre cão é prova de ingratidão para com o Criador de tão bom animal.

    Além disso, deve ser possível provar que tal comportamento para com animais, se não coibido, pode eventualmente evoluir para psicopatias mais graves.

    É possível, por exemplo, que aqueles fulanos que torturaram o cão venham no futuro, se não forem “tratados” adequadamente, a tornar-se médicos abortistas. Ou até mesmo torcedores do Corinthias.

  6. Achei interessante a citação da outra psicóloga, na notícia:

    “As crianças são curiosas sobre suas identidades e tendem a gravitar em torno das de mesmo sexo no começo da infância”.

    Isso significa que a naturalidade fisiológica (nos genitais) do sexo já é identificada e vivida por uma criança na primeira infância. Portanto, derruba o postulado dos militantes gays de que o homossexualismo é natural — se por natural se entende a complexidade da mente humana e da construção da humana e, mesmo assim, com muitos “se’s”.

  7. JB,

    Animais são criaturas de Deus postas a serviço do Homem e como tal devem ser usadas e não abusadas. Torturar um pobre cão é prova de ingratidão para com o Criador de tão bom animal.

    Sim, caríssimo, sem dúvidas. Não estou – absolutamente – levantando questões sobre a moralidade do ato de espancar um cachorro, e sim sobre a razoabilidade da intervenção estatal – e desta, em específico, que me parece desproporcional – para este ato.

    Há coisas que, moralmente, são muito mais graves do que torturar animais e, mesmo assim, não recebem sanções penais das autoridades civis.

    Além disso, deve ser possível provar que tal comportamento para com animais, se não coibido, pode eventualmente evoluir para psicopatias mais graves.

    Bom, pode ser. Mas é razoável prender uma pessoa por uma eventual evolução futura de seu sadismo presente?

    Tratamento, serviços comunitários, multas [razoáveis], vá lá. Mas uma pena que pode chegar a 16 meses não te parece exagerada?

    É possível, por exemplo, que aqueles fulanos que torturaram o cão venham no futuro, se não forem “tratados” adequadamente, a tornar-se médicos abortistas.

    Se fosse este o motivo, o governo brasileiro estaria incentivando a tortura de cachorros, o esfolamento de gatos…

    Abraços,
    Jorge

  8. Caros Jorge e João de Barros,
    Não creio que “a sociedade” seja tolerante com o aborto. Apesar de todas as campanhas governamentais e midiáticas,todas as pesquisas que conheço mostram sempre uma justa repulsa do povão contra esse crime monstruoso. Abortista, no Brasil, é o PT de Lula, o PSDB de Serra, a Record do pEdir MaisCedo e a mídia maçônica em geral. Nenhum destes representa “a sociedade”.
    Um abraço.
    Carlos.

  9. Há uma semana adotei um cãozinho que seria sacrificado. Acho que matar os animais não é solução pra nada. Agora, se o código penal prevê punição para esse ato, deve ser punido. Assim como vários outros artigos legais devem ser executados. Não é porque se releva alguns artigos mais importantes que os menos importantes não devam ser executados; mas porque os menos importantes devem ser executados é que os mais importantes devem ter ainda mais relevância. Proteger os ovos das tartarugas, por exemplo, mostra que a vida começa bem antes do nascimento…

  10. Jorge, suponho, então, novamente, que você considera válida a educação de crianças de uma família atéia no humanismo secular?

  11. Caros Jorge e Carlos:

    Sim, sem sombra de dúvidas.

    Por mais leis que se façam para proteger os animais, se as pessoas pouco a pouco vão achando normal o aborto e a eutanásia, a porta abre-se para os mais diversos tipos de violências sádicas contra os mais fracos (filhos, crianças, bichinhos, etc.).

    A ativa política pró-aborto do governo irá inevitavelmente levar a um aumento da violência em geral. Numa sociedade abortista e eutanasista, é de se esperar que o número de serial killers e outros psicopatas graves tenda a aumentar, como se vê nos EUA.

    Por outro lado, o Carlos tem razão. No Brasil, por enquanto, a sociedade ainda não tolera o aborto. Mas é preciso reconhecer que a situação vai mudando. O caso aí em Recife do duplo-aborto foi uma jogada de mestre dos abortistas.

  12. Caro Jorge:

    Os fulanos que bateram no cãozinho podem eventualmente vir a cumprir pena em prisão, o que obviamente será um exagero.

    Todavia, acho altamente improvável que isso ocorra. Ainda há juízes de bom-senso e o mais provável é que eles acabem mesmo prestando algum serviço comunitário ou doando cestas-básicas para famílias carentes.

    Se assim for, justiça terá sido feita.

  13. Que a Paz esteja com vocês!

    “Sim, caríssimo, sem dúvidas. Não estou – absolutamente – levantando questões sobre a moralidade do ato de espancar um cachorro, e sim sobre a razoabilidade da intervenção estatal – e desta, em específico, que me parece desproporcional – para este ato.”

    Entretanto há um detalhe da legislação que ainda não foi colocado: Neste caso ao cumprir o quantum mínimo de 1/6 da pena, eles passariam a ter direito à progressão de regime, ou seja, na prática não ficariam mais do que 3 meses reclusos.

    Paz e Bem.

    Euripedes Costa.

  14. Cara Luh Lena:

    Também adoro animais.

    Matar animais é triste, mas muitas vezes é a melhor solução. É melhor para eles e também para nós.

    Obviamente, matar e torturar não são sinônimos.

    No caso em questão, o problema não foi ter matado o cão. Isso seria irrelevante. Eliminar cães vadios é até um útil serviço prestado à sociedade. O problema do caso em pauta foi terem torturado por mero prazer o pobre animal. E isso faz toda a diferença.

  15. Mallmal,

    Jorge, suponho, então, novamente, que você considera válida a educação de crianças de uma família atéia no humanismo secular?

    Quanto ao ateísmo, eu não sei se ateus propriamente ditos têm obrigação de consciência de qualquer espécie no tocante à educação religiosa dos seus filhos. O que quer que seja o “humanismo secular”, o que acontece é que “[o] direito e o dever da educação são primordiais e inalienáveis para os pais” (Catecismo, 2221); isso é dito para a família católica, mas vale também analogamente para a família natural: s.m.j., toda família tem o direito e o dever de educar os seus filhos da maneira que, em consciência, julgar melhor.

    Abraços,
    Jorge

  16. Comentário do sujeito : “mas gastar tempo e dinheiro com abertura de inquéritos e procedimentos judiciais, que podem culminar em quase um ano e meio de prisão, não é um pouco exagerado para um cachorro morto?”

    Quanto mais eu conheço dessa criaturinha suja mais eu tenho certeza que os sujeitos teriam feito melhor acertando ele e não o cão.

    Menos religião e mais empatia seriam melhor, é muito melhor ter empatia com o cachorro do que contigo sujeitinho.

  17. Jorge,
    o bem tutelado pela lei de proteção aos animais (é bem mais velha que a crimes ambientais) é o sentimento humano em relação aos mesmos animais. O homem respeita, admira e tem carinho por vários espécies de bichos (não é o caso dos ratos e das baratas) e é esse sentimento que merece proteção legal. Animais não são sujeitos de direito, aliás. Um carroceiro que espanque violentamente seu animal de tração (burro, mula ou cavalo) pode ser condenado à multa e à perda do animal.
    Se não me falha a cachola, a lei de crimes ambientais protege os animais da fauna nacional. Então seria preciso saber a raça do cão assassinado.
    Além disso, ninguém vai preso com uma pena de 18 meses. Há sursis, há a conversão em cestas básicas, etc. Para mim, esse tipo de demonstração de sadismo deveria exigir um tipo de acompanhamento psicológico compulsório.
    Sds.,
    de Marcelo.

  18. Jorge Ferraz comenta:

    Quanto ao ateísmo, eu não sei se ateus propriamente ditos têm obrigação de consciência de qualquer espécie no tocante à educação religiosa dos seus filhos.

    Acredito que não. Mas talvez não existam os ateus propriamente ditos. Ou seja, talvez se todas as pessoas escutassem com sinceridade a consciência, não existisse ateus.

  19. Jorge Ferraz:

    mas gastar tempo e dinheiro com abertura de inquéritos e procedimentos judiciais, que podem culminar em quase um ano e meio de prisão, não é um pouco exagerado para um cachorro morto?

    Talvez, “talvez”, a lei esteja desproporcionada do lado de lá, apesar de que um julgamento real provavelmente não confirma a “previsão reduzida” que fazemos com um trecho de lei. Agora, Jorge exagerou do lado de cá! Com essa aí eu fiquei bobo: “gastar tempo e dinheiro com abertura de inquéritos e procedimentos judiciais”. Tem é que gastar mesmo…

  20. Sobre aquela situação dos pais que não pretendem revelar (se puderem) o “gênero” de seu/sua filho/filha a ele/ela: “cobaias de uma psicologia ‘sem Deus’ “.

  21. Um pequeno off:

    Comentário do sujeito : “mas gastar tempo e dinheiro com abertura de inquéritos e procedimentos judiciais, que podem culminar em quase um ano e meio de prisão, não é um pouco exagerado para um cachorro morto?”

    Quanto mais eu conheço dessa criaturinha suja mais eu tenho certeza que os sujeitos teriam feito melhor acertando ele e não o cão.

    Menos religião e mais empatia seriam melhor, é muito melhor ter empatia com o cachorro do que contigo sujeitinho.

    Nossa, quanta caridade. Engraçado como os violentos chamam os outros de violentos. Depois vêm dizer que os católicos é que são hipócritas.

  22. Alexandre,

    Agora, Jorge exagerou do lado de cá! Com essa aí eu fiquei bobo: “gastar tempo e dinheiro com abertura de inquéritos e procedimentos judiciais”. Tem é que gastar mesmo…

    Sim, óbvio que não estou falando contra os inquéritos e procedimentos judiciais em si, e sim questionando se não é exagerado neste caso de um cachorro morto. Os recursos são limitados, e será que não há nada mais importante a fazer?

    Abraços,
    Jorge

  23. Eu falei:

    Agora, Jorge exagerou do lado de cá! Com essa aí eu fiquei bobo: “gastar tempo e dinheiro com abertura de inquéritos e procedimentos judiciais”. Tem é que gastar mesmo…

    Jorge Ferraz comentou:

    Sim, óbvio que não estou falando contra os inquéritos e procedimentos judiciais em si, e sim questionando se não é exagerado neste caso de um cachorro morto.

    Fiz aquela primeira citação de forma errada. Jorge subiu no bonde. Eu não queria me referir a inquéritos e procedimentos judiciais de uma forma geral, quando disse “tem é que gastar mesmo”. Eu queria me referir aos inquéritos e procedimentos judiciais relacionados ao caso que “analisamos”.

    Não, eu não penso que seja exagerado, neste caso de um cachorro morto, “gastar tempo e dinheiro com abertura de inquéritos e procedimentos judiciais”.

    Jorge Ferraz continua:

    Os recursos são limitados, e será que não há nada mais importante a fazer?

    Sim, com certeza há coisas mais importantes a fazer. Mas não é por que devemos fazer as coisas mais importantes que estamos autorizados a não fazer coisas menos importantes que também sejam “indispensáveis”.

  24. Alexandre,

    Mas não é por que devemos fazer as coisas mais importantes que estamos autorizados a não fazer coisas menos importantes que também sejam “indispensáveis”.

    Perfeitamente, e concordo in totum, à exceção – e aqui deve estar o ponto da discordância – de que seja “indispensável” uma lei, uma operação policial, um inquérito, n julgamentos e sabe-se lá mais o quê para ensinar três fulanos a não baterem em cachorros.

    Abraços,
    Jorge

  25. Jorge Ferraz:

    aqui deve estar o ponto da discordância – de que seja “indispensável” uma lei, uma operação policial, um inquérito, n julgamentos e sabe-se lá mais o quê para ensinar três fulanos a não baterem em cachorros.

    Sim, aqui “pode” estar a discordância.

    Enquanto eu chego a considerar a desproporção no cenário tal como o temos imaginado (com penas máximas etc), Jorge Ferraz parece colocar ponto final na defesa dele, expressando algo como “nada disso é necessário”.

    Para não me prolongar eu quero dizer: “algo disso é necessário, os tais fulanos devem sim ser ensinados com punição, e isso deve ser de alguma forma legislado”.

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