Sobre a Reforma Litúrgica e perda de Fé dos católicos

A respeito de alguns textos (aqui) trazidos pelo Felipe Coelho nos comentários de um outro post do Deus lo Vult! sobre a Reforma Litúrgica, vale a pena tecer algumas considerações. Considero inegável que multidões de católicos perderam a Fé nas últimas décadas, muitas vezes sem sequer o perceber. No entanto, que tal se possa creditar ao «Novus Ordo» simpliciter, é um ponto francamente insustentável, como passaremos a demonstrar:

1. Os dois principais pontos apresentados nos textos acima linkados são i) que o «mysterium Fidei» foi deslocado das palavras da Consagração para imediatamente em seqüência a elas; e ii) que a «dimensão oblativa do Sacrifício da Missa», «significada pelo ofertório» tradicional, deixou de ser explicitada pelo do Novus Ordo. Estes constituem, aliás, em essência, o cerne das críticas que se costuma dirigir à Reforma: o “obscurecimento” de certas verdades distintivas do culto católico nos textos do Missal Reformado, mormente no Offertorium e no Canon Missae.

2. Ora, essas mudanças não poderiam jamais ter o condão de diminuir a Fé dos católicos medianos, por uma única e simples razão: na Missa Tradicional, todas essas orações eram proferidas em voz submissa pelo sacerdote somente, ou seja, o católico médio não tinha contato com elas no contexto da celebração da Santa Missa segundo as rubricas vigentes até 1969!

2.1. Tanto os católicos não tinham conhecimento do que o sacerdote falava ou deixava de falar no cânon que, p.ex., os católicos alemães da época da Reforma não perceberam quando os protestantes deixaram de o rezar, invalidando assim as Missas que eles assistiam! Isto é o que é contado pelo Mons. Klaus Gamber no seu livro sobre «A Reforma da Liturgia Romana»: «Quando por exemplo o reformador [Lutero] e seus partidários começaram a suprimir o cânon, ninguém se deu conta, pois, como se sabe, o cânon se dizia sempre em voz baixa» (op. cit., p. 24). O mesmo diz Sta. Catarina de Siena numa passagem d’O Diálogo que eu cito de memória, quando Deus diz à santa que muitos sacerdotes, por estarem em pecado e temerem comer a própria condenação caso comungassem o Santíssimo Corpo de Cristo, simplesmente deixavam de pronunciar as palavras da Consagração quando celebravam Missa. Como ninguém o percebia, o Altíssimo diz ainda à santa que ela poderia se precaver de adorar um simples pedaço de pão quando assistia Missa por meio de uma fórmula de adoração condicional: “adoro-Vos, Senhor, presente nesta Hóstia Consagrada, se este sacerdote pronunciou as palavras que deveria pronunciar”.

2.2. Os católicos medianos não tinham e não têm consciência do que o sacerdote rezava ou reza durante o Offertorium, pois ele, na Missa Antiga e na esmagadora maioria das Missas Novas, é rezado igualmente em voz baixa. Isso tanto é verdade que um sacerdote pode perfeitamente, p.ex., durante a celebração do Novus Ordo, trocar o Ofertório novo pelo tradicional, sem que os fiéis presentes sejam minimamente capazes de perceber a troca. Com semelhante mudança, aliás, a percepção da «dimensão oblativa» da Missa pelos fiéis presentes seria rigorosamente a mesma, sem tirar nem pôr, e uma vez que o acréscimo do Offertorium tradicional à celebração da Missa não é capaz de aumentar nos fiéis o sentido do seu caráter sacrifical, pela mesmíssima razão a sua retirada não pode ter sido capaz de lhes o diminuir.

2.3. É portanto totalmente contrário à realidade pretender que os católicos medianos tenham sido impactados por estas alterações nos livros litúrgicos, uma vez que eles não foram sequer capazes de percebê-las. Neste sentido “catequético”, aliás, a situação da Liturgia Reformada é até melhor, porque antes os fiéis não ouviam nada nem no Offertorium e nem no Canon, e agora continuam sem ouvir nada durante o Ofertório mas ao menos escutam em alto e bom som o Cânon da Missa, especialmente as palavras da Consagração.

2.4. Como todo efeito pede uma causa proporcionada, foge a toda razoabilidade pretender que a supressão de certas orações explicitamente sacrificais que constavam no Rito Tradicional possa ter minimamente afetado a Fé dos católicos comuns, uma vez que estes não as ouviam serem proferidas no Rito Antigo e, portanto, não podem, por óbvio, sentir a falta delas no Rito Moderno. Estas mudanças específicas foram completamente imperceptíveis para o grosso dos fiéis; logo, não podem ter feito jamais com que estes perdessem a Fé.

3. Deve portanto ser procurada em outro lugar a «causa» da perda da Fé dos fiéis médios. Na parte que cabe à crise da Liturgia, penso que esta deve forçosamente ser buscada naquilo que é perceptível aos fiéis, ou seja, não nas mudanças do Ofertório ou do Cânon, mas na sacralidade com a qual o Rito – qualquer que seja ele – é celebrado. Esta é aliás a opinião do então Card. Ratzinger:

“(…) Era de se esperar que os fiéis interpretem a liturgia a partir das formas concretas visíveis, e que sejam determinados espiritualmente por aquelas formas: os fiéis não penetram facilmente na profundidade da liturgia. As contradições e os contrastes que mencionamos não têm origem nem no espírito do Concílio, nem nos documentos conciliares. A ‘Constituição sobre a Sagrada Liturgia’ [do Concílio Vaticano II] não especifica nada sobre celebração virada para o altar ou para o povo; em tema de idioma, a Constituição recomenda que o latim seja mantido, mesmo dando um espaço maior para o vernáculo, ‘especialmente nas leituras e nas admonições, em algumas orações e nos cantos’ (Sacrosanctum Concilium, n. 36,2)”. Portanto, “a diferença entre velhos e novos livros litúrgicos é responsável somente em mínima parte pela crise da liturgia e a crise da Igreja, na qual se encontra há bastante tempo”. O verdadeiro ponto da questão é que houve uma mudança radical de mentalidade sobre a própria natureza da liturgia e até, em última análise, da Igreja. O Cardeal a sintetiza de forma peremptória: “O mistério sagrado foi substituído por uma criatividade selvagem”.

Dag Tessore,
“Bento XVI – Questões de Fé, ética e pensamento na obra de Joseph Ratzinger”,
pág. 85

4. Deste modo, à pergunta sobre «[q]ual foi, concretamente, o efeito da mudança [do texto] nas crenças do povo, na medida em que se pode avaliá-lo?», pode-se responder com bastante segurança: praticamente nulo. O fiel comum tinha pouquíssimo contato com os textos que foram mudados pela Reforma de Paulo VI. Os elementos da Liturgia que ele percebia e percebe mais diretamente sempre foram outros que não o texto: a dignidade dos paramentos, a posição do sacerdote, a língua, o canto. Nenhum desses últimos foi tocado pela Reforma Litúrgica. Não é, portanto, à «diferença entre velhos e novos livros litúrgicos» que se deve creditar a responsabilidade pela perda de Fé do comum dos fiéis.

5. Embora seja possível e útil analisar pormenorizadamente as questões levantadas sobre mudanças nas palavras da Consagração ou supressão dos elementos sacrificais do Offertorium – coisa que poderemos fazer oportunamente -, de antemão é possível dizer já duas coisas que, para o fim a que nos propusemos neste artigo, são mais do que suficientes:

5.1. que não há nenhuma dúvida séria entre os teólogos de que as palavras da Consagração da forma como se encontram hoje no Novus Ordo sejam suficientes para a confecção da Eucaristia e, portanto, as Missas celebradas com estas fórmulas são válidas, e igualmente que o caráter sacrifical da Missa Nova, ainda que ausente do Ofertório, está decerto presente em partes outras da Missa suficientes para lhe caracterizar enquanto culto católico; e principalmente

5.2. que nenhuma dessas mudanças pode ter jamais feito com que os fiéis comuns perdessem a Fé, uma vez que não foram sequer percebidas por eles; e portanto as causas da (inegável) crise de Fé hoje existente devem ser buscadas em outros lugares que não na simples mudança dos «textos» com os quais era celebrada a Santa Missa.

Possam estas considerações demonstrar como são infundadas certas acusações lançadas ao Missal de Paulo VI, como se ele fosse em si mesmo responsável por coisas que – como explicamos acima – não poderia absolutamente atingir nem mesmo que o intentasse explicitamente. Com isso, espera-se que as discussões sobre a [Reforma da] Reforma Litúrgica possam se voltar para os problemas reais e existentes, sem que sejam creditados a ela problemas que absolutamente não lhe cabem – coisa que nada contribui para a apreciação do assunto com a seriedade que ele exige e merece.

Publicado por

Jorge Ferraz (admin)

Católico Apostólico Romano, por graça de Deus e clemência da Virgem Santíssima; pecador miserável, a despeito dos muitos favores recebidos do Alto; filho de Deus e da Santa Madre Igreja, com desejo sincero de consumir a vida para a maior glória de Deus.

54 comentários em “Sobre a Reforma Litúrgica e perda de Fé dos católicos”

  1. Prezado Jorge, salve Maria.

    O que você diz sobre os fiéis não terem percebido as mudanças não tem valor nenhum, pois a questão não é se os fiéis perceberam de imediato as alterações, mas se a missa de Paulo VI é ou não católica. Este é o xis da questão e é isso que se deve debater.

    Agora, é óbvio que os fiéis em geral não perceberam as alterações, apenas os mais doutos, e é igualmente óbvio que muitos dos bispos e padres perceberam de imediato as alterações. Inclusive Klaus Gamber disse, após a promulgação, que Paulo VI “se desqualificou como papa” (Abbé Guillaume de TANOÜARN, I.B.P., Théologie à l’estomac, Le Forum Catholique, 28-11-2007):

    http://archives.leforumcatholique.org/consulte/message.php?arch=2&num=348223

    Esta aí uma autoridade de peso que constatou a malignidade da missa nova no ato da promulgação.

    Que relevância tem para este debate se os fiéis perceberam ou não no ato da promulgação as mudanças nefastas introduzidas por Paulo VI?

    Sandro de Pontes

  2. Sandro, salve Maria!

    A relevância do assunto é que a questão «[q]ual foi, concretamente, o efeito da mudança [do texto] nas crenças do povo, na medida em que se pode avaliá-lo?» é a última das perguntas do terceiro dos artigos que o Felipe trouxe e, aliás, a acompanhar-lhe a gradação, o seu clímax.

    Ainda, a relevância da constatação me parece bastante óbvia: como se pode dizer que a Reforma é em si nociva se ela não afetou e nem poderia ter afetado a Fé dos fiéis comuns que a vivenciaram? Como ela pode ser em si mesma prejudicial à Fé se a Fé dos católicos medianos em nada foi (e em nada poderia ter sido) maculada pela supressão dos textos que explicitavam as especificidades do culto católico?

    E eu estava entendendo que a Missa Nova não era católica justamente por fazer os católicos perderem a Fé, e agora deixa de ser relevante que os católicos não tenham (e nem possam ter) perdido a Fé por conta dela? Como é isso?

    Abraços,
    Jorge

  3. Jorge, salve Maria.

    Claro que em um primeiro momento os católicos não perderam a fé, mas muitos dos padres e bispos sim.

    Compreende?

    Ora, quem ensina o povo não são os bispos que formam a Igreja docente auxiliados por seus delegados os padres?

    Assim, a missa nova, em um primeiro momento, arrebentou a fé do clero, que pôde fazer o que quis dentro das igrejas na década de 70. E isso você não poderá negar, todas as aberrações foram feitas de forma generalizada a partir do momento em que Paulo VI promulgou sua missa.

    A perda da fé católica por parte dos fiéis é ocasionada principalmente pela perda da fé por parte do clero, e esta perda se deu por conta da reforma litúrgica. Tem um santo que diz algo do tipo: “quando os padres creem corretamente, o povo crê corretamente, quando os padres perdem a fé, os fiéis perdem a fé”.

    Pense nos católicos camponeses dos últimos dois mil anos (95% deles eram camponeses e analfabetos): eles criam corretamente, porque os padres ensinavam corretamente, é óbvio.

    Mas com isso eu não estou dizendo que nenhum leigo em lugar nenhum entendeu, a princípio, as alterações feitas na missa, mas apenas concordando com você que uma vez promulgada a missa nova os fiéis medianos não puderam notar nenhuma diferença EM UM PRIMEIRO MOMENTO, pelos motivos que você expôs. E muitos não entendem nada até os dias de hoje, porque creem de boa fé na Igreja, e nisso eles são catolicíssimos: “se o papa autoriza, é porque é bom”. Com este argumento a minha família se recusa sistematicamente a ouvir meus argumentos, e isso há anos. Penso que a fé deles é absolutamente católica, e neste postura está uma virtude heróica de compreender, na prática, sem cursos de teologia, que a Igreja não pode aprovar o que é mau (ou seja, eles na prática conhecem mais do que os tradicionalistas que estudam e nunca aprendem esta questão).

    Continuando, é óbvio que fiéis mais doutos entenderam, junto com o clero, EM UM PRIMEIRO MOMENTO, as mudanças efetuadas por Paulo VI, e isso inclui não apenas os zelosos defensores da fé mas igualmente os modernistas em geral, formadores de opinião (teólogos, articulistas, catequistas, etc).

    Claro está que esta alcateia formada a partir da promulgação de Paulo VI (bispos modernistas, padres modernistas, teólogos modernistas, catequistas modernistas, escritores modernistas, etc), foi quem iniciou a destruição da fé na mente e nos corações dos fiéis mais simples. E a missa nova foi a munição que eles precisavam.

    Concluindo, como lhe disse acima: que relevância tem para este debate se os fiéis perceberam ou não no ato da promulgação as mudanças nefastas introduzidas por Paulo VI? Ora, a reforma litúrgica foi feita por teólogos, é uma ação de teólogos que visava o ecumenismo e a diminuição da enfase do caráter sacrifical da missa. Aliás, bem sabe você que Ratzinger nega que a missa seja ato propiciatório. Portanto, nosso debate é se a missa de Paulo VI é ou não católica, se um papa católico poderia promulgá-la verdadeiramente.

    Este é o xis da questão e é isso que se deve primeiramente debater. Eu, por exemplo, tenho convicção moral, apenas para dar um exemplo, que um papa católico não aprovaria a retirada do “Mysterium Fidei” do contexto das palavras de Cristo, tendo Pio XII condenado este ato como sacrilégio.

    Aquilo que era sacrílego e contrário ao direito divino em 1958 foi implantado na missa nova, em 1969. Durma-se com um barulho destes….

    Uma outra coisa: os teólogos e santos doutores católicos estudando as profecias dizem que no final dos tempos a missa desapareceria, pois o sacrifício perpétuo seria abolido, de acordo com o antigo testamento. Não faltou quem dissesse, séculos atrás, que uma missa falsa substituiria a verdadeira.

    Não percebe, prezado Jorge? “Hoje as escrituras se cumpriram” (São Lucas, 4, 21).

    Sempre cordialmente, evitando a todo custo espírito de soberba,

    Sandro de Pontes

  4. Um outro título para o artigo: “Como tocar fogo num espantalho”. Parabéns, Jorge. A eficácia do argumento já pôde ser constatada pelas reações.

  5. Excelente artigo, amigo Jorge:
    Sou padre a 8 anos e só a pouco tempo descobri a forma extraordinária do rito romano, graças a Bento XVI. Com ele descobri também o sentido de ortodoxia.
    Cresci alimentado espiritualmente pela missa (forma ordinária) e só agora descobri o quanto posso aprimorar o meu modo de celebrar e a piedade eucarística, celebrando com maior fervor e fazendo o que ja via como bom ficar melhor.
    Sou convicto que os problemas ligados ao modo de celebrar a missa nao podem ser simplesmente creditados ao Missal novo, ainda que ele tenha deixado algumas lacunas em relação ao outro.
    Padre Paulo Ricardo fala, em relação aos concílios, e ao meu ver vale tambem para o missal, que quando um texto é fraco, é preciso dar uma interpretação forte, na linha da continuidade, para evitar a ruptura…. Assim é a Igreja, com a autoridade que Cristo lhe deu.
    http://internautasmissionarios.blogspot.com.br/2012/09/dicas-para-criatividades-na-liturgia.html
    Abraço,

  6. Bom dia!
    Não teriam as mudanças no texto da Missa impactado a fé do clero e isso, por conseguinte, vindo a gerar uma outra pregação e por fim uma crise de fé nos fiéis?
    Salve Maria!

  7. A REFORMA LITÚRGICA POUCO OU NADA INFLUENCIOU NA “PERDA DA FÉ” DOS CATÓLICOS…
    DOS QUE JÁ NÃO A POSSUÍAM ANTES!
    Os supostos católicos que deixam a Igreja, por experiencia pessoal, são muito ignorantes ou por interesses pessoais, particulares, ou os que não a conhecem, a grandíssima maioria, estando interessados numa igreja flex, que atende a seu momento e conveniências; é o homem moderno caindo nas tentações de soberba e orgulho. Esse é o principal motivo. Não conhecem a doutrina, os dogmas, sua história e fundamentação teológica – o relativismo é mais cômodo – ou dos que ainda são, mas nem bem sabem o que estão fazendo dentro da Igreja.
    Também, “Falta” à pessoa tempo disponível, precisa “correr atrás”; oportunamente cuidará da sua fé…
    Por outro lado, estamos há muitos anos sob as patas dos satanistas comunistas eleitos por milhões desses católicos(?) atentando o quanto possam contra a doutrina católica em particular – todas as outras sem exceção são relativistas – enquanto isso, mudam as mentes das pessoas via midia geral, como nas escolas e universidades para o ateísmo, de quebra dá lições dia e noite nas sexo novelas e vídeos de como promover todo tipo de perversões, subversões e trapaças, daí o impacto maior recai sobre as crianças que são subjugadas em suas mentes ainda em formação, havendo varias gerações sob esses impactos negativos acentuando-se a cada geração posterior o índice de contaminação ideológico-niilista.
    Elegeram o diabo para os governar, o certo, e a sociedade já colhe há bem tempo os frutos de “Boas obras” do seu ateísmo!
    É um fenômeno que ocorre em todo o mundo, aliás, de deturpar as mentes, descristianizar, relativizar para depois as dominar, ações da globalista NWO-Nova Era.
    A Igreja Católica não se preocupa com número de fieis, com porcentagens, não porque tem o maior número de fiéis, mas não posiciona como se pessoas fossem audiência, como que servissem para índice de ibope.
    Idem, a Igreja não é uma empresa que vende serviços e produtos para ter carteira de clientes; as seitas relativistas protestantes em geral é que são contabilistas e estatísticas.
    Outra: conheço varios católicos(?) que a deixaram por seitas que pregam facilidade e a prosperidade, influenciados por ideologias niilistas, religiões esotéricas orientais e outras, por seitas atendentes de seus interesses, como 2ª união com a cônjuge viva, sem dispensa, por doutrina exigente da Igreja, etc..
    Saíram de entre nós, mas não eram dos nóssos; se tivessem sido dos nossos, teriam permanecido conosco, mas para que se manifestasse que nem todos eram dos nossos. 1 João 2:19
    E vós sois os que tendes permanecido comigo nas minhas tentações. Lucas 22:28

  8. Que artigo materialista!

    Os fiéis podem não ter percebido, mas Deus, que não é bobo, obviamente percebeu!

    Você pensa que os frutos da Missa são porque as pessoas entendem as preces? Isso é materialismo! Os frutos da Missa são graças a Deus que a recebe e é apaziguado.

    O “Novus Ordo Missae” desagrada a Deus, e é por isso que Ele deixou tudo ir para o buraco hoje em dia. Por isso que as pessoas perderam a Fé, ou o autor esqueceu que a Fé é dom de Deus?

  9. Sandro, salve Maria!

    Perceba, meu caro, que mesmo concedendo que as coisas tenham se dado da maneira como você diz – que o clero tenha primeiro perdido a Fé e, em seguida e por conseguinte, o povo a tenha perdido -, ainda assim a Missa Nova não leva em si mesma ninguém a abandonar a Fé Católica, que é o ponto que interessa aqui.

    Se o único problema com o Missal Reformado é para quem já é douto – sejam sacerdotes, que se supõem doutos por formação, sejam os leigos mais doutos -, e não para o comum dos fiéis (que sempre perfizeram a imensíssima maioria dos católicos), então o Missal Reformado não causa intrinsecamente problemas. Assim, não é o Missal que é pernicioso, e sim um clero que – como você disse – «pôde fazer o que quis dentro das igrejas na década de 70».

    Uma coisa que tem alguma característica em si, deve forçosamente manifestar essa característica sempre (ou pelo menos quase sempre) que se apresente. No caso do Novo Missal, vê-se precisamente o contrário: em si, na imensíssima maioria dos casos, ele não poderia absolutamente provocar o menor vacilo na fé dos fiéis comuns que assistem a Missa celebrada em conformidade com ele.

    Um cura que tivesse Fé Católica e celebrasse Missa segundo o Missal de 1969, manteria intacta a Fé dos seus paroquianos. Igualmente, um padre sem Fé que avacalhasse com a Santa Missa, levaria cedo ou tarde ao menos uma boa parcela dos seus fiéis a abandonarem a Fé. Ora, há três variáveis aqui: o padre, o Rito e o zelo com o qual se o celebra. No mesmo Rito reformado, mudando-se unicamente o padre e o zelo empregado na celebração, muda-se totalmente o efeito que isso provoca nos leigos: um bom padre celebrando zelosamente mantém católicos os seus fiéis, e um mau padre celebrando loucamente faz com que eles percam a Fé. Portanto, o que faz os católicos deixarem de ser católicos não é o Rito, e sim o sacerdote celebrante. Pernicioso, portanto, é este, e não o Rito.

    Você falou sobre uma «alcatéia» composta por «bispos modernistas, padres modernistas, teólogos modernistas, catequistas modernistas, escritores modernistas, etc», e disse (a meu ver, acertadamente) que ela «foi quem iniciou a destruição da fé na mente e nos corações dos fiéis mais simples». Isso está certíssimo. Acontece que semelhante exército lupino precede historicamente o Missal de 1969 e, portanto, não pode jamais ter sido «formada a partir da promulgação de Paulo VI». Esse exército de inimigos da Fé já estava formado quando o Missal ainda estava sendo composto. E o que era (e é!) perniciosa e que conduziu os fiéis a perderem da Fé foi esta alcatéia, não a Missa Nova. Que eles tenham abusado da Missa (porque é óbvio que os abusos litúrgicos são um tópico à parte, uma vez que por definição não correspondem ao Missale Romanum) para atingir os seus intentos apenas prova que eles são inimigos de Deus sem caráter, deturpando as coisas santas ao seu bel prazer para fazer o que eles próprios queriam, e não o que queria a Santa Igreja. Não houvesse tal alcatéia, não haveria dano aos fiéis comuns que acorressem às Missas segundo os livros reformados. Ora, como os efeitos são suprimidos se se lhes suprimem as causas, e como o dano aos fiéis deixaria de existir se deixassem de existir os modernistas, claro fica que a causa da perda da Fé dos fiéis foram os modernistas, e não o Rito novo.

    Isso é totalmente relevante. Se o Rito Novo em si não causa problemas para a imensíssima maioria das pessoas que dele participam, então é como nós defendemos: esta disciplina eclesiástica em si não é nociva, está perfeitamente salvaguardada a infalibilidade negativa da Igreja no que concerne às suas leis disciplinares e, portanto, desaparecem as razões para impugnar os Papas por conta dela.

    E, se a Missa é válida, se não é danosa aos fiéis e foi promulgada pela autoridade suprema da Igreja, é claro que ela é católica, e deixa de existir qualquer razão para que ela não o seja.

    Sobre os pontos específicos levantados:

    – «um papa católico não aprovaria a retirada do “Mysterium Fidei” do contexto das palavras de Cristo»: bom, o Papa é soberano e a Igreja pode dispôr dos ritos litúrgicos como julgar mais conveniente, conforme ensinou o Concílio de Trento. O «Mysterium Fidei» não faz parte da forma essencial do Sacramento da Eucaristia. Logo, a Igreja pode deslocar a expressão, salvaguardando a validade do rito, que é a única coisa que está garantida pela infalibilidade negativa.

    – «teólogos e santos doutores católicos estudando as profecias dizem que no final dos tempos a missa desapareceria, pois o sacrifício perpétuo seria abolido»: também Nosso Senhor nos disse: «se alguém vos disser: Eis, aqui está o Cristo! Ou: Ei-lo acolá!, não creiais». Não devemos nos preocupar com o fim do mundo, e sim com o «nosso» fim de mundo, com a nossa morte, que esta nós temos a certeza de que haverá de nos encontrar mais cedo ou mais tarde e, nela, seremos cobrados por toda palavra vã que tivermos proferido (cf. Mt XII, 36).

    Abraços,
    Jorge Ferraz

  10. Fábio,

    não há razão para que a mudança no texto da Missa possa ter «impactado a fé do clero», uma vez que o clero, bem-formado, obviamente conhece muito bem os pontos distintivos do culto católico que passaram a receber menos ênfase no Missal de Paulo VI. Um padre «sabe» que a Missa é o Sacrifício da Cruz. Se ele sabe e nega, é porque é herege. Se não sabe, é porque é mal-formado e negligente. Em qualquer dos casos a culpa é dele, e não do texto do Missal, que aliás poderia ser qualquer um sem contudo ser capaz de curar por si só a sua heresia ou a sua negligência.

    A. Carlos,

    é óbvio que os «frutos da Missa são graças a Deus que a recebe e é apaziguado», e como a Missa celebrada em conformidade com o Novus Ordo é válida, ela alcança de Deus as graças próprias da Missa! Ou você matou as aulas de Catecismo básico e não sabe que os Sacramentos realizam o que significam? Se há Sacramento, há as graças específicas dele! Que os maus padres (ou os maus fiéis) possam deixar de recebê-las é outro problema, que depende deles e não da Missa.

    Sobre «[o] “Novus Ordo Missae” desagrada a Deus», me desculpe por não lhe reconhecer procuração para falar em nome do Todo Poderoso. É que prudência e canja de galinha não fazem mal a ninguém.

    Abraços,
    Jorge

  11. Prezado Jorge, salve Maria.

    A sua análise sobre o Mysterium Fidei está equivocada, porque a Igreja não pode adotar o sacrilégio, e deslocar esta expressão do seu local de origem foi tido como ato que contraria o direito divino, nas palavras da comissão litúrgica de Pio XII que emitiu parecer sobre a questão.

    Assim, perceba que a questão não é tão simples como você faz parecer. O Papa é soberano sim, menos para aplicar aquilo que a própria Igreja condena, e foi o que Paulo VI fez nesta questão.

    Teve teólogo especialista em liturgia que defendeu que se um padre omitisse o Mysterium Fidei da consagração ele deveria refaze-la novamente.

    Compreende?

    Você escreve:

    “(…) a Missa Nova não leva em si mesma ninguém a abandonar a Fé Católica, que é o ponto que interessa aqui”.

    Não, claro que não. Não é porque os incultos não notaram diferenças de imediato que a missa nova não leva ninguém a perder a fé. Ela levou muitos bispos, sacerdotes, teólogos, catequistas e posteriormente milhões de católicos a perder a fé, porque supõe a doutrina protestante que hoje toma conta de 99% dos católicos no mundo.

    Ora, se se reza como se crê, logo…

    A meu ver, o seu maior problema é raciocinar da seguinte maneira: se o rito possuir as palavras “isto é o meu corpo” e “isto é o meu sangue” então é bom e válido. Logo, todo rito possui tais palavras, até o luterano, então um padre poderia rezar de acordo com o rito luterano que faria a consagração, desde que tivesse intenção católica, além da forma e matéria. Mas isso é falso.

    Proponho que crie um tópico para debatermos, todos nós, no que realmente consiste um rito católico, para que ele serve, como ele deve expor a doutrina, etc. Assim, saberemos se o rito de Paulo VI, tal qual ele foi promulgado, poderia ou não ser promulgado verdadeiramente pela santa Igreja.

    Sandro de Pontes

  12. Prezado Sandro,

    Eu entendo que a presença das palavras “mysterium fidei” é de instituição divina, porque o Papa Inocêncio III, na Idade Média, ensinou que essas palavras tinham sido pronunciadas por Cristo e transmitidas por tradição (como, aliás, também ensinou Santo Tomás, não só em relação a “mysterium fidei” como também “et aeterni [testamentum]”), todavia, é certo também que não são essenciais para a consagração do vinho, dado que muitas liturgias orientais as omitem. Se a Igreja permitiu a celebração desses ritos, com a forma da consagração omitindo tais palavras, é porque, a que pese elas transmitidas pela tradição do Senhor e agregadas no rito romano clássico, não são essenciais à validade ou à dignidade da consagração.

    A respeito de tais palavras estarem presentes implicitamente nas liturgias orientais que as omitem, como já debatemos isso, creio que isso requer um estudo comparativo entre esses ritos e o próprio rito de Paulo VI, coisa que, aliás, seria bom que você trouxesse para aclarear melhor sua posição.

    Rui

  13. Para ciência, eu não removi absolutamente nada no comentário do Revmo. Pe. João Maria.

    O «[LIXO]» é precisamente o comentário que ele próprio colocou, sem tirar nem pôr.

    Abraços,
    Jorge

  14. Amigo Rui, salve Maria.

    Como tem passado? Espero que tudo esteja bem.

    Você escreve:

    “(…) é certo também que não são essenciais para a consagração do vinho, dado que muitas liturgias orientais as omitem”.

    Hum…será? A Igreja, pelo que sei, nunca decretou que apenas as palavras “isto é meu corpo, isto é meu sangue” são essenciais. Houve bons teólogos que defenderam isso, mas o maior de todos os tempos, São Tomás de Aquino, não! Veja o que o Aquinate ensinava a respeito do tema:

    “(…) Mas acerca destas palavras usadas pela Igreja para a consagração do vinho, na opinião de alguns, nem todas são de absoluta necessidade para a validade da forma, mas somente estas: “este é o cálice do meu sangue”, não assim o restante: “do novo e eterno testamento, mistério da fé, que será derramado por vós e por muitos para remissão dos pecados.” Mas essa opinião NÃO PARECE BOA, porque tudo o que se segue é uma determinação do predicado. Logo a significação dessa mesma locução ou sentença pertence. E porque, como já foi dito muitas vezes, as formas dos sacramentos, à par de significar, obram ao significar, a locução toda inteira pertence à forma para sua força eficaz (…) (São Tomás de Aquino – Comentário da Primeira Epístola de São Paulo aos Coríntios [1Cor 11,25-26]). Fonte:

    http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/es/index3.htm

    Rui, a expressão “Mysterium Fidei” é essencial porque a missa católica possui caráter propiciatório, ao contrário da ceia protestante. Por isso não basta dizer “isso é meu corpo” e “isso é meu sangue”, como os protestantes dizem. É preciso fazer notar NA CONSAGRAÇÃO o caráter sacrifical e propiciatório da missa, o que só pode ser feito com a forma completa que inclui o “Mysterium Fidei”, que faz referência ao sangue de Cristo derramado na cruz, sangue este que está verdadeiramente presente no altar, sendo este o grande mistério da nossa fé, indicado no caráter propiciatório da missa.

    E se São Tomás diz que esta expressão é essencial quem somos nós para dizermos o contrário? Lembre-se que estamos falando do rito romano, o mais perfeito e excelente que existe, e no rito romano a Igreja nunca permitiu que se omitisse o Mysterium Fidei. Nos outros sim, mas os especialistas dizem que havia um sentido equivalente, como você bem notou. Agora eu preciso ser sincero com você: eu não tenho como estudar cada uma das formas aprovadas pela Igreja nos últimos dois mil anos em todo o mundo para lhe mostrar os sentidos equivalentes. Para mim isso é algo impossível. Porém, os especialistas sustentam esta verade, e isso me basta para apresentar a argumentação licitamente.

    Continuando, em geral os especialistas defendem que, independente do “Mysterium Fidei” ser ou não essencial, caso o padre omita esta expressão ele deve refazer a consagração condicionalmente. Vejamos:

    “A forma da consagração do vinho é: Hic est enim calix Sanguinis mei, et novi aeterni testamenti, mysterium fidei, qui pro vobis et pro multis effundetur em peccatorum remissionem. “As palavras: Hic est calix Sanguinis mei, ou Hic est Sanguis meus, são certamente essenciais, POSSIVELMENTE O RESTANTE DO FORMULÁRIO É ESSENCIAL, mas TODOS CONCORDAM que, se qualquer uma das palavras seguintes são omitidas, um grave pecado é cometido, e todo o formulário DEVE SER REPETIDO condicionalmente” (Moral e Teologia Pastoral – 1957 – Pe. Henry Davis, S.J).

    Santo Afonso ensina o mesmo:

    “é certo que o padre cometeria um pecado grave se ele não pronunciasse todas as palavras na consagração do cálice, e talvez se ele tivesse dito as primeiras palavras apenas (Pois este é o cálice do meu sangue ), ele é obrigado, pelo menos, repetir todo o formulário condicionalmente ….” (Tratado de Teologia Moral – Livro 4 – Terceira Parte) .

    Ah, sim, mas a expressão “Mysterium Fidei” está na missa de Paulo VI, não é mesmo? Claro que está, óbvio, porque o demônio é astuto, mas não está no lugar onde Cristo a disse, não está no lugar onde a Igreja ensinou que a expressão foi colocada para indicar o caráter propiciatório da missa, não está no ÚNICO lugar onde esta expressão faz sentido: ao contrário, está fora da consagração, antecedendo a aclamação (?) dos fiéis!!! Ou seja, foi deslocada de seu lugar de origem, e por que mesmo?

    Ora, nós sabemos que o motivo deste deslocamento foi propiciar o ecumenismo, pois os fautores da missa nova quiseram tirar tudo o que “escandalizava” os protestantes da missa nova. Ou seja, a mudança é substancial, e não acidental, e visa suprimir o significado católico da missa, visa suprimir o sentido propiciatório que o sangue derramado do cordeiro significa. E a Igreja justamente condena mudanças que alterem o significado da consagração. Vejamos:

    “(…) 1. Podem surgir defeitos com respeito à forma, se algo falta para completar a integridade das palavras da consagração. As palavras da consagração, que são a forma deste Sacramento, são as seguintes: ‘Porque isto é o Meu Corpo’, e ‘Pois este é o cálice do Meu Sangue do Novo e Eterno Testamento: Mistério da Fé: que será derramado por vós e por muitos em remissão dos pecados’. Se qualquer omissão (diminueret= diminuição – n.d.tr) ou alteração (immutaret=mudança) é feita na forma da consagração do Corpo e Sangue, ENVOLVENDO UMA MUDANÇAO NO SIGNIFICADO, a consagração É INVÁLIDA. Uma adição feita sem alterar o significado não invalida a consagração, mas o celebrante comete um pecado grave” (Decreto “De Defectibus In Celebratione Missarum Ocorrentibus” – Defeitos Ocorridos na Celebração da Missa – consta no Missale Romanun de São Pio V, que é fonte do cânon nº 818 no Código de Direito Canônico de 1917).

    Ou seja, ao retirar o “Mysterium Fidei” o sentido da consagração foi mudado, alterado, modificado, e a consagração é inválida. Como ensinam os especialistas o Mysterium Fidei indica caráter propiciatório, e sem ele o que se tem é aquilo que os protestantes tem: “isso é meu corpo, isso é meu sangue”. Porém, nós católicos temos a forma completa dita por Cristo, e esta forma é sacrifical e propiciatória, e isso é indicado justamente pelo “Mysterium Fidei”. Não são palavras ao vento, prezado Rui!

    Finalizando, como se não bastasse nos idos de Pio XII os demônios já agiam, e retiravam a augusta expressão das missas. Foram aqueles que depois fizeram a missa de Paulo VI, certamente. E o que Pio XII fez? Ora, ele condenou esta retirada por meio de um “monitum”:

    “Foi relatado a esta Suprema Sagrada Congregação que na tradução para língua vulgar do Novo Ordo da Semana Maior (Semana Santa) foram omitidas as palavras “Mistério da Fé” na forma da consagração do Cálice. Além disso, foi relatado que sacerdotes omitem essas mesmas palavras na mesma celebração da missa. Por essa razão esta Suprema Congregação adverte ser CONTRÁRIO A LEI DIVINA introduzir mudanças em coisa tão santa e mutilar ou interpolar edições de livros litúrgicos (cfr. can. 1399, 10°). Cuidem, pois, os Bispos que se observem estritamente os preceitos dos sagrados canônes acerca do culto divino, segundo o pensamento da advertência do Santo Ofício do dia 14 de fevereiro de 1958, e vigiem com zelo para que ninguém ouse introduzir MUDANÇA MESMO MÍNIMA que seja na matéria e forma dos sacramentos. Dado em Roma, Palácio do Santo Ofício, dia 24 do mês de Julho de 1958″ – Arcturus De Jorio, Notarius. Fonte: Ata da Suprema Sagrada Congregação do Santo Ofício – sob o Papa Pio XII – Monitum – Pag. 536 [AAS 50 – 536]. Disponível em:

    http://www.vatican.va/archive/aas/documents/AAS%2050%20%5B1958%5D%20-%20ocr.pdf

    De acordo com Pio XII retirar o Musterium Fidei da consagração é realizar ato contrário a lei divina, ou seja, sacrilégio. Paulo VI comete este sacrilégio, e vocês dizem que está tudo bem.

    Padre Clécio, por favor, diga ao mundo que não pode aceitar celebrar uma missa sem as palavras “Mysterium Fidei” em seu lugar de origem, porque elas significam o caráter propiciatório da missa, e sem elas o que se tem é ceia protestante.

    Volto a repetir: esta questão relacionada a missa nova não é tão simples como os conservadores a apresentam. Por exemplo, Monsenhor Klaus Gamber se tornou sedevacantista após a promulgação da missa nova, e ele era um dos maiores especialistas do mundo em matéria de liturgia no início da segunda metade do século XX. Um homem que certamente doou a maior parte da sua vida para estudar a doutrina católica, a ponto de ser admirado e respeitado por seus escritos. E lendo aquilo que Paulo VI fez, não aguentou.

    E ninguém pode imaginar que Monsenhor Klaus Gamber era um tolo, um idiota, ou um vaidoso que só quis aparecer, ou qualquer coisa do tipo. Pelo contrário, um homem que passou a vida aos pés dos grandes papas do século XX terminou-a no exílio. Dizem até que no fim da vida ficou meio senil, mas não sei se isso é realmente verdade.

    De qualquer maneira é inegável as reações brutais que a recém-fabricada liturgia realizou nas mentes e nos corações dos melhores católicos daquela época.

    Digo isso para realçar o quanto esta questão é complexa, devendo ser tratada com o maior rigor possível, o que me parece, neste caso, faltar aos conservadores, que tão bem defendem a doutrina católica dos tradicionalistas, mas que em relação a este ponto parecem negligenciar fatos que se apresentam com força suficiente para convencer a inteligência de alguém que deseje a verdade e a busque com sinceridade.

    Mas este é o “Mysterium Iniquitatis”, previsto já no antigo testamento para o final dos tempos, quando o sacrificio perpétuo seria abolido, da mesma forma que o sacrificio foi abolido nos tempos dos Macabeus.

    Hoje, devemos ser como os macabeus, que se recusam a participar do falso culto colocado no lugar do verdadeiro, e com as mesmas características: destruíram os altares do Senhor para construir, em seu lugar, os dos ídolos imundos.

    Aliás, esta é outra questão relacionada a reforma liturgica: o abandono e destruição dos altares verdadeiros, e sobre eles a construção das mesas luteranas.

    Santos Macabeus, rogai por nós!

    Sandro de Pontes

  15. Seria o padre João Maria da TL?
    Se acaso for, tem toda razão; melhor seria o site ficar tratando de “opção preferencial pelos pobres”, apoiar as ideias dos partidos comunistas, D Hélder, D Arns, do PT, da Venezuela bolivariana sem papel higiênico e leite em pó, do deus Fidel Castro, cuidar de humanismos gerais, Mãe Terra…
    Quanto à questão de “lixo”, se pertencer a essas ideologias, o assunto é “lixo” mesmo; vamos falar a respeito dos satanistas Engels/Marx/Mao/Lênin/Stálin…
    Não é, padre?

  16. Amigos, salve Maria.

    Apenas um adendo para clarificar melhor minhas palavras Eu escrevi:

    “(…) Padre Clécio, por favor, diga ao mundo que não pode aceitar celebrar uma missa sem as palavras “Mysterium Fidei” em seu lugar de origem, porque elas significam o caráter propiciatório da missa, e sem elas o que se tem é ceia protestante”.

    Porém, o que eu quis realmente dizer foi o seguinte:

    “(…) Padre Clécio, por favor, diga ao mundo que não pode aceitar celebrar uma missa sem as palavras “Mysterium Fidei” em seu lugar de origem, porque elas significam o caráter propiciatório da missa, e sem elas OU EXPRESSÕES EQUIVALENTES o que se tem é ceia protestante”.

    Realço isso porque os especialistas dizem que nas missas aprovadas onde a expressão “Mysteriun Fidei” estava ausente havia palavras, expressões ou sentidos equivalentes, sem o que a Santa Sé não poderia aprovar a missa.

    Sandro

  17. JORGE ESCREVE EM UM COMENTÁRIO: “Não houvesse tal alcatéia, não haveria dano aos fiéis comuns que acorressem às Missas segundo os livros reformados.”

    Não houvesse essa alcatéia, não haveria sequer livros reformados nos termos que os temos…

    Os Livros Reformados são católicos e obviamente é possível se santificar com os mesmos; mas é fato que a Fé Católica não brilha com a mesma intensidade se comparado com o Missal Antigo. O atual Missal não é uma “Muralha da Fé” como era o Missal Antigo… Que o diga o já citado Ofertório. Antes um padre “médio” era obrigado a repetir aquela fórmula e, queira ou não, reforçar sua fé no caráter sacrificial da Missa.

    Agora, um padre reza apenas que as oferendas são “fruto da terra e do trabalho do homem”… Ora, se o padre está vacilante da fé, não tem mais nos Livros Litúrgicos um apoio para a mesma. Considerando todo o contexto de confusão teológica em que vivemos, o texto litúrgico – ambíguo que é – acaba mais por reforçar / apoiar uma teologia litúrgica heterodoxa do que reforçar a Verdade e afastar o perigo.

    E se o padre vacila, seu rebanho o acompanha….

  18. Só por curiosidade, na opinião de vocês, quais terão sido os “enormes frutos” litúrgicos, conforme as palavras do Papa Francisco na recente entrevista, que o CVII nos deu?

  19. Salve Maria!

    Como não consegui ontem publicar resposta aqui, mesmo após repetidas tentativas, respondi em meu blogue mesmo:

    http://aciesordinata.wordpress.com/2013/09/18/textos-essenciais-em-traducao-inedita-ccxviii/#comment-6920

    Atendendo ao pedido do Jorge de que eu fizesse uma nova tentativa, aproveito para ajuntar aqui uma cronologia da destruição, extraída de um dos estudos que cito na resposta que acaba de ser linkada.

    […] No início do pontificado de Paulo VI, então, a Santa Missa estava intacta. Com o Vaticano II o prurido de reformas capturou o mundo eclesiástico, e a Santa Missa foi especialmente destroçada: numerosas supressões foram feitas pouco a pouco, enquanto aparecia a língua vulgar.

    Em 1964-1965:
    – supressão do Judica me, do último evangelho e das orações de Leão XIII.
    – as secretas, o Per Ipsum e Libera são ditos em voz alta.
    – o Pater é recitado por todo o mundo.
    – introdução da “oração universal”.
    – língua vulgar para o kyriale, os Dominus vobiscum.
    – altar face ao povo.
    – dupla comunhão permitida no Natal.
    – Corpus Christi substitui, na Santa Comunhão, Corpus Domini nostri Jesu Christi custodiat animam tuam in vitam æternam.
    – jejum eucarístico reduzido a uma hora (ou seja, suprimido).
    – supressão de numerosíssimos sinais da Cruz.
    – introdução e extensão da comunhão sob as duas espécies.

    Em 1967:
    – supressão da quase totalidade das genuflexões.
    – Cânon recitado em voz alta, em língua vulgar.
    – a comunhão do sacerdote e dos fiéis torna-se comum.
    – abolição da obrigação que tinha o padre de manter os polegares colados aos indicadores após a consagração.
    – abolição da obrigação de usar o manípulo.
    – Ite missa est e bênção final intervertidos. Etc.

    Até aí a Santa Missa permanecia quanto ao essencial, embora desfigurada por essas reformas que manifestam um claríssimo enfraquecimento da fé.

    Em 15 de agosto de 1968 são autorizadas na França três novas “orações eucarísticas” podendo substituir, ao bel-prazer do celebrante, o Cânon Romano. Essas três novas orações modificam as palavras da consagração; é a ruptura mais grave: entramos assim totalmente na protestantização.

    Em 3 de abril de 1969, Quinta-Feira Santa, aparece o n.o.m. (novus ordo missæ), que se caracteriza por uma longa apresentação geral positivamente e diretamente contrária ao Concílio de Trento, mediante a invasão da palavra, a supressão do ofertório, a modificação das palavras da consagração transformadas em “narrativa da instituição”, a introdução (praticamente simultânea) da comunhão na mão, etc. Encontramo-nos então perante um rito que é como um corpo estranho à Santa Igreja Católica.

    *

    É esse rito aí, tal como foi publicado em Roma, que queremos estudar. Não falaremos dos abusos, pois, na realidade, não os há. O Rev. Pe. Calmel, O.P., declarou em 1969 [19. Declaração publicada em Itinéraires n.º 139 de janeiro de 1970]:

    “Eu fico com a Missa tradicional, aquela que foi codificada, mas não fabricada, por São Pio V no século XVI, em conformidade com um costume multissecular. Eu recuso, portanto, o ordo missæ de Paulo VI. Por quê? Porque, na realidade, este ordo missæ não existe. O que existe é uma revolução litúrgica universal e permanente, patrocinada ou desejada pelo papa atual, e que se reveste, momentaneamente, da máscara do ordo missæ de 1969.”

    O que foi promulgado é a revolução litúrgica; não há então, falando propriamente, abuso: tudo está em germe no ato de Paulo VI. O que foi promulgado é um rito que tende fortemente ao protestantismo. Para provar isso, basta mostrar que o n.o.m. é a realização de numerosos desígnios e anseios de Lutero.

    […] [CONTINUA EM: O LINK QUE ASSOCIEI AO MEU NOME ACIMA.]

    Abraços cordiais,
    Em JMJ,
    Felipe Coelho

  20. Felipe, salve Maria!

    Muito sucintamente, é preciso afirmar que

    1. Santo Tomás, conquanto considere que o «Mysterium Fidei» pertence à forma adequada (Summa, IIIa, q.78, a.3) do Sacramento, é também taxativo em dizer que «si el sacerdote profiriese solamente las palabras referidas [éste es mi cuerpo y éste es el cáliz de mi sangre] con intención de realizar el sacramento, lo realizaría, porque la intención haría que se entendieran como dichas por la persona misma de Cristo» (id. ibid., a.1., ad.4). E ainda: «las primeras palabras: Este es el cáliz de mi sangre, significan precisamente la conversión del vino en la sangre» (id.ibid., a.3, resp.), e se os Sacramentos realizam o que significam, então o que significa aqui é o que aqui é realizado: a conversão do vinho no Sangue de Cristo. O próprio Lycobates citado não ousa sustentar «que estas palavras enquanto tais seriam necessárias para a validade, o que é impossível, pois faltam essas palavras em certos ritos não-romanos», e vai buscar a suposta causa da invalidade em uma alegada «intentio sacramento contraria» do deslocamento da expressão, o que não faz nenhum sentido na Teologia Sacramental uma vez que a única «intentio» necessária à realização dos Sacramentos é a do ministro que os celebra, e não a de quem escreveu as rubricas! Para além de quaisquer digressões malabarísticas que se possam fazer, o fato incontestavelmente claro na Teologia Católica é que os Sacramentos existem se houver matéria, forma e ministro com a intenção (ao menos virtual) de fazer o que faz a Igreja, e havendo todas essas em um padre católico que celebre o N.O.M. (como de fato há), realiza-se o Sacramento. C’est fini.

    2. A discussão do pe. Belmont no outro link citado é de outra natureza, e se refere não mais ao «Mysterium Fidei» e sim a uma suposta substituição de «pro multis» por «pro omnibus». Contra isso bastaria dizer logo de cara que não existe «pro omnibus» em canto nenhum, uma vez que o texto típico do Missal de Paulo VI traz «pro multis» e, portanto, o problema, se problema houvesse, estaria não no Missal em si, mas nas suas traduções vernaculares.

    3. Ainda, os argumentos esgrimidos em favor da alegada invalidade de uma hipotética Missa celebrada com «pro omnibus» no lugar de «pro multis» não fazem sentido. Não existe nenhuma distinção quanto à res entre o Sacrifício de Cristo enquanto universalmente suficiente e enquanto particularmente eficaz: é um só e o mesmo Sacrifício. Dizer que se trata «do Sacrifício tal como ele é em eficiência e não em suficiência» é irrelevante aqui, pois num caso e noutro se trata do Sacrifício de Cristo, que é único, suficiente e eficiente. Pretender que a referência à suficiência do Sacrifício seja «exprimir um ato que não existiu de fato» (!) não faz sentido, porque é evidente que existiu o Sacrifício de Cristo e é lógico que ele é suficiente. O que o Sacramento representa (= presentifica) é a coisa significada, e só secundariamente as suas características. Assim, a referência à res do Sacrifício determina o Sacramento, e a alusão posterior à sua eficiência ou suficiência não altera a realidade da coisa significada e, portanto, não tem como impedir o Sacramento de a realizar.

    4. Quanto ao Offertorium, basta dizer que ele é relativamente tardio (não existia na forma em que o conhecemos nos primeiros séculos da Igreja) e – principalmente! – que não faz de nenhuma maneira parte da forma do Sacramento, nem essencial e nem acessória, e portanto a sua supressão não tem o poder de invalidar uma forma válida. Aqui, de novo, é preciso recorrer a uma suposta intenção maléfica dos autores do Missal, coisa que é irrelevante para a análise do texto do qual dispomos hoje.

    5. Tampouco o alegado «caráter protestantizante» da Missa Nova poderia invalidá-la, porque tal «caráter», se existe nos textos, não é de nenhum modo frontalmente oposto ao dogma católico (fala-se muito em «supressões» de textos que o explicitavam, mas jamais se falou em nenhuma «negação» dele, porque não há nenhuma). A intenção de fazer o que faz a Igreja é suficiente junto à matéria e à forma do Sacramento para o confeccionar, e a «forma» aqui são as palavras da Consagração presentes no Novus Ordo. Se um sacerdote validamente ordenado inventasse por conta própria de celebrar um rito que consistisse meramente num Sinal da Cruz seguido imediatamente da prolação de «isto é o Meu corpo» e «este é o Cálice do Meu Sangue» sobre o pão de trigo e o vinho da uva, com a intenção de consagrá-los, eles estariam consagrados e seriam o Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo. Tal exemplo extremo e aberrante seria gravemente ilícito, sem dúvidas, mas não inválido, e a confusão entre as duas coisas não é admissível. Ainda, dizer que «esses ritos não são o que a Igreja faz» é uma clara petição de princípio, porque uma vez que a Igreja os promulgou e mandou que se celebrasse o Sacrifício da Missa de acordo com eles é porque utilizá-los para a celebração da Missa é precisamente o que a Igreja faz!

    6. A diferença entre a Sacrosanctum Concilium, a Editio Typica do Missal de Paulo VI e a forma como se celebra a Missa numa paróquia brasileira média é evidente e salta aos olhos a quem quer que olhe para eles, com cada um negando escandalosamente o anterior. Não existe nenhuma «separação introduzida» aqui, ela é um dado da realidade que se impõe por si mesmo. Negá-lo para se aferrar (de novo…) a intenções maquiavélicas perpassando todo este processo (das quais, aliás, os seus atores imediatados são totalmente inconscientes!) é retalhar a realidade para que ela caiba no modelo ideológico pré-existente.

    7. Não existe nenhuma garantia de que a «Grande Apostasia» se dará com o virtual desaparecimento da Igreja Docente, e nem muito menos que isso possa (ainda que em princípio) acontecer com o mais absoluto silêncio do sensus fidelium da virtual totalidade dos católicos. Ao contrário, temos duas garantias bem sólidas. Uma é que a Igreja não pode estabelecer ritos inválidos. Outra, que as portas do Inferno não prevalecerão sobre Ela. É a isso que nos devemos aferrar, e não ao subjetivismo da livre-interpretação das profecias dos santos erigido como fiel da balança contra o dado objetivo da ação do Magistério visível da Igreja Católica.

    Quanto aos outros dois textos maiores do pe. Belmont, vou guardá-los para ler assim que tiver oportunidade.

    Abraços,
    Jorge

  21. Jorge, salve Maria.

    Você poderia dar uma palavra sobre o fato de todos os especialistas dizerem que, sendo ou não sendo essencial o “Mysterium Fidei”, caso esta expressão falte a consagração deve ser refeita condicionalmente?

    Abraços,

    Sandro de Pontes

  22. Sandro, salve Maria!

    Provavelmente porque é ilícito fugir ao que prescrevem os livros litúrgicos, mormente em assunto tão grave quanto as palavras ditas por Cristo. A repetição (condicional, uma vez que a Consagração já estaria provavelmente realizada) removeria a ilicitude.

    Abraços,
    Jorge

  23. Jorge,

    Não me parece verossímil a sua resposta. Só se pode realizar um sacramento sob condições se houver dúvidas a respeito da sua validade.

    Assim, quando um herege se converte, dependendo do ramo do protestantismo que ele deriva, ele é batizado sob condição, o que significa a existência de dúvida a respeito da validade de seu primeiro batismo, que pode, ou não, ter sido inválido.

    A única justificativa para os especialistas (como Santo Afonso) afirmarem a necessidade de repetir a forma de consagração sob condição é justamente a dúvida a respeito da validade da mesma, o que indica claramente não ser certo que sem o Mysterium Fidei a transubstanciação acontece seguramente.

    Sobre São Tomás, vamos nos aprofundar no texto dele, mas certamente ele não era louco a ponto de dizer que o “Mysterium Fidei” é essencial e ao mesmo tempo sustentar que sem esta bendita expressão a consagração acontece. Ou uma coisa ou outra. Você colocou o trecho dele assim:

    «si el sacerdote profiriese solamente las palabras referidas [éste es mi cuerpo y éste es el cáliz de mi sangre (?)] con intención de realizar el sacramento, lo realizaría, porque la intención haría que se entendieran como dichas por la persona misma de Cristo”.

    Não sei, tem alguma coisa estranha aí….

    Abração,

    Sandro

  24. Sandro,

    Estou quase certo de que se batiza sob condição alguém que foi batizado em situação extrema (uma criança que estava quase morrendo, o médico batizou só com a fórmula essencial e soro fisiológico, p.ex., mas depois ela sobreviveu) e depois tem a oportunidade de receber o rito completo do Sacramento. O ponto não é necessariamente a dúvida, e sim a importância do Rito, mesmo naquilo que não é o mínimo essencial.

    A única possibilidade que eu vejo de dúvida no caso da Consagração realizada no Rito Antigo sei o «Mysterium Fidei» decorre não da ausência destas específicas palavras, e sim da distração absurda do celebrante. Se o padre estava tão disperso que foi capaz de se esquecer de pronunciar as palavras que tinha diante dos olhos, então a sua negligência na celebração é tamanha que talvez tivesse comprometido até a intenção habitual: nesse caso se a repete, com a dúvida, se existir, decorrente da possível falha na intenção do ministro, e não da ausência daquelas palavras. Ainda, a repetição é necessária para a licitude da Eucaristia, como eu disse, e a única maneira de se corrigir isso é repetindo tudo condicionalmente mesmo, porque o padre não poderia simplesmente consagrar de novo o vinho já consagrado.

    Sobre Santo Tomás, pode ler a Summa no link que coloquei. Ele diz que a Consagração seria válida ainda que o padre dissesse as palavras da Consagração somente, mesmo se não dissesse nada do que vem antes, o que é exatamente o que eu mencionei sobre um rito que contivesse somente as palavras da Consagração e mais nada: seria ilícito, mas válido. Com relação ao Mysterium Fidei, o Aquinate fala que é «adequado» que ele esteja na fórmula porque significa a justificação da graça, mas o que significa a conversão do vinho no sangue é a primeira parte. Ora, os Sacramentos realizam o que significam, e portanto se só o «este é o cálice do meu sangue» já significa a transubstanciação, não tem como a ausência do “Mysterium Fidei” em sequência fazer com que deixe de significar.

    Abraços,
    Jorge

  25. Prezado Jorge, salve Maria.

    Penso que você se equivoca sobre a questão do batismo, porque já teve padre tradicionalista que batizou sobre condições amigos meus. E olha que eles foram batizados na igreja conciliar…

    Sobre São Tomás, a questão realmente não é tão simples. Ora, como mostrei ao Rui lá em cima São Tomás ensinou o seguinte:

    “(…) as formas dos sacramentos, à par de significar, obram ao significar, a locução TODA INTEIRA pertence à forma para sua força eficaz” – Santo Tomás de Aquino – Comentário da Primeira Epístola de São Paulo aos Coríntios (1 Cor 11, 25-26)

    http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/es/index3.htm

    Como lhe disse, São Tomás não era louco, e não podia dizer duas coisas diferentes e contraditórias a respeito deste tema. Assim, entre os teólogos que mais amplamente trataram esta questão teológica no século XX destaca-se Padre Maurice de la Taille, SJ, do Instituto Pontifício Gregoriano, que escreveu tratado teológico intitulado justamente “Mysterium Fidei”, em 1931. Pois bem, veja este trecho dele que destaco:

    “Santo Tomás, depois de Inocêncio III, em 3 S. 78,3, e de forma mais positiva ainda em I Coríntios., II, lição 6, juntamente com todos os seus primeiros discípulos, a quem o Salmanticenses cita com aprovação, MANTÊM QUE ESTAS PALAVRAS SÃO ESSENCIAIS (De Euchar. Sacram., disp. 9, dub. E, para. 2, n. 22). Teólogos modernos, na maior parte, na seqüência de São Boaventura (4 D. 8,2,1,2), negam que essas palavras são essenciais”.

    Assim, prezado Jorge, veja que eu não cometo abuso ao dizer que São Tomás ensinava a forma completa como essencial, e não a resumida, e eu citei ao Rui justamente o mesmo texto de São Tomás usado por Padre Maurice para afirmar o mesmo.

    Porém, veja que coisa mais incrível: mesmo os especialistas divergem com relação ao real ensinamento de São Tomás neste quesito. Leia o que está no manual de teologia do Padre Félix, contemporâneo de Padre Maurice:

    “Certos autores concordam que as outras palavras: novi et aeterni testamenti, etc., também pertencem à forma essencial. Santo Tomás PARECE seguir esta opinião, embora ALGUNS teólogos e outros autores pensam que o Doutor Angélico SENTIA COMPLETAMENTE O CONTRÁRIO” – Pe. Felix M. Cappello – SJ.De Sacramentis (1932).

    Incrível, não? O que realmente pensava São Tomás? Padre Félix diz que ele “parece” seguir a forma inteira como essencial, mas reconhece que alguns especialistas defendem que ele seguia a forma resumida (provavelmente por causa do trecho colocado por você, que parece mesmo indicar isso). Incrível!!!! Qual o motivo desta confusão entre os especialistas a respeito daquilo que verdadeiramente ensinava o doutor angélico? Precisamos nos aprofundar, eu diria.

    Porém, veja a conclusão do padre Félix a respeito do assunto:

    “(…) Qualquer que seja o pensamento da opinião do Santo Doutor e de outros teólogos, a visão oposta é a opinião comum e, portanto, moralmente certa. Na prática, seria certamente pecado grave omitir estas palavras, e se ele tivesse dito as primeiras palavras apenas, ele deveria REPETIR TODO O FORMULÁRIO condicionalmente”.

    Ou seja, pense o que pensar São Tomás, se o sacerdote não pronunciou a forma inteira, o que significa dizer que se ele não pronunciou o “Mysterium Fidei” no seu lugar de origem, pelo sim pelo não, pense o que pensar São Tomás, é moralmente certo que o padre deve repetir condicionalmente a consagração. Logo, não existe certeza que uma consagração feita sem a bendita expressão seja inquestionavelmente válida.

    Finalizando, encontrei citação retirada de uma nota de rodapé de uma obra de Santo Afonso, onde é dito que o Papa Bento XIV (reinou no século 18) era da opinião que a forma inteira é essencial, descartando a forma dita com “palavras essenciais, e ele se apoia em São Tomás para embasar o seu ensinamento (“De Miss. Sacr. 1.2, c. 15.).

    O texto que Bento XIV usa de São Tomás está neste endereço: p. 3, q. 18, a. 3.

    Nesta mesma nota de rodapé na obra de Santo Afonso está dito que São Pio V fez com que a opinião contrária (ou seja, a opinião que a consagração pode ser feita com as palavras ditas “essenciais”) fosse apagada do comentário de Caetano, que era da opinião de que a forma curta seria suficiente. Ou seja, o papa santo também teria corroborado a forma total.

    E aí, o que dizer disso tudo?

    Sandro

  26. Jorge, salve Maria.

    Sobre o batismo sob condição, não corresponde a verdade o que você pensa a respeito do tema. Neste ponto parece que o código de João Paulo II ensina o mesmo que o código de 1917:

    869 § 1. Havendo dúvida se alguém foi batizado ou se o batismo foi conferido validamente, e a dúvida permanece depois de séria investigação, o batismo lhe seja conferido sob condição.

    869 § 2. Aqueles que foram batizados em comunidade eclesial não católica não devem ser batizados sob condição, a não ser que, examinada a matéria e a forma das palavras usadas no batismo conferido, e atendendo se à INTENÇÃO do batizado adulto e do ministro que o batizou, haja séria razão para duvidar da validade do batismo.

    (…)

    C) Há Igrejas de cujo batismo se pode PRUDENTEMENTE DUVIDAR e, por essa razão, requer-se, como norma geral, a administração de um novo batismo, sob condição. Essas Igrejas são:

    a) Igreja Pentecostal Unida do Brasil (esta Igreja batiza apenas ´´em nome do Senhor Jesus´´, e não em nome da SS. Trindade);

    b) ´´Igrejas Brasileiras´´ (embora não se possa levantar nenhuma objeção quanto à matéria ou à forma empregadas pelas ´´Igrejas Brasileiras´´, contudo, pode´se e deve´se duvidar da INTENÇÃO de seus ministros; cf. Comunicado Mensal da CNBB, setembro de 1973, p. 1227, c, n. 4; cf. também, no ´Guia Ecumênico´, o verbete ´Brasileiras, Igrejas´);

    c) Mórmons (negam a divindade de Cristo, no sentido autêntico e, conseqüentemente, o seu papel redentor).

    http://www.veritatis.com.br/direito-canonico/dir-sacramental/1147-instrucoes-do-codigo-canonico-sobre-o-batismo

    Assim, o batismo sob condição é feito pela ausência de certeza da validade do batismo anteriormente feito. Penso que da mesma forma esta é a razão pela qual, na missa, os especialistas dizerem que na ausência de palavras existentes na forma completa deve-se repetir condicionalmente a consagração, não porque o ministro se distraiu, mas por falta da forma adequada que garanta moralmente que o milagre aconteceu.

    Realço o que disse ao Rui: a Igreja nunca ensinou que as palavras tidas como “essenciais” bastavam para a concretização do sacramento, sendo este um debate de especialistas. Ao contrário, a Igreja ordenou a forma completa, dizendo não ser possível estabelecer outra, e ainda condenou como ato contrário a lei divina suprimir o Mysterium Fidei.

    Acho que é isso,

    Sandro

  27. Sandro, salve Maria!

    Li o texto do Prof. Omlor que o Felipe traduziu. Acho a tese por ele defendida plausível, embora não certa, por algumas razões. Há certas nuances aqui:

    1. se o Aquinate considera que as palavras que se seguem a «este é o Cálice do meu sangue» são essenciais, no sentido de que faltando elas não existe o Sacramento;
    2. caso positivo, se ele considera que todas e cada uma dessas palavras (incluindo o «Mysterium Fidei» na posição tradicional) são essenciais no sentido acima;
    3. em caso afirmativo, se Santo Tomás está correto.

    Ora, não me parece sequer que o primeiro ponto esteja estabelecido para além de qualquer dúvida razoável, quanto mais os outros dois subseqüentes!

    No meu último comentário aqui eu citei o artigo III desta questão da Summa. Exponho abaixo mais detalhadamente o que considerei então:

    1. Neste artigo o Aquinate não pergunta se a forma completa – hic est calix sanguinis mei, novi et aeterni testamenti, mysterium fidei, qui pro vobis et pro multis effundetur in remissionem peccatorum – é essencial, mas sim adequada (em latim, sit conveniens). E dizer que uma determinada sentença é adequada para expressar uma realidade não é, nem de longe, o mesmo que dizer que nenhuma outra sentença possível a expressa adequadamente.

    2. A segunda objeção é muitíssimo parecida com o que estamos discutindo aqui; permito-me reproduzi-la na íntegra:

    2. Aún más: no son de mayor eficacia las palabras que se dicen para la consagración del pan que las que se dicen para la consagración del vino, ya que las unas y las otras son palabras de Cristo. Pero inmediatamente de decir: Esto es mi cuerpo, queda realizada la consagración del pan. Luego nada más decir: Este es el cáliz de mi sangre, queda realizada la consagración de la sangre. En cuyo caso, no parece que las palabras que siguen sean parte esencial de la forma, tanto más cuanto que pertenecen a las propiedades de este sacramento.

    Ora, se o Aquinate quisesse realmente dizer que sem o «Mysterium Fidei» não se realiza a Consagração do Vinho, esta seria uma excelente oportunidade para o afirmar com a clareza que lhe é característica. Mas a esta objeção ele responde de outra maneira bastante diferente:

    2. Puesto que, como se ha dicho ya (ad 1; q.76 a.2 ad 1), la sangre consagrada por separado representa claramente la pasión de Cristo, el efecto de la pasión debía ser mencionado mejor en la consagración de la sangre que en la consagración del cuerpo, que es el que padeció. Lo cual también se indica cuando el Señor dice: que será entregado por vosotros, como queriendo decir: que por vosotros será sometido a la pasión.

    De onde se vê que as palavras que Sto. Tomás tem em mente quando responde a quem pretende que tudo o que se segue a «este é o cálice do meu sangue» seja inadequado não são «Mysterium Fidei», e sim «qui pro vobis et pro multis effundetur».

    Portanto, parece-me que se pode no máximo – e sendo bastante generoso – conceder que Santo Tomás não abordou a questão de se é válida a Consagração realizada com a omissão somente das palavras «Mysterium Fidei». Mais do que isso me parece francamente insustentável.

    E a maior prova disso, como já expliquei, é o fato de que o próprio Lycobates que o Felipe citou, em um texto específico sobre o «deslocamento do Mysterium Fidei e validade da “missa nova”», diz com todas as letras (grifo meu):

    Mantenho com Sto. Tomás (IIIa 78, 3) que estas palavras “pertinent ad integritatem locutionis”, o que deve ser compreendido, creio eu, não em sentido estritamente formal (que estas palavras enquanto tais seriam necessárias para a validade, o que é impossível, pois faltam essas palavras em certos ritos não-romanos de que, como sabemos, não duvidava tampouco Sto. Tomás), mas em sentido ideal (que o sentido delas, aquilo que é exprimido por meio delas, é necessário, e que sua omissão, seu desvio semântico, é fatal).

    Portanto, é impossível que estas palavras, em sentido estrito, ou seja, literalmente colocadas na exata posição tradicional, sejam de tal modo que a sua simples supressão torne o Sacramento inválido. A Igreja jamais sustentou isso quando teve oportunidade de o fazer (p.ex., Pio XII na citada «Ata da Suprema Sagrada Congregação do Santo Ofício», que poderia – aliás, deveria – dizer que a omissão do Mysterium Fidei invalidava o Sacramento, caso isso fosse verdade, e no entanto ele simplesmente mandou manter estas palavras sem contudo dizer que os padres que a omitiam estavam celebrando sacramentos inválidos), e portanto não é razoável pretender que seja este o ensinamento da Igreja.

    Aliás, é curioso ver como os textos que analisamos aqui se refutam mutuamente: o do Lycobates, dizendo ser «impossível» que o Mysterium Fidei pertença à substância da forma do Sacramento da Eucaristia «em sentido estritamente formal», refuta o de Mr. Omlor; e este, dizendo que as «palavras precedentes» à fórmula da Consagração (o início do Cânon Romano e, p.ext., também o Offertorium) «não são necessárias» para a validade do Sacramento, refuta o do Prof. N.M, que pretende ser o Offertorium parte essencial da dimensão oblativa da Santa Missa!

    Finalmente, sobre a questão (anterior) da repetição sub conditio da fórmula da Consagração completa caso o «Mysterium Fidei» fosse omitido:

    1. ou o padre as omitiu intencionalmente, ou as omitiu sem intenção, et tertium non datur;
    2. se ele as omitiu intencionalmente, então é claro que de nada adiantam os conselhos para que elas sejam repetidas na íntegra, porque se o padre não as quis dizer da primeira vez então é óbvio que não as vai dizer logo em seguida ao “se recordar” do que diziam os especialistas;
    3. portanto, é claro que este conselho – da repetição sub conditio – só se direciona para os que omitiram o «Mysterium Fidei» sem intenção;
    4. se alguém omitiu estas palavras sem intenção, só pode ser porque estava distraído (ou elas por alguma razão não constavam no Missal que ele tinha diante dos olhos, mas mesmo neste caso é distração);
    5. esta distração tão grave em um assunto tão sério quanto o coração da Santa Missa em princípio poderia comprometer a intenção do ministro celebrante, o que talvez em princípio também pudesse, por conseguinte, comprometer a própria validade do Sacramento;
    6. havendo esta possibilidade de invalidade do Sacramento por defeito de intenção, está já justificado o conselho para a repetição condicional da fórmula inteira, sem que seja necessário aventar uma insinuação de invalidade por defeito de forma aqui;
    7. mesmo que não houvesse nenhuma possibilidade de invalidade neste caso, ainda assim o Sacramento, para sua licitude, precisa ser celebrado em estrita conformidade com os livros litúrgicos, e isso de modo máxime no que concerne às próprias palavras ditas por Nosso Senhor;
    8. portanto, mesmo que não houvesse nenhum problema quanto à validade da consagração do vinho realizada sem o «Mysterium Fidei», haveria um problema de licitude que, evidentemente, se deveria sanar;
    9. a única maneira de se sanar este defeito de licitude seria com a repetição da fórmula na íntegra, e a única maneira de se repetir a fórmula da Consagração é sub conditio, posto que não se pode consagrar o que já está consagrado;
    10. por conseguinte, mesmo excluindo qualquer possibilidade de invalidade da consagração do vinho provocada pela omissão do «Mysterium Fidei», ainda assim a repetição da fórmula na íntegra seria necessária para sanar-lhe a ilicitude, e isto é por si só razão suficiente para justificar a exigência de se refazer a Consagração condicionalmente colocada pelos especialistas – o que resolve a questão.

    Abraços,
    Jorge Ferraz

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