Isto é amar, isto é ser mãe!

Eu vi esta notícia há um mês atrás e tinha deixado para comentar depois. O tempo foi passando e, hoje, sábado véspera do Dia das Mães, parece-me uma ocasião propícia. É a história de uma garota inglesa que resolveu adiar o próprio tratamento contra câncer porque estava grávida e queria salvar a vida da filha; e, depois que a menina nasceu, ela descobriu que não tinha mais cura.

O bebê nasceu saudável com 27 semanas (um pouco mais de 6 meses) de gestação, por cesárea, pesando 900 gramas. Mas Sarah foi informada de que não tinha muito tempo de vida. O câncer já havia se espalhado para o pâncreas, pulmões, pescoço e tomado conta dos intestinos.

O nome da mãe é Sarah Brook; o da filha, Polly Jean. A história adquire contornos de particular heroísmo quando é situada no século em que vivemos: num mundo onde o egoísmo se disseminou de tal maneira que é visto como a norma do comportamento socialmente aceitável.

Lembro-me de que a primeira vez em que contei a história de Santa Gianna para uma amiga, a primeira reação dela foi a de espanto. “Mas como assim, ela só fez dar a vida pelo seu filho? Qualquer mãe faria isso!”. E eu até concordo que qualquer mãe deveria fazer isto, mas tal não é infelizmente a regra nos tempos que hoje correm. E é exatamente por isso que provoca admiração a história de Sarah.

Vejam, a rigor ninguém está mesmo obrigado a se deixar morrer em favor de ninguém. O “primeiro próximo” que estamos obrigados a amar somos nós mesmos, pois ensina Santo Tomás que ninguém é mais próximo do homem do que ele próprio. Antes de qualquer coisa nós estamos obrigados a cuidar da nossa própria vida, uma vez que ela é o nosso bem maior e a manutenção dela é condição necessária para a realização de quaisquer outras obras meritórias. Assim, a rigor ninguém está obrigado a morrer nem mesmo por um filho: um tratamento de câncer durante a gravidez é um caso clássico de causa com duplo efeito e, portanto, é perfeitamente legítimo, ainda que isto acarrete a morte do bebê que se carrega no ventre. Mas eu não consigo nem imaginar como seria estar na pele de uma mulher nesta situação.

No meu Facebook eu encontro uma frase atribuída a Chesterton; eu detesto essas imagens do FB que têm somente uma foto ou uma pintura, uma frase entre aspas e um genérico “fulano de tal”, sem referência, sem nada. Mas neste caso serve para exemplificar o que estou falando, porque o dito é bem verdadeiro independente do autor. A frase é “você não pode amar uma coisa sem querer lutar por ela”. E penso como não deve ser terrível para uma mãe pensar que, talvez, não tenha lutado o suficiente por sua prole… É uma situação difícil! Em um caso mais ou menos análogo, um pai que chegasse em casa e encontrasse sua família vítima de um marginal armado também não teria, a rigor, a obrigação moral de se atracar com o meliante para salvar os seus. Mas me provoca arrepios imaginar como seriam os restos dos dias deste pai, caso ele sobrevivesse sem haver tentado reagir ao assassino.

Se não é possível amar uma coisa sem querer lutar por ela, portanto, nossas mais sinceras homenagens à britânica que não apenas quis lutar como de fato lutou – e lutou até a morte! – pela vida de sua pequena filha. Isto é amar, isto é ser mãe. E se é verdade que toda mãe verdadeira tem ao menos esta disposição in voto de consumir-se pelos seus filhos, é belíssimo quando nós a encontramos realizada concretamente em um caso extremo que, justamente por ser extremo, é de uma admirável eloqüência. No dia de hoje, nós queremos saudar a todas as mães que participam, pelo fato mesmo de serem mães, desta grandiosa missão e desta sublime vocação expressas de maneira tão magnífica nesta história de sacrifício. Quando à Sarah Brook, eu não sei o que aconteceu com ela (já faz um mês da notícia); se ela já tiver partido para as Moradas Celestes, que seja lá recebida com glória. E, onde quer que ela se encontre, que receba as justas homenagens pelo dia de amanhã. Que o exemplo dela possa despertar – ou fazer florescer – este instinto materno nas mães de que o mundo de hoje precisa.

Feliz dia das mães!

Bem en passant: feliz dia das mães! Queria ter mais tempo para escrever mais e melhor sobre este dia tão importante; mas acho melhor ser limitado neste assunto ao qual, aliás, a limitação é inerente, do que passar o domingo de hoje em silêncio por não ter tido tempo para os arroubos retóricos dos quais gostaria.

No mês de maio – mês da Virgem Maria – é o dia das mães; no mês d’Aquela que é Mãe por excelência, nós parabenizamos as nossas próprias mães carnais, que nos deram a vida, nos carregaram em seu seio, nos nutriram e educaram e nos transformaram naquilo que somos hoje. No mês da nossa Mãe espiritual, nós nos lembramos também de nossas mães naturais; afinal, a graça pressupõe a natureza e Maria Santíssima não poderia ser a nossa Mãe Espiritual se não fossem as nossas mães carnais. Não teríamos como Mãe a Mãe de Deus se não tivéssemos como mãe a mãe que é nossa, e de quem nascemos para esta vida; não teríamos Mãe do Céu sem a nossa mãe da terra.

Vocação sublime, mistério insondável, dignidade altíssima que Deus concedeu à mulher: não nascem os filhos de Deus por meio das águas do Batismo se, antes, não nascerem eles de uma mãe carnal que lhes dê a vida natural e, ao mesmo tempo, a possibilidade da vida sobrenatural! Por meio dos filhos, os homens são chamados a colaborar com Deus na obra da criação, mas que papel espetacular que cabe à mãe nesta história: carregar o filho no ventre enquanto ele se forma, agasalhá-lo e amamentá-lo quando ele é pequeno e indefeso, educá-lo enquanto ele cresce e acompanhá-lo durante toda a sua vida; as marcas maternas são indeléveis. Obrigado, ó mãe, porque sem ti eu nada seria!

Que a Virgem Santíssima, Mãe de Deus e nossa, e também – não nos esqueçamos – mãe de nossas mães, possa abençoá-las em profusão neste dia a elas dedicado; que cada mãe aqui na terra possa ter em si algo desta Mãe do Céu, que A lembre e que a Ela conduza. E que um dia possamos nos encontrar todos, Mãe do Céu e nossas mães da terra no Céu, a fim de vivermos plenamente a vida que – graças às nossas mães – apenas começamos a viver aqui na terra. Que Deus abençoe todas as mães!