Quod semper, quod ubique, quod ab omnibus

Nos tempos em que eu discutia mais freqüentemente com protestantes, cansei de me deparar com listas como esta sobre a “origem de falsas doutrinas católicas”. Basicamente, eram uma tentativa de “provar” como a Igreja, ao longo dos séculos, corrompera a pureza do Evangelho de Cristo por meio do acréscimo de doutrinas humanas espúrias. Eram todas iguais: um monte de datas nas quais, supostamente, a Igreja Católica teria “passado a acreditar” em certas coisas.

E todas as listas eram iguais. Por exemplo: 1854 era quando fora inventada a “Concepção imaculada da Virgem a Maria”. Todos sabem que este é o ano da promulgação do dogma da Imaculada Conceição. Mas acaso isto foi “inventado” no século XIX? Por exemplo, antes de 1854 ninguém acreditava nisso?

A igreja abaixo fica em Salvador, na ponta do Humaitá, bem defronte ao farol. É do século XVII. E tem, sobre o seu pórtico frontal, a seguinte singela inscrição em honra da Virgem Imaculada:

Eis a Imaculada Conceição testemunhada duzentos anos antes da proclamação dogmática do século XIX! Como é possível que ainda se dê crédito a listas protestantes como aquela? Já não se trata mais nem simplesmente de má teologia. É ignorância histórica mesmo.

Madre Joanna Angélica de Jesus, Mártir da Fé

Esta é uma das histórias que eu ouvi em Salvador. Madre Joana Angélica, morta ao tentar impedir que soldados profanassem o Convento da Lapa. Até o momento, considerada heroína da Independência; mas é também, e principalmente, mártir da Fé.

“Só passareis por cima do meu cadáver!”, disse aos soldados que tentavam invadir o convento, abrindo os braços e colocando-se defronte à porta. Foi então violentamente atacada a golpes de baioneta. Conforme nos contaram no convento, ainda conseguiu arrastar-se até a Capela e morreu diante do Santíssimo. As irmãs que estavam no convento conseguiram fugir pelos fundos. Soror Angélica de Jesus entregara a própria vida, mas protegera as suas religiosas. E todo mártir da Fé merece a honra dos altares.

As fotos abaixo foram tiradas por mim mesmo, quando visitei o Convento da Lapa. As reportagens transcritas a seguir foram publicadas no “Jornal do Clube Excelsior”, ano 13, nº 140, edição de fevereiro de 2011, às páginas 6 e 7. O jornal foi-me gentilmente cedido pela secretaria do convento, a quem agradeço.

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JOANA ANGÉLICA, HEROÍNA OU MÁRTIR?

Por Zélia Vianna

De modo geral, os títulos de herói e de mártir são aplicados de maneira indiscriminada como se o significado fosse o mesmo. A palavra herói vem do latim “heros” e aponta para uma pessoa de coragem e determinação, dotada de ideais e sentimentos nobres como fraternidade, solidariedade e justiça. Para os gregos, que cultivavam os feitos épicos de seus heróis, como Ulisses e Aquiles, por exemplo, o herói era um semideus, isto é, alguém que ocupava uma posição entre o humano e o divino. A palavra martírio vem do grego e significa “testemunha”.

O Dicionário Aurélio estabelece uma diferença entre as duas palavras. Herói é o “homem extraordinário por seus feitos guerreiros, seu valor e sua magnanimidade”, e mártir é a pessoa que “sofreu tormentos, torturas ou a morte por sustentar a fé cristã”. Logo, embora haja valores coincidentes, não pode[m] ser enquadrado numa mesma definição aquele que, movido por ideais sociais, políticos e patrióticos, morre defendendo a autonomia e a liberdade de um segmento da população ou de seu país, e aquele que morre porque não aceita abrir mão de suas convicções religiosas.

Herói é o protagonista de um episódio dramático, alguém que, quando movido por um ideal, é capaz de transcender a sua condição humana e atingir um alto grau de coragem, força de vontade e determinação. Mártir é alguém que, através de palavras e ações, testemunha com sua vida aquilo que é e aquilo em que crê. Para a fé cristã, mártir é alguém que prefere morrer a renunciar à sua fé, que entrega a própria vida em defesa da verdade [em] que acredita e que deseja preservar.

Segundo os teólogos, três são as condições para que haja martírio:

[1.] Que se sofra verdadeiramente a morte corporal – Logo, aqueles que sofreram tormentos por amor a Deus e foram perseguidos por causa do Evangelho, mas não até à morte, não são considerados mártires no sentido exato da palavra [estes, são chamados confessores – J.F.].

[2.] Que a morte seja infligida por ódio à verdade cristã – A Igreja considera que houve martírio quando a morte tem como causa a profissão de fé no Deus de Jesus Cristo. Não é necessário, porém, que o perseguidor expresse o seu ódio. Basta que este seja seu verdadeiro motivo, mesmo que ele declare um outro, como fez Nero que, para matar os cristãos, acusou-os de haver incendiado a cidade de Roma. Para a Igreja, martírio não é apenas a morte em conseqüência da explícita profissão de Fé, mas também a morte advinda da prática dessas virtudes. Como exemplo lembramos São João Nepomuceno, que teve os ossos desconjuntados e os membros dilacerados por não ceder às pressões de Venceslau, rei da Boêmia, que queria obrigá-lo a contar o que a rainha lhe dizia em confissão, e São João Fisher, que foi decapitado por ordem do rei da Inglaterra.

[3.] Que a morte seja aceita voluntariamente – A Igreja só considera martírio a morte em que a entrega voluntária da própria vida supera a vontade e o gesto de conservá-la.

À luz dessas reflexões, uma pergunta paira no ar: Joana Angélica é uma heroína da Pátria ou uma mártir da fé?

Sóror Joana Angélica era uma freira da Congregação das Irmãs Concepcionistas. Em 1822, quando o brigadeiro Luís Madeira de Melo veio para Salvador comandar a Província, ela era abadessa do Convento da Lapa. A vinda do brigadeiro português revoltou os soldados brasileiros e a cidade virou um campo de batalha. Certo dia, soldados e marinheiros portugueses, embriagados de álcool e de ódio, a título de perseguir supostos revoltosos, invadiram o Convento da Lapa. A fim de preservar a integridade das monjas, Sóror Joana Angélica ordenou que elas fugissem pelo quintal. Os soldados enfurecidos derrubaram o portão de ferro e Joana Angélica colocou-se entre eles e o segundo portão que dá acesso à clausura onde o Santíssimo Sacramento está exposto. Na tentativa de impedir com seu corpo a entrada dos soldados, ela abriu os braços e exclamou: “Para trás, bandidos. Respeitem a casa de Deus. Recuai, só penetrareis nesta Casa por sobre o meu cadáver”. Foi então assassinada com golpes de baioneta e, ao pé do altar, esvaiu-se em sangue. Era o dia 20 de fevereiro de 1822.

Trinta anos separam as datas da morte de duas conhecidas figuras brasileiras: Tiradentes e Joana Angélica. Reverenciar Tiradentes como um herói da Pátria é motivo de orgulho e dever de todos os brasileiros. Mas, será que negar a Joana Angélica o título de mártir não é diminuir a grandeza da sua profissão de fé no Deus de Jesus Cristo?

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INAUGURAÇÃO DO MAUSOLÉU DE JOANA ANGÉLICA:
UM ACONTECIMENTO DE FÉ

No próximo dia 18 de fevereiro [18 de fevereiro p.p. – J.F.], às 18h, na Igreja da Lapa, será inaugurado o mausoléu onde estão depositados os restos mortais de Madre Joana Angélica de Jesus e suas irmãs da Ordem da Imaculada Conceição, sepultadas no Convento da Lapa entre 1744 e 1912. O ato será marcado por uma celebração Eucarística presidida por Dom Geraldo Majella Agnelo, seguida da bênção do mausoléu, com transmissão ao vivo pela Rádio Excelsior da Bahia.

A construção do mausoléu foi motivada pelo desejo expresso em vida ao Padre Aderbal Galvão pela Irmã Terezinha do Menino Jesus, Abadessa do Mosteiro da Lapa no período de 1972 a 2000 (alternado), com a finalidade de resgatar a verdade histórica sobre a morte de Joana Angélica e honrar a sua memória como mártir da fé.

Os fatos históricos comprovam que nenhum brasileiro envolvido nas lutas de resistência pela consolidação da Independência do Brasil encontrava-se no interior do Convento da Lapa, fato alegado pelas tropas portuguesas para justificar a invasão ao Convento no dia 20 de fevereiro de 1822.

Foi, portanto, não em defesa de patriotas brasileiros, mas em defesa das monjas a ela confiadas e do Santíssimo Sacramento exposto na Clausura, ou seja, em nome da fé cristã, que Joana Angélica abriu os braços e tentou impedir com o próprio corpo a entrada na Clausura de soldados portugueses. Com o martírio, seu sangue juntou-se ao de muitos brasileiros que, em diversos locais do território baiano, entregaram suas vidas pela liberdade da nossa terra

Por uma questão de justiça, Joana Angélica merece não somente o título de heroína que lhe é dado pela sociedade civil, mas também de mártir da fé, por entregar a própria vida em defesa da doutrina e dos valores cristãos.

O projeto do mausoléu, previamente aprovado por Dom Geraldo Majella e pela Abadessa do Mosteiro da Lapa, Madre Lindinalva de Maria, é da autoria do artista plástico Márcio Azevedo e foi construído na parte central do segundo salão da nave da Igreja da Lapa. Era nesse local, conhecido no passado como “coro de baixo”, onde eram sepultadas as monjas falecidas no Convento. No início do século XX os restos mortais das monjas foram removidos para a câmara existente sob a escada de acesso ao Coro, de onde foram recentemente trasladados para o mausoléu.

Toda Família Excelsior Vida está convidada para a solenidade. Venha, divulgue, traga seus amigos para este acontecimento de nossa fé.

Até logo, Salvador!

Despedindo-me de Salvador, após ter estado aqui desde a sexta-feira. Meu vôo parte amanhã bem cedo para Recife; uma (triste) curta noite de sono me espera. Oferecemo-la, no entanto, ao Altíssimo como sacrifício de Quaresma. Até porque valeu bastante a pena.

As fotos, eu as mostro depois; por agora, apenas palavras. De agradecimento à cidade pela hospitalidade (e, naturalmente, ao meu caríssimo e cultíssimo Cicerone: obrigado, Dionísio!), de deslumbramento pelas coisas que vi e ouvi ao longo desses dias. Salvador é uma cidade bonita, que merece – e muito – ser conhecida.

Graças a Deus, pude ver bastante coisa! Muitas curiosidades históricas, como p.ex. sobre o piso das ruas do centro histórico (original até hoje preservado) ser chamado de “Cabeça de Nêgo” em referência aos escravos que o fizeram. Ou sobre as paredes das casas antigas não terem sido jamais construídas literalmente com óleo de baleia, e sim com o dinheiro arrecadado da (alta) taxação que este produto possuía. Ou sobre a casa dos jesuítas cedida ao governo que, durante um tempo, abrigou as “viúvas envergonhadas” rapidamente expulsas quando elas começaram a promover bingos. Ou sobre o Palácio Rio Branco ter também um Salão dos Espelhos em referência ao de Versailles, bem como pinturas nas paredes descobertas após a remoção de camadas e mais camadas de tinta. E muito mais.

Alegrei-me com a posse do novo primaz do Brasil. Entristeci-me com a destruição da antiga Sé, na década de 30, para dar passagem a uma linha de bonde. Vibrei com as histórias da resistência dos baianos aos hereges holandeses, que cá chegaram e rapidamente foram escorraçados. Emocionei-me com a história de Madre Joana Angélica, mártir da Fé, assassinada por tentar impedir um grupo de soldados de entrarem no convento da Lapa. Encantei-me com uma pequena igreja do século XVII defronte ao farol de Humaitá, sobre cujo pórtico a Imaculada Conceição da Virgem é louvada com dois séculos de antecedência de sua promulgação dogmática. E outras coisas mais, que agora não tenho tempo para escrever mas sobre as quais voltarei a falar em tempo oportuno.

Salve, Salvador! Até breve (estarei de novo aqui por ocasião da beatificação de Irmã Dulce). Volto para Recife com boas lembranças, com uma maior bagagem (também literalmente…) e com esperanças sobre o futuro… Uma cidade dessas merece mais. Que a Virgem da Conceição da Praia interceda pela cidade de São Salvador. E que o futuro reserve páginas mais gloriosas para a Sé Primaz do Brasil.

Novo primaz da Terra de Santa Cruz

Fui ontem à posse do novo Arcebispo de Salvador. Talvez alguém pudesse perguntar o que é que um recifense estava fazendo tão longe de sua terra natal. Qual o interesse que um fiel da Arquidiocese de Olinda e Recife pode ter pela Arquidiocese de Salvador? O quê um bispo que inclusive faz parte de outra regional da CNBB (Nordeste III, quando Olinda e Recife pertence à Regional Nordeste II) tem a ver com um católico de outro estado?

Oras, isto é simples de responder. Eu vim de Recife para oferecer o meu preito ao novo primaz desta Terra de Santa Cruz – expressão que, graças a Deus, foi relembrada diversas vezes ao longo da cerimônia. Vim de Recife porque, sendo católico, faço parte da totalidade da Igreja de Cristo que, embora espalhada ao longo de toda a terra, é Una. Vim de Recife para suplicar ao Altíssimo que tenha misericórdia de Salvador, e digne-Se conceder a esta Sé um santo bispo, um santo cardeal, um santo primaz.

São Salvador da Bahia de todos os santos, salvai Salvador! Por diversas vezes repeti a prece. Que, pela intercessão de Nossa Senhora da Conceição da Praia, ela possa ser ouvida. Que o Altíssimo Se compadeça desta Sé primacial.

A cerimônia, embora longa, foi em sua maior parte digna. A posse deu-se dentro da celebração da Santa Missa. Após a (longa) procissão de entrada – seminaristas, diáconos permanentes, padres e bispos -, dom Murilo imediatamente iniciou a celebração: “em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”. E eu gostei. Comentei com um amigo que estava ao lado: “ele não deu nem ‘boa noite'”. Faço notar que isto não é antipatia, nem falta de educaçao, nem nada: é simples respeito às normas litúrgicas, segundo as quais a saudação do sacerdote é “a graça e paz de Nosso Senhor Jesus Cristo, o amor do Pai e a comunhão do Espírito Santo estejam convosco”, feita após a invocação da Trindade Santa – e não “olá”, nem “boa noite”, nem “desejo-vos uma boa celebração”, nem nada do tipo. E Dom Murilo cumprimentou o povo exatamente como um sacerdote, dentro da Santa Missa, o deve cumprimentar.

A Catedral estava repleta! Os bancos iniciais, reservados às autoridades (eclesiásticas, civis e militares); os bancos da metade pro fim da basílica, reservados aos fiéis que chegaram cedo (coisa que eu não fiz). Foi em pé, ao fundo da igreja, que eu acompanhei toda a celebração. Que, como eu disse antes, foi em linhas gerais uma digna celebração.

Começando pela procissão de entrada, quando alguns militares (alunos de CPOR, quiçá; não sei ao certo) formaram duas fileiras na entrada da basílica, para dar passagem ao cortejo eclesiástico. Prestando continência – belíssima imagem, dos poderes seculares homenageando o poder sagrado! A espada temporal a serviço da espada espiritual. Permita Deus que o gesto amistoso possa se traduzir em gestos concretos ao longo do tempo.

Falou o cardeal Magella. Foi feita a leitura da bula de nomeação de Dom Murilo Krieger. Falou o senhor Núncio Apostólico – que fez o gratíssimo favor de lembrar aos presentes o tríplice múnus episcopal, de ensinar, santificar e reger. O báculo foi entregue, pelo núncio e pelo cardeal, ao novo Arcebispo de São Salvador da Bahia. Entoou-se então o Gloria in excelsis Deo (falo metaforicamente; não foi exatamente este o hino de louvor). Dom Murilo só veio falar após a leitura do Evangelho, durante a sua homilia.

Na Festa da Anunciação, coisa que o novo primaz fez questão de lembrar. Lembrou também que aquela era a primeira (e, por muito tempo, foi a única) diocese desta Terra de Santa Cruz. E disse que era uma grande honra ser chamado a uma cidade que, no seu próprio nome – Salvador! – prestava uma homenagem a Nosso Senhor Jesus Cristo. Acrescento eu: para desespero dos laicínicos de plantão. A sua homilia esteve dentro do esperado e, para mim, por um ou outro detalhe, foi bastante positiva. Falou em colaboração com o Estado no mútuo respeito aos limites de cada um. Falou na importância dos colaboradores do bispo – em particular, do clero – para viabilizar a governabilidade de qualquer diocese; e aproveitou para dizer ao clero que lhe seria como “um pai” ou um “irmão mais velho”. Falou que ia trabalhar em sintonia com o papa Bento XVI, o qual poderia confiar nele. E falou ainda outras coisas que, agora, me fogem à memória.

Deus Caritas Est é o seu lema episcopal. É este também o nome da primeira carta encíclica de Sua Santidade, o Papa Bento XVI gloriosamente reinante. Que esta pequena coincidência possa ser um indicativo de proximidade entre a Bahia e o Vaticano; que a Sé de São Salvador do Brasil possa ter um digno e santo primaz.

O altar-mor da igreja, infelizmente, estava (aparentemente) em reformas e, por isso, estava coberto. Mas o crucifixo que foi colocado no alto, por trás do altar, é – segundo me disse um amigo baiano – aquele que foi trazido na nau de Tomé de Souza quando da fundação da Bahia. São pequenos detalhes aos quais gosto de me apegar, e que vislumbro como excelentes sinais de que uma mudança de ventos está em curso. Aliás, mais um: havia um belo coral cantando ao longo de toda a liturgia. E, durante a comunhão, a antiga igreja dos jesuítas ouviu o Panis Angelicus.

Nem tudo são flores, é claro. É bem verdade que a representante dos leigos falou que estes preferem o calor humano à frieza das normas e das leis, e o representante do colégio dos consultores falou em respeito às diversas maneiras de expressão religiosa do povo baiano (cito de memória e não ipsis litteris, mas o sentido era exatamente esse). Y otras cositas más sobre as quais não vale a pena falar… Isto, no entanto, só mostra uma coisa que nós todos já sabemos: Salvador é uma Arquidiocese complicada. No entanto, é a Sé Primaz. Que não pode continuar entregue àqueles que trabalham pela destruição da Igreja. Dom Murilo terá muito trabalho por aqui, disto eu não tenho dúvidas. Mas estou certo de que terá graças de estado para fazer um bom governo. Que ele as saiba reconhecer e aceitar.

Enfim, está empossado o novo primaz do Brasil. Que Deus o ajude! Que a Virgem Santíssima interceda pela primeira Sé desta Terra de Santa Cruz. E que São Salvador da Bahia de todos os santos possa salvar a arquidiocese de Salvador. Abaixo, algumas fotos que tirei durante a cerimônia. Não estão as melhores possíveis (estive em posição pouco privilegiada), mas dá para ter alguma idéia da cerimônia.

Salve, Salvador!

Cheguei hoje à noite à cidade de São Salvador da Bahia de Todos os Santos. Viagem ligeira, só até o domingo; rever alguns amigos e, principalmente, (tentar) participar da posse do novo arcebispo primaz do Brasil, Dom Murilo Krieger, que se dará amanhã (festa da Anunciação) à noite.

O vôo é curto. Lá de cima, no entanto, olhando pela janela, contemplando o meu Recife do alto, lembrei-me de uma excelente metáfora que ouvi de um piedoso sacerdote na missa do último final de semana. Falava ele sobre a importância de se elevar a alma por meio da oração. E exemplificava dizendo que, num vôo que fizera recentemente, pudera ver – do alto – o horizonte muito mais amplo, o céu e o mar, de uma maneira muito mais clara do que via quando estava no chão. E, assim como se pode ver melhor o horizonte físico quando o avião está no ar, analogamente a alma consegue enxergar melhor os horizontes sobrenaturais quando se eleva por meio da oração. Elevar a alma é enxergar mais. E mais distante. E de modo mais amplo.

É Quaresma, e é tempo de oração. Rezemos mais, e ampliemos assim os nossos horizontes. Que o Altíssimo Se compadeça de nós. Que bons ventos – verdadeiramente do Espírito Santo – possam soprar sobre esta Arquidiocese Primaz. Que a Virgem Santíssima, Nossa Senhora Aparecida, interceda pelo Brasil.

Carnaval III

É claro que existem incontestáveis imoralidades no carnaval como hoje ele é celebrado. Negá-lo, é negar a os fatos tais e quais eles se apresentam – e este é um dos outros mitos do carnaval que precisa ser derrubado. Dizer simpliciter que o carnaval é uma festa neutra é falsear a realidade.

Não estou aqui simplesmente para fazer uma apologia do carnaval, é lógico. O carnaval não tem defesa. As escolas de samba do Rio de Janeiro parecem ter como conditio sine quae non a existência de mulheres (quando muito!) seminuas, e os grandes blocos de Salvador são uma festa onde a promiscuidade encontra cidadania. Não dá para defender este tipo de evento, naturalmente. Não é este o objetivo desta série de artigos.

Eu tive a sorte de nascer sob o império do frevo recife-olindense. É uma dança que não tem lá muitos chamativos sensuais: dança-se sozinho, exige uma boa técnica, as vestimentas e os passos da dança não pretendem possuir apelo sexual. Este é o carnaval que eu conheço, o carnaval da minha infância, das marchinhas antigas das quais tanto gosto! Naturalmente, não posso dizer que as ladeiras de Olinda são o último recôndito de moralidade durante os dias em que Momo impera. Mas (parece-me!) é muito mais fácil brincar carnaval de uma maneira lícita quando se escuta frevo do que quando se escuta samba ou axé.

E as pessoas que desejam simplesmente brincar o carnaval de uma maneira saudável encontram-se, durante os dias de folia, sem opções. Por um lado, existem as vergonhosas festas profanas das quais não se pode simplesmente participar (uma vez que evitar as ocasiões de pecado é um mandamento tão forte quanto o de evitar o pecado em si). Por outro lado, existe (as mais das vezes) uma completa vacuidade de opções legítimas para se divertir durante os dias de carnaval. É evidente que não me refiro aos retiros ou acampamentos: estes, existem em considerável número, mas me refiro àquelas opções que respeitam o direito do cristão de se divertir nos dias que antecedem o roxo quaresmal. São poucas estas possibilidades. Feliz de quem pode dispôr delas.

Se é importante resgatar o carnaval, é fundamental que isso seja feito por meio da substituição das festas profanas que conhecemos por outras festas, mais razoáveis, menos pecaminosas, mais adequadas aos filhos de Deus que só querem aproveitar os últimos dias antes da Quaresma. Hoje em dia, o dilema parece ser entre entregar-se à promiscuidade dos dias de Momo ou sacrificar a alegria carnavalesca. Não parece haver meio termo. E, durante estes dias de folia, é exatamente isso uma das coisas que mais faz falta.

Diário de Viagem

[Em viagem pelo Nordeste, junto com mais dois amigos, desde a última quarta-feira; estamos já de volta para Recife – que a Virgem Santíssima nos guarde na viagem de volta -, de modo que aproveito para deixar aqui as minhas impressões, escritas às pressas, entre uma saída e outra. Amanhã, se o Bom Deus assim o permitir, chegaremos à terrinha natal.]

Maceió

Viajar de carro. Ir pelo litoral, ao invés de pela BR; a viagem torna-se um pouco mais longa, mas bem mais agradável. Não temos pressa; é só no dia seguinte, à noite, que temos uma Ordenação Presbiteral a assistir. Aproveitar a viagem para jogar conversa fora, parar nos postos de beira de estrada para tomar café ou fumar um cigarro, rezar o terço, ouvir música ou CDs de meditações. A viagem não é tão longa assim; passa depressa. Tempus volat

Em Maceió ficamos hospedados no Seminário: Nossa Senhora da Assunção. Chegamos já à noite; no dia seguinte pela manhã, já temos que pegar a estrada para Aracaju. Mas houve tempo para conhecermos o reitor e jantarmos à sua companhia agradável: os cabelos brancos encerram um jeito cativante de contar histórias, e os vastos conhecimentos acumulados ao longo dos anos fazem com que seja agradável ouvi-lo. Padres e bispos são ordenados, dioceses são transferidas e restauradas, Arquidioceses são criadas – tudo isso desfila diante de nós, nas palavras do velho cônego. Pouco tempo, mas muito agradável.

Ir à orla, à noite, para conhecer – ainda que rapidamente – a cidade. Vê-la rapidamente, de carro; não dá para fazer lá muita coisa, é fato, mas dá para ter uma pequena noção da cidade. Tapioca na beira da praia; maior do que o nosso estômago recém-forrado pelo jantar. Mas conversamos um pouco, para depois voltarmos aos nossos aposentos.

No dia seguinte, missa privada – na forma extraordinária do Rito Romano, logo ao acordar. Café, depois estrada. Próxima parada, Aracaju.

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Aracaju

Chegamos à tarde; fomos à Catedral para nos encontrarmos com o [então] diácono Rubens, o ordenando da noite. Disse-nos ele que nos esperavam no seminário, para o qual nos dirigimos. Nossa Senhora da Conceição; fomos bem recebidos, comemos algo, e um seminarista – Flávio – ciceroneou-nos à tarde.

Igreja de Santo Antônio, onde começou Aracaju; a orla “mais bonita do nordeste”, ampla, onde havia fontes e lagoas, pistas de cooper e [mais] barraquinhas de tapioca (lá, beiju); a zona sul da cidade, e a cidade vizinha (do outro lado do Rio Sergipe) de Barra dos Coqueiros, e a parte “feia” da cidade, no norte, onde havia pobreza e miséria em quantidade que contrastava fortemente com a zona sul: dado o pouco tempo que tínhamos, Flávio fez milagres e nos mostrou muitas coisas. Voltamos ao seminário para nos prepararmos para a ordenação.

Um único diácono a ser ordenado padre. A Catedral não estava cheia, mas a celebração foi bonita. Igreja Santa na entrada, num belo coral de vozes; Dom Lessa e um grande número de padres e acólitos, seminaristas e diáconos. A primeira vez que via uma ordenação presbiteral: apresentação do candidato, canto da Ladainha de todos os santos, imposição de mãos e oração consecratória: mais um sacerdote do Deus Altíssimo – que Ele o proteja e guarde sempre! Tu es sacerdos in aeternum: verdade reconfortante e motivo de júbilo para toda a igreja. Beijar-lhe as mãos e pedir-lhe a bênção ao fim da cerimônia: que a Virgem Santa possa velar com particular cuidado pelo neo-sacerdote.

À noite ainda fomos à orla, comer alguma coisa, conversar um outro tanto, mas não nos demoramos. No dia seguinte, Salvador: São Salvador da Bahia de Todos os Santos. Missa de manhã, fazer as malas, pegar a estrada.

* * *

Salvador

Chegar no início da tarde, com fome: mas a viagem pela Linha Verde é agradável. Pouco trânsito, a gente consegue correr “até quando o motor agüenta”… Aracaju – Salvador acaba não sendo uma viagem longa. Logo à chegada [hospedados nas Irmãs Mercedárias, em Rio Vermelho], após o almoço, ir à Barra; o Farol da Barra lembrou-me Lisboa – mais especificamente, a Torre de Belém. Não que as construções sejam muito parecidas – a Torre é muito mais portentosa -, mas a herança portuguesa, a arquitetura similar (quiçá arquitetura comum a todos os fortes, mas enfim…), recordou-me a capital lusitana onde estive há pouco mais de um ano. O Forte é de Santo Antônio; uma ligeira prece, no museu mesmo, a fim de que o santo português interceda por nós e pelo Brasil.

Uma rápida passagem pelo centro da cidade, à noite: praça Castro Alves [quase dava para ver a estátua imponente do jovem poeta declamando do alto, para a noite baiana, seus versos dos quais gosto tanto], praça da Sé. Na volta, como bons turistas, fomos ao Acarajé da Dinha – ficava ao lado de onde estávamos hospedados! – para ver o que é que a baiana tem. O que ela não tem, é simpatia; de resto, não entendo muito de acarajé, mas me pareceu saboroso. Uma boa noite de sono me aguardava.

No dia seguinte, missa às 07:00, desta vez na paróquia do pe. Ângelo. Depois, centro histórico. Debaixo de chuva: entre uma igreja e outra, um banho de chuva e outro, passamos a nossa manhã. Munificentíssimas igrejas, em quantidade e em qualidade; belíssimas, belíssimas. Imponentes, ricas, esplendorosas, dignas do Deus Altíssimo em cuja honra foram erigidas. Impressionaram-me os altares antigos – o da Catedral, de modo particular -, não utilizados… é triste. O Sacrifício oferecido à Trindade Santa nos altares modernos, de costas para aquelas obras magníficas que foram construídas precisamente para oferecer o Santo Sacrifício da Missa…! Não há explicação. Mysterium Iniquitatis, sem dúvidas. Que Deus tenha misericórdia da Bahia.

“Tem missa afro aqui?”, perguntamos a um (pareceu-me) sacristão de uma das igrejas nas quais entramos. “Amanhã tem mais ou menos; tem uns tambores, mas a cerimônia completa só na próxima terça-feira”. “Tem missa com pipoca?”, tive ainda a ousadia de perguntar; “Vá amanhã em São Lázaro”. Estes sacrilégios, acaso irão durar para sempre…? Domine, miserere.

Saímos à tarde, de carro; mais útil teria sido um barco, porque Salvador parecia que ia afundar. Fomos à Basílica de Bonfim; mais um altar estupendo, mais uma tristeza por não vê-lo utilizado para louvar ao Altíssimo. Há, na entrada da Basílica, dois quadros em paredes opostas muito interessantes: a morte do justo de um lado e, do outro, a morte do pecador. No primeiro, o demônio impotente enquanto o fiel é consolado por uma corte de anjos; no segundo, o anjo assiste com fisionomia triste uma horda de demônios arrastar o condenado que se recusa a beijar a cruz que lhe é oferecida. Se a Graça de Deus é até o último instante favorecida, por outro lado Satanás também está à espreita até o fim. Vigiemos, pois, e oremos, para que não caiamos em tentação.

Também ao lugar onde está sepultada Irmã Dulce. Serva de Deus; não conhecia a história dela e não saberia até então o que falar a seu respeito. O processo de canonização está num ponto em que falta apenas um milagre para a beatificação. Pareceu-me que ela é um excelente exemplo de como é possível servir aos pobres sem deixar de servir a Deus, e de lutar pelos desvalidos sem se deixar contaminar pela Teologia da Libertação. R.I.P.

À noite, chovia a cântaros; fomos ao Shopping, perdemos a hora do cinema, aproveitamos para conversar mais um pouco e voltar cedo para casa. No domingo, missa às 07:30, na paróquia de Sant’ana [“igreja do pescador”], de pe. Ângelo; Oitava de Páscoa, domingo de São Tomé, Festa da Divina Misericórdia, aniversário de eleição do Santo Padre o Papa Bento XVI ao Trono de Pedro: Dominus conservet eum, et vivificet eum, et beatum faciat eum in terra, et non tradat eum in animam inimicorum eius. Após o almoço, vamos nos despedir da Sede Cardinalícia e pegar a estrada de volta para Recife, pernoitando, no entanto, ainda em Aracaju. Que Deus nos conceda uma boa viagem de volta.

Lavagem das escadarias e bênção sacerdotal

A Igreja Católica tributa um sincero respeito em relação aos cultos afro-brasileiros, mas considera nocivo o relativismo concreto de uma prática entre ambos ou de uma mistura entre eles, como se tivessem o mesmo valor, pondo em perigo a identidade da fé cristã católica. Ela sente-se no dever de afirmar que o sincretismo é danoso ali onde a verdade do rito cristão e a expressão da fé podem facilmente ser comprometidas aos olhos do fiéis, em detrimento de uma autêntica evangelização.
[João Paulo II, Ad Limina Bispos do Brasil, 1995]

De acordo com esta notícia publicada em UOL, na Bahia, “pela primeira vez, em mais de 250 anos, um padre abençoou o cortejo formado em sua maioria por adeptos do candomblé”. Um sacerdote do Deus Altíssimo abençoando macumbeiros! Se isto não for um típico caso de sincretismo que ameaça a verdade da Fé Cristã, não sei mais o que é.

“Tenho uma grande admiração pelas manifestações populares, a festa do Senhor do Bonfim resume muito bem a religiosidade e a crença do nosso povo. Achei que ficava um vazio sem a bênção e pedi permissão para a Arquidiocese”, disse o padre.

Resta saber (1) o que foi, exatamente, que o padre pediu à Arquidiocese; (2) qual foi, exatamente, a resposta da Arquidiocese; e (3) o que foi, exatamente, que aconteceu durante a lavagem das escadarias da igreja de Nosso Senhor do Bonfim. Para entrar em contato com a Arquidiocese de Salvador, é só clicar aqui.

Revés das CDDs em Salvador

As abortistas pelo direito de matar – conhecida associação de senhoras que se dizem católicas e que, no entanto, são militantes a favor do aborto – estavam com um “encontro” agendado para este final de semana (dias 07, 08 e 09 de novembro) numa casa de religiosas em Salvador. O absurdo foi denunciado prontamente pelo pe. Adilton Lopes, da Arquidiocese da cidade.

Após alguns emails de protesto, a Superiora Geral da congregação religiosa responsável pela casa onde o evento iria ocorrer, Ir. Gilvania dos Santos, escreveu-nos dizendo que, tão logo soube quem eram as responsáveis pelo aluguel do espaço, cancelou o evento. São palavras do email da irmã (que vai em anexo):

Quando [as Católicas pelo Direito de Decidir] vieram falavam que se tratava de um grupo que  iam trabalhar com mulheres que foram violentadas e se denominaram cristãs.

Ou seja: estas canalhas não têm nem mesmo coragem de se apresentarem como o que realmente são, pois sabem que a pele de ovelha não engana a mais ninguém. Fica, assim, o registro da baixeza das abortistas, que tudo fazem para atacar por dentro a Igreja Católica. Graças a Deus que temos sacerdotes e religiosos santos, que não dão espaço para que os inimigos da vida humana façam a sua criminosa apologia do assassinato de crianças inocentes.

Nossos mais alegres cumprimentos à Ir. Gilvania dos Santos, pela firmeza e prontidão com as quais agiu para impedir o escândalo; que a Virgem Imaculada possa abençoar-lhe e a toda a sua congregação.

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[Email do Instituto das Medianeiras da Paz]

Salvador, 06 de novembro de 2008.

Queridos Irmãos e Irmãs em  Cristo Jesus.

Graça e Paz em Jesus, o Mediador do Pai!

Hoje pela manhã precisamente a poucos minutos atrás ficamos sabendo do tipo do grupo que irão fazer encontro no Centro de Formação Jesus Mediador.

Por isso, somos convictas das raízes profundas da nossa Consagração e compromisso com os “eleitos de Deus” e enraizadas em Cristo Mediador que cortamos tal acontecimento contrário aos nossos princípios fundacionais e  cristãos.  Imediatamente, entramos em contato com a pessoa que solicitou o serviço e cancelamos dizendo o porquê não aceitamos este tipo de grupo. Quando vieram falavam que se tratava de um grupo que  iam trabalhar com mulheres que foram violentadas e se denominaram cristãs.

Somos uma congregação pobre, contudo os valores Evangélicos são os embasamento que temos para discernir criteriosamente e estarmos radicalmente a serviço da Vida. Toda a nossa missão nas várias localidades onde estamos expressamos com testemunho vivo da nossa presença e amor a Jesus Cristo  no Carisma de mediar, construindo a paz, através do ser humano desde a sua concepção. Lamento ter acontecido isso,  por falta de ter conhecimento do perfil desde grupo de Mulheres. Posso garantir que razão foi é a nossa razão.

Quero expressar a cada um e a cada uma  o nosso perdão pela repercussão dessa situação e asseguro que não irá acontecer o evento na nossa instalação física. Já solicitamos a retirada do nosso nome na programação deste fato diabólico. E que fomos enganadas por estas pessoas.

Que Deus nos ajude e nos conduza a favor da vida em plenitude.
Um abraço de paz pra você!

Ir. Gilvania dos Santos
Sup. Geral