Tradição, tradições e conservadorismo – por Carlos Ramalhete

[Excelente intervenção do Carlos Ramalhete em um papo privado sobre Tradição Católica, tradições cristãs e conservadorismo. Publico na íntegra a resposta dele, que delineia bem o papel que nos compete – a todos nós! – diante do mundo moderno, na situação em que nós o encontramos.]

O fato de haver uma diferença entre a Tradição – que é fundamentalmente doutrinal – e tradições – aplicações provadas pelo tempo desta Tradição ao mundo, dela dependentes e a ela apontando – não faz com que nem se justifique um minimalismo doutrinal que as tornaria irrelevantes nem, muito menos, com que se possa acusar todo conservadorismo de confusão entre aquela e estas.

Num momento como este em que vivemos, em que os poderosos tentam criar uma sociedade nova a golpes de leis e novelas, o conservadorismo nada mais é que o reconhecimento de que “qualquer evolução dos costumes e qualquer gênero de vida devem ser sempre mantidos dentro dos limites impostos pelos princípios imutáveis fundados nos elementos constitutivos e nas relações essenciais de cada pessoa humana, elementos e relações que transcendem as contingências históricas” (Dz-H 4580; é Paulo VI, nada de rad-tradismo…). A palavra chave é “mantidos”, que poderia ser traduzida também como “conservados”. Conservadorismo é isso. Como há, sim, uma enorme riqueza cultural de que somos, ou deveríamos ser, herdeiros, espelhando e expressando de várias formas o possível e o impossível nesta conservação de limites, preservá-la é sim dever nosso.

Como filhos fiéis da Igreja, o nosso dever é procurar *conservar*, sim, o que resta da civilização cristã, até para que no futuro mais ou menos próximo possa se erigir uma *outra* civilização cristã. Não se trata, como é evidente e eu não me canso de repetir (quer dizer, canso, sim: confesso que torra a paciência ter que dizer sempre a mesma coisa…), de voltar a qualquer passado tido como utópico, mas de procurar manter a sociedade “dentro dos limites impostos pelos princípios imutáveis”.

Isso quer dizer, na prática, que, como já ocorreu 1600 anos atrás, é função da Igreja (e nós somos Igreja, assim como o clero e os seminaristas de cuja formação se está falando) *conservar* o imenso tesouro de sabedoria humana, já depurado pelo confronto com a Revelação, que compõe o currículo de humanidades clássicas que eu mencionei ser importante. Quer dizer *conservar* o valor da vida humana, o valor da mulher (cada vez mais reduzida a ou um pseudo-homem ou a uma máquina de prazer sexual), o valor da hierarquia, o valor do respeito à sabedoria dos idosos, etc. E conservar Cícero, Dante, Ortega. E, por que não, mesmo que como exemplo negativo, Rawls, Marx ou Rand?

Isso não quer dizer que seja um herege quem não aprecia o valor de Dante ou de Cícero. Quer dizer apenas que é um idiota. E já há idiotas o bastante nas telas de tevê, para que se os queira também nos presbitérios.

No meu apostolado, eu não chego ao ponto de assistir TV, embora até leia sobre o que está passando nela; falta-me paciência. No meu trato com catecúmenos e com o público em geral, procuro apresentar como novidade, em geral apoiando-me unicamente na razão, as obviedades que só o são por terem já chegado a esta situação pela sua repetição ao longo dos séculos; é sabedoria humana, sim, mas é sabedoria, e sabedoria burilada pela Igreja ao longo dos séculos. E ela tem que ser, sim, conservada, ou estaremos como o muçulmano que manda queimar a biblioteca de Alexandria por que ou repete o Corão é assim desnecessária, ou o nega e é assim blasfema.

Cada geração de jovens pode aprender de novo, e precisa aprender de novo, descobrir de novo aquilo que é sua herança. Cada uma. Ano passado um aluninho de filosofia de seus 15 anos de idade veio, sério como só um rapaz desta idade pode ser, me dizer que resolvera tornar-se um estóico. Ótimo. Melhor estóico que fã do BBB ou fanqueiro. Isso quer dizer que o contato com o estoicismo é necessário para sua salvação? Não, mas pode perfeitamente bem ser instrumental. A chance de o ser é muito maior que a do contato com Tati Quebra-Barraco. Ou, pior ainda, de achar que “descobriu” alguma coisa ao abandonar-se aos mais baixos instintos, como sói ocorrer com quem não percebe que não é o primeiro ser humano a sentir atração sexual. O estoicismo, tal como nos chegou após depurado pela Igreja ao longo dos séculos – nas palavras de Padre Antônio Vieira, “um estóico é como um cristão de antes de Cristo” – é uma semente do Verbo, algo que abre para a graça.

Já temos problemas demais com idiotas que, por falta desta mesma cultura clássica que estou defendendo, confundem pudor com a moda de 1950. Não precisamos de uma reação igualmente inane, que se arrepia ao ouvir falar de conservadorismo por achar que há perigo de confusão entre Tradição e tradições, como se tanto estas quanto aquela não fossem, hoje, animais em risco de extinção.

Papa Libério – Patrick Madrid

[Publico um texto que foi enviado por email para a lista Tradição Católica e Contra-Revolução, sobre o Papa Libério. É uma tradução – “meio de fundo de quintal”, como disse a tradutora – de um livro de Patrick Madrid, “Pope Fiction”; tem a sua importância porque joga algumas luzes sobre um período tenebroso da história da Igreja – a crise ariana – com o qual muitas vezes a situação dos nossos dias é (mal) comparada. Leitura interessante e vivamente recomendada; a mensagem original está aqui, sobre a qual fiz apenas umas ligeiras correções tipográficas e de formatação.

O objetivo do artigo é fazer apologética anti-protestantismo, defendendo a infalibilidade papal dos ataques dos hereges seguidores de Lutero. No entanto, presta-se muito bem a uma outra apologética, contra alguns supostos “tradicionalistas” que se esmeram em encontrar, na História da Igreja, alguma (inexistente) situação que possa ser análoga àquela que eles imaginam que a Igreja atravessa hoje; na verdade, em se dando crédito às informações de Patrick Madrid, não há comparação possível – neste aspecto da “perseguição” dos Papas aos “guardiões da Fé” – entre a crise moderna e a crise ariana.]

Papa Libério

Em “Pope Fiction” de Patrick Madrid

“Os católicos afirmam que o papa é infalível em questão de fé e moral, mesmo assim, o Papa Liberio (352-366) assinou o credo ariano, e portanto apoiando o ponto de vista herético a respeito de Cristo. Obviamente, então, a infalibilidade papal é uma falácia.”

O Papa Libério é o primeiro dos três papas “hereges” favoritos, usados por anti-católicos com o objetivo de argumentar contra a infalibilidade papal (os outros dois são Vigilio e Honorio). Supostamente, este pontífice não só manteve uma visão errônea a respeito de Cristo, mas na verdade, apoiou o erro subscrevendo um credo herético. Se isto for verdadeiro, como podem os católicos afirmar a infalibilidade papal?

O século quatro foi um período muito difícil para a Igreja Católica. Apesar de todas as esperanças dos católicos ortodoxos, o concílio de Niceia não pôs fim ao movimento Ariano. Pelo contrário, o bonde ariano ganhou velocidade e um monte de passageiros novos. Especialmente quando o imperador “Constantius” tomou para si a tarefa de propagar o Arianismo por todo o império. Os seus esforços colocaram o imperador em conflito direto com Atanásio, o bispo de Alexandria e um ferrenho defensor da ortodoxia. Constantius foi capaz de conquistar um forte apoio eclesial contra Atanásio. Para infelicidade de seus planos malignos, ele não conseguiu persuadir o Papa Libério, o “altamente importante” bispo de Roma. O tamanho do esforço que ele fez para influenciar Libério é evidência forte da importância óbvia que o papa tinha, mesmo na Igreja antiga.

O Papa Libério, como Atanásio, manteve firmemente o credo do Concílio de Niceia. Isto, para ele, era o teste final da ortodoxia. Não só ele concordava com o grande bispo de Alexandria a este respeito, mas também mostrou seu apoio endossando uma carta assinada por setenta e cinco bispos egípcios que apoiavam Atanásio. Da mesma forma, o Papa Libério rejeitou uma carta enviada pelo imperador e vários bispos hereges que insistiam que ele condenasse Atanásio. A última gota para Constantius foi a rejeição do Papa Libério de um enorme suborno (e também da concomitante ordem do imperador ariano de que o Papa “entrasse na linha”).

Constantius, num ataque de ira, mandou prender Libério e levá-lo para Milão a fim de ser apresentado diante dele em 357 d.C.. O imperador tentou todos os meios de pressão para forçar Libério a submeter-se à sua vontade e a condenar Atanásio, mas o bispo de Roma resistiu. Finalmente, sem nenhum sucesso, Constantius baniu Libério para o exílio em Trácia (Bulgária, Turquia, Grecia).

Até aqui, a maioria dos estudiosos concordam sobre os acontecimentos básicos. Porém é aqui que surgem as verdadeiras questões. Depois de dois anos de prisão, exílio e intimidação, Libério foi solto e pôde voltar para a Sé em Roma. Por que ele foi repentinamente libertado? Ele cedeu finalmente e assinou o credo herético, condenando Atanásio? Ou o imperador percebeu a futilidade de mantê-lo preso? Existe evidência para as duas coisas.

Um número de contemporâneos da época, Sto Atanásio um deles, afirmaram que Libério de fato cedeu e assinou o credo falho. Mas não podemos nos esquecer que estava sob extrema coerção, mentalmente e fisicamente, e estava sendo ameaçado de tortura e de ser executado caso não assinasse. Só por esta razão, o Papa Libério não pode ser considerado totalmente responsável por ter cedido. É verdade, ele poderia ter sido mais corajoso e mais forte, mas é fácil falar quando não se está em situação semelhante. Não podemos nos esquecer a importante dimensão humana deste caso. Muitas pessoas se imaginam sendo resolutamente corajosas diante da tortura ou da morte caso sua fé cristã seja desafiada. Mas quando chega a hora, o comportamento real pode ser bem diferente daquele que se esperava ter. E quando forçados a fazer algo errado através de coerção e ameaças de violência ou morte, a pessoa não é culpada do ato como teria sido se tivesse toda liberdade. Não é diferente
com o Papa Libério.

Enquanto Atanásio manteve firmemente a posição de que Libério tinha cedido e revertido sua opinião, ele (Atanásio) não estava em condições de conhecer todos os fatos. Ele estava escondido naquela época e não tinha à sua disposição as melhores informações a respeito do assunto (John Chapman, O.S.B. – Enciclopedia Catolica) . Da mesma forma, S. Jerônimo acreditava que Libério cedeu sob pressão, embora sua posição era baseada numa série de cartas que são hoje consideradas falsas. O próprio ariano, “Philostorgius”, se uniu à S. Jerônimo. O historiador antigo Sozomen afirmou que Libério assinou vários credos, mas nenhum deles era explicitamente herético; no pior dos casos, eles eram ambíguos em sua Cristologia.

Um historiador da Igreja (John Chapman, O.S.B. – Enciclopedia Catolica) explica as razões para acreditar na inocência de Libério com relação a esta acusação:

“Pode parecer que quando Sto. Hilario escreveu seu livro ‘Adversus Constantium’ em 360, pouco antes do seu retorno do exílio no Oriente, ele acreditava que Libério tinha tropeçado e renegado Sto Atanásio (i.e., a posição ortodoxa); mas suas palavras não são bem claras. Quando ele escreveu ‘Adversus Valentem et Ursacium’ depois do seu regresso, ele demostrou que a carta ‘Studens Paci’ era uma falsificação, anexando a ela algumas cartas nobres do Papa. Agora isto parece provar que os Luciferianos estavam usando a ‘Studens Paci’ contra Rimini (concílio), para poder mostrar que o Papa, que agora na opinião deles, era indulgente demais para com os bispos afastados, era ele próprio culpado de uma traição ainda pior contra a causa católica antes do seu exílio. Na opinião deles, tamanha queda iria “des-papa-lo” e invalidar todos os seus atos subsequentes. Que Sto Hilario tenha tido tanto trabalho para provar que ‘Studens Paci’ era forjada torna evidente que ele não acreditava que Libério tinha caído depois do exílio; caso contrário seus esforços teriam sido inúteis. Conseqüentemente, Sto. Hilario se torna uma testemunha forte a favor da inocência de Libério. Se Sto. Atanásio acreditava na queda de Libério, isto aconteceu quando ele estava às escondidas, e imediatamente após o suposto acontecimento; aparentemente ele foi enganado momentaneamente pelos rumores espalhados pelos arianos.”

Embora seja possível que o Papa Libério tenha fraquejado sob a pressão de Constantius, não podemos ignorar esta forte evidência de que ele não o fez. Tanto St. Sulpicio Severo (403 d.C.) como o Papa Sto Anastácio (401 d.C.) mantêm que Libério permaneceu firme, se recusando a ceder (John Chapman, O.S.B. – Enciclopedia Catolica). Esta afirmação é reforçada pelo caráter do seu retorno à Roma depois do exílio; ele recebeu uma acolhida de herói quando entrou na cidade. De fato, o regresso de Libério foi um de triunfo. Se ele tivesse fraquejado e assinado o credo ariano, certamente ele não teria sido tratado desta maneira.

Novamente, uma análise cuidadosa dos detalhes históricos está longe da crença comum de que o Papa Libério tenha falhado:

“Os fortes argumentos para a inocência de Libério são ‘a priori’. Se ele tivesse realmente cedido à pressão do imperador durante seu exílio, o imperador teria publicado sua vitória por todos os cantos; não existiria a possibilidade de nenhuma dúvida; teria sido mais notório do que a vitória sobre Hosius. Mas se ele foi libertado porque os romanos exigiram a sua volta, porque sua deposição tinha sido demasiado anti-canônica, porque sua resistência tinha sido heróica, e porque Felix não tinha sido reconhecido como papa, então podemos ter certeza de que ele seria suspeito de ter feito alguma promessa ao imperador; os arianos e os felicianos também, e logo os luciferianos, não teriam nenhuma dificuldade em espalhar o relato de sua queda e receber crédito por isso. É difícil ver como Hilário no exílio e Atanásio no esconderijo pudessem não acreditar tal estória, quando ouviram que Libério teria retornado, embora os outros bispos exilados ainda não tivessem liberados. E mais, o decreto do papa depois de Rimini, de que os bispos afastados não poderiam ser restabelecidos a menos que mostrasssem sua sinceridade através de vitalidade contra os arianos, teria sido risível, se ele próprio tivesse caído antes, e não tivesse publicamente feito penitência pelo seu pecado. Mesmo assim, podemos estar certos de que ele não fez nenhuma confissão pública sobre ter falhado, nenhuma renúncia, nenhuma reparação.” (John Chapman, O.S.B. – Enciclopedia Catolica)

Se o imperador Constantius tivesse vencido essa briga de “quem pode mais” com o pontífice romano, por que ele não a divulgou? Pode-se imaginar como ele teria explorado tal golpe. A capacidade de soltar aos quatro ventos que o papa tinha cedido às suas exigências ter sido uma propaganda de enorme valor para o imperador. Afinal, a finalidade dele tentar forçar o Papa Libério a assinar o credo herético era para que ele pudesse usá-lo como exemplo a ser seguido por outros bispos ortodoxos. Seu objetivo era precisamente explorar a influência e prestígio do papa.

Se o papa Libério acabou assinando o credo, certamente Constantius teria bradado aos quatro ventos. Mas o imperador foi silencioso. Nem ele, nem seus acessores mencionaram algo sobre isso. Embora seja verdade de que este argumento esteja baseado no silêncio, não se pode negar que este fato histórico particular torna mais difícil imaginar que o papa Libério tenha de fato fraquejado.

Por fim, quando Constantius morreu, o arianismo perdeu o seu maior defensor. A ortodoxia voltou à tona, assumindo sua posição prévia. O papa Libério atacou os bispos arianos por sua heresia, e exigiu arrependimento total da parte deles antes que pudesse retornar à comunhão com a Igreja. De fato, eles foram tratados como colaboradores do inimigo e traidores de Cristo. Como poderia Libério ter agido de tal forma se ele mesmo tivesse assinado o credo ariano? Alguém sem dúvida teria mostrado a hipocrisia de tal ato. Não houve, porém, tal clamor.

Assim vemos que existem argumentos para ambos os lados da questão, com peso na crença de que o papa Libério não se dobrou diante da pressão feita por Constantius. Mas mesmo se ele tivesse, isso não afetaria a infalibilidade papal. Supondo que o pior cenário seja verdadeiro, papa Libério somente assinou um credo herético depois de dois anos de perseguição, exílio e coerção nas mãos do imperador. A tal assinatura não se deu por sua livre e espontânea vontade. Por esta razão, a infalibilidade papal não é um problema, pois infalibilidade requer que o papa esteja exercendo-a de livre vontade – à parte de qualquer pressão externa. E isto claramente não foi o caso se, de fato, Libério tenha assinado o documento. Obviamente, então, a infalibilidade papal não estava em risco.

“Dr. Willianson et caterva” – Carlos Ramalhete

[Na lista de emails do yahoo “Tradição Católica e Contra-Revolução”, da qual participo já há algum tempo, o professor Carlos Ramalhete postou nos últimos dias dois emails tecendo comentários muitíssimo pertinentes sobre a questão da retirada da excomunhão da FSSPX. Com a autorização do mesmo, publico-os aqui na íntegra, cum gaudium magnum, e recomendando enfaticamente a leitura, a despeito do tamanho de ambos. As duas mensagens originais estão armazenadas no baú da lista (disponível para membros), aqui e aqui. A divulgação é livre na íntegra com menção do autor.]

Mensagem 1:
(por prof. Carlos Ramalhete)

Pax Christi!

Andaram me pedindo para dar um pitaco nesta questão complicada (será?) da retirada da excomunhão do pessoal de D. Lefebvre. A pedidos, lá vai.

Na minha humilde opinião, o Santo Padre mandou muito bem, e agora compete ao Dr. Fellay e seus colegas conseguir voltar à Igreja (digo Dr., por não ter ele jurisdição e por estar ele suspenso a divinis, pecando gravemente se celebrar ou ministrar os Sacramentos. Espero ansioso poder chamá-lo de Dom e poder pedir-lhe a bênção).

Quanto eu digo voltar à Igreja falo em um sentido muito lato. Não se trata de questões legais. Questões legais o Papa resolve com uma canetada, como retirou com uma canetada a excomunhão dos quatro. Quatro que, aliás, eram cinco: o que era um núcleo cismático em Campos hoje em dia, graças a Deus, está dentro da Igreja.

O que é estar dentro da Igreja?

Não é ***só*** estar em uma situação jurídica certinha. D. Casaldáliga está em uma situação jurídica impecável. O Padre Fulano, que usa um cibório de capim prensado em volta de um vaso de barro, idem. Irmã Sicrana, que defende aberrações do arco da velha e acha que o aborto é uma opção da mãe até os dezoito anos de nascido, tbm está.

Mas tampouco é ***só*** ter a Fé Católica. Menos ainda ter os acidentes da Fé e não ter a essência.

Ser católico na segunda metade do século XX – e, por extensão, no começo do XXI – é como ser filho de pai cachaceiro. O Quarto Mandamento dói, dói de verdade. É fácil cumprir o quarto mandamento quando não há sombra de dúvidas de que quando rezamos pelo nossa mãe e a chamamos de serva devota, é isso mesmo. Mas quando o pai é cachaceiro, quando a mãe é arreligiosa, ***quando o padre é discípulo de Marx ou de algum guru da auto-ajuda***, o buraco é mais embaixo.

Já dizia Madre Teresa: Amor só é verdadeiro quando dói. Dói ir à Missa e ficar procurando a Missa, o Sacrifício Incruento, debaixo da mistura bizarra de auto-ajuda com culto protestante que o disfarça. Dói ver coisas tão medonhas acontecendo aqui e ali que Deus chega a mandar um terremoto.

Mas pai é pai, mãe é mãe, a Igreja é mãe, o Papa é pai, e o Quarto Mandamento sempre foi o mais difícil de cumprir.

Quando eu volto pra casa de uma Missa na Basílica de Aparecida em que meu filho de doze anos ficou rodando que nem um doido procurando um padre para receber o Santíssimo, e tinha dezenas deles celebrando jubileu de ordenação, concelebrando a Missa, e o Santíssimo só era distribuído por leigos, e ele ficou sem comungar por causa disso;

Quando eu viajo horas atrás de uma Missa em que – me disseram – não há abusos graves, e antes mesmo do padre entrar vem um sujeito dançando uma dancinha estranha e pedindo “palmas pra jesus” (com minúsculo, pq pelo jeito é o nome do show dele);

Quando eu me ajoelho e beijo a mão do padre, e digo “padre, peço perdão por não o ter reconhecido, com o senhor disfarçado de leigo desta maneira”…

É a hora em que Deus nos coloca como colocou aos filhos de Noé. Não quero ser Canaã (Gn. IX,18ss, e chega de dar referências. Quem conhece, conhece).

É isso que o respeito ao Quarto Mandamento exige, e é isso que parece faltar, na sua soberba, a muitos seguidores de D. Lefebvre.

A Igreja é nossa mãe, nossa mãe amantíssima. Se, como houve com Noé, algo há de errado na forma como ela se apresenta, o mínimo que se pode fazer é ter a decência de trabalhar em prol dela, ***dentro dela***. Fugir para uma capelinha onde se finge estar em 1950 e onde o padre ou o leigo se coloca como juiz do Sumo Pontífice – coisa que nenhum padre ou leigo sonharia em fazer em 1950 – é uma tentação tão medonha, é um igualitarismo tão radicalmente modernista, como qualquer delírio de um “construtor de um mundo novo” nas CEBs.

Quis ut Deus? E quem em sã consciência pode se arvorar em juiz da Igreja, da catolicidade do Papa, valha-me Deus?!

A misericórdia do Santo Padre – “Dominus conservet eum, et vivivicet eum, et beatum faciat eum in terra, et non tradat eum in animam inimicorum eius”, como rezo todos os dias nas laudes e vésperas – deu aos quatro filhos de Canaã a chance de agir como seus irmãos abençoados e voltar para a Igreja. Ótimo. Serão bem vindos, como foram bem vindos os Padres de Campos ( e confesso que digo “Benedicto”, mas do fundo do meu coração é “Ferdinando” que me vêm e por quem peço a Deus que “stet et pascat in fortitudine ea et in sublimitate nomini eius”).

Temos, senhores, quatro décadas de lixo a limpar. Quatro décadas de distorções e negações frontais do ensino perene da Igreja, feitas em nome de um “Espírito do concílio”, aproveitando cada ambiguidade e cada má leitura possível plantada pelo Inimigo, agindo no desespero de quem vê chegar ao fim os cem anos que lhe foram dados, pela cronologia do sonho de Leão XIII. Quatro décadas de violões e baterias levando a feiura demoníaca a conspurcar os acidentes do mais belo acontecimento pra cá do Céu. Quatro décadas de catequese negada, em que o protestantismo mitigado dos carismáticos é o que há de mais “religioso” em um panorama de devastação. Quatro décadas de destruição. Quatro décadas de negação da Verdade, de desobediência frontal à lei da Igreja e à Lei de Deus, sob a ridícula justificativa de que “o Concílio” (que não seria o de Trento, nem o Vaticano I…) “mudou tudo”.

Mudou, senhores, porcariíssima nenhuma. Está errado quem se apega a uma suposta refundação da Igreja para pregar barbaridades comunistas, e está errado quem se apega à mesmíssima e supositíssima refundação para se arvorar em juiz da catolicidade do Papa.

Espero em Deus e na Santíssima Virgem que os quatro bispos ora suspensos a divinis peguem suas vassouras e ajudem, deixando na porta seus egos, deixando na porta a maldita e nefanda tentação da soberba que os fez tantas vezes arvorar-se – tal como ocorre com seus seguidores – juízes do Sumo Pontífice.

Fala asneiras o Dr. Willianson? Certamente. Nem mais, nem menos que D. Casaldáliga, e ambos movidos pela mesma tentação demoníaca de usar um concílio como desculpa para a desobediência e o culto a si mesmo, a mais grave forma de idolatria.

Tanto um quanto o outro, contudo, são chamados, como eu, leigo, sou chamado, mas em grau infinitamente superior pela ordenação que receberam – aliás, cabe lembrar que a única definição doutrinal do CVII é esta: a ordenação episcopal é essencialmente diferente da presbiteral – a defender a Verdade e a estar na Igreja, atuantes, como missionários da Verdade. Missionários da Verdade, notem bem. Não juízes do Concílio – dado não haver nenhuma diferença entre o valor do juizo de um e de outro sobre ele – nem, muito menos, do Papa, e por aí vai.

O Santo Padre – Dominus conservet eum, et vivivicet eum, et beatum faciat eum in terra, et non tradat eum in animam inimicorum eius – está encarando uma briga monstruosa. É ele, com a ajuda de Deus, contra a Revolução, contra o Inimigo, contra a imbecilidade que quer acreditar na armadilha demoníaca de duas Igrejas, uma pré-conciliar e outra pós-conciliar.

O que compete a cada membro da Igreja Militante, de um pobre leigo idiota como eu a um Bispo, um Cardeal, um sujeito ordenado padre ou bispo (repetindo:diferença dada pelo CVII) e suspenso a divinis, um padre, uma freira, quem mais for, é colocar-se de joelhos diante do Santo Padre e dizer “aqui estou. Que devo fazer?”. Fazer diferentemente é fazer como os vetero-católicos, que se separaram da igreja por acharem os jesuítas moralmente laxos e que hoje tentam ordenar mulheres, quiçá sapos ou pedras.

Espero em Deus que a armadilha da soberba não apanhe em seus laços aos quatro bispos ora suspensos – que fariam enorme bem se viessem a público proclamar que, em virtude de sua suspensão, não ministrarão os Sacramentos até a regularização de sua situação – e que eles, ao invés de ficar atrás das linhas, atirando no comandante, coloquem-se na linha de frente do campo de batalha.

Serão bem vindos.

Que Deus os guarde, e que nós os tenhamos sempre em nossas orações, bem como aos cismáticos russos e anglicanos, também caminhando de volta à Casa do Pai.

No dia de Nossa Senhora das Candeias – que ofereceu oferta de purificação sem precisar ser purificada por ser já totalmente pura -, segunda-feira da 4a semana depois da Epifania no ano da graça de Nosso Senhor Jesus Cristo de 2009,

seu irmão em Cristo e criado, sempre necessitado de suas orações,

Prof. Carlos Ramalhete

[Na troca de mensagens subseqüente, foram levantados dois questionamentos; que o Decreto utilizava o título “Dom Williamson” para se referir ao bispo da FSSPX, e que a existência da suspensão a divinis era controversa.]

Mensagem 2:
(por prof. Carlos Ramalhete)

Pax Christi!

>O sr. não dá o título de “Dom” a Fellay porém, no próprio decreto está
>escrito:
>
>”Con lettera del 15 dicembre 2008 indirizzata a Sua Em.za il Sig. Cardinale
>Dario Castrillôn Hoyos, Presidente della Pontificia Commissione Ecclesia
>Dei, *Mons*. Bernard Fellay, anche a nome degli altri tre Vescovi consacrati
>il giorno 30 giugno 1988…”
>
>Não sei italiano, mas aquele “Mons.” não deve ser “Dr.”…

Até pro Dalai Lama, que é escravo de milhares de demônios, foi usado o título de “Santidade”. Lamento informar, mas não sou nem nunca serei diplomata. Na carta ao novo Patriarca dos cismáticos russos tbm foi usado o termo “Sua Santidade” para referir-se a ele.

Aliás, a situação dos bispos da SSPX – por quem torço e que espero ter plenamente na Igreja em breve – tem pontos em comum com a dos orientais, cuja excomunhão também foi retirada como modo de facilitar o diálogo e uma possível volta à Igreja.

A diferença maior é que, no caso dos cismáticos orientais, tal como no caso de Campos, trata-se de uma Igreja Particular inteira que sai da perfeita comunhão. O patriarca Cirilo tem alguma jurisdição, embora ilegítima. No caso da SSPX, temos quatro pessoas que receberam ordenações episcopais ilícitas, que são seguidas por pessoas que eles mesmos ordenaram ilicitamente ao presbiterato, seguindo da melhor maneira que vêem e na melhor das intenções a santa Tradição da Igreja Latina. Jurisdição zero, só obediência voluntária, como a de meninos ao chefe de um clubinho.

Espero que isto seja sanado em breve. Os problemas, contudo, persistem. O primeiro deles é a soberba; por mais que se trate de um problema subjetivo, é este o maior obstáculo à plena regularização.

O segundo, este muito mais simples de resolver, é a questão jurídica. As ordenações dos sacerdotes e bispos da SSPX (e todo bispo é sacerdote) foi feita ilicitamente, causando sua suspensão a divinis. Do mesmo modo, foi feita fora de uma estrutura canônica regular, o que faz deles acéfalos e vagos, respectivamente. Isto é facílimo de resolver: basta dar à SSPX uma estrutura, talvez mesmo uma semelhante à dada aos Padres de Campos, mas abrangendo o mundo todo. Nada contra, muito pelo contrário. Hoje isso é ainda mais fácil devido ao Motu Próprio, que faz com que a Missa de sempre, o breviário, etc., sejam oficialmente uso oficial da Igreja. Se o padre da paróquia da esquina resolver rezar pelo Breviário ao invés de pela Liturgia das Horas, está hoje em seu pleno direito e cumprindo sua obrigação (recomendo, aliás. O breviário é acidentalmente muitíssimo superior à Liturgia das Horas; é a diferença entre algo erigido com o auxílio do Espírito Santo por séculos e o trabalho de um comitê…).

Se a SSPX voltar plenamente, inserida na estrutura canônica e hierárquica da Igreja, é de se esperar que cada vez mais padres e leigos passem a buscar cultuar a Deus na Tradição da Igreja, e não mais na imitação mal-feita e atrasada das modas do século propagada pelos hippies velhos que falam em nome da CNBB. Mas para isso é preciso que a SSPX abandone sua posição insustentável de pseudo-juiz do Papa e da Igreja, e que seus membros e fiéis percebam que católico é católico quando se submete ao Romano Pontífice. Não há diferença essencial entre alguém que desobedece frontalmente ao Papa para usar ministretes nas missas dominicais pq acha fofinho e alguém que desobedece para celebrar a Missa de sempre e fingir que dá absolvição sacramental aos incautos. Seria mesmo possível dizer ser pior a situação deste, que sabe e erra, do que a daquele, que é ignorante. Afinal, a absolvição sacramental dada por um padre da SSPX vale exatamente o mesmo que uma “absolvição coletiva” dada por um padre TL: ou o penitente está à beira da morte, ou não vale mais que uma que eu, leigo, dê pela internet – nada.

Quando a Santa Sé recebeu de volta os Padres de Campos, foram retiradas a excomunhão *e todas as outras censuras* ( http://www.adapostolica.org/modules/wfsection/article.php?articleid=293 ). No caso presente da SSPX, foi retirada a excomunhão, ponto. Isto significa que se os padres e bispos da SSPX procurarem algum padre que tenha – ao contrário deles – o poder de dar a absolvição e se confessarem, podem comungar. Ótimo, é um bom começo.

O que não é um bom começo é a estranhíssima visão individualista e modernista que parece ainda animar grande parcela dos membros e fiéis da SSPX, que se referem ao Papa como um igual, como – na melhor das hipóteses – primus inter pares.

Na minha modesta opinião, esta soberba é fruto da horrenda derrocada da Europa e da América do Norte ao pensamento modernista. Enquanto aqui no Brasil os Padres de Campos obedeciam – ainda que no erro – ao Bispo (D. Castro Mayer, de quem aliás se diz ter tentado voltar à Igreja antes de sua morte), a SSPX age como uma seita protestante, espalhando-se e atacando a Igreja abertamente. O raciocínio deles é tipicamente modernista, racionalizando a insubmissão à santa hierarquia, fazendo malabarismos com o CIC como se a Igreja fosse uma democracia ocidental em que um juiz pode levantar-se contra o monarca.

Isto leva, na melhor das hipoteses, a um sedevacantismo material. Se o Papa é tratado não como pai, mas como “ex-marido” na vara de família (“vamos arrancar dele a guarda das crianças e uma pensão, e ele vai ver o que é bom pra tosse”), para eles Papa ele não é. Alguns membros da SSPX perceberam que só faria sentido lógico aderir formalmente ao sedevacantismo, e o fizeram (www.sspv.net). É pelo menos mais honesto, ainda que leve ao Inferno do mesmo jeito.

Os outros, agora, estão sendo recebidos no portão pelo pai, tal como o filho pródigo. Que seja morto um boi gordo, que recebam o anel e o manto!

De nada vale fazer pouco disto, de nada vale arrotar grandezas e se negar à necessária humildade. Espero em Deus que em breve, que em muito breve, eu possa dizer “Dom Ricardo” e não Dr. Willianson. Mas chamá-lo de “Dom” (“Dominus”, Senhor) agora é dizer que um anel feito de palha da pocilga é o mesmo que o anel de ouro do pai que recebe o filho pródigo. É fazer pouco da caridade, da família, da hierarquia e da Igreja.

Vai ser necessário no mínimo fazer a sanatio in radici de todos os matrimônios nulos que a SSPX tentou celebrar, para não falar dos medonhos casos em que a SPPX arrogou-se o direito papal de decretar nulidades matrimoniais e o direito dos ordinários de reduzir diáconos ao estado laical, etc. Vai ser necessário levar todos os que se confessaram aos padres da SSPX de volta ao confessionário. Vai ser necessário sair da brincadeira de casinha na capelinha em que só se obedece ao próprio umbigo. Vai ser necessário, em outras palavras, abandonar o protestantismo e o modernismo que hoje dominam a SSPX para tê-la de volta, dentro da Igreja, atuando e lutando contra as barbaridades que hoje a assolam.

Se os seus líderes tiverem a humildade de reconhecer que fazer malabarismos canônicos ignorando a vontade expressa do Sumo Pontífice tem exatamente o mesmo valor que espernear no chão gritando que vai prender a respiração até ficar roxo se não ganhar o brinquedo, se eles se dispuserem a entrar na briga para valer, vai ser maravilhoso. Meninos mimados brincando de casinha não ajudam em nada, só atrapalham quando a guerra está comendo solta. Que venham, que se submetam, que peguem suas armas e entrem nas trincheiras reais.

Vamos tê-los propagando as belezas litúrgicas e devocionais da Tradição, levando aos poucos os outros padres a abandonar os delírios e invencionices com que hoje fazem frequentemente da liturgia um circo dos horrores. Vamos tê-los nas Conferências episcopais, falando e sendo ouvidos. Vamos tê-los no rádio, na TV, pregando com autoridade.

E isso abrirá as portas para a volta dos cismáticos orientais, tal como a volta dos Padres de Campos deu aos anglicanos tradicionalistas a oportunidade de pensar em voltar. É provável que em breve tenhamos um grupo enorme de ex-anglicanos voltando para a Igreja, com seus pseudo-sacerdotes recebendo as ordens sacras, com suas capelas sendo consagradas, com o que era uma farsa tornando-se verdade. O mesmo pode acontecer com patriarcados orientais inteiros, se a SSPX voltar.

A Barca está voltando, como no sonho de S. João Bosco, a seu lugar entre as colunas. É isto o necessário para trazer de volta todos os cismáticos que procuram manter a Fé. Uma etapa fundamental é a volta da SSPX, por que rezo todos os dias, mas para que isso aconteça, é necessário que eles percebam que são o filho pródigo, não um juiz do pai.

É preciso humildade.

[]s,

seu irmão em Cristo,

Carlos

Algumas coisas sobre Medjugorje

É preciso ter muito cuidado com Medjugorje. As (supostas) aparições que já se arrastam por décadas costumam provocar discussões apaixonadas. Considero oportuno fazer algumas considerações sobre o assunto.

Recentemente um site (a meu ver) não muito confiável noticiou uma punição dada pelo Vaticano ao ex-diretor espiritual dos videntes. A despeito da notícia em português – como está no site “Rainha Maria” – não se encontrar reproduzida em nenhum outro lugar, a informação é, no seu conjunto, verdadeira. O Fratres in Unum traduziu no início do mês a notícia publicada no site da Diocese de Mostar-Duvno, à qual pertence Medjugorje.

Há outras notícias sobre Medjugorje na internet. Andrea Gemma, um exorcista do Vaticano disse no Daily Mail (última atualização em junho de 2008) que Medjugorje era uma farsa e uma obra do demônio. Disse ainda que o Vaticano ia rejeitar as aparições. Em 2006, o bispo de Medjugorje, Dom Ratko Peric, pediu aos videntes que deixassem de dizer que Maria os visitava, bem como que parassem com as mensagens. Disse ainda que, na paróquia em Medjugorje onde supostamente ocorrem as aparições, existe algo parecido com um cisma. Vale a pena mencionar ainda um artigo do antigo bispo de Medjugorje, Dom Pavao Zanic, que já em 1990 dizia que as aparições eram falsas. E, do fundo do baú da lista tradicao-catolica, uma mensagem do prof. Carlos Ramalhete (de 1998) que reproduzo porque não sei se todos conseguem acessar:

– O Santo Padre proibiu os sacerdotes de oprganizarem preregrinações a Medjugorje ou de liderá-las;

– Os sucessivos bispos da diocese onde está Medjugorje já se declararam contrários à suposta aparição (ver mais abaixo);

– Em 16.V.1997 Dom Ante Luburic, Chanceler da Diocese de Mostar (em cujo território ocorrem as supostas aparições) declarou que “Medjugorje tornou-se um lugar de atividade anti-eclesial, desobediência e desordem religiosa.”

Segue o texto de D. Luburic em sua íntegra:

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No dia 14 de maio, três bispos de Uganda vieram visitar Medjugorje, e de lá partiram para visitar D. Ratko Peric, Bispo de Mostar, seu antigo colega de studos em Roma, para perguntar sobre a posição da Igreja local a respeito dos chamados acontecimentos de Medjugorje. O abaixo-assinado [D. Luburic] também estava presente.

O Bispo deu a seus antigos colegas alguns documentos, que mostram claramente que de 1981 a 1991 três comissões qualificadas a serviço do bispo local e da Conferência Episcopal investigaram os acontecimentos. Há dez anos, em 1987, D. Pavao Zani declarou formal e oficialmente que na Paróquia de Medjogorje a Madonna não apareceu para ninguém. Em 1991, a Conferência Episcopal não apenas declarou que as aparições não eram autênticas, como sublinhou que: “É impossível confirmar que os acontecimentos envolvam quaisquer revelações ou aparições sobrenaturais.” A partir de 1981, “mensagens de paz” foram enviadas para todo o mundo a partir de Medjugorje. Em nossa Igreja local, entretanto, essas mensagens incuíram os seguintes “frutos”:

A Administração da Província Franciscana de Herzegovina, que fora punida em 1976, recebeu a partir de 1982 a punição adicionar de estar “ad instar,” devido a sua não-colaboração na implantação das decisões da Santa Sé em relação aos serviços pastorais em algumas das paróquias da Diocese de Mostar-Duvno. Muitas igrejas foram construídas pelos Franciscanos com a ajuda de benfeitores e dos fiéis, tendo elas sio abençoadas por eles mesmos, sem sequer informar o Bispo local, o que vai contra o Direito Canônico e o carisma franciscano. Uma igreja na paróquia de Ljuti Dolac foi abençoada desta maneira em 23.IV deste ano. Na própria Medjugorje, muitos edifícios eclesiais foram erigidos sem qualquer permissão das autoridades eclesiais competentes.

Mais de dez Franciscanos não têm faculdades para ouvir confissões na Diocese de Herzegovina. Alguns por sua própria culpa, outros por culpa de suas comunidades religiosas, não estão cumprindo o Decreto Papal. Mais de quarenta franciscanos não recebeeram as faculdades necessárias para trabalho pastoral em Herzegovina, mas sequer se incomodam com as decisões das autoridades legais da Igreja. Alguns deles estão atualmente em Medjugorje. Muitas comunidades religiosas estão vivendo e trabalhando na próquia de Medjugorje sem a permissão das autoridades eclesiásticas, como: “Beatitudes,” “Kraljice mira, potpuno tvoji,” “Cenacolo,” “Oasi di pace” e “Franjevke pomocnice svecnika.” Portanto, Medjugorje tornou-se um local de atividade anti-eclesial, desobediência e desordem religiosa.

No ano passado alguns “fiéis católicos”, com anuência dos Franciscanos, fecharam com tijolos as portas da igreja de Capljina e da igreja afiliada à Catedral em Miljkovici. Dois Franciscanos, sem faculdades canônicas para a paróquia de Capljina, estão atualmente trabalhando na igreja fechada. Tudo o que fazem lá é ilegal e os casamentos que realizam são inválidos!

Alguns dos Franciscanos em Mostar estão ignorando a igreja Catedral legalmente estabelecida e as quatro paróquias diocesanas dedicadas aos quatro evangelistas, continuando a organizar serviços religiosos com seu próprio pessoal, contra as decisões específicas da Santa Sé e o Superior da Ordem Franciscana. O Provincial “ad instar” em muitas ocasiões já alertou seus irmãos por escrito que sérias medidas da Administração geral franciscana estão sendo consideradas para toda a província devido a sua desobediência.

Em Medjugorje, o jornal “Glad Mira” e o “Boletim de Imprensa” são publicados sem a permissõa necessária das autoridades eclesiais. Os mesmos jornais proclamam a “autenticidade das aparições” e falam do “santuário”. A organização anti-eclesial “Mir j dobro” (Pax et Bonum) teve permissão dos franciscanos locais para usar seu escudo e seu lema, e os franciscanos não se distanciaram das atividades ilegais deste grupo, nem mesmo quando isso foi formalmente solicitado.

Eis portanto alguns dos “frutos” dos que estão usando Medjugorje para “vender paz e frescor” ao mundo, e que se endureceram em sua desobediência à Santa Sé e ao carisma franciscano.

Em 15 de maio, apareceu um despacho de Medjugorje em Slobodna Dalmacija em relação aos bispos ugandensesm onde o “vidente” Ivan Dragicevic transmitiu a mensagem da “Madonna”que, nesta ocasião, afirmava que estava “muito feliz porque os bispos estão em Medjugorje”. Ivan estivera no seminário de Visoko nos anos de 1981-82. A Comissão investigando as “aparições” uma vez o questionou em Visoko. Em 9.V. 1982 ele escreveu: “Um sinal aparecerá em junho”. Nada aconteceu em junho!

Mais tarde ele foi expulso de Visoko por ter notas péssimas. Ele continuou em Dubrovnik em 1982-83. Durante sua estadia de dois anos no seminário, ele declarou que estava vendo a Madonna, que lhe dizia que ele seria um sacerdote. Mesmo assim, ele foi expulso de Dubrovnik, mais uma vez devido a suas notas. Em 1994, ele encontrou a ex-Miss Massachusetts, Loreen Murphy, com quem se casou em Boston (Slobodna Dalmacija 11/9/94). No dia do casamento, o noivo “teve uma aparição” em Massachusetts. A Madonna parece estar a segui-lo pelo mundo, como com os outros “videntes” de Medjugorje.

Agora ele apresenta a Santíssima Virgem Maria como estando “muito feliz porque os bispos estão em Medjugorje”.

Este tipo de “mensagem” não apenas é uma clara propaganda de Medjugorje; é uma simples invenção destinada a fazer os inocentes “afastar seus ouvidos da Verdade e entregar-se a fábulas extravagantes” (2 Tim 4,4).

Dom Ante Luburic, Chanceler
Mostar, 16.V.1997

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Além disso, a declarações dos sucessivos Ordinários locais também mostram claramente a oposição da Igreja a estas supostas aparições:

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Declaração do Bispo de Mostar a respeito de Medjugorje, 15.VII.1987

Feita por D. Pavao Zanic

Desde que surgiram as noícias a respeito de acontecimentos inusitados nesta diocese, a Cúria de Mostar acompanhou os relatórios cuidadosamente, coletando tudo o que poderia servir à busca pela verdade dos fatos. O Bispo autorizou os videntes e religiosos envolvidos a permanecer em completa liberdade, tendo até mesmo os defendido de ataques da imprensa e de políticos. Todas as conversas foram gravadas e as crônicas foram coletadas, assim como diários, cartas e documentos. A Comissão de professores de teologia e médicos estudou todo este material por três anos. O trabalho de três anos da Comissão chegou às seguintes conclusões: dois membros votaram a favor da natureza verdadeira e sobrenatural das aparições. Um membro absteve-se de votar. Um aceitou que algo tenha ocorrido no princípio. Onze votaram, não ter havido aparições ­ non constat de supernaturalitate.

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Declaração de D. Ratko Peric, Sucessor de D. Zanic:

Dada em entrevista ao Fidelity Magazine, publicada no número de fevereiro de 1994.

Que bispo não adoraria ter a Virgem Maria aparecendo em sua diocese? Especialmente D. Zanic, um Bispo muito mariano que, como sacerdote e mais tarde como bispo fez onze peregrinações a vários santuários marianos por toda a Europa: Lourdes, Fátima, Siracusa, etc. Então a Senhora teria tido misericórdia dele e teria “aparecido” no seu próprio quintal, como que para poupá-lo de viajar tanto para Portugal.

Após alguns meses, contudo, quando ouviu todas as pequenas lorotas e grandes mentiras, insinceridades, inexatidões e toda sorte de histórias inventadas pelos que diziam estar a Senhora a aparecer para eles, ele tornou-se completamente convencido de não haver nenhuma aparição sobrenatural da Senhora. Então ele começou a apregoar a verdade e expor as falsidades. Sua maior satisfação em dez anos de trabalho duro foi quando os bispos da Iugoslávia, em seu encontro de promavera dia 10.IV.1991 declararam, conforme era seu dever: “Baseando-se nos estudos efetuados, não pode ser afirmado que revelações e aparições sobrenaturais estajam a ocorrer.”

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Além disso, há também algumas coisas muuuito estranhas em relação a estas supostas aparições, tais como as mencionadas no artigo daquela página (Nossa Senhora dizendo que tanto faz ser muçulmano qto cristão, católico ou cismático, que é melhor não ir à Missa se a pessoa não estiver assim ou assado?!), ou ainda aquela suposta msg mariana que veio dar à lista “catolicos” há algum tempo, em que Nossa Senhora supostamente teria afirmado que a Igreja não festejava o seu nascimento (que tem sim uma festa litúrgica!), etc.

Cabe lembrar mais uma vez que de burro o Tinhoso não tem nada; muito mais frutos tem uma pregação mentirosa enfiada em meio a pedidos de conversão que vir com chifrinhos na cabeça dizendo a todos que quer levá-los para o Inferno! É muito mais perigoso um prato de comida aparentemente deliciosa contaminada com um veneno incolor, insípido e inodoro (ou quase) que uma garrafa preta com uma caveira e dois ossos cruzados.

[]s,

seu irmão em Cristo,

Carlos

No entanto, as supostas aparições de Medjugorje continuam firmes e fortes! As mensagens continuam chegando todos os meses. Há um site com umas fotos sem pé nem cabeça registradas pelos peregrinos. Há no youtube um vídeo com a aparição deste mês, setembro de 2008 (aos que não tiverem paciência de assistir os oito minutos, eu adianto: são dois minutos de barulho no início, algumas ave-marias e cinco minutos de silêncio enquanto a vidente vê a aparição).

Sinceramente, eu não acredito em Medjugorje. Nem consigo entender por que algumas pessoas insistem tanto nestas aparições (que são tão estranhas e tão atípicas), que nunca foram reconhecidas pela Igreja, quando existem diversas outras aparições comprovadamente verdadeiras. Coisas como as citadas acima me fazem ter os dois pés atrás. Simplesmente não consigo evitar. Que Nossa Senhora de Lourdes rogue por todos nós.